“A
paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, também eu vos envio” (Jo
20, 21).
Quando Jesus pronunciou estas palavras, seus discípulos
vibraram de alegria. A presença do Ressuscitado faz surgir a alegria. Não se
trata de momento passageiro de festa, mas de uma festa que dura no tempo e no
espaço. É inexplicável a alegria da ressurreição de Jesus. Ela provoca ânimo,
confiança, vontade de viver. Somente experimentando é possível sentir seus
efeitos, pois não é algo abstrato, mas palpável, visível, concreto, que
acontece na simplicidade do cotidiano da vida.
Tomados pela alegria e pela força do Ressuscitado, os
primeiros discípulos de Jesus venceram o mundo. Eles perderam o medo
paralisante. Deixaram-se penetrar pelo Espírito do Ressuscitado. Não precisaram
de mais nada. Estavam dispostos a tudo. Ultrapassaram a si mesmos. De fato,
tornaram-se membros do corpo do Ressuscitado, experimentando uma vida nova,
repleta de amor, compaixão e ousadia profética. Os primeiros discípulos de Jesus
não pertenciam a si mesmos, mas aos outros. No Ressuscitado descobriram o
verdadeiro sentido da vida.
A fé no Cristo Jesus os assegurava uma certeza
inabalável: a de que não estavam sozinhos. E o Espírito do Ressuscitado os
confirmava na fé, orientando-os, guiando-os, fortalecendo-os, trabalhando no
mundo por meio deles. Aliás, este Espírito não é mera companhia externa, mas
força transformadora da pessoa porque permanece com ela.
Ele
somente pede para permanecer e deseja ser acolhido na liberdade porque gera
liberdade. Sua missão é libertar, tirar das trevas, devolver e promover a
dignidade. Pela fé, o cristão é chamado a conhecer e experimentar este mistério
insondável de amor. É tudo muito simples, real e, portanto, concreto. Jesus não
é uma teoria teológica, mas Deus presente no meio de nós.
Imaginemos uma senhora chamada simplesmente pelo nome de
Maria: uma pobre viúva aposentada, sentada à porta, na sua casinha de taipa,
tomando seu cafezinho com biscoito de polvilho. Depois de uma boa conversa, falando
sobre os mistérios do Reino de Deus, que lhes foram revelados pelo Espírito do
Ressuscitado, que chegou lá muito antes de mim, eis que pergunto: “Dona Maria, para a senhora, quem é Deus?”
De
repente, depois de um longo e suave sorriso, ela responde com clareza,
objetividade e convicção: “Meu filho,
Deus é tão lindo e tão bom que eu nem sei dizer como Ele é para você; mas uma
coisa posso dizer: Ele gosta tanto de nós, mas gosta tanto, que mandou Jesus
para livrar a gente da miséria humana”.
Dona Maria mora no Vale do Jequitinhonha, região mais
pobre de Minas Gerais. As coisas que dela ouvi nunca as tinha lido em nenhum
dos inúmeros livros que li até hoje. A partir daquele dia, principalmente, tive
a plena convicção que as sabedorias e os poderes humanos não representam
praticamente nada diante do insondável mistério da presença de Deus neste
mundo.
A
dona Maria me pediu que continuasse estudando, mas com a seguinte recomendação:
“Olhe, seu moço, preste atenção! Estudar
é bom, mas não se descobre Deus nos estudos não, viu!” E colocando a mão
sobre o meu peito, ela concluiu: “Deus
está aí, sinta Ele chamando você!”
Tiago de França
Obs: A dona Maria, mencionada na reflexão, é a que aparece na fotografia.
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