sábado, 6 de setembro de 2014

Em nome de Jesus

“Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou aí, no meio deles” (Mt 18, 20).

            Após ter falado aos discípulos sobre a importância da correção fraterna na comunidade de seus seguidores, Jesus fala de sua presença no meio deles. Os discípulos são chamados a reunirem-se em nome do Mestre, mas reunirem-se para quê?...

Será que quando os cristãos se reúnem em seus cultos e celebrações o fazem em nome de Jesus? Será que estão conscientes do que estão fazendo? Quais os frutos destas reuniões? A presença de Jesus é percebida nas reuniões? Ou será que tudo não passa de mera repetição? Os rituais litúrgicos realmente levam as pessoas a se encontrarem com Jesus, a perceberem sua presença? Com sinceridade e verdade, as comunidades cristãs poderiam pensar sobre estas coisas.

            Reunir-se em nome Jesus não significa, necessariamente, participação no culto. Jesus não está mandando participar do culto. Ele não estabeleceu tal participação como condição essencial para a salvação. Certamente, na pregação nas comunidades católicas deste fim de semana, vai aparecer a seguinte recomendação: “Estão vendo, irmãos! Jesus está mandando vocês participarem da missa aos domingos!”  

Tirando Jesus desta recomendação, ela pode até ser válida; afinal de contas, os líderes religiosos são autorizados a presidirem o culto no templo e não o fazem sozinhos. Celebrações sem povo não tem sentido, exceto na Igreja católica antes do Vaticano II, em que os padres e bispos celebravam missas para si mesmos, em particular.

            Jesus não está preocupado com o número dos que participam da reunião, nem com o local da mesma. O importante é reunir-se em seu nome. Reunir-se para a escuta e compreensão de sua palavra, pois nela ele se faz presente. Jesus não está convidando as pessoas para se reunirem em torno do pão consagrado para adoração. Reunir-se para adorar Jesus é coisa inventada muito tempo depois de sua morte e ressurreição.  

O evangelho não contempla a adoração a Jesus, mas a adoração ao Pai em espírito e verdade, ou seja, por meio do amor ao próximo. Dois ou três bastam para a reunião. Onde há multidão, geralmente, há dispersão. As “marchas pra Jesus” e as “caminhadas com Maria” não são reuniões, mas aglomerações de crentes em função da identidade religiosa. Em outras palavras, tomam ruas e avenidas para dizer: “Vejam, nossa Igreja é forte, temos ainda muita gente!” Não há mais nada além disso.

            Nos pontificados dos papas João Paulo II e Bento XVI, assim como na maioria de seus predecessores, mas nos referimos mais a estes, por serem mais recentes na história, havia uma exagerada preocupação pelas rubricas litúrgicas. Bispos e padres, salvo exceções, faziam de tudo para seguir, rigidamente, os rituais prescritos. Celebrar bem significava fazer conforme os rituais, com total observância. Era uma patologia litúrgica!  

Com o papa Francisco isto deixou de existir, pois renunciou aos luxuosos paramentos litúrgicos que somente serviam para demonstrar o poder simbólico do papa e da Igreja. Recordo-me que os dois predecessores de Francisco, nas liturgias e fora delas, se pareciam com os antigos reis medievais, ornados de ouro e púrpura.

As multidões ficavam impressionadas. Nos seminários, conventos e casas paroquiais, as grandes liturgias do Vaticano II, especialmente as canonizações, eram acompanhadas com devoção e com lágrimas. O papa Francisco é discreto e humilde nos paramentos e acusado, pelos conservadores, de ser um pouco como Jesus: relaxado e despreocupado com o culto! Sendo papa não pode ser como Jesus, mas tem frustrado muitos conservadores rubricistas, que tem sentido muita saudade dos papas anteriores.

            Reunir-se em nome de Jesus não é algo a ser feito em função da religião, visando seu fortalecimento e manutenção. Os cristãos são chamados a se reunirem para conhecê-lo melhor, para se alimentarem de sua palavra, para atualizarem seu testemunho. Jesus assegura sua presença entre aqueles que, de coração humilde e sincero, desejam participar de sua vida, colocando-se em seu caminho.  

Com Jesus presente, a comunidade aprende a ser discípula e missionária, no anúncio da Boa Notícia do Reino. Renunciando à hipocrisia religiosa e ao gravíssimo pecado da indiferença, as comunidades se transformam em espaços fraternos de comunhão e de participação, de encontro com o Cristo que se faz presente.

            A reunião dos discípulos de Jesus não ocorre, necessariamente, nos templos religiosos. Jesus não pensava no templo nem nas formalidades rituais quando sugeriu a reunião de seus seguidores. Na Igreja primitiva, por causa da perseguição por parte do império romano, os cristãos se reuniam nas casas, nas famílias, nas catacumbas. Com o surgimento dos templos religiosos (capelas, matrizes, catedrais, santuários, basílicas), aos poucos foi se perdendo o costume de se reunir nas casas, nas famílias.  

Hoje, a maioria dos cristãos nem se reúne nas casas, nem vai aos templos. Os líderes religiosos vivem preocupados, pois o povo não aparece. Não se perguntam pelos motivos e quando os encontra, geralmente, a culpa é da televisão, da internet, das partidas de futebol, das novelas, das festas, da preguiça etc., mas dificilmente se admite que a culpa seja da instituição religiosa.

Apesar disso, há muitos grupinhos, de duas ou três pessoas, que se reúnem em nome de Jesus. Neles acontece o reconhecimento da sua presença amorosa, que confirma na fé e no seguimento. Vale a pena, e é necessária esta reunião, pois é a escola na qual aprendemos, com Jesus, a sermos como ele: humildes, despojados, livres, misericordiosos, compreensivos e amorosos. É Jesus nosso pastor, o tudo de nossa vida, o centro de nossa fé. Apaixonar-se por Ele é um mistério lindo de ver e de viver!


Tiago de França

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