quarta-feira, 28 de maio de 2014

Meditações sobre o amor

             
               Caro leitor, diminua o ritmo de sua leitura, leia devagar estas meditações. A pressa na leitura deixa escapar alguns detalhes e o maior deles é a ressonância que as palavras operam na mente e no coração. Meditar sobre o amor não é impossível, mas também não é tarefa fácil. Expressar aquilo que sustenta a vida humana é algo sublime, fino, misterioso, leve, que nos remete às reticências...

            O coração parece ser o lugar ideal para a morada do amor. De lá de dentro ele pode brotar maravilhosamente e é capaz de colorir a vida. O barulho e as violências que deixam o mundo perturbado, agitado e impróprio não são capazes de permanecerem de pé diante da força serena e mansa, encantadora e transformadora do amor. Mulheres e homens tocados pela sinfonia do amor são luzes em meio às trevas. Isto é poeticamente real.

            Nas entrelinhas dos olhares, dos sorrisos, das alegrias e dos apertos do coração, o amor parece brilhar, vibrar, estremecer. Ele não respeita o não, a cara feia, a traição, mas ultrapassa, supera, emerge com força e suavidade. As pessoas o experimentam sem saber como, onde, quando, sem saber... Somente ouvem, olham, sentem, tocam, cheiram o amor no outro semelhante, no estranho, na flor, no canto, no pé do ouvido.

            Como o vento invisível, que passa sem se deixar dominar por ninguém; de repente, as pessoas não conseguem segurar o amor. Olham-se e se observam, “meu amor”. Ah, meu amor!... Meu? Não. Ele está aí, é teu, meu, nosso, de todos. Não é posse, não custa nada, é ousadamente livre, leve, solto... Não é procurado nem se deixa encontrar. Aparece. É epifania, beleza, ternura, aconchego. Vem das entranhas do coração. O amor.

            Quem é o mais amoroso? Nunca se sabe. Mais, ou menos, não há medida. O que há é intensidade sem limites, desvelamento. Somente o amor tira o véu da amada, manifestando sua beleza. A beleza da criança no peito quente de sua mãe. A beleza das mãos entrelaçadas dos enamorados. A beleza da pétala da rosa vermelha entregue nas mãos daquela que acredita no fogo consumidor da paixão ilusória. É um gesto. Pode não ser amor, mas é bonito. É o momento ilógico do sentimento incalculável do encontro festivo dos corações palpitantes.

            Os crentes em Jesus observam-no admirados diante do poço de Jacó, sentado à mesa de Zaqueu, chorando a morte de Lázaro e crucificado por amor, ensanguentado. Ah, Jesus! Que dizer de ti?!... É demais dizer que morreste por amor? É pecado afirmar que és apaixonado pelos pecadores? É escandaloso ver-te no domingo cedo conversando com Madalena, ressuscitado? Não. Isto é amor. Ágape.

            Um dia, disseste-me: por que choras? Ah, moço! Entrega-te ao amor e pronto! Tudo ficará bem. Fácil, não? Sim, mas como entender isso?... As teologias e filosofias humanas não me convencem. Elas não me tocam. Elas não te tocam. Elas não conseguem encontrar a moeda perdida, o peixe do mar, o tesouro do campo. Falam de tudo, mas não contemplam a perfeição do miolo, do centro, da ceiva, do essencial. Não há nada mais a ser dito. Há o que se precisa viver, apalpar, tocar na chaga aberta para sentir a alegria da ressurreição.

            Amor e ressurreição, enfim podemos dizer da íntima ligação entre vocês. Amar é ressuscitar. Somente ressuscita quem ama! Isto é exatamente certo. É o fundamental. Ressuscitar é passar de um estado a outro, de um estágio a outro, de uma vida morta para uma vida viva, das trevas para a luz, sem mágica, sem sacrifícios, sem ilusões, sem medo... Com coragem! “Não tenhas medo!”, eis o segredo.

O segredo da felicidade: não tenhais medo de vos entregar à força mais poderoso do mundo, o amor. Força capaz de te fazer feliz sem que tenhas nada, sem que sejas nada neste mundo. Tu e o amor. Livres de tudo o que prende e aliena. Isto te basta. Assim, a palavra se recolhe, silencia, dar lugar à prece e ao convite, à exortação e ao clamor: no amor do Deus de todas as raças e crenças, imploramos, clamamos de joelhos e com lágrimas, amas e sejas feliz, tu e toda a criação da qual és parte desde agora e para sempre!...


Tiago de França

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