Caro leitor, diminua o
ritmo de sua leitura, leia devagar estas meditações. A pressa na leitura deixa
escapar alguns detalhes e o maior deles é a ressonância que as palavras operam
na mente e no coração. Meditar sobre o amor não é impossível, mas também não é
tarefa fácil. Expressar aquilo que sustenta a vida humana é algo sublime, fino,
misterioso, leve, que nos remete às reticências...
O coração parece ser o lugar ideal para a morada do amor.
De lá de dentro ele pode brotar maravilhosamente e é capaz de colorir a vida. O
barulho e as violências que deixam o mundo perturbado, agitado e impróprio não
são capazes de permanecerem de pé diante da força serena e mansa, encantadora e
transformadora do amor. Mulheres e homens tocados pela sinfonia do amor são
luzes em meio às trevas. Isto é poeticamente real.
Nas entrelinhas dos olhares, dos sorrisos, das alegrias e
dos apertos do coração, o amor parece brilhar, vibrar, estremecer. Ele não
respeita o não, a cara feia, a traição, mas ultrapassa, supera, emerge com
força e suavidade. As pessoas o experimentam sem saber como, onde, quando, sem
saber... Somente ouvem, olham, sentem, tocam, cheiram o amor no outro
semelhante, no estranho, na flor, no canto, no pé do ouvido.
Como o vento invisível, que passa sem se deixar dominar
por ninguém; de repente, as pessoas não conseguem segurar o amor. Olham-se e se
observam, “meu amor”. Ah, meu amor!... Meu? Não. Ele está aí, é teu, meu,
nosso, de todos. Não é posse, não custa nada, é ousadamente livre, leve,
solto... Não é procurado nem se deixa encontrar. Aparece. É epifania, beleza,
ternura, aconchego. Vem das entranhas do coração. O amor.
Quem é o mais amoroso? Nunca se sabe. Mais, ou menos, não
há medida. O que há é intensidade sem limites, desvelamento. Somente o amor
tira o véu da amada, manifestando sua beleza. A beleza da criança no peito
quente de sua mãe. A beleza das mãos entrelaçadas dos enamorados. A beleza da
pétala da rosa vermelha entregue nas mãos daquela que acredita no fogo consumidor
da paixão ilusória. É um gesto. Pode não ser amor, mas é bonito. É o momento
ilógico do sentimento incalculável do encontro festivo dos corações
palpitantes.
Os crentes em Jesus observam-no admirados diante do poço
de Jacó, sentado à mesa de Zaqueu, chorando a morte de Lázaro e crucificado por
amor, ensanguentado. Ah, Jesus! Que dizer de ti?!... É demais dizer que
morreste por amor? É pecado afirmar que és apaixonado pelos pecadores? É
escandaloso ver-te no domingo cedo conversando com Madalena, ressuscitado? Não.
Isto é amor. Ágape.
Um dia, disseste-me: por que choras? Ah, moço! Entrega-te
ao amor e pronto! Tudo ficará bem. Fácil, não? Sim, mas como entender isso?...
As teologias e filosofias humanas não me convencem. Elas não me tocam. Elas não
te tocam. Elas não conseguem encontrar a moeda perdida, o peixe do mar, o
tesouro do campo. Falam de tudo, mas não contemplam a perfeição do miolo, do
centro, da ceiva, do essencial. Não há nada mais a ser dito. Há o que se
precisa viver, apalpar, tocar na chaga aberta para sentir a alegria da
ressurreição.
Amor e ressurreição, enfim podemos dizer da íntima
ligação entre vocês. Amar é ressuscitar. Somente ressuscita quem ama! Isto é
exatamente certo. É o fundamental. Ressuscitar é passar de um estado a outro,
de um estágio a outro, de uma vida morta para uma vida viva, das trevas para a
luz, sem mágica, sem sacrifícios, sem ilusões, sem medo... Com coragem! “Não
tenhas medo!”, eis o segredo.
O
segredo da felicidade: não tenhais medo de vos entregar à força mais poderoso
do mundo, o amor. Força capaz de te fazer feliz sem que tenhas nada, sem que
sejas nada neste mundo. Tu e o amor. Livres de tudo o que prende e aliena. Isto
te basta. Assim, a palavra se recolhe, silencia, dar lugar à prece e ao
convite, à exortação e ao clamor: no amor do Deus de todas as raças e crenças,
imploramos, clamamos de joelhos e com lágrimas, amas e sejas feliz, tu e toda a
criação da qual és parte desde agora e para sempre!...
Tiago de França
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