domingo, 18 de janeiro de 2015

Conhecer e permanecer com Jesus

“O que estais procurando?” (Jo 1, 38)

Após alguns dias de silêncio, eis que retomamos nossas meditações bíblicas com um belíssimo trecho do evangelho segundo João, no qual o Batista, estando com dois de seus discípulos, vendo Jesus passar, diz: “Eis o Cordeiro de Deus!” O evangelista diz que, “ouvindo essas palavras, os dois discípulos seguiram Jesus”. Será que aqueles dois discípulos compreenderam a saudação de João Batista? O que chamou a atenção deles para seguirem a Jesus? Certamente, estavam desejosos de saber quem era o Messias e, assim, resolveram se aproximar, seguindo-o de perto.

Há quem queira conhecer Jesus. Diversos são os meios possíveis. Muitos procuram os estudos cristológicos, para conhecer o resultado das pesquisas dos estudiosos. Dependendo do tipo de cristologia, de fato, pode-se conhecer muita coisa. A pesquisa teológica é muito importante e não pode ser descartada, mas se não levar ao encontro com Jesus, tudo fica na esfera cognitiva, no âmbito do mero saber. Não há seguimento de Jesus sem o feliz e fecundo encontro com ele.

O próprio conhecimento teológico desvinculado da experiência do encontro é enfadonho, inútil; somente servindo ao desenvolvimento científico da pesquisa, visando o prestígio de seus autores. Neste sentido, há teólogos crentes e teólogos ateus! Estes últimos não passam de pesquisadores, encerrados em seus gabinetes confortáveis. Conhecem Jesus na teologia e o desconhecem na vida.

Quando Jesus percebeu que os dois discípulos o seguiam, resolveu fazer uma pergunta inquietante: “O que estais procurando?” Em outras palavras, o que vocês então querendo saber, conhecer, viver? Eles responderam com outra pergunta: “Rabi (que quer dizer mestre), onde moras?” Aqui precisamos dar uma pausa para pensarmos nesta pergunta de Jesus.

O que estamos procurando na vida? O que os cristãos estão procurando? Nossas procuras falam de nossos sonhos, de nossos ideais, de nossos valores. Hoje, geralmente as pessoas procuram o sucesso, o prestígio, o poder, o dinheiro, a vaidade. Posteriormente, caem num vazio existencial. As que não colocam um fim na própria vida, morrem frustradas e infelizes. É triste, mas é a realidade. Basta olharmos para as pessoas e logo veremos o desgaste estampado em seus corpos, devido a suas procuras superficiais e fúteis.

Jesus está nos fazendo esta pergunta. Para segui-lo precisamos respondê-la com toda a sinceridade e verdade do nosso coração. Onde está o nosso coração? Que rumo tomamos para nossas vidas? O tempo que passou não volta mais. Para os desorientados e desde já frustrados, ainda há tempo. Tempo para se encontrar com Jesus e conhecer a sua morada, tempo para permanecer com ele e encontrar o sentido da vida.  

Eis a resposta de Jesus para a pergunta dos dois discípulos: “Vinde ver”. Ninguém pode dizer com exatidão quem é Jesus. Quem quiser conhecê-lo precisa estar disposto a segui-lo, a conhecer a sua morada neste mundo. Aceitar o seu convite para conhecer a sua morada é um desafio. Trata-se de um movimento humano e espiritual. Exige deslocamento, saída na direção do outro. Quem está preso ao comodismo das próprias seguranças é incapaz de conhecer a morada de Jesus. Quem está dominado pela indiferença também não pode conhecer e seguir Jesus. O seguimento exige abertura e cuidado, despojamento e ousadia.

Por fim, em sintonia com as palavras e gestos de Jesus, queremos dar uma palavra sobre a feliz vocação do profeta Samuel (cf. 1 Samuel 3, 3 – 10.19). Deus o chamou quando criança, enquanto dormia no templo, na companhia do sacerdote Eli. Este o ensinou a responder ao chamado de Deus: “Senhor, fala, que teu servo escuta!” E na atitude de escuta, que é a autêntica atitude do discípulo, “Samuel crescia, e o Senhor estava com ele. E não deixava cair por terra nenhuma de suas palavras”. Os dois discípulos escutaram Jesus e fizeram a experiência de permanecer com ele. Na Bíblia, escutar significa obedecer (ob-audire) e a obediência a Deus é sinal de confiança e de total entrega.

Os cristãos de nossos dias e de todas as denominações religiosas precisam fazer a experiência da permanência com Jesus. Infelizmente, há muitos que se contentam em cultuá-lo. Há belos cultos, mas que não passam disso. Jesus não pediu para ser cultuado, mas conosco nos ensina a adorar o Pai em espírito e verdade, ou seja, a nos abrirmos para aquilo que Deus quer: o amor (ágape) capaz de nos transformar numa presença suave, alegre, fecunda, iluminadora, contagiante e transformadora no mundo. Jesus nos olha com amor e nos diz: Tu és meu irmão, vai, eu te envio! Juntos podemos renovar a face da terra! Outro mundo é possível!


Tiago de França

Obs.: Acompanha nossa meditação, a foto de dois grandes servidores da vinha do Senhor: Pe. José Comblin (In memoriam) e Dom José Maria Pires.

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