quinta-feira, 7 de agosto de 2014

O Templo de Salomão da Igreja Universal do Reino de Deus

“Não está escrito que ‘a minha casa será chamada casa de oração’? vós, porém, fizestes dela um antro de ladrões” (Mc 11, 17).

            Os cristãos que frequentam a Igreja Universal do Reino de Deus merecem todo o nosso respeito. Geralmente, o povo procura as Igrejas para encontrar uma saída para suas angústias e aflições, querendo manter viva a esperança. Isto é bom, justo e agradável a Deus. Desse modo, a religião cumpre seu papel de religar o ser humano a Deus.  

Por outro lado, infelizmente, todas as religiões se prestam à corrupção. Por que isto ocorre? Porque todas são criações humanas e onde se encontra o ser humano podemos encontrar o pecado. Há muito pecado no interior das religiões, muitos desvios e descaminhos. Alguns desvios não chamam tanto a atenção, pois constituem pequenas falhas; outros, porém, são escândalos que precisam ser denunciados com veemência, à luz da palavra de Deus.

            No evangelho de Jesus encontramos um forte conflito que ocorria no interior do Judaísmo. Nesta religião também havia corrupção. Seus líderes tinham se desviado do caminho que conduz a Deus e se aproveitavam da religião para se beneficiarem. O povo era explorado através do rigoroso sistema de sacrifícios oferecidos no Templo, assim como pela oferta dos dízimos.

Os sacerdotes do Templo eram homens ricos e somente a eles estava reservada a função de oferecer os sacrifícios. O povo encontrava no interior do próprio Templo os animais e oferendas, que eram vendidos livremente. No livro de Levítico do Antigo Testamento da Bíblia podemos encontrar a infinidade de sacrifícios que eram oferecidos a Deus.

            Jesus de Nazaré não aboliu a lei, mas aperfeiçoou-a. Em algumas ocasiões, Jesus enviou aos sacerdotes do Templo algumas pessoas que tinham sido curadas por ele. Isto não significa sua explícita adesão ao sistema sacrifical. Na verdade, o que estava querendo é que os sacerdotes vissem que Deus age na liberdade, sem a necessidade de oferendas de sacrifícios. Em Jesus, Deus não necessita de sacrifício algum, mas é misericórdia e deseja que esta apareça nas relações entre as pessoas.  

Já no Antigo Testamento, em muitos lugares e ocasiões os profetas denunciavam o sistema sacrifical. Não agrada a Deus o louvor, os sacrifícios e oferendas realizadas por quem se utiliza de tudo isto para enganar e explorar o próximo. Portanto, a exploração religiosa é inaceitável e sempre se mostrou demasiadamente perigosa.

            A partir da experiência e do ensinamento de Jesus, desde as primeiras comunidades cristãs, os cristãos compreenderam que o sistema sacrifical não é necessário no seguimento de Jesus, o Cristo. A ação amorosa de Deus é livre, generosa e gratuita. Não poderia existir nenhuma forma de negócio com Deus. Isto é antievangélico.  

Deus não necessita de nada, nem de nossas orações. Estas não acrescentam nada ao que Ele é. Somente Deus se basta, pois é o Absoluto, o Tudo em todos. É o Pai de Jesus, a fonte de todo bem e de toda graça. A necessidade do culto é do ser humano. Deus não precisa de culto. Dízimos, oferendas, cânticos, incenso, homenagens etc. estão em função dos crentes. Deus não precisa de nada disso. Estas e tantas outras coisas se prestam à beleza do encontro com Deus pela via religiosa, mas não constituem o único caminho, nem, portanto, podem ser absolutizadas.

            A Igreja católica foi a primeira no cristianismo que, herdando do sistema sacrifical judaico a cultura do Templo como morada de Deus e as oferendas de sacrifícios, começou a erguer grandiosos templos. Basílicas, santuários, catedrais, matrizes e capelas povoaram praticamente o mundo inteiro. Durante toda a Idade Média e já um pouco antes, a Igreja fez questão de demonstrar a sua influência através da grandiosidade de seus templos.  

Exemplo disso é a conflituosa história da construção da Basílica de São Pedro, em Roma. Aqui não queremos explicitá-la. Basta observá-la para ver a grandiosidade física e a riqueza cultural, artística e financeira daquele templo. Estando no Estado do Vaticano se tornou símbolo do poder espiritual e temporal da Igreja católica. Jesus não pediu nada disso!

