sábado, 11 de outubro de 2014

Fazer o que Jesus disser

           
            No texto evangélico da liturgia deste domingo (cf. Jo 2, 1 – 11), escolhido para a celebração da solenidade de Nossa Senhora Aparecida, aparece uma palavra que todo cristão precisa observar. Durante as bodas de Caná da Galileia, Maria aparece, discretamente, como aquela que percebe a falta de vinho e intercede a Jesus, a fim de que os noivos não passem vergonha.  

Jesus, então, realiza seu primeiro sinal: de repente, a festa se torna melhor, pois aparece vinho novo e abundante para todos. O sinal de Jesus tem a finalidade de despertar a fé e Maria ensina, com sua observação aos que estavam servindo, que a fé acontece na obediência à palavra de Jesus.

            Para fazer é preciso escutar. Sem escutar Jesus o discípulo nada sabe, na pode fazer. Sua palavra é a luz, a força, o impulso para o fazer. No discipulado, a missão não está reservada ao mero fazer. O que, como, onde e por que fazer? O fazer pode levar ao ativismo, que perturba, gera confusão e atrapalha o aperfeiçoamento da fé.  

No caminho de Jesus, fazer significa ser, tornar-se, assumir na carne os sentimentos de Jesus. Há quem faz muito, mas sem muito valor, pois tal ação não tem unidade com os sentimentos de Jesus. No cotidiano da vida, o discípulo, unido a seu Mestre, torna-se, na alegria e na ação da graça divina, um com Jesus.

            Na missão, o discípulo não precisa falar muita coisa, muito menos fazer grandes obras porque sabe que o Reino acontece a partir da simplicidade dos pequenos, que não sabem falar, nem podem fazer grandes coisas. Nas realidades do anti-Reino ocorre o oposto, tudo é grande, extraordinariamente mundano. Tudo tende a brilhar, a chamar a atenção, tudo chama para o aplauso, às glórias humanas, ao sucesso e à hegemonia. Este não é o fazer. Aí não há escuta da palavra de Jesus.  

Os simples discípulos de Jesus ficam perdidos em meio ao brilhantismo ofuscante das glórias humanas. Para ele, tudo não passa de nada. Diante dos mistérios do Reino, as grandezas deste mundo, acessíveis a um grupo seleto de pessoas, juntamente com estas, não passam de pó. Tudo é transitório, nada permanece. Quando tudo desaparece, o vazio aparece, um vazio triste, o tormento eterno.

            Escutar Jesus. Ouvir para obedecer. Na obediência se aprende a ouvir Jesus. Quem assim procede encontra a paz e se torna promotor da justiça do Reino, única geradora da paz que o mundo não oferece. Isto acontece na intimidade da oração e da amizade. O Mestre quer amigos, companheiros para a missão a serviço do Reino. O Nazareno é o vinho novo a ser experimentado para que surja a humanidade nova, renovada no Espírito.  

É Deus mesmo que deseja, misericordiosamente, renovar e manter sempre viva a sua aliança. Esta precisa contar com nossa frágil fidelidade, nossa frágil condição. Foi assim que o Pai quis: fazer uma aliança eterna, renovada no corpo e no sangue de seu Filho, para renovar a face da terra e salvar a todos, indistintamente.

            E isto é tão belo e maravilhoso, tão forte e tão eficaz, que não há poder humano, profano ou sagrado, que possa diminuir e erradicar. As leis, os dogmas, as doutrinas, os ritos, os cultos, as representações, os símbolos, os ofícios revestidos pelo poder simbólico, enfim, todas as coisas devem se orientar para o essencial, para aquela presença amorosa e salvadora, presença de Deus que desce para os porões da humanidade, que experimenta os limites humanos, que sente na pele e prova do vinho amargo da existência humana.  

Maravilhosamente, este Deus é Pai e Mãe, que abraça e acolhe a todos, especialmente os mais vulneráveis, que tem predileção pelos pecadores, fracos, desprezados, injuriados, esquecidos, os que são cuspidos pelos hipócritas que, muitas vezes, agem em Seu nome. Bendito seja o Pai de Jesus, que enviando-nos o vinho da renovação da vida, preenche-nos de amor, de vida e nos assegura a felicidade plena!


Tiago de França

Nenhum comentário: