“Onde
dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou aí, no meio deles”
(Mt 18, 20).
Após ter falado aos discípulos sobre a importância da
correção fraterna na comunidade de seus seguidores, Jesus fala de sua presença
no meio deles. Os discípulos são chamados a reunirem-se em nome do Mestre, mas
reunirem-se para quê?...
Será
que quando os cristãos se reúnem em seus cultos e celebrações o fazem em nome
de Jesus? Será que estão conscientes do que estão fazendo? Quais os frutos
destas reuniões? A presença de Jesus é percebida nas reuniões? Ou será que tudo
não passa de mera repetição? Os rituais litúrgicos realmente levam as pessoas a
se encontrarem com Jesus, a perceberem sua presença? Com sinceridade e verdade,
as comunidades cristãs poderiam pensar sobre estas coisas.
Reunir-se em nome Jesus não significa, necessariamente,
participação no culto. Jesus não está mandando participar do culto. Ele não
estabeleceu tal participação como condição essencial para a salvação. Certamente,
na pregação nas comunidades católicas deste fim de semana, vai aparecer a
seguinte recomendação: “Estão vendo, irmãos! Jesus está mandando vocês
participarem da missa aos domingos!”
Tirando
Jesus desta recomendação, ela pode até ser válida; afinal de contas, os líderes
religiosos são autorizados a presidirem o culto no templo e não o fazem
sozinhos. Celebrações sem povo não tem sentido, exceto na Igreja católica antes
do Vaticano II, em que os padres e bispos celebravam missas para si mesmos, em
particular.
Jesus não está preocupado com o número dos que participam
da reunião, nem com o local da mesma. O importante é reunir-se em seu nome. Reunir-se
para a escuta e compreensão de sua palavra, pois nela ele se faz presente. Jesus
não está convidando as pessoas para se reunirem em torno do pão consagrado para
adoração. Reunir-se para adorar Jesus é coisa inventada muito tempo depois de
sua morte e ressurreição.
O
evangelho não contempla a adoração a Jesus, mas a adoração ao Pai em espírito e
verdade, ou seja, por meio do amor ao próximo. Dois ou três bastam para a
reunião. Onde há multidão, geralmente, há dispersão. As “marchas pra Jesus” e
as “caminhadas com Maria” não são reuniões, mas aglomerações de crentes em
função da identidade religiosa. Em outras palavras, tomam ruas e avenidas para
dizer: “Vejam, nossa Igreja é forte, temos ainda muita gente!” Não há mais nada
além disso.
Nos pontificados dos papas João Paulo II e Bento XVI,
assim como na maioria de seus predecessores, mas nos referimos mais a estes,
por serem mais recentes na história, havia uma exagerada preocupação pelas
rubricas litúrgicas. Bispos e padres, salvo exceções, faziam de tudo para
seguir, rigidamente, os rituais prescritos. Celebrar bem significava fazer
conforme os rituais, com total observância. Era uma patologia litúrgica!
Com
o papa Francisco isto deixou de existir, pois renunciou aos luxuosos paramentos
litúrgicos que somente serviam para demonstrar o poder simbólico do papa e da
Igreja. Recordo-me que os dois predecessores de Francisco, nas liturgias e fora
delas, se pareciam com os antigos reis medievais, ornados de ouro e púrpura.
As
multidões ficavam impressionadas. Nos seminários, conventos e casas paroquiais,
as grandes liturgias do Vaticano II, especialmente as canonizações, eram
acompanhadas com devoção e com lágrimas. O papa Francisco é discreto e humilde
nos paramentos e acusado, pelos conservadores, de ser um pouco como Jesus:
relaxado e despreocupado com o culto! Sendo papa não pode ser como Jesus, mas
tem frustrado muitos conservadores rubricistas, que tem sentido muita saudade
dos papas anteriores.
Reunir-se em nome de Jesus não é algo a ser feito em
função da religião, visando seu fortalecimento e manutenção. Os cristãos são
chamados a se reunirem para conhecê-lo melhor, para se alimentarem de sua palavra,
para atualizarem seu testemunho. Jesus assegura sua presença entre aqueles que,
de coração humilde e sincero, desejam participar de sua vida, colocando-se em
seu caminho.
Com
Jesus presente, a comunidade aprende a ser discípula e missionária, no anúncio
da Boa Notícia do Reino. Renunciando à hipocrisia religiosa e ao gravíssimo
pecado da indiferença, as comunidades se transformam em espaços fraternos de comunhão
e de participação, de encontro com o Cristo que se faz presente.
A reunião dos discípulos de Jesus não ocorre, necessariamente,
nos templos religiosos. Jesus não pensava no templo nem nas formalidades rituais
quando sugeriu a reunião de seus seguidores. Na Igreja primitiva, por causa da
perseguição por parte do império romano, os cristãos se reuniam nas casas, nas
famílias, nas catacumbas. Com o surgimento dos templos religiosos (capelas,
matrizes, catedrais, santuários, basílicas), aos poucos foi se perdendo o costume
de se reunir nas casas, nas famílias.
Hoje,
a maioria dos cristãos nem se reúne nas casas, nem vai aos templos. Os líderes
religiosos vivem preocupados, pois o povo não aparece. Não se perguntam pelos
motivos e quando os encontra, geralmente, a culpa é da televisão, da internet,
das partidas de futebol, das novelas, das festas, da preguiça etc., mas
dificilmente se admite que a culpa seja da instituição religiosa.
Apesar
disso, há muitos grupinhos, de duas ou três pessoas, que se reúnem em nome de
Jesus. Neles acontece o reconhecimento da sua presença amorosa, que confirma na
fé e no seguimento. Vale a pena, e é necessária esta reunião, pois é a escola
na qual aprendemos, com Jesus, a sermos como ele: humildes, despojados, livres,
misericordiosos, compreensivos e amorosos. É Jesus nosso pastor, o tudo de
nossa vida, o centro de nossa fé. Apaixonar-se por Ele é um mistério lindo de
ver e de viver!
Tiago de França
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