Com este artigo
iniciamos uma série de reflexões a respeito das eleições deste ano.
Discorreremos, inicialmente, sobre alguns aspectos que chamam a atenção na
maneira dos três principais candidatos à presidência da República fazerem política.
Posteriormente, desejamos, ainda, oferecer algumas pistas de reflexão sobre a
importância do voto para a consolidação democrática do país.
Interessa-nos,
igualmente, falar sobre alguns tipos de eleitores, assim como uma possível
análise da conjuntura política nacional. Nosso objetivo não é apontar um
candidato para a escolha do leitor/eleitor, mas ajudar, na medida do possível,
a esclarecer algumas questões que são escondidas pelo sensacionalismo
midiático.
Analisando o programa de governo, a forma de falar e de
se comportar diante das pessoas, a propaganda partidária e a realidade do
Estado de Minas Gerais, queremos dar ênfase a alguns aspectos que julgamos
relevantes sobre o candidato do PSDB, Aécio Neves. Reservamo-nos a não falar a
respeito de algumas acusações graves que circulam nas conversas informais entre
inúmeros mineiros. Tais acusações precisam ser melhor apreciadas pelo poder
judiciário, que é o órgão competente para isto.
Portanto,
não ouso, aqui, mencionar nem reforçar questões ligadas às alianças espúrias
que o mencionado candidato tem em Minas. Para isto, o leitor pode pesquisar na
internet, ou vir a Minas Gerais, especialmente a Belo Horizonte, para escutar
os comentários nas conversas informais de inúmeros mineiros e, entre outras
formas, informar-se melhor.
A análise atenta e apurada dos candidatos à presidência é
um direito e um dever do eleitor. A desinformação é uma das piores desgraças da
política brasileira. Políticos corruptos e mal intencionados se identificam e
são promovidos por eleitores desinformados e alienados. Infelizmente, a escola
pública não ensina o brasileiro a pensar e analisar questões políticas. Tais
questões não fazem parte da grade curricular.
No
Ensino Médio, a sociologia e a filosofia são odiadas pela maioria dos
estudantes. Com muito sacrifício, tais disciplinas permanecem na escola
brasileira. Geralmente, os estudantes não veem utilidade na sociologia e na
filosofia. O resultado é a cegueira política de uma juventude desorientada, que
só sabe consumir, vivendo mergulhada nos modismos e na repetição irracional
daquilo que os norteamericanos produzem para o mundo.
Aécio Neves representa com legitimidade os interesses
daqueles que sempre dominaram o país: uma classe burguesa que deseja ter
assegurados os seus privilégios. Aqui em Minas, o governo do PSDB governa em
plena sintonia com os mais ricos dos mineiros. Os pobres, tanto da capital
quanto do interior, especialmente os da região mais pobre de Minas, no Vale do
Jequitinhonha e Norte do estado, são esquecidos. Somente são lembrados nos
repasses dos programas sociais do governo federal e em algumas circunstâncias
acidentais.
Não
há um projeto político de inclusão dos pobres. Há uma dificuldade imensa de
aproximação dos pobres em relação ao governo. Encontrar-se com os pobres e
escutá-los em suas necessidades básicas e em seus direitos fundamentais, nunca
foi a marca do candidato Aécio Neves, nem de seu partido. Ambos não tem origem
na política popular, mas identificam-se com o poder pelo poder. Por isso,
desconhecem o sentido do que vem a ser participação popular.
O jeito de fazer política do candidato Aécio Neves
corresponde aos anseios da alta classe econômica do país. Isto ele não esconde
em seus discursos. Até tenta camuflar, mas não consegue. Percebe-se claramente
este esforço em tentar mostrar que dialoga com os humildes e pobres, dos
recantos mais afastados do país, mas tudo não passa de visitas esporádicas e
eleitoreiras.
Política
corporativista não oferece espaço para nenhuma forma de participação popular.
Toda iniciativa popular é considerada suspeita. O maior medo dos políticos
desta linha é a aproximação do povo pobre. Este precisa ser domesticado e
mantido na sua pobreza. Isto explica o desinteresse pela educação, pois um povo
sem educação é ferramenta eficaz para a manutenção deste tipo de político no
poder.
A apresentação de propostas concretas por parte do
candidato é quase inexistente. O mesmo se acostumou a fazer a velha política,
pautada no ataque direto ao PT. Este partido era o de oposição. Hoje, está no
poder. O PSDB não consegue fazer oposição ao governo petista e o motivo é
simples: durante toda a sua história, até a posse do presidente Lula, os
políticos do PSDB não sabiam o que era ser oposição porque sempre estiveram no poder.
