Sempre que celebro meu
aniversário, me recordo de uma sentença irrefutável: “Tudo passa!” Esta sentença nos convence a respeito da transitoriedade de todas as coisas. Crer
nisso significa que não podemos nos apegar a nada, nem em nós mesmos, pois também
passamos. Buscar ser livre para ser feliz no amor: eis nossa vocação.
A vida não é, certamente, uma mera sucessão de horas,
dias, meses e anos. Quando falamos da vida estamos nos referindo à plena existência,
ao existir que pede mais vida, que almeja felicidade. Esta, por sua vez, não é
quantidade, nem pressa. A felicidade é questão de ser, de vir a ser, de
construção feliz da própria personalidade, de crescimento quantitativo, de
humanidade.
Falando em humanidade, é desta que precisamos. O mundo
está tão cinza, tão avermelhado, tão desanimador. Claro que há rosas, verde,
sorriso, amor aflorando em toda parte e no coração de tanta gente. No entanto,
há uma massa sem nomes de desvalidos, de esquecidos e mutilados. Escutamos gritos
vindos lá dos aglomerados, das pessoas sentindo frio, de crianças impedidas de
se tornarem adultas, emudecidas.
O passar dos anos nos torna amadurecidos. É verdade que
alguns regridem, infantilizam-se. Não se tornam crianças, mas somente as
aparentam. Na verdade, recusam-se a ver que algo está fora do lugar. Aliás, há
muita coisa fora do lugar, há muita desarmonia. Assiste-se a um desequilíbrio e
a uma dispersão geral. Há uma massa de gente desorientada que não sabe para
onde ir, não encontram referências. Quando aparece a luz, alguém a encobre,
impiedosamente.
Aí está o essencial da vida. Nas entrelinhas e
encruzilhadas da história, no meio da confusão e tentando sobreviver, o amor
está como que ressoando. Ora se enfraquece, ora resplandece. Evitar o desespero
também significa dizer: Gente, nem tudo
está perdido! Isto é despertar a esperança. Não aquela esperança de gente
desatenta e romântica, mas aquela semeada pelo Nazareno, o pobre Jesus. Estamos
falando de uma esperança ativa que se manifesta gloriosamente no mundo quando
as pessoas, destemidamente, entregam-se à força mais poderosa do mundo: o amor.
O passar dos anos nos aponta para o necessário e,
portanto, essencial: o amor. Não nos deve cansar de repetir isso: crer no mundo
novo é crer na força do amor. Não adianta acreditar e esperar que o poder, o
prestígio e a riqueza sejam a solução para a erradicação ou abrandamento dos
males que afetam a vida humana. Não adianta. A realidade mostra que o caminho é
outro. É outra a saída. Esta se encontra no amor. Naquele amor que não é coisa
morna, vomitável. Não! Estamos falamos do novo mandamento de Jesus: um amor
belo, forte, ardente, audacioso, doação. Amor que se faz solidariedade e
comunhão.
Há muito tempo e a cada dia que passa cria em mim raízes
profundas a seguinte convicção: a de que a vida se transborda no horizonte
feliz de uma peregrinação que vale a pena viver. Somos peregrinos nas estradas
deste mundo desigual. Deus em Jesus e no Espírito me faz acreditar na existência
daquele belíssimo momento do encontro dos filhos com seu Pai. E todos, crentes
e não crentes, consciente ou inconscientemente, somos como que atraídos para a
festa feliz e duradoura do reencontro entre Criador e criatura. O amor nos
conduz, guia-nos, orienta-nos, nos mantém na fidelidade.
Em meio a tanto pecado e tanta fraqueza, Deus permanece
fiel. Ele sabe de que somos feitos. Por isso, absolutamente, não liga para
nossas infidelidades. Estas não o prejudicam, mas nos prejudicam. Por isso que
Ele é pura misericórdia e acolhida. Sendo dessa forma, ensina-nos, amando-nos,
a sermos amorosos. Não há como escapar: pelo amor, por amor e no amor, caminhamos
firmes e perseverantes no caminho de Jesus, sentindo as dores de nossas chagas
abertas, rumo ao aconchego acolhedor do Deus Pai e Mãe de bondade e ternura.
Assim, calo-me e recolho-me. Agora termina o dia. Sinto-me
feliz. Não ando a procura de nada porque já tenho tudo. O Tudo de nossa vida
não nos falta, nem ninguém nos pode tirar. As demais coisas são meras coisas. Estão
demasiadamente abaixo do que somos e procuramos ser. Felicidade? Está aqui e
agora, dentro. Não é ontem, nem amanhã, mas tão somente agora. É abertura e
sensibilidade, é transfiguração para uma nova realidade. Realidade sempre
re-novada. Nunca, pois, foi outra. Deus me conserve assim. Obrigado!
Tiago de França
Nenhum comentário:
Postar um comentário