quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Aécio Neves do PSDB

             Com este artigo iniciamos uma série de reflexões a respeito das eleições deste ano. Discorreremos, inicialmente, sobre alguns aspectos que chamam a atenção na maneira dos três principais candidatos à presidência da República fazerem política. Posteriormente, desejamos, ainda, oferecer algumas pistas de reflexão sobre a importância do voto para a consolidação democrática do país.

Interessa-nos, igualmente, falar sobre alguns tipos de eleitores, assim como uma possível análise da conjuntura política nacional. Nosso objetivo não é apontar um candidato para a escolha do leitor/eleitor, mas ajudar, na medida do possível, a esclarecer algumas questões que são escondidas pelo sensacionalismo midiático.

            Analisando o programa de governo, a forma de falar e de se comportar diante das pessoas, a propaganda partidária e a realidade do Estado de Minas Gerais, queremos dar ênfase a alguns aspectos que julgamos relevantes sobre o candidato do PSDB, Aécio Neves. Reservamo-nos a não falar a respeito de algumas acusações graves que circulam nas conversas informais entre inúmeros mineiros. Tais acusações precisam ser melhor apreciadas pelo poder judiciário, que é o órgão competente para isto.

Portanto, não ouso, aqui, mencionar nem reforçar questões ligadas às alianças espúrias que o mencionado candidato tem em Minas. Para isto, o leitor pode pesquisar na internet, ou vir a Minas Gerais, especialmente a Belo Horizonte, para escutar os comentários nas conversas informais de inúmeros mineiros e, entre outras formas, informar-se melhor.

            A análise atenta e apurada dos candidatos à presidência é um direito e um dever do eleitor. A desinformação é uma das piores desgraças da política brasileira. Políticos corruptos e mal intencionados se identificam e são promovidos por eleitores desinformados e alienados. Infelizmente, a escola pública não ensina o brasileiro a pensar e analisar questões políticas. Tais questões não fazem parte da grade curricular. 

No Ensino Médio, a sociologia e a filosofia são odiadas pela maioria dos estudantes. Com muito sacrifício, tais disciplinas permanecem na escola brasileira. Geralmente, os estudantes não veem utilidade na sociologia e na filosofia. O resultado é a cegueira política de uma juventude desorientada, que só sabe consumir, vivendo mergulhada nos modismos e na repetição irracional daquilo que os norteamericanos produzem para o mundo.

            Aécio Neves representa com legitimidade os interesses daqueles que sempre dominaram o país: uma classe burguesa que deseja ter assegurados os seus privilégios. Aqui em Minas, o governo do PSDB governa em plena sintonia com os mais ricos dos mineiros. Os pobres, tanto da capital quanto do interior, especialmente os da região mais pobre de Minas, no Vale do Jequitinhonha e Norte do estado, são esquecidos. Somente são lembrados nos repasses dos programas sociais do governo federal e em algumas circunstâncias acidentais. 

Não há um projeto político de inclusão dos pobres. Há uma dificuldade imensa de aproximação dos pobres em relação ao governo. Encontrar-se com os pobres e escutá-los em suas necessidades básicas e em seus direitos fundamentais, nunca foi a marca do candidato Aécio Neves, nem de seu partido. Ambos não tem origem na política popular, mas identificam-se com o poder pelo poder. Por isso, desconhecem o sentido do que vem a ser participação popular.

            O jeito de fazer política do candidato Aécio Neves corresponde aos anseios da alta classe econômica do país. Isto ele não esconde em seus discursos. Até tenta camuflar, mas não consegue. Percebe-se claramente este esforço em tentar mostrar que dialoga com os humildes e pobres, dos recantos mais afastados do país, mas tudo não passa de visitas esporádicas e eleitoreiras.  

Política corporativista não oferece espaço para nenhuma forma de participação popular. Toda iniciativa popular é considerada suspeita. O maior medo dos políticos desta linha é a aproximação do povo pobre. Este precisa ser domesticado e mantido na sua pobreza. Isto explica o desinteresse pela educação, pois um povo sem educação é ferramenta eficaz para a manutenção deste tipo de político no poder.

            A apresentação de propostas concretas por parte do candidato é quase inexistente. O mesmo se acostumou a fazer a velha política, pautada no ataque direto ao PT. Este partido era o de oposição. Hoje, está no poder. O PSDB não consegue fazer oposição ao governo petista e o motivo é simples: durante toda a sua história, até a posse do presidente Lula, os políticos do PSDB não sabiam o que era ser oposição porque sempre estiveram no poder.  

