“Assim
mesmo, Senhor, tu és nosso pai, nós somos barro; tu, nosso oleiro, e nós todos,
obra de tuas mãos” (Is 64, 7).
Deus é nosso Pai: isto significa que em Jesus, seu amado
Filho, somos irmãos. Deus é nosso oleiro, e nós somos obra de suas mãos. É preciso
se deixar modelar pelas mãos do divino oleiro. É Ele quem realiza a obra.
Nós
desejamos, projetamos o futuro, buscamos capacitação técnica e profissional,
tudo isso parece bom e necessário, mas quem tudo realiza é o Pai e oleiro da
vida humana e de toda criação. Este é o ensinamento da espiritualidade cristã. Quem
realmente segue Jesus vive segundo esta perspectiva, que aponta para a
eternidade.
Os que não creem estão, portanto, em desvantagem. Não estão
excluídos nem condenados. Isto não. Agora não é o tempo do julgamento
definitivo. Para ele caminhamos, diuturnamente. Quem acredita que Jesus é o
Irmão enviado a este mundo para libertar toda a humanidade do jugo da escravidão
do pecado e da morte, sabe que ele voltará uma última vez para realizar um
julgamento favorável à humanidade.
Não
se trata de um juiz severo, que julga segundo os critérios humanos, como fazem
os juízes dos tribunais deste mundo. Caberá a Jesus operar na humanidade aquilo
que está preparado para ela desde a criação do mundo: Nele, a regeneração de
todas as coisas. Ocorrerá a extinção total do mal e da morte no mundo. Assim reza
a esperança cristã.
Enquanto isto não ocorre, a vida segue acontecendo. Segundo
Jesus, quando acontecer, efetivamente, a sua volta, acontecerá “como um homem que, ao partir para o
estrangeiro, deixou sua casa sob a responsabilidade de seus empregados,
distribuindo a cada um sua tarefa. E mandou o porteiro ficar vigiando” (Mt
13, 34).
Ao
partir para o estrangeiro, o homem não falou o dia em que iria voltar. Assim é
Jesus: a ninguém falou o dia de sua volta. Durante a história apareceram
algumas pessoas marcando data para a sua volta, mas se frustraram. Também apareceram
alguns messias e falsos profetas, com apocaliptismos desorientadores, mas
desapareceram com suas falsas profecias.
Estamos vivendo tempos difíceis. As pessoas parecem cegas
e surdas. Vivem mergulhadas em um sono profundo. Controladas pela ilusão e pela
mentira, encontram-se dormindo. Muitas já foram surpreendidas, outras estão
prestes a ser. A falta de atenção e de vigilância é evidente.
A
mulher e o homem pós-modernos, de modo geral, procuram o prazer,
desenfreadamente. A regra é gozar a vida, sem limites. Prega-se e vive-se a
ideologia do imediatismo, do consumismo e de tantos outros ismos doentios. Seus corpos estão saturados de prazer.
Por
outro lado, há uma multidão incontável de pessoas anônimas, sendo praticamente
devoradas pelas inúmeras formas de violência. A destruição e a morte reinam no
mundo, e os profetas, assim como João Batista, o precursor, continuam pregando
no deserto, clamando por justiça e conversão. Poucos são os que os escutam.
Jesus recomenda a atenção e a vigilância. Atenção em
relação aos sinais dos tempos: o que está acontecendo na realidade? Para onde
estamos caminhando? Até quando suportaremos as prisões que nós mesmos criamos? Onde
está acontecendo o Reino de Deus?
Atenção
em relação ao outro, nosso irmão em Cristo Jesus: estamos enxergando o outro,
ou fazemos de conta que ele não existe? O que fazemos diante do seu sofrimento:
cruzamos ou braços, ou o acolhemos? Onde procuramos encontrar Deus: no conforto
dos templos religiosos, ou nas situações desumanas que nos incomodam? Qual tem
sido a qualidade de nossas práticas religiosas: as realizamos em função de um
falso ideal de perfeição, vivendo no isolamento de nós mesmos, ou tais práticas
nos sensibilizam na direção do próximo?
Quando
paramos para pensar estas e tantas outras questões que nos incomodam, então
estamos vigiando, pois a compreensão nos conduz à ação. A vigilância nos mantém
acordados, despertados, agindo conforme o amor ensinado e vivido por Jesus: o
amor de atos, afetivo e efetivo, que nos revela a face de Deus, nosso bom Pai,
que nos espera no outro. Advento é tempo de espera ativa do Senhor da vida, que
vem ao nosso encontro, envolvendo-nos com seu amor, alegria e paz. Tempo para
pensarmos, com sinceridade e verdade, sobre o que estamos fazendo de nossa
vida.
Tiago de França
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