“Não
podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6, 24).
A caridade evangélica nos ensina que não devemos julgar a
fé do próximo. Somente Deus conhece a fé que reside no coração das pessoas. Por
isso, nossa reflexão não é um julgamento sobre a fé, mas uma análise de um
fenômeno social. A religião é este fenômeno social e cultural que pode ser
submetido ao nosso juízo. Este juízo deve ser feito com humildade, liberdade e
caridade.
Não
se trata de julgar no sentido condenatório do termo, mas de analisar a
realidade à luz da genuína fé cristã, para descobrirmos aquilo que é de Deus e
o que é dos homens. Inicialmente, é preciso afirmar, categoricamente, o
seguinte: Religião é criação humana, e fé
é dom gratuito de Deus para a salvação da humanidade. Não podemos, de forma
alguma, confundir religião com fé, pois são duas realidades diferentes.
Nossa pretensão é denunciar o amor ao dinheiro presente nas Igrejas cristãs. Cremos que nenhuma
delas está livre desse mal. Em todas encontramos pessoas que optaram por servir
ao dinheiro em detrimento do serviço a Deus. Nossa denúncia se dirige a todos
os cristãos que desprezam a Deus e se apegam ao dinheiro, especialmente aqueles
que exercem ministérios em nossas Igrejas. Tanto na Igreja Católica quanto nas
Igrejas denominadas evangélicas, encontramos pastores apegados ao dinheiro.
Pastores
apegados ao dinheiro não são verdadeiros pastores, mas mercenários. Estes
exercem seu ministério com um único objetivo: Ganhar dinheiro. E a realidade do
Brasil tem mostrado que eles tem ganhado muito dinheiro. São milhões de reais
adquiridos em nome de Jesus! Na verdade, eles não agem em nome de Jesus, pois
não foram enviados para roubar o dinheiro do povo, mas para cuidar do rebanho
do Senhor.
Na Igreja Católica cresce cada vez mais o número dos
padres cantores, que conseguem vender inúmeras cópias de seus CDs e DVDs, além
dos contratos caríssimos para fazer shows.
A destinação da fortuna arrecadada é duvidosa. Sabemos da aquisição de carros e
casas de luxo; propriedades urbanas e rurais caríssimas; contas bancárias
recheadas de dinheiro; sem contar a vaidade das vestimentas, do cuidado excessivo
com o corpo através das cirurgias plásticas, entre outros adereços e usos que não
se prestam a ministros consagrados para o anúncio da Boa Notícia do Pobre Jesus
de Nazaré. Além dos padres cantores, nada comprometidos com as grandes causas
do Reino de Deus, também encontramos outros padres, que como párocos e vigários
(entre outros ofícios), exploram o povo de Deus, arrecadando e acumulando altas
somas de dinheiro.
Particularmente,
conheço um padre, que deve ter seus dez ou quinze anos de ministério, e que já
possui uma fortuna avaliada em alguns milhões de reais. E para completar, nas
últimas eleições, foi eleito deputado estadual. Qualquer fiel que reze um Pai
nosso bem rezado diariamente percebe, ao olhar nos olhos dele, a falta de
vocação para o ministério ordenado. É um mercenário clássico: Sabe falar
bonito, prega bem as próprias ideias, utiliza-se de paramentos caríssimos que
impressionam os fieis, tem semblante piedoso, entre outras características. Os
três nomes que tem ganhado maior destaque na mídia são o Pe. Fábio de Melo, Pe.
Reginaldo Manzotti e o Pe. Alessandro Campos. Estes são padres cantores.
Quando olho para os que são realmente mercenários, fico
me perguntando: Será que este padre não tem bispo? Por que os bispos fazem
silêncio diante de tamanho escândalo? Por que não escutam a exortação do Papa
Francisco, que tem convidado a uma vida simples e despojada? Por que as pessoas
se deixam tão facilmente enganar pelo discurso falacioso desses falsos
pastores? Por que são tão protegidos e conseguem tanto sucesso? Será que não
param para pensar a respeito do mal que fazem ao povo de Deus e à Igreja? Por
que esta situação não é causa de protestos por parte dos católicos mais
comprometidos com a evangelização do mundo? Por que não são expulsos dos
seminários aqueles que explicitamente demonstram o interesse de trilhar o mesmo
caminho? Por que não são obrigados a prestar contas do dinheiro que arrecadam
em suas atividades? Para responder a estas e tantas outras perguntas seria
necessário escrever uma obra volumosa, exclusivamente voltada para a abordagem
dessa realidade tão perigosa. O problema é grave e amplo. Infelizmente, o
número dos envolvidos não é tão pequeno como se imagina.
