“O
tempo já se completou e o reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no
evangelho!” (Mc 1, 15)
O tema do seguimento de Jesus é de fundamental
importância para compreendermos a realidade do reino de Deus. Este reino não
existe sem o necessário seguimento. Aqui já podemos afirmar, categoricamente:
Quem quiser participar do reino de Deus precisa, necessariamente, seguir a Jesus
de Nazaré. Esta afirmação parece tranquila para todos os cristãos. Nela parece
não existir nenhuma novidade, mas se pararmos para observar bem o conjunto de
nossas Igrejas cristãs, logo veremos que algo está fora do lugar. Está faltando
esta participação no reino de Deus porque este já está acontecendo na
humanidade.
E por que está faltando esta participação? Porque inúmeros
cristãos confundem o seguimento de Jesus com suas práticas religiosas. Estas certamente
tem o seu lugar na vida dos discípulos de Jesus, mas não consistem,
necessariamente, no seguimento a Ele. Basta olharmos para Jesus, que se
encontra na Galileia, pregando o evangelho de Deus. O que é este evangelho? É o
anúncio do reino de Deus. Então, os discípulos de Jesus precisam fazer como
ele: anunciar o reino de Deus. Como isto acontece hoje?
Em
primeiro lugar, é preciso afirmar que este anúncio do reino é a vocação
primordial de quem segue Jesus. Ele não pediu para fazermos outras coisas. Nossas
práticas religiosas não tem origem em Jesus nem possuem sua justificativa nele,
mas podem nos ajudar a segui-lo no anúncio do reino do Pai. Ocorre também que
tais práticas religiosas podem contribuir com o comodismo das pessoas. Estas podem
abandonar o caminho de Jesus, isolando-se em tais práticas. É uma tentação que
sempre perseguiu os cristãos. Não adianta o católico pensar que recebendo a
Eucaristia, confessando seus pecados, “pagando” o dízimo, participando do culto
e fazendo pequenos gestos de caridade que já esteja justificado diante de Deus.
Estas atitudes certamente possuem o seu valor e o seu lugar na vida cristã,
mas, por si mesmas, não constituem o discípulo missionário de Jesus.
“Convertei-vos e crede no evangelho!”:
este é o convite de Jesus, feito na liberdade e para a liberdade. A realidade
da conversão (mudança de vida) ultrapassa, infinitamente, as práticas
religiosas. Conversão é adesão a Jesus e a seu projeto, o reino do Pai. É encontrar-se
com ele na vida do outro. É amá-lo amando o outro. Sem esta conversão não há
como crer no evangelho. Há muitas pessoas que pensam que acreditam no evangelho
sem se converterem. Vivem uma ilusão.
Há
outros que pensam que a conversão é a adesão à perfeição. Isto é outro
equívoco. Perfeito é o Pai, o Filho e o Espírito; os humanos são pecadores
chamados a caminhar com Jesus. Aceitar Jesus como Salvador é aproximar-se dele,
caminhar com Ele, perseverando em seu caminho. Quando isto ocorre estamos
anunciando o reino do Pai e convertendo-nos a Ele. “Aceitei Jesus e agora sou
um santo!”, afirmam muitas pessoas que, na verdade, somente conseguiram mudar
de religião ou de denominação religiosa. Aceitar Jesus não é mudar de religião
ou de crença. Aceitar Jesus é aceitar o desafio de colocar-se em seu caminho e
nele perseverar. Sem este seguimento há somente aparência de aceitação. Há, na
verdade, negação de Jesus.
Mais
do que em outras épocas da história do cristianismo, precisamos recuperar o
lugar do evangelho de Jesus. É este evangelho que importa. É ele que nos
converte e salva. Toda nossa vida deve está direcionada e alicerçada no evangelho.
Somente este é capaz de criar pessoas novas e, consequentemente, uma humanidade
nova. Para isso, é preciso renunciar às guerras e aos conflitos por causa de
religião. Esta não salva ninguém. Para aquele que crê, somente Jesus salva e
esta salvação acontece no seguimento radical a ele. A radicalidade não
significa sentir-se superior aos outros, levando uma vida farisaica, separada
do mundo. Jesus não pediu isso. Ele já denunciava essa hipocrisia nos mestres e
doutores da lei de seu tempo.
Por
fim, eis o motivo pelo qual cada cristão precisa voltar-se para Deus e seu
evangelho: Somente o evangelho é capaz de renovar a face da terra, e os
cristãos, chamados a serem sal e luz do mundo, constituem a presença amorosa de
Deus, que, diuturnamente, trabalha pela libertação da humanidade inteira. Ser sal
e luz, vencendo as trevas deste mundo: eis nossa vocação. Esta vocação somente
se realiza, afetiva e efetivamente, se nos colocarmos no caminho de Jesus e
nele perseverarmos, convertendo-nos e crendo no evangelho. O Espírito, fonte de
todo bem e de toda graça, está aí, disposto a nos ajudar nesta árdua e
aventurosa missão. Quem se deixar interpelar por Ele conhecerá a beleza e a
alegria da companhia de Jesus. É um risco que vale a pena experimentar.
Tiago
de França
Um comentário:
Obrigado, caro Josiel Dias, pela apreciação do meu blog. Evangelizar é preciso! Façamos nossa parte.
Grande abraço,
Tiago de França
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