E o pior é que não admitem ficar muito tempo fora da situação principal. Diferentemente do PMDB, que apoia todo mundo, o PSDB se mostra como o partido capaz de manter-se, indefinidamente, no poder. É verdade que este é um mal de praticamente todos os políticos, mas com o PSDB parece ser mais evidente, consequentemente, mais visivelmente violento. Como nenhum outro partido, assimilou com astúcia e ousadia a infeliz e trágica política neoliberal que domina o país desde a era FHC.

            Promessas genéricas acompanhadas por ataques diretos, não ao jeito do adversário governar, mas à pessoa do adversário, é sinal claro de desespero. O que isso significa? Qualquer cidadão pode fazer uma promessa genérica porque o faz sem saber como vai realizar. A promessa genérica é mentirosa porque não está essencialmente ligada ao contexto social existente. Por exemplo, um candidato promete que vai acabar com a corrupção no Brasil. Este é o anseio de todos os brasileiros de bom senso.  

Diante disso, pergunta-se: como acabar com a corrupção política? Uma saída é a reforma política. Como fazer essa reforma? Quem vai fazer essa reforma? Quando será efetivada? A quem interessa? Qual o espaço de participação efetiva do cidadão no projeto de reforma? Que tipo de político pode efetivá-la? Aécio Neves e o PSDB não almejam reforma política no país. Seria uma contradição considerar tal reforma parte do seu plano de governo. Aécio Neves é mineiro, tradicional, não foi educado para lidar com reforma política. Esta só é verdadeira quando parte do povo e se remete ao povo, e este sempre esteve distante do candidato psdebista.

            O povo brasileiro conhece muito bem o estilo psdebista de governar. Se observamos com atenção todas os estados da federação que são governados pelo PSDB, não teremos nenhuma dificuldade em observar a falta de planejamento, os altos investimentos em propaganda governamental (aqui em Minas se gastou 1 bilhão de reais nos últimos anos!), as estranhas alianças com grandes empresários, a total abertura à iniciativa privada em detrimento da coisa pública, a ausência de canais efetivos de participação popular, a dificuldade de gerenciamento do patrimônio e das verbas públicas e a ineficácia de certos projetos. Muitos outros aspectos negativos poderiam ser apontados, mas estes parecem ser os mais graves, não nos esquecendo, é claro, do desvio de recursos públicos, que a justiça não dar conta de apurar e que fica por isso mesmo.

            Desse modo, está mais que evidente, que Aécio Neves não representa um novo jeito de governar. Ele é uma versão moderna do governo FHC. Moderna em que sentido? No sentido neoliberal de ser e de agir. Neste sentido, o progresso não passa pelo politicamente sustentável, mas pelo politicamente sufocável. O politicamente sustentável é coisa do plano de governo da candidata Marina Silva, que será considerada no próximo artigo de nossa série.

Aécio Neves adota o estilo de governar dos norteamericanos, pautado no neoliberalismo (consumo desenfreado, pseudodemocracia, visão criminosamente exploradora da natureza, enriquecimento em detrimento de uma vida saudável, arrogância e intolerância na relação com o diferente, legitimação da mídia oficial etc.). Quem deseja a renovação da política brasileira não encontra um motivo sequer para votar no candidato Aécio Neves. Se eleito, irá continuar aquilo que FHC fez durante anos: recolocar os pobres no lugar que ele considera devido, o lugar da servidão aos mais poderosos do país. Quando os pobres são relegados à servidão o futuro do país torna-se, inegavelmente, incerto e sombrio.

            O leitor/eleitor deve está se perguntando: qual a diferença entre Aécio Neves e os demais candidatos? Aguarde os próximos artigos, caso queira saber de nossa visão. Os eleitores do candidato psdebista que leram este artigo, certamente, não devem ter gostado. A estes, pedimos, cordialmente, que considerem com humildade e abertura estas nossas críticas. Leia-as com os olhos abertos diante da realidade. Talvez não estejamos equivocados. A liberdade de expressão do pensamento é essencialmente necessária para o imprescindível discernimento político, tão urgentemente necessário para construirmos um país melhor.


Tiago de França

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