sábado, 29 de novembro de 2014

A atenção e a vigilância na vida cristã

“Assim mesmo, Senhor, tu és nosso pai, nós somos barro; tu, nosso oleiro, e nós todos, obra de tuas mãos” (Is 64, 7).

            Deus é nosso Pai: isto significa que em Jesus, seu amado Filho, somos irmãos. Deus é nosso oleiro, e nós somos obra de suas mãos. É preciso se deixar modelar pelas mãos do divino oleiro. É Ele quem realiza a obra.  

Nós desejamos, projetamos o futuro, buscamos capacitação técnica e profissional, tudo isso parece bom e necessário, mas quem tudo realiza é o Pai e oleiro da vida humana e de toda criação. Este é o ensinamento da espiritualidade cristã. Quem realmente segue Jesus vive segundo esta perspectiva, que aponta para a eternidade.

            Os que não creem estão, portanto, em desvantagem. Não estão excluídos nem condenados. Isto não. Agora não é o tempo do julgamento definitivo. Para ele caminhamos, diuturnamente. Quem acredita que Jesus é o Irmão enviado a este mundo para libertar toda a humanidade do jugo da escravidão do pecado e da morte, sabe que ele voltará uma última vez para realizar um julgamento favorável à humanidade.  

Não se trata de um juiz severo, que julga segundo os critérios humanos, como fazem os juízes dos tribunais deste mundo. Caberá a Jesus operar na humanidade aquilo que está preparado para ela desde a criação do mundo: Nele, a regeneração de todas as coisas. Ocorrerá a extinção total do mal e da morte no mundo. Assim reza a esperança cristã.

            Enquanto isto não ocorre, a vida segue acontecendo. Segundo Jesus, quando acontecer, efetivamente, a sua volta, acontecerá “como um homem que, ao partir para o estrangeiro, deixou sua casa sob a responsabilidade de seus empregados, distribuindo a cada um sua tarefa. E mandou o porteiro ficar vigiando” (Mt 13, 34).  

Ao partir para o estrangeiro, o homem não falou o dia em que iria voltar. Assim é Jesus: a ninguém falou o dia de sua volta. Durante a história apareceram algumas pessoas marcando data para a sua volta, mas se frustraram. Também apareceram alguns messias e falsos profetas, com apocaliptismos desorientadores, mas desapareceram com suas falsas profecias.

            Estamos vivendo tempos difíceis. As pessoas parecem cegas e surdas. Vivem mergulhadas em um sono profundo. Controladas pela ilusão e pela mentira, encontram-se dormindo. Muitas já foram surpreendidas, outras estão prestes a ser. A falta de atenção e de vigilância é evidente.  

A mulher e o homem pós-modernos, de modo geral, procuram o prazer, desenfreadamente. A regra é gozar a vida, sem limites. Prega-se e vive-se a ideologia do imediatismo, do consumismo e de tantos outros ismos doentios. Seus corpos estão saturados de prazer.

Por outro lado, há uma multidão incontável de pessoas anônimas, sendo praticamente devoradas pelas inúmeras formas de violência. A destruição e a morte reinam no mundo, e os profetas, assim como João Batista, o precursor, continuam pregando no deserto, clamando por justiça e conversão. Poucos são os que os escutam.

            Jesus recomenda a atenção e a vigilância. Atenção em relação aos sinais dos tempos: o que está acontecendo na realidade? Para onde estamos caminhando? Até quando suportaremos as prisões que nós mesmos criamos? Onde está acontecendo o Reino de Deus?

Atenção em relação ao outro, nosso irmão em Cristo Jesus: estamos enxergando o outro, ou fazemos de conta que ele não existe? O que fazemos diante do seu sofrimento: cruzamos ou braços, ou o acolhemos? Onde procuramos encontrar Deus: no conforto dos templos religiosos, ou nas situações desumanas que nos incomodam? Qual tem sido a qualidade de nossas práticas religiosas: as realizamos em função de um falso ideal de perfeição, vivendo no isolamento de nós mesmos, ou tais práticas nos sensibilizam na direção do próximo?

Quando paramos para pensar estas e tantas outras questões que nos incomodam, então estamos vigiando, pois a compreensão nos conduz à ação. A vigilância nos mantém acordados, despertados, agindo conforme o amor ensinado e vivido por Jesus: o amor de atos, afetivo e efetivo, que nos revela a face de Deus, nosso bom Pai, que nos espera no outro. Advento é tempo de espera ativa do Senhor da vida, que vem ao nosso encontro, envolvendo-nos com seu amor, alegria e paz. Tempo para pensarmos, com sinceridade e verdade, sobre o que estamos fazendo de nossa vida.


Tiago de França

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