domingo, 12 de outubro de 2014

O apoio de Marina Silva ao candidato Aécio Neves do PSDB

         
            Antes do primeiro turno das eleições, publicamos um artigo intitulado “Marina Silva do PSB” (cf. http://www.tiagodefranca.blogspot.com.br/2014/09/marina-silva-do-psb.html). As críticas recebidas foram inúmeras e violentas. Hoje, queremos apenas confirmar o que afirmamos naquela oportunidade, apresentando algumas considerações sobre o apoio da Marina Silva ao tucano Aécio Neves. Nossas considerações se dirigem a todos, especialmente aos eleitores da Marina, que, ilusoriamente, pensavam que ela seria uma alternativa viável no cenário político nacional, visando a tão sonhada mudança.

            Marina Silva não tem partido: eis o primeiro problema. Ela se utilizou do PSB, que não tinha e nem tem nada que ver com aquilo que considera seu jeito renovado de fazer política. A morte de Eduardo Campos lhe concedeu a oportunidade de ocupar a titularidade da candidatura. Como no Brasil o povo não observa com a devida atenção esses detalhes, que são extremamente importantes, então ocorre algo que parece comum, mas que, na verdade, não o é: após o primeiro turno, a Marina volta à sua Rede e o PSB segue a sua vida. 

Não conseguindo elegê-la, parte dos membros deste partido resolve apoiar o Aécio Neves. Queria poder me encontrar com a Marina para lhe fazer a seguinte pergunta: O que pensas da fidelidade partidária?!... Como ela somente usou do PSB para se candidatar, talvez não tivesse dificuldade para responder esta indagação. Afinal de contas, se é uma coisa que praticamente não existe no Brasil é a tal da fidelidade partidária, pois a maioria de nossos políticos não compreende nem pratica a fidelidade. Eles são fieis aos próprios interesses, e Maria Silva tem demonstrado que pertence ao mesmo barco.

            As convicções de Marina Silva são profundamente frágeis e sua personalidade se parece com a do adolescente, que não sabendo bem o que quer da vida, atira pra tudo que é lado, deixando-se guiar pelas influências e pelas conveniências do momento. Na sua campanha eleitoral isto ficou evidente, pois a todo o momento ela apresentava emendas ao seu tão falado plano de governo.  

Nunca se viu na história política nacional brasileira uma candidatura tão frágil e ambígua. Essas mudanças constantes de pensamento e de posturas expressaram muito bem a sua falta de firmeza, de foco e de constância. Diante dos questionamentos, a sua saída era dizer: “Nós queremos governar com a colaboração de todos!” Como este “todos” abarca tudo, então ela pensou que iria dar certo, mas milhões de brasileiros acharam que Aécio Neves foi mais coerente que ela, o que nos parece um absurdo.

            Durante sua campanha, Marina Silva se apresentou como uma alternativa à polarização PT – PSDB. Apoiando Aécio Neves, a pior opção do momento, ela demonstra, claramente, que sua candidatura, de fato, não representava uma alternativa. Seu apoio ao tucano contradiz a ideia de renovação política e alternativa de mudança. Aécio Neves não representa mudança nenhuma para o Brasil. Aqui não quero elencar os inúmeros motivos que confirmam esta verdade. O tucano mineiro representa o retorno do estilo elitista de governar, estilo que é a marca indelével do PSDB.  

Basta o leitor se recordar dos absurdos cometidos pelo governo FHC, com sua política voltada para os mais poderosos do país, em detrimento dos mais pobres. Portanto, mente, descaradamente, o Aécio Neves quando afirma que será o presidente dos mais pobres dos brasileiros. Aécio Neves nunca foi pobre e não conhece a pobreza. Aqui, em Minas Gerais, o povo o conhece muito bem e sua conduta vergonhosa é bastante conhecida. Seu jeito autoritário e desonesto de proceder é tão gritante, que as pessoas que possuem o mínimo de bom senso se perguntam como ele ousou se candidatar à presidência da República. Pois bem, Marina Silva decidiu, contraditoriamente, apoiar esta figura.

