sábado, 30 de agosto de 2014

Seguir Jesus hoje

“Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e me siga. Pois quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim vai encontrá-la” (Mt 16, 24 – 25).

            Estas palavras de Jesus são fortes. Feliz a pessoa que as observar, pois encontrará a verdadeira vida! Jesus está falando das exigências do seguimento. Muitas pessoas desejam segui-lo, mas poucas conseguem. Algumas pensam que estão seguindo Jesus sendo fieis aos preceitos religiosos. Estes não conduzem, necessariamente, ao caminho de Jesus. Não deveria haver confusão entre este caminho e a religião. São duas realidades distintas. Os textos evangélicos mostram Jesus falando de um caminho, não de uma religião. Quando esta aparece, ele a critica duramente.

Se alguém quer me seguir...

            É um convite universal. Ninguém está excluído do chamado ao seguimento de Jesus. Seu caminho é aberto, estreito e pedregoso. Nele não há ilusão nem falsas promessas. As pessoas se decidem, livremente. Ninguém é forçado a nada. Há um profundo respeito ao ritmo e ao jeito de cada pessoa. O importante é permanecer firme, perseverar. A perseverança é dom de Deus e virtude dos peregrinos que se colocam no caminho de Jesus. Há tantos que desanimam, que se perdem, que se desviam, que não suportam...

Não se trata de “se alguém quiser me adorar”. Adorar é fácil, basta professar com a boca, como a maioria faz. Há uma exposição gigantesca de Jesus nas Igrejas. Há gritos e louvores e preces, incenso e vestes solenes, música e teatro. Tudo parece muito belo e causa arrepios. Isto não é seguimento, mas adoração de Jesus. Há muita religião pra pouco seguimento. Isto parece que não agrada a Deus.

...renuncie a si mesmo...

            Renunciar não é maquiar, nem fazer-se de conta. Isto se chama mentira, falsidade. O caminho de Jesus exige decisão. Não se pode ser morno. Este acomoda, dá sono, cega e ensurdece. Ficar em cima do muro é pecado. Com Jesus não existe neutralidade. Para ele, neutralidade é covardia, coisa de gente frouxa, medrosa. Renunciar a si mesmo é atitude de poucos. Não significa autoaniquilamento! Isto seria masoquismo. Crítica barata de gente que se diz ateia. 

Renunciar a si mesmo é assumir a condição de ser humano, é procurar ser plenamente humano. É renunciar ao egoísmo e à indiferença e entregar-se ao amor. Pessoas egoístas e indiferentes passam toda a sua vida procurando satisfazer seus desejos, vontades e interesses. Quem assim procede está longe, mas muito longe do caminho de Jesus. Infelizmente, é grande o número dos que procuram o culto religioso para somente reforçar este espírito de egoísmo e indiferença. Isto não é cristianismo, mas coisa de satanás! O que as pessoas procuram? Desejam, ardentemente, e procuram, incansavelmente, o poder, o sucesso e o dinheiro; ao mesmo tempo em que procuram, também, legitimidade na religião, aparentando piedade, zelo e amor ao próximo. Coisa de satanás!

...tome sua cruz...

            Há dois extremos a serem evitados quando se fala da cruz no seguimento a Jesus: o primeiro significa transformá-la em prática masoquista. Neste sentido, seguir Jesus é tão somente sofrimento e morte. É o que escutamos nas pregações nas quais aparece um Cristo sem ressurreição. Há somente a sexta-feira da paixão e nunca a páscoa. Segundo, os neopentecostais, em todas as Igrejas, inclusive na Igreja católica, distorcem a teologia da cruz.

Basta escutar a pregação da Comunidade Canção Nova e logo se entenderá o que estamos afirmando. Prega-se uma cruz sem causa, um Cristo sem o Reino de Deus. Para eles, Jesus morreu porque estava escrito que devia morrer. Deus Pai planejou e executou tudo. Tal teologia, que remonta à idade medieval, continua vigorando. Como crer neste Cristo? É simples. Basta olhar para sua imagem na cruz e chorar amargamente o peso dos próprios pecados. Dar graças a Deus pelo sangue preciosíssimo de Jesus, que tem poder para lavar o pecado das almas.  

Assusta-nos ver a conivência da maioria em relação a este tipo de coisa, que não tem nada que ver com o evangelho. Tomar a cruz é entrar no caminho de Jesus. Ao ingressar no caminho logo se sente o peso da cruz: incompreensões, perseguições, calúnias, difamação, torturas, morte. Não se trata de mero sofrimento, nem de morte gratuita, mas de sofrimento e morte que acontecem na adesão ao Reino de Deus. É participação na mesma sorte de Jesus. Não é sofrer por causa do apego ao dinheiro, ao sucesso e ao poder.  

...quem quiser salvar sua vida vai perdê-la...

            Quem são os que querem salvar suas vidas? Geralmente, são aquelas pessoas que almejam o que chamam de felicidade. Procuram conforto. Tal procura é pecaminosa? Deus não nos quer ver bem? O evangelho é sinônimo de derrotismo, fracasso, miséria? Estas perguntas são queridas por aqueles que procuram justificar seus apegos e procuras. De fato, Deus quer que sejamos felizes e vivamos bem, mas ser feliz e viver bem não são sinônimos de apegos e procuras pelo que é supérfluo.  

Quanto mais apegada for uma pessoa, mais está procurando cada vez mais. Sua sede é insaciável. E o pior é que a vida do outro e, consequentemente, a fraternidade são totalmente ignoradas. Há uma busca desesperada pelo “ser alguém na vida”. Em outras palavras, as pessoas querem grandeza, prestígio, querem dominar as mais frágeis. Ninguém quer perder, e/ou ser pequeno. A lógica do mundo está em ganhar, crescer, brilhar, aparecer, gozar infinitamente. Tudo em nome do que chamam de felicidade, que por si mesma é falsa. Há até um dito popular que tenta legitimar esta triste situação: “Cada um por si e Deus por todos!” É assim que as pessoas procuram salvar sua vida. Na verdade, estão perdendo-a.

... e quem perder a sua vida por causa de mim vai encontrá-la.

            Perder a vida por causa de Jesus é doá-la a favor do outro. No mundo do “salve-se quem puder!”, Jesus ensina o dom da fraternidade. Ser fraterno é renunciar aos próprios interesses e buscar o bem comum. Ser fraterno é deixar de preocupar-se consigo mesmo e abrir-se ao encontro com o outro. É ser como Jesus, não o imitando, mas agindo como ele agiu, amando como ele amou, na gratuidade e na liberdade. Somente assim, somos felizes e salvos. A salvação oferecida por Deus em Jesus e no Espírito acontece na fraternidade. Sejamos, pois fraternos. Aprendamos com Jesus a viver como irmãos, sendo verdadeiramente humanos. E a religião tem este papel: ajudar as pessoas a serem fraternas e humanas, libertando-se do egoísmo e da indiferença; do contrário, não exerce fielmente a sua missão no mundo, transformando-se em um desserviço à humanidade.

Tiago de França 

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