sábado, 22 de novembro de 2014

Jesus e o juízo final

“Vinde, benditos do meu Pai! Recebei como herança o reino que meu Pai vos preparou desde a criação do mundo! Pois eu estava com fome e me destes de comer; eu esta com sede e me destes de beber; eu era estrangeiro e me recebestes em casa; eu estava nu e me vestistes; eu estava doente e cuidastes de mim; eu estava na prisão e fostes me visitar” (Mt 25, 34 – 36).

            Jesus disse a seus discípulos que um dia, que ninguém sabe quando, virá julgar a humanidade (cf. Mt 25, 31 – 46). Ele fez questão de dizer como será este julgamento. O critério que vai utilizar para efetuá-lo é escandaloso porque ele não se baseará na observância da lei, mas ganhará a vida quem viveu o amor. Eis a boa notícia: O amor é, desde já, o critério para o julgamento de Jesus. Desde já porque já estamos sendo julgados. O juízo é cotidiano e perdura por toda a vida.

            Sabemos que o amor é o critério estabelecido por Jesus. Nenhuma pessoa e/ou instituição religiosa pode mudar este critério porque ninguém será julgado pela religião, nem a partir desta nem segundo seus princípios. Jesus deixa bastante claro o seu critério. Agora é preciso compreendê-lo. Trata-se do amor vivido ao modo de Jesus. Meditando o seu evangelho encontramos algumas características do amor experimentado por Jesus. Vamos a estas características.

            1 – Jesus viveu o amor na liberdade. Por isso, para amar como Jesus amou precisamos evitar dois males: o apego e a vontade de controlar o outro. O amor não se presta a essas duas realidades. Ambas tendem a sufocá-lo e eliminá-lo. Só o amor liberta, pois é essencialmente libertador. É o caminho que promove e conduz à liberdade. Portanto, há algo de errado na vida dos que pensam que amam o próximo apegando-se a ele e controlando-o. Aí não há amor, mas apego. Respeitar as diferenças e acolher o outro do jeito que ele é são atitudes de quem ama na liberdade.

            2 – Jesus viveu o amor na gratuidade. O verdadeiro amor é desinteressado. Acontece na gratuidade das relações humanas. Assim, é necessário resistir à tentação de transformar o outro em objeto de satisfação de desejos. O outro não é coisa, mas pessoa. A coisificação do ser humano é um dos grandes males da sociedade atual. É necessário, portanto, ir ao encontro do outro como Jesus fez: desinteressadamente, sem esperar nada em troca. Usar o outro para a satisfação dos próprios desejos e interesses é um pecado grave, é sinal evidente de falta de amor.

            3 – Jesus viveu o amor na generosidade. Ser generoso é não ser mesquinho. É ir além do que se pode esperar. É amar sem limites nem condições. A generosidade faz a pessoa ir ao encontro das necessidades do outro para viver a experiência da partilha. Partilhar é atitude de gente fraterna e amiga, de gente que se preocupa com o bem-estar do outro. Quem se encerra no egoísmo não consegue ser generoso porque somente pensa na satisfação dos próprios interesses. Generosidade é qualidade de quem vive a fraternidade.

            4 – Jesus viveu o amor na solidariedade. O sofrimento do outro era percebido por Jesus. A sua sensibilidade era admirável. Fez opção pelos pobres e excluídos de seu tempo. Anunciou o Reino de Deus entre os pobres e para os pobres. Viveu junto aos sofredores, sendo solidário com eles: curando, ressuscitando, consolando, ensinando, denunciando, animando, despertando a esperança, anunciando-lhes a Boa Notícia da salvação. Permanece fora do caminho de Jesus o cristão que não se interessa em socorrer o próximo. Se a dor do outro não significa nada, então não se pode dizer que há fé em Jesus. A fé em Jesus passa, necessariamente, pela solidariedade.

            5 – Jesus viveu o amor no perdão. Numa sociedade marcada pela vingança e pela discórdia, o seguidor de Jesus é chamado a experimentar o perdão. Não pagar o mal com o mal, ensina-nos Jesus. Reconhecer-se pecador e acolher o outro que também é pecador. Se todos são pecadores, ninguém está autorizado a julgar e condenar o outro. Quando ofendemos, precisamos pedir perdão. Quando ofendidos, precisamos perdoar a quem nos ofende. O amor exige o perdão e este exige aquele. Quem diz que ama e não perdoa está mentindo.

            Há, certamente, outras características que explicitam o amor experimentado por Jesus, mas estas parecem ser as mais marcantes. Se quisermos fazer parte do Reino de Deus precisamos amar como Jesus amou: promovendo a liberdade do outro, sem esperar recompensas, sendo generosos e solidários, experimentando o perdão.  

Este é o critério que Jesus irá utilizar para julgar a humanidade. Quer existam práticas religiosas, quer não, o que Jesus vai considerar, segundo deixou claro em seu evangelho, é o amor a Deus que se revela e acontece no amor próximo. Não há outro critério. Não há outro caminho. O amor é o caminho fundamental e necessário. Desde agora, nele e por ele somos salvos.


Tiago de França

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