            O apoio da Marina Silva ao tucano Aécio Neves é uma bofetada na cara dos que nela votaram no primeiro turno. Neste turno, quem votou em Marina Silva jamais votaria em Aécio Neves, e ela sabe muito bem disso. A Rede, seu partido informal (não reconhecido pelo Tribunal Superior Eleitoral), na madrugada desta quinta-feira, dia 09/10, decidiu liberar seus eleitores a votarem branco, nulo ou no tucano. A cúpula da rede falou em “mudança qualificada”! Aécio Neves significa uma mudança qualificada para o Brasil?!... De duas, uma: ou o pessoal da rede não compreende o sentido do que chamam de “mudança qualificada”, ou pensam que todos os brasileiros são totalmente ignorantes.  

É verdade que uma boa parcela da população brasileira não se interessa em discutir política, e terminam votando sem nenhum discernimento, mas afirmar que o tucano representa uma mudança qualificada é faltar com o devido respeito com os brasileiros, principalmente com os que votaram na Marina Silva. O curioso é que Marina, que se julga uma mulher tão humilde, não se juntou à cúpula da Rede para pronunciar-se, pois fez questão de pronunciar-se isoladamente. O que ela quer com isso? Sua estratégia é coerente com seu estilo.

            Pronunciando-se sozinha, Marina Silva mostra que sua pessoa e candidatura estão acima de qualquer partido político. Mais do que isso, ela tenta convencer seus eleitores – a fim de que não a abandonem de vez -, a votarem no Aécio porque ele “acolheu” suas principais bandeiras, a saber: o fim da reeleição, a questão da sustentabilidade, a educação integral etc. O leitor acha que Aécio não “incorporaria” ao seu plano de governo, que até hoje ninguém sabe ao certo qual é, estas bandeiras da Marina Silva? Claro que sim. Só há um detalhe, e este muda tudo: o estilo elitista de governar do PSDB não admite a adoção efetiva de tais medidas. 

Se o leitor acha que podem ser admitidas, então venha a Minas Gerais. O PSDB governou este rico estado durante doze anos. Venha ver de perto se tais medidas foram adotadas aqui. Como os mineiros perceberam o abismo no qual foram lançados, reprovaram, nas urnas, o candidato do Aécio Neves ao governo de Minas Gerais, elegendo o candidato da Dilma Rousseff, Fernando Pimentel do PT, já no primeiro turno. Em sua campanha, o tucano insiste em mentir, afirmando que a educação em Minas é uma das melhores do Brasil. Por que ele não fala aos brasileiros o valor do salário dos professores das escolas estuais de Minas?! Trata-se de um dos piores salários do país, não chegando ao teto estabelecido pelo governo federal.

Por que ele não fala da qualidade das estruturas das escolas (prédios, material escolar etc.). Há escolas em Minas que ainda utilizam o giz e o quadro-escuro e, em alguns casos, o professor tem que comprar com o dinheiro do seu bolso o giz, caso queira utilizar o quadro. Quero lembrar o leitor que o autor deste artigo é professor de Filosofia. Portanto, estou falando com conhecimento de causa.

            Por fim, quero tentar responder à indagação seguinte: E agora, o que fazer neste segundo turno das eleições? Aécio Neves conta com o apoio da Rede Globo, da revista Veja, do jornal Folha de São Paulo e do jornal Estado de Minas (sobre o qual tem controle direto!). O que estes canais de informação tem em comum? Sinceramente, não precisaria responder, mas resumidamente, podemos encerrar nossa opinião na seguinte afirmativa: Estes canais estão a serviço dos grupos poderosos que dominam o país e, por meio deles, visam legitimar sua dominação.  

Por isso, todas as manifestações dos pobres são criminalizadas por estes canais. Isto explica a identificação do PSDB com os mesmos. São canais que demonizam as lutas dos pobres e escondem os crimes cometidos pelos poderosos, especialmente os que são ligados aos governos de direita. Aqui, em Minas Gerais, a mídia oficial não fala absolutamente nada contra a pessoa do tucano e seus correligionários, e os empregados desta mídia que se pronunciarem, perdem, imediatamente, seus empregos.