E
o pior é que não admitem ficar muito tempo fora da situação principal.
Diferentemente do PMDB, que apoia todo mundo, o PSDB se mostra como o partido
capaz de manter-se, indefinidamente, no poder. É verdade que este é um mal de praticamente
todos os políticos, mas com o PSDB parece ser mais evidente, consequentemente,
mais visivelmente violento. Como nenhum outro partido, assimilou com astúcia e
ousadia a infeliz e trágica política neoliberal que domina o país desde a era
FHC.
Promessas genéricas acompanhadas por ataques diretos, não
ao jeito do adversário governar, mas à pessoa do adversário, é sinal claro de
desespero. O que isso significa? Qualquer cidadão pode fazer uma promessa
genérica porque o faz sem saber como vai realizar. A promessa genérica é
mentirosa porque não está essencialmente ligada ao contexto social existente. Por
exemplo, um candidato promete que vai acabar com a corrupção no Brasil. Este é
o anseio de todos os brasileiros de bom senso.
Diante
disso, pergunta-se: como acabar com a corrupção política? Uma saída é a reforma
política. Como fazer essa reforma? Quem vai fazer essa reforma? Quando será
efetivada? A quem interessa? Qual o espaço de participação efetiva do cidadão
no projeto de reforma? Que tipo de político pode efetivá-la? Aécio Neves e o
PSDB não almejam reforma política no país. Seria uma contradição considerar tal
reforma parte do seu plano de governo. Aécio Neves é mineiro, tradicional, não
foi educado para lidar com reforma política. Esta só é verdadeira quando parte
do povo e se remete ao povo, e este sempre esteve distante do candidato
psdebista.
O povo brasileiro conhece muito bem o estilo psdebista de
governar. Se observamos com atenção todas os estados da federação que são
governados pelo PSDB, não teremos nenhuma dificuldade em observar a falta de
planejamento, os altos investimentos em propaganda governamental (aqui em Minas
se gastou 1 bilhão de reais nos últimos anos!), as estranhas alianças com
grandes empresários, a total abertura à iniciativa privada em detrimento da
coisa pública, a ausência de canais efetivos de participação popular, a
dificuldade de gerenciamento do patrimônio e das verbas públicas e a ineficácia
de certos projetos. Muitos outros aspectos negativos poderiam ser apontados,
mas estes parecem ser os mais graves, não nos esquecendo, é claro, do desvio de
recursos públicos, que a justiça não dar conta de apurar e que fica por isso
mesmo.
Desse modo, está mais que evidente, que Aécio Neves não
representa um novo jeito de governar. Ele é uma versão moderna do governo FHC.
Moderna em que sentido? No sentido neoliberal de ser e de agir. Neste sentido,
o progresso não passa pelo politicamente sustentável, mas pelo politicamente
sufocável. O politicamente sustentável é coisa do plano de governo da candidata
Marina Silva, que será considerada no próximo artigo de nossa série.
Aécio
Neves adota o estilo de governar dos norteamericanos, pautado no neoliberalismo
(consumo desenfreado, pseudodemocracia, visão criminosamente exploradora da
natureza, enriquecimento em detrimento de uma vida saudável, arrogância e
intolerância na relação com o diferente, legitimação da mídia oficial etc.).
Quem deseja a renovação da política brasileira não encontra um motivo sequer
para votar no candidato Aécio Neves. Se eleito, irá continuar aquilo que FHC fez
durante anos: recolocar os pobres no lugar que ele considera devido, o lugar da
servidão aos mais poderosos do país. Quando os pobres são relegados à
servidão o futuro do país torna-se, inegavelmente, incerto e sombrio.
O leitor/eleitor deve está se perguntando: qual a
diferença entre Aécio Neves e os demais candidatos? Aguarde os próximos
artigos, caso queira saber de nossa visão. Os eleitores do candidato psdebista
que leram este artigo, certamente, não devem ter gostado. A estes, pedimos,
cordialmente, que considerem com humildade e abertura estas nossas críticas.
Leia-as com os olhos abertos diante da realidade. Talvez não estejamos
equivocados. A liberdade de expressão do pensamento é essencialmente necessária
para o imprescindível discernimento político, tão urgentemente necessário para
construirmos um país melhor.
Tiago de França
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