“Em
verdade vos digo, esta pobre viúva deu mais do que todos os outros que
ofereceram esmolas. Todos deram do que tinham de sobra, enquanto ela, na sua
pobreza, ofereceu tudo aquilo que possuía para viver”
(Mc 12, 43 – 44).
O mundo atual é marcado pela cultura do individualismo. Há
muita gente que só pensa em si mesma, vivendo em função de si mesma. Em tudo
procura satisfazer-se, não aceitam perder, somente querem ganhar. Essa gente, antes
de se envolver em alguma coisa, se pergunta: O que vou ganhar com isso? Por isso,
sente dificuldade de praticar a solidariedade porque nesta não há retorno, pois
é, essencialmente, gratuita. Estender as mãos para a acolhida do outro, para abraçá-lo
em suas necessidades, está se tornando cada vez mais atitude rara. As pessoas
querem tirar vantagem em tudo. Quem assim procede não conhece Jesus e sua
mensagem.
Segundo a lógica capitalista, os problemas e necessidades
do outro não despertam nenhum interesse nem incômodo. “Eu estou cuidando da minha vida, procurando o meu espaço, satisfazendo
as minhas necessidades. Trabalho para isso. Quem tiver seus problemas e
necessidades que as resolva! Não tenho nada a ver com isso! Não tenho culpa nas
carências de ninguém”, pensa o egoísta no seu íntimo. Visivelmente, quem
assim pensa e procede, desconhece Jesus e sua mensagem. Curiosamente, em nossas
Igrejas há inúmeras pessoas que pensam e agem dessa forma. Acham que são
seguidoras de Jesus, praticando o egoísmo. Ainda não aprenderam que a fé cristã
não é compatível com o egoísmo. Quando este vigora aquela desaparece.
Qual a recompensa merecida para o egoísta? A morte
espiritual. Pode ser rico e gozar de alegrias passageiras, mas, no fundo, é
triste e infeliz. É assim porque a verdadeira alegria é filha da generosidade e
da partilha. Infeliz daquele que não é sensível ao sofrimento do outro. Trata-se
de pessoa mesquinha e desprezada, pois são poucos os que suportam conviver com
o egoísta. Este anula de sua vida a existência frágil do outro e se coloca como
autossuficiente. Trata-se, ainda, de pessoa morta, que ousa ocupar espaço no
mundo. A morte do egoísta é a falta de amor, pois quem ama é generoso e
solidário com o outro. O egoísta não ama, mas se aproveita das pessoas para a
satisfação de seus instintos egoístas.
É comum vermos as pessoas buscando o poder, o prestígio e
a riqueza, com a única finalidade – dizem elas –, de serem felizes. Falam de
boca cheia de seus anseios e sonhos materialistas. Dedicam suas energias à
busca incansável da vida tranquila e confortável, alicerçada nas seguranças que
o poder e o dinheiro podem oferecer. No meio da multidão dos que assim vivem,
há uma minoria que pensa e age em função da felicidade do outro. Lutam,
diuturnamente, pela promoção da dignidade do outro. Estas, sim, conhecem Jesus
e sua mensagem, pois se deixam guiar por seu Espírito, que as liberta do mal do
egoísmo. Somente as pessoas generosas, que partilham do que são e do que tem, é
que realmente podem ser felizes. Não existe felicidade no egoísmo. Neste somente
há mentira e perturbação mental. Todo egoísta não tem paz interior. É uma
criatura perturbada, insatisfeita, pois o egoísmo a corrói por dentro,
tirando-lhe a verdadeira alegria e tranquilidade.
O que nos ensina Jesus sobre o dom da partilha? Ensina-nos
que somos irmãos. Ser irmão significa reconhecer no outro um filho de Deus. Deus
Pai quer que seus filhos vivam a fraternidade. Ser fraterno é reconhecer no
outro um irmão, remido no sangue de Jesus. Como o cristão ama a Deus? Não há
outra forma de amar a Deus senão amando o próximo. Não se ama a Deus com os
lábios e com o pensamento. O amor não é uma realidade abstrata, coisa do mundo
das ideias. O amor é concreto, é ação libertadora, é a força poderosa capaz de
salvar toda a humanidade. É encontro fecundo e transformador entre as pessoas,
que as liberta do preconceito e da indiferença. Somente o amor liberta do
egoísmo. O egoísta se converte quando aprende a amar as pessoas na gratuidade,
generosidade e liberdade.
No evangelho segundo Marcos, encontramos Jesus admirado
com o gesto de uma pobre viúva que depositou duas moedas no cofre do Templo. Segundo
Jesus, ela deu tudo o que tinha para viver. Na sua pobreza, foi mais generosa
do que os ricos, que davam daquilo que lhes sobrava. Jesus louva o gesto
concreto da viúva e ensina a seus discípulos o dom da partilha. Partilhar não é
dar o resto e/ou a sobra. Não é livrar-se das pessoas para que não mais nos
incomodem. Não é fazer doações para tranquilizar a consciência. Partilhar,
segundo a ótica do evangelho, é voltar-se para o outro. Não é mero gesto
momentâneo, mas é permanecer com o outro, atento às suas necessidades e
problemas. É colocar-se a serviço do outro. É comungar da sua vida. O dom da
partilha exige a necessária compreensão da situação do outro, exige compaixão,
atenção, gratuidade, humildade, disponibilidade, muito amor e dedicação. O Deus
e Pai de Jesus permanece na vida de quem partilha no amor.
Quem se abre ao sagrado exercício espiritual da partilha
fraterna conhece uma paz interior que o mundo não consegue dar. Exerce uma
profecia que denuncia o mal maior que oprime mulheres e homens no mundo
inteiro: O apego aos bens materiais. Este apego aos bens gera o egoísmo. Os escravos
dos bens materiais não dispõem de tempo para pensar nos outros, pois estão concentrados
na manutenção e multiplicação dos próprios bens. Para estes escravos, não se
pode nem pensar no outro porque isto representa perda de tempo. Por isso,
desconhecem sentimentos como a compaixão, que exige colocar-se no lugar do
outro. O verdadeiro cristão não pode ser assim, pois se o é, não é cristão.
Por fim, abrir-se à ação amorosa do Espírito é a atitude
de quem deseja livrar-se, definitivamente, do mal do egoísmo. Este Espírito tem
a força de manter o discípulo no caminho de Jesus: Caminho da partilha generosa
e feliz. Este Espírito nos concede a graça de partilharmos o sorriso, o abraço,
a atenção, o ouvir, o pão. Com o coração humilde, contrito e aberto, somos
chamados a sentir as dores do corpo de Cristo nos corpos dos sofredores, a fim
de que quando chegar o grande dia da glorificação final dos filhos e filhos de
Deus, possamos festejar eternamente, participando do banquete do Reino de Deus.
E quando chegar esse dia, a festa vai ser linda de viver!
Tiago de França
Um comentário:
A escola obriga quem não gosta de religião fica vendo.
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