“O
que estais procurando?” (Jo 1, 38)
Após
alguns dias de silêncio, eis que retomamos nossas meditações bíblicas com um
belíssimo trecho do evangelho segundo João, no qual o Batista, estando com dois
de seus discípulos, vendo Jesus passar, diz: “Eis o Cordeiro de Deus!” O evangelista diz que, “ouvindo essas palavras, os dois discípulos
seguiram Jesus”. Será que aqueles dois discípulos compreenderam a saudação
de João Batista? O que chamou a atenção deles para seguirem a Jesus? Certamente,
estavam desejosos de saber quem era o Messias e, assim, resolveram se
aproximar, seguindo-o de perto.
Há
quem queira conhecer Jesus. Diversos são os meios possíveis. Muitos procuram os
estudos cristológicos, para conhecer o resultado das pesquisas dos estudiosos. Dependendo
do tipo de cristologia, de fato, pode-se conhecer muita coisa. A pesquisa
teológica é muito importante e não pode ser descartada, mas se não levar ao encontro com Jesus, tudo fica na esfera
cognitiva, no âmbito do mero saber. Não há seguimento de Jesus sem o feliz e
fecundo encontro com ele.
O
próprio conhecimento teológico desvinculado da experiência do encontro é
enfadonho, inútil; somente servindo ao desenvolvimento científico da pesquisa,
visando o prestígio de seus autores. Neste sentido, há teólogos crentes e
teólogos ateus! Estes últimos não passam de pesquisadores, encerrados em seus
gabinetes confortáveis. Conhecem Jesus na teologia e o desconhecem na vida.
Quando
Jesus percebeu que os dois discípulos o seguiam, resolveu fazer uma pergunta
inquietante: “O que estais procurando?”
Em outras palavras, o que vocês então querendo saber, conhecer, viver? Eles responderam
com outra pergunta: “Rabi (que quer dizer
mestre), onde moras?” Aqui precisamos dar uma pausa para pensarmos nesta
pergunta de Jesus.
O
que estamos procurando na vida? O que os cristãos estão procurando?
Nossas procuras falam de nossos sonhos, de nossos ideais, de nossos valores. Hoje,
geralmente as pessoas procuram o sucesso, o prestígio, o poder, o dinheiro, a
vaidade. Posteriormente, caem num vazio existencial. As que não colocam um fim
na própria vida, morrem frustradas e infelizes. É triste, mas é a realidade. Basta
olharmos para as pessoas e logo veremos o desgaste estampado em seus corpos,
devido a suas procuras superficiais e fúteis.
Jesus
está nos fazendo esta pergunta. Para segui-lo precisamos respondê-la com toda a
sinceridade e verdade do nosso coração. Onde está o nosso coração? Que rumo
tomamos para nossas vidas? O tempo que passou não volta mais. Para os desorientados
e desde já frustrados, ainda há tempo. Tempo para se encontrar com Jesus e
conhecer a sua morada, tempo para permanecer com ele e encontrar o sentido da
vida.
Eis
a resposta de Jesus para a pergunta dos dois discípulos: “Vinde ver”. Ninguém pode dizer com exatidão quem é Jesus. Quem quiser
conhecê-lo precisa estar disposto a segui-lo, a conhecer a sua morada neste
mundo. Aceitar o seu convite para conhecer a sua morada é um desafio. Trata-se
de um movimento humano e espiritual. Exige deslocamento, saída na direção do
outro. Quem está preso ao comodismo das próprias seguranças é incapaz de conhecer
a morada de Jesus. Quem está dominado pela indiferença também não pode conhecer
e seguir Jesus. O seguimento exige abertura e cuidado, despojamento e ousadia.
Por
fim, em sintonia com as palavras e gestos de Jesus, queremos dar uma palavra
sobre a feliz vocação do profeta Samuel (cf. 1 Samuel 3, 3 – 10.19). Deus o
chamou quando criança, enquanto dormia no templo, na companhia do sacerdote
Eli. Este o ensinou a responder ao chamado de Deus: “Senhor, fala, que teu servo escuta!” E na atitude de escuta, que é
a autêntica atitude do discípulo, “Samuel
crescia, e o Senhor estava com ele. E não deixava cair por terra nenhuma de
suas palavras”. Os dois discípulos escutaram Jesus e fizeram a experiência
de permanecer com ele. Na Bíblia, escutar significa obedecer (ob-audire) e a
obediência a Deus é sinal de confiança e de total entrega.
Os
cristãos de nossos dias e de todas as denominações religiosas precisam fazer a
experiência da permanência com Jesus. Infelizmente, há muitos que se contentam
em cultuá-lo. Há belos cultos, mas que não passam disso. Jesus não pediu para
ser cultuado, mas conosco nos ensina a adorar o Pai em espírito e verdade, ou
seja, a nos abrirmos para aquilo que Deus quer: o amor (ágape) capaz de nos
transformar numa presença suave, alegre, fecunda, iluminadora, contagiante e
transformadora no mundo. Jesus nos olha com amor e nos diz: Tu és
meu irmão, vai, eu te envio! Juntos podemos renovar a face da terra! Outro
mundo é possível!
Tiago
de França
Obs.: Acompanha nossa meditação, a foto de dois grandes servidores da vinha do Senhor: Pe. José Comblin (In memoriam) e Dom José Maria Pires.
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