No mundo ‘evangélico’ neopentecostal não é diferente.
Podemos encontrar inúmeros pastores que vivem explorando o povo de Deus. Recentemente,
em um dos canais de televisão, escutei de um deles a seguinte ‘revelação’: “O
Senhor Jesus está me revelando que precisa de 300 mil dizimistas para doar um
dízimo mensal de 300 reais!” Não duvido que conseguirá encontrar tais
dizimistas. E após a suposta revelação, o suposto pastor foi aplaudido de pé
pela multidão de fieis que o rodeava. Basta ligar a televisão para
encontrá-los.
Eles
exploram sem nenhum pudor. Arrecadam fortunas, que os tornam milionários. Pregam
a prosperidade de vida: “Entrega a tua vida e
os teus bens ao Senhor Jesus e ele tudo fará por ti!”. Esta é a lógica do
discurso deles: Quanto mais você investir dinheiro na fé, mais ela tornará a
pessoa bem-sucedida na vida. Para eles, a fé não está separada do dinheiro. Este
é como que o combustível daquela. Esta é uma ideologia que não tem nada que ver
com Jesus. Trata-se de um mal que Jesus condenava nos mestres da lei e fariseus
de sua época.
Como saber se o pastor é verdadeiro ou falso? No
evangelho segundo João, Jesus responde claramente (cf. Jo 10, 1 – 16): Pastor é
aquele que entra pela porta, que chama as ovelhas pelo nome, que as conduz e que
dá a vida por elas. E quem é o mercenário? É aquele que rouba, mata e destrói,
que abandona as ovelhas quando ameaçadas pelo lobo. Pelas palavras de Jesus,
todo pastor que não cuida das ovelhas do rebanho, na verdade, não é pastor, mas
mercenário.
Hoje,
os mercenários não se importam com a situação espiritual de suas ovelhas. Não
as conduzem a Deus, mas aproveitam-se delas para se enriquecerem. Utilizam-se
de falsas promessas, falsas visões e revelações, falsas curas, e reflexões que
distorcem o verdadeiro sentido da mensagem de Jesus. Investe-se principalmente
nas supostas curas e na promessa de prosperidade. Ocupam-se também das supostas
possessões diabólicas. Tudo converge para a constituição de um negócio que
rende muito dinheiro, e que não se sabe ao certo o quanto é declarado à receita
federal. Os três nomes de maior destaque e que estão entre os mais ricos são o
Bispo Edir Macedo, da Universal do Reino de Deus; o apóstolo (é assim mesmo que
se autodenomina!) Valdemiro Santiago, da Igreja Mundial do Poder de Deus e o
pastor Silas Malafaia, da Associação Vitória em Cristo.
Afinal de contas, qual foi o mandato missionário de
Jesus? “Ide e evangelizai” (Mc 16, 15): eis a missão dos verdadeiros discípulos
missionários. Nenhum discípulo de Jesus recebeu dele a ordem para criar
instituições que visassem arrecadar dinheiro em seu nome para o enriquecimento
de líderes religiosos. O Cristianismo, com seu aparato institucional, que
muitas vezes exige grandes somas de dinheiro para se manter, não é obra de
Jesus. E quando este aparato institucional não está a serviço dos empobrecidos
deste mundo, seu destino é fatal: Somente serve para promover e manter
privilégios para pessoas e grupos determinados. Independentemente da função que
ocupam (leigos e ordenados, fieis e pastores), todos possuem a mesma missão: Evangelizar. Esta é a missão de nossas
Igrejas.
Quando
não evangelizam, desviam-se de sua missão fundamental, entregando-se às
vaidades e apegos, fazendo alianças com os poderosos, reforçando, desse modo,
as forças contrárias ao Reino de Deus, que operam neste mundo. O evangelho de
Jesus nos convida à missão, assim como nos exorta a denunciarmos o mal do apego
ao dinheiro no interior de nossas Igrejas e no mundo. Este apego não pode ser
tolerado, pois provoca a destruição das comunidades cristãs, impedindo-as de
seguir Jesus na opção pelos pobres, segundo a vontade de Deus. Tanto no mundo
quanto no interior de nossas Igrejas, tal apego também gera corrupção de toda
espécie, como as que temos assistido nos noticiários todos os dias.
Tiago de França
Nenhum comentário:
Postar um comentário