“Eu
sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas” (Jo
10, 11).
“Um padre alcoolizado e dirigindo na contramão bateu em
uma moto da Polícia Militar na madrugada deste sábado (25/04), no Bairro Ouro
Preto, na Região Noroeste de Belo Horizonte. A Polícia Civil suspeita que o
religioso estaria tentando escapar de uma Operação da Lei Seca, que acontecia
em uma avenida próxima, quando provocou o acidente. O soldado da PM que
pilotava a moto não se feriu. O padre foi detido após passar pelo teste do
bafômetro, que constatou crime de trânsito”.
Tratava-se
do Pe. Erli Lopes Cardoso, de 41 anos, que atua na Paróquia N. Sra. da Divina
Providência, bairro Pampulha, em Belo Horizonte. O padre é membro da
Congregação Pequena Obra da Divina Providência e a notícia foi dada em
praticamente todos os jornais da capital mineira.
“A Arquidiocese de Olinda e Recife recebeu autorização do
Vaticano e deu início oficial ao processo de beatificação e canonização de Dom
Helder Câmara”: notícia publicada nos grandes jornais de circulação nacional,
nestes dias. Grande pastor e profeta da história recente da Igreja no Brasil, o
Dom da Paz será, em breve, reconhecido como santo para a veneração de todos.
Nossa meditação se inicia com estas duas notícias porque,
para os cristãos católicos, o 4º Domingo da Páscoa é o domingo do Bom Pastor. O
texto evangélico (cf. Jo 10, 11 – 18) apresenta Jesus como o bom pastor que dá
a vida por suas ovelhas. Por isso, nossa meditação é dirigida a todos,
especialmente aos pastores da Igreja (bispos e padres, principalmente). É preciso
reconhecer, com sinceridade, verdade e humildade, que na Igreja temos bons e
maus pastores. Temos aqueles que, de fato, dão a vida pelas ovelhas de Jesus;
mas, infelizmente, temos aqueles que, na verdade, não são pastores, mas
mercenários: que abandonam as ovelhas, não se importando com elas. Não as livra
dos lobos que as perseguem e matam.
Quando a Igreja não conta com pastores profetas como Dom
Helder Câmara, o Reino de Deus não acontece, pois são os profetas que anunciam
o Evangelho de Jesus e denunciam as injustiças. O Papa Francisco, que tem se
mostrado um grande pastor, tem denunciado, incansavelmente, a falta de profecia
na Igreja.
Antes dele, o profeta Pe. José Comblin, na sua
ação e no seu labor teológico, especialmente na obra A profecia na Igreja (publicada pela editora Paulus), denuncia esta
ausência de profecia e domínio da letargia na vida eclesial. Quando os
pastores, especialmente os bispos e os padres, não dedicam o seu tempo à
evangelização dos pobres, facilmente caem na tentação do apego ao poder, prestígio
e riqueza. A história da Igreja está aí para mostrar que esta é uma verdade
incontestável.
O Evangelho de Jesus traz algumas recomendações para o
fiel exercício do ministério dos pastores na Igreja. Aqui selecionamos algumas,
a saber: 1) Que levem um estilo de vida simples, tendo somente o necessário
para viver, assim como os pobres; 2) Que cultivem uma aparência e forma de
falar simples e próxima das pessoas, sem a pretensão de demonstrar que
estudaram muita filosofia e teologia, pois não interessa ao povo conhecer a
complexidade dessas ciências. Jesus não enviou ninguém para pregar filosofia e
teologia, mas o seu Evangelho; 3) Que permaneçam atentos às necessidades
espirituais e materiais do povo de Deus, especialmente dos pobres, em suas
lutas e sonhos. É preciso permanecer ao lado do povo e não dos poderosos deste
mundo, que só sabem mentir e explorar; 4) Que aprendam a rezar e meditar,
diariamente, o Evangelho para anunciá-lo com a palavra e com o testemunho da
própria vida. Um autêntico líder religioso é servidor do povo e profundamente
íntimo da mensagem de Jesus para ter os mesmos sentimentos de seu Mestre e
Senhor; 5) Que sejam, de fato, ministros da comunhão e da participação à luz do
espírito do Concílio Vaticano II, promovendo a justiça e a paz em um mundo
marcado pela discórdia que gera inúmeras formas de violência.
Assim, teremos, de fato, profetas em nossa Igreja. Somente
assim, o povo se entusiasmará e assumirá a sua missão na história humana atual.
Nestes dias, foi eleita a nova Presidência da Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil – CNBB. À ela é dirigida a palavra de Jesus: Sejam bons pastores e
deem a vida pelas ovelhas do Senhor!
O
povo brasileiro está sendo explorado, assaltado. As crises causam desespero,
cegueira, surdez e dispersão. Onde está a Igreja? Não basta orar nos templos
pelo fim da crise. É preciso que a ação da Igreja em favor dos mais
empobrecidos seja uma constante. Em tempos de crise, o povo deve encontrar na
Igreja um alívio para suas dores, uma referência confiável, um suporte.
Não
se trata de se posicionar contra ou a favor do governo, mas de ir ao encontro
das vítimas da crise, oferecendo-lhes o óleo da misericórdia, aliviando-lhes as
dores provocadas pelas feridas abertas. Jesus, o bom Pastor, deseja ver circulando
nas veias da Igreja o seu Evangelho, e os que exercem o ofício de pastor em
nome dele são os primeiros responsáveis por isso. Quem ousou compartilhar com
Jesus o ofício de pastor deve fazer como ele: dar a vida. Este é o sentido da vida
e missão de pastor. Que o Espírito do Senhor torne cada vez mais fecundo o
ministério de nossos pastores para a vida do povo de Deus!
Tiago de França
Obs: Na fotografia, aparecem o Cardeal Montini (futuro Paulo VI) com Dom Helder Câmara, visitando os pobres em uma das favelas de Recife - PE.