            Na qualidade de cristão, cidadão e professor, declaro abertamente, neste segundo turno, meu voto e apoio à candidatura de Dilma Rousseff do PT para continuar ocupando o posto de Presidenta da República Federativa do Brasil. Além do exposto até aqui, quero acrescentar três pontos que julgo fundamentais, a saber:  

1) Estou consciente dos crimes ocorridos nos governos de Lula e Dilma, mas não os vejo nem os analiso com as lentes dos canais de informação acima mencionados. É de se lamentar as ocorrências, assim como o fato de o mensalão do PSDB não ter sido julgado pelo STF – Supremo Tribunal Federal (fato curioso: imediatamente após o julgamento do mensalão do PT, o ministro Joaquim Barbosa, em plena fase de execução, resolve deixar o STF!), mas muito me alegra em ver que muita gente foi rigorosamente punida e responde, na forma da lei, pelos crimes cometidos. 

Na era FHC isso não existia. O povo não conhecia os criminosos e a justiça federal não tinha liberdade para puni-los porque nem sequer tomavam conhecimento dos fatos. Isto não é ideologia política, mas realidade fática e histórica. Qualquer pessoa de bom senso enxerga isso.

2) Estou consciente de que nosso país não é uma ilha isolada do resto do mundo, mas estamos tentando sobreviver ao sistema capitalista selvagem, cada vez mais incrementado pelos EUA. Assim, a situação econômica do país, semelhantemente a tantos outros, corre sérios perigos. É preciso enxergar a situação no seu devido contexto, para que não se repita a prática ingênua da culpabilização pessoal do presidente da República, como se este fosse o salvador da pátria.

3) Estou certo de que avançamos em muitos aspectos e o principal deles é a redução da desigualdade, tão acentuada no governo FHC. Se a situação de vida dos pobres melhorou, isto é extraordinariamente positivo. Somente quem é pobre conhece, empiricamente, a importância dos avanços ocorridos em matéria social. Entristece-me ouvir algumas pessoas de classe média, hipocritamente, lançar mão da pergunta: “O que eu ganhei com o governo do PT?” Acusam o PT defendendo o próprio egoísmo. Não se trata de defender ou atacar o PT. Não é o partido que salva nem resolve os problemas da nação. Trata-se, por fim, de considerar os acertos, corrigir os desvios e excessos, e continuar caminhando para que a mudança continue acontecendo.

Creio que o PT precisa se reinventar, rever a caminhada, purificar-se. Isto toda pessoa, instituição e governo precisam fazer, caso queiram sobreviver à tentação da sede do poder pelo poder. A questão ecológica é outro ponto fraco dos governos Lula e Dilma. Isto se deve ao distanciamento do PT em relação aos pobres e aos movimentos que os representam. Caso seja reeleita, Dilma Rousseff precisa, juntamente com o mentor de sua candidatura, o ex-presidente Lula, urgentemente, restabelecer o diálogo com as bases sociais, com os pobres do povo brasileiro, abrindo canais de participação efetiva no Governo. Sem escutar as minorias sociais, em suas lutas e clamores, a situação vai piorar.

Particularmente, não vejo disposição nem interesse algum na pessoa do Aécio Neves e seu partido, para estabelecer esse diálogo e esta abertura. O estilo psdebista de governar, repito mais uma vez, não oferece espaço para o diálogo com as minorias sociais. Aqui em Minas Gerais, durante doze anos, os movimentos sociais foram tratados com a repressão policial. Em Minas Gerais, os pobres envolvidos nos movimentos sociais são tratados como caso de polícia.

Quem tem memória sabe muito bem que isto sempre ocorreu no governo FHC, época em que o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MST era destaque nas manchetes dos jornais, considerado um movimento de invasores das terras dos grandes latifundiários do país. Até o dia de hoje, por ter apoiado o MST e tantos outros movimentos que estiveram intimamente ligados à sua fundação, o PT é vítima do preconceito por parte de milhões de brasileiros. Hoje bem menos por causa deste distanciamento a que nos referimos acima.

Pelo exposto neste artigo e por outras tantas razões que poderiam ser mencionadas, repudio como vergonhoso o apoio da Marina Silva ao tucano Aécio Neves e recomendo aos amigos e amigas, leitores e leitoras, que continuem, apesar dos pesares, acreditando que Dilma Rousseff representa, em relação ao seu adversário nestas eleições, uma alternativa melhor para o país.

Tiago de França 

Nenhum comentário: