domingo, 7 de junho de 2015

Como conhecer e viver a vontade de Deus?

“Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe” (Mc 3, 35).

            Fazer a vontade de Deus: eis a condição essencial para ser irmão de Jesus. Não há nenhuma outra condição senão esta. Não precisamos inventar outras porque Jesus somente estabeleceu uma. O desafio é conhecer a vontade de Deus e praticá-la na vida. Não basta conhecê-la, mas é necessário praticá-la. Na verdade, sem a prática não há conhecimento da vontade divina, pois ela vai se revelando na medida em que o seguidor de Jesus vai se colocando em seu caminho. Portanto, somente a conhece quem se arrisca no caminho de Jesus. Esta parece ser a via necessária para tal conhecimento.  

Neste sentido, os estudiosos em Bíblia e os especialistas em religiões não podem afirmar que conhecem a vontade divina somente porque vivem por conta dos estudos das coisas relacionadas a Deus. Estudar teologia, Bíblia e religião é necessário, mas não dá acesso ao conhecimento pleno da vontade de Deus.

            Colocando-se no caminho de Jesus, o discípulo missionário vai descobrindo a vontade de Deus. Não se trata de ter acesso a um conceito, rigorosamente elaborado e contido nos tratados de mística, espiritualidade e teologia. Esses conceitos são frutos da imaginação e da inteligência humana. São até bonitos e doces à audição, mas Deus não está preso a eles. Deus e sua vontade não são conceitos abstratos, mas realidade encarnada no meio do mundo.  

A vontade divina é conhecida em meio às idas e vindas da vida. Deus fala a partir da realidade da vida humana. Por isso, é preciso aprender a discernir, e o dom do discernimento passa, necessariamente, por três atitudes fundamentais: saber ouvir, saber enxergar e permanecer acordado. Falar é importante, mas para discernir é preciso também saber silenciar. Vamos compreender melhor o dom do discernimento, pois dele depende a conversão do discípulo missionário de Jesus.

            Saber ouvir significa aprender a obedecer. Em um mundo marcado por revoltas, é necessário redescobrir o dom da obediência à voz do Espírito Santo. É preciso obedecer para conhecer a vontade de Deus. Não se trata de obedecer às leis religiosas impostas em nome de Deus como se correspondessem, exatamente, à sua vontade. Muitas vezes, o que ocorre nas Igrejas cristãs é que as pessoas procuram mais conhecer somente as leis religiosas e menos a vontade de Deus. 

Certamente, as leis religiosas tem a sua importância e seu lugar na vida cristã, mas por si mesmas não levam ninguém ao cumprimento da vontade divina. O discípulo missionário precisa aprender a ouvir a Deus falando na realidade da vida, pois ao identificar a voz de Deus ser-lhe-á revelada sua missão naquela determinada realidade. Deus fala e mostra o que se deve fazer. É preciso ouvir as pessoas e ao mundo. Onde está Deus falando em meio ao barulho e a confusão do mundo? O que ele está dizendo? Para onde está apontando?...

            Saber enxergar significa aprender a situar-se na realidade. Onde o discípulo missionário precisa armar a sua tenda? Impulsionado pelo amor, quem segue Jesus aprende a enxergar a vida com os olhos da fé, com os olhos de Jesus. Enxergar como Jesus significa ver o mundo e as pessoas com os olhos da compaixão, que não se trata se sentir pena das pessoas, mas compadecer-se delas, assumindo as suas dores, entrando, assim, em comunhão de vida. Para isto, é preciso aproximação, sensibilidade e disponibilidade; mas antes é preciso não se recusar à visão da realidade. 

Fazer-se de cego é ser omisso, e a omissão é um pecado grave. No discernimento, o Espírito Santo concede o dom da visão da realidade. O cristão aprende, desse modo, a ver a Deus na carne sofrida do outro. Como seguir Jesus sem vê-lo no meio do povo, inserido na vida do povo de Deus? Sem esta visão não existe seguimento. A visão leva à inserção na vida cotidiana das pessoas. Portanto, não se trata de mera contemplação passiva, mas de contemplação ativa.

            Permanecer acordado significa estar atento e vigilante diante dos sinais dos tempos. Em um mundo marcado pelo barulho e pela dispersão, somente quem permanece atento e vigilante consegue conhecer a vontade de Deus. A atenção é um dom de Deus. Pessoas desatentas não conseguem enxergar o outro, não conseguem ver a Deus no outro; logo, não dão conta de seguir Jesus.  

Também o dom da vigilância foi recomendado por Jesus. A vigilância ativa é a espera laboriosa do Reino de Deus. Significa agir sob a orientação do Espírito Santo com a plena consciência de que somos apenas trabalhadores, semeadores da semente, pois o seu germinar e frutificar não dependem do semeador, mas é dom misterioso da ação amorosa e silenciosa de Deus.

            Por fim, não poderíamos nos esquecer de mencionar que a oração também é um dos lugares de encontro com Deus, ferramenta indispensável para conhecermos a sua vontade. Tanto na oração comunitária, nas assembleias dos fieis, quanto na oração pessoal, Deus fala ao coração de seus filhos e filhas, revelando-lhes a sua vontade, em vista da edificação de seu Reino. 

Deus não revela a sua vontade para que as pessoas construam um projeto intimista de felicidade. Isto jamais ocorre. O verdadeiro cristão jamais diz: “Quero cumprir a vontade de Deus porque quero ser feliz!” De fato, ser feliz não é um pecado e Deus não se opõe à felicidade humana, mas Ele não se submete à mera satisfação dos desejos humanos. Deus não compactua com o nosso egoísmo. Por isso, quem quiser conhecer a sua vontade e praticá-la na vida precisa se dispor a amar até as últimas consequências, pois é no amor que se conhece e se ama a Deus. Fora do amor não há conhecimento e cumprimento da vontade divina, não há salvação.


Tiago de França

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