domingo, 26 de abril de 2015

O bom Pastor

“Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas” (Jo 10, 11).

            “Um padre alcoolizado e dirigindo na contramão bateu em uma moto da Polícia Militar na madrugada deste sábado (25/04), no Bairro Ouro Preto, na Região Noroeste de Belo Horizonte. A Polícia Civil suspeita que o religioso estaria tentando escapar de uma Operação da Lei Seca, que acontecia em uma avenida próxima, quando provocou o acidente. O soldado da PM que pilotava a moto não se feriu. O padre foi detido após passar pelo teste do bafômetro, que constatou crime de trânsito”.  

Tratava-se do Pe. Erli Lopes Cardoso, de 41 anos, que atua na Paróquia N. Sra. da Divina Providência, bairro Pampulha, em Belo Horizonte. O padre é membro da Congregação Pequena Obra da Divina Providência e a notícia foi dada em praticamente todos os jornais da capital mineira.

            “A Arquidiocese de Olinda e Recife recebeu autorização do Vaticano e deu início oficial ao processo de beatificação e canonização de Dom Helder Câmara”: notícia publicada nos grandes jornais de circulação nacional, nestes dias. Grande pastor e profeta da história recente da Igreja no Brasil, o Dom da Paz será, em breve, reconhecido como santo para a veneração de todos.

            Nossa meditação se inicia com estas duas notícias porque, para os cristãos católicos, o 4º Domingo da Páscoa é o domingo do Bom Pastor. O texto evangélico (cf. Jo 10, 11 – 18) apresenta Jesus como o bom pastor que dá a vida por suas ovelhas. Por isso, nossa meditação é dirigida a todos, especialmente aos pastores da Igreja (bispos e padres, principalmente). É preciso reconhecer, com sinceridade, verdade e humildade, que na Igreja temos bons e maus pastores. Temos aqueles que, de fato, dão a vida pelas ovelhas de Jesus; mas, infelizmente, temos aqueles que, na verdade, não são pastores, mas mercenários: que abandonam as ovelhas, não se importando com elas. Não as livra dos lobos que as perseguem e matam.

            Quando a Igreja não conta com pastores profetas como Dom Helder Câmara, o Reino de Deus não acontece, pois são os profetas que anunciam o Evangelho de Jesus e denunciam as injustiças. O Papa Francisco, que tem se mostrado um grande pastor, tem denunciado, incansavelmente, a falta de profecia na Igreja.

 Antes dele, o profeta Pe. José Comblin, na sua ação e no seu labor teológico, especialmente na obra A profecia na Igreja (publicada pela editora Paulus), denuncia esta ausência de profecia e domínio da letargia na vida eclesial. Quando os pastores, especialmente os bispos e os padres, não dedicam o seu tempo à evangelização dos pobres, facilmente caem na tentação do apego ao poder, prestígio e riqueza. A história da Igreja está aí para mostrar que esta é uma verdade incontestável.

            O Evangelho de Jesus traz algumas recomendações para o fiel exercício do ministério dos pastores na Igreja. Aqui selecionamos algumas, a saber: 1) Que levem um estilo de vida simples, tendo somente o necessário para viver, assim como os pobres; 2) Que cultivem uma aparência e forma de falar simples e próxima das pessoas, sem a pretensão de demonstrar que estudaram muita filosofia e teologia, pois não interessa ao povo conhecer a complexidade dessas ciências. Jesus não enviou ninguém para pregar filosofia e teologia, mas o seu Evangelho; 3) Que permaneçam atentos às necessidades espirituais e materiais do povo de Deus, especialmente dos pobres, em suas lutas e sonhos. É preciso permanecer ao lado do povo e não dos poderosos deste mundo, que só sabem mentir e explorar; 4) Que aprendam a rezar e meditar, diariamente, o Evangelho para anunciá-lo com a palavra e com o testemunho da própria vida. Um autêntico líder religioso é servidor do povo e profundamente íntimo da mensagem de Jesus para ter os mesmos sentimentos de seu Mestre e Senhor; 5) Que sejam, de fato, ministros da comunhão e da participação à luz do espírito do Concílio Vaticano II, promovendo a justiça e a paz em um mundo marcado pela discórdia que gera inúmeras formas de violência.

            Assim, teremos, de fato, profetas em nossa Igreja. Somente assim, o povo se entusiasmará e assumirá a sua missão na história humana atual. Nestes dias, foi eleita a nova Presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB. À ela é dirigida a palavra de Jesus: Sejam bons pastores e deem a vida pelas ovelhas do Senhor!  

O povo brasileiro está sendo explorado, assaltado. As crises causam desespero, cegueira, surdez e dispersão. Onde está a Igreja? Não basta orar nos templos pelo fim da crise. É preciso que a ação da Igreja em favor dos mais empobrecidos seja uma constante. Em tempos de crise, o povo deve encontrar na Igreja um alívio para suas dores, uma referência confiável, um suporte.

Não se trata de se posicionar contra ou a favor do governo, mas de ir ao encontro das vítimas da crise, oferecendo-lhes o óleo da misericórdia, aliviando-lhes as dores provocadas pelas feridas abertas. Jesus, o bom Pastor, deseja ver circulando nas veias da Igreja o seu Evangelho, e os que exercem o ofício de pastor em nome dele são os primeiros responsáveis por isso. Quem ousou compartilhar com Jesus o ofício de pastor deve fazer como ele: dar a vida. Este é o sentido da vida e missão de pastor. Que o Espírito do Senhor torne cada vez mais fecundo o ministério de nossos pastores para a vida do povo de Deus!


Tiago de França

Obs: Na fotografia, aparecem o Cardeal Montini (futuro Paulo VI) com Dom Helder Câmara, visitando os pobres em uma das favelas de Recife - PE. 

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