            No Brasil, não é diferente. Com o passar dos anos, o neopentecostalismo tomou conta do cristianismo. Multiplicam-se as denominações religiosas. A conduta e a intenção de inúmeros pastores são questionáveis. Os mais acordados afirmam ironicamente ao passar diante de muitos templos: “Acho que vou ser pastor! Esse negócio dá dinheiro!”  

De fato, o salário de um líder na Igreja Universal do Reino de Deus é escandaloso. Os processos na justiça e as notícias oriundas de quem conhece de perto apontam para o claro enriquecimento que ocorre naquela Igreja. Pessoalmente, conheço algumas pessoas que foram vítimas da equivocada interpretação bíblica que lá se pratica e dos abusos que daí decorre.  

            No fim do mês de julho, o bispo Edir Macedo, fundador da Universal inaugurou em São Paulo um templo denominado Templo de Salomão. Dom Henrique Soares da Costa, bispo católico da Diocese de Palmares, em Pernambuco, conhecido pelo seu conservadorismo, publicou um artigo a respeito do Templo de Salomão. Iniciou com algumas considerações bíblicas e em seguida atacou em um tom pouco ecumênico.

Não quero comentar seu artigo, que circula pelas redes sociais. É um texto que não vale a pena ler. Discordo da maneira como muitos católicos reagem aos não católicos, principalmente alguns bispos e padres, pois discutem mais em função da identidade religiosa que do evangelho que aponta para outro rumo. A discussão se transforma em competição religiosa, vergonhosamente abominável diante de Deus.

            Assim como o bispo Edir Macedo, com sua mania de grandeza, alguns bispos católicos agem da mesma forma. Somente para ilustrar, vamos a um exemplo: aqui, na Arquidiocese de Belo Horizonte, o arcebispo metropolitano projetou a construção da Catedral de Cristo Rei. O projeto aponta para a construção de um grandiosíssimo templo, que custará muitos milhões de reais.  

Claro que não chega a 680 milhões de reais, com capacidade para receber 10 mil pessoas, como é o caso do Templo de Salomão, mas não se trata de qualquer templo a ser erguido em qualquer lugar. Assim como em Belo Horizonte, em muitos outros lugares do Brasil, muitos bispos e padres católicos padecem com este mal: arrecadar milhões de reais para a construção de grandiosos templos. É um sinal claro de que a religião entrou na lógica do mercado, pautada no lucro, na competição, na propaganda e na oferta qualificada de serviços.

            E o anúncio e edificação do Reino de Deus, como ficam? O bispo Edir Macedo não sabe o que significa o Reino de Deus, apesar de tal expressão fazer parte do nome de sua Igreja. No evangelho, quando fala do Reino, Jesus compara-o a pequenas coisas. O Reino nasce e cresce no meio dos pequenos.

Ao contrário do que muitos pensam e creem, o Reino não acontece a partir da realização do culto em grandes templos, nem depende de grandes realizações. Estes estão para a satisfação do ego de seus idealizadores e construtores, e para causar boa impressão. Serve também para virar notícia na mídia. Ultimamente, tem agradado mais ao diabo que a Deus, muitos cultos nestes templos.

            Enfim, finalizemos enfatizando aquilo que é genuinamente evangélico: Deus deve ser adorado em espírito e em verdade, conforme ensinou Jesus no evangelho segundo João. Isto significa a queda dos templos construídos pela inteligência humana para que surja um novo culto: aquele que ocorre no encontro com o próximo. Quando os templos de concreto são erguidos, consequentemente e geralmente, o próximo é marginalizado.  

Com que dinheiro estes templos são mantidos? Com o dinheiro dos pobres! São os pobres que formam a maioria que sustenta os templos religiosos. Tirar o pão da boca dos pobres é um pecado gravíssimo! Em nome de Deus, os profetas de ontem e de hoje sentenciam uma verdade biblicamente comprovada e necessária: Ai daquele que tirar o pão da boca dos pobres para viver no luxo e na ostentação! Tomando as palavras de Jesus, afirmamos: Seria melhor que não tivessem nascido!


Tiago de França

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