“Vinde,
benditos do meu Pai! Recebei como herança o reino que meu Pai vos preparou
desde a criação do mundo! Pois eu estava com fome e me destes de comer; eu esta
com sede e me destes de beber; eu era estrangeiro e me recebestes em casa; eu
estava nu e me vestistes; eu estava doente e cuidastes de mim; eu estava na
prisão e fostes me visitar” (Mt 25, 34 – 36).
Jesus disse a seus discípulos que um dia, que ninguém
sabe quando, virá julgar a humanidade (cf. Mt 25, 31 – 46). Ele fez questão de
dizer como será este julgamento. O critério que vai utilizar para efetuá-lo é
escandaloso porque ele não se baseará na observância da lei, mas ganhará a vida
quem viveu o amor. Eis a boa notícia: O amor é, desde já, o critério para o
julgamento de Jesus. Desde já porque já estamos sendo julgados. O juízo é
cotidiano e perdura por toda a vida.
Sabemos que o amor é o critério estabelecido por Jesus. Nenhuma
pessoa e/ou instituição religiosa pode mudar este critério porque ninguém será
julgado pela religião, nem a partir desta nem segundo seus princípios. Jesus deixa
bastante claro o seu critério. Agora é preciso compreendê-lo. Trata-se do amor
vivido ao modo de Jesus. Meditando o
seu evangelho encontramos algumas características do amor experimentado por
Jesus. Vamos a estas características.
1 – Jesus viveu o
amor na liberdade. Por isso, para amar como Jesus amou precisamos evitar
dois males: o apego e a vontade de controlar o outro. O amor não se presta a
essas duas realidades. Ambas tendem a sufocá-lo e eliminá-lo. Só o amor
liberta, pois é essencialmente libertador. É o caminho que promove e conduz à
liberdade. Portanto, há algo de errado na vida dos que pensam que amam o
próximo apegando-se a ele e controlando-o. Aí não há amor, mas apego. Respeitar
as diferenças e acolher o outro do jeito que ele é são atitudes de quem ama na
liberdade.
2 – Jesus viveu o
amor na gratuidade. O verdadeiro amor é desinteressado. Acontece na
gratuidade das relações humanas. Assim, é necessário resistir à tentação de
transformar o outro em objeto de satisfação de desejos. O outro não é coisa,
mas pessoa. A coisificação do ser humano é um dos grandes males da sociedade
atual. É necessário, portanto, ir ao encontro do outro como Jesus fez:
desinteressadamente, sem esperar nada em troca. Usar o outro para a satisfação
dos próprios desejos e interesses é um pecado grave, é sinal evidente de falta
de amor.
3 – Jesus viveu o
amor na generosidade. Ser generoso é não ser mesquinho. É ir além do que se
pode esperar. É amar sem limites nem condições. A generosidade faz a pessoa ir
ao encontro das necessidades do outro para viver a experiência da partilha. Partilhar
é atitude de gente fraterna e amiga, de gente que se preocupa com o bem-estar
do outro. Quem se encerra no egoísmo não consegue ser generoso porque somente
pensa na satisfação dos próprios interesses. Generosidade é qualidade de quem
vive a fraternidade.
4 – Jesus viveu o
amor na solidariedade. O sofrimento do outro era percebido por Jesus. A sua
sensibilidade era admirável. Fez opção pelos pobres e excluídos de seu tempo. Anunciou
o Reino de Deus entre os pobres e para os pobres. Viveu junto aos sofredores,
sendo solidário com eles: curando, ressuscitando, consolando, ensinando,
denunciando, animando, despertando a esperança, anunciando-lhes a Boa Notícia
da salvação. Permanece fora do caminho de Jesus o cristão que não se interessa
em socorrer o próximo. Se a dor do outro não significa nada, então não se pode
dizer que há fé em Jesus. A fé em Jesus passa, necessariamente, pela
solidariedade.
5 – Jesus viveu o
amor no perdão. Numa sociedade marcada pela vingança e pela discórdia, o
seguidor de Jesus é chamado a experimentar o perdão. Não pagar o mal com o mal,
ensina-nos Jesus. Reconhecer-se pecador e acolher o outro que também é pecador.
Se todos são pecadores, ninguém está autorizado a julgar e condenar o outro. Quando
ofendemos, precisamos pedir perdão. Quando ofendidos, precisamos perdoar a quem
nos ofende. O amor exige o perdão e este exige aquele. Quem diz que ama e não
perdoa está mentindo.
Há, certamente, outras características que explicitam o
amor experimentado por Jesus, mas estas parecem ser as mais marcantes. Se quisermos
fazer parte do Reino de Deus precisamos amar como Jesus amou: promovendo a
liberdade do outro, sem esperar recompensas, sendo generosos e solidários,
experimentando o perdão.
Este
é o critério que Jesus irá utilizar para julgar a humanidade. Quer existam
práticas religiosas, quer não, o que Jesus vai considerar, segundo deixou claro
em seu evangelho, é o amor a Deus que se revela e acontece no amor próximo. Não há
outro critério. Não há outro caminho. O amor é o caminho fundamental e
necessário. Desde agora, nele e por ele somos salvos.
Tiago de França
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