segunda-feira, 25 de abril de 2016

Se tiverdes amor

“Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros” (Jo 13, 34 – 35).

            Jesus estabelceu uma condição para que as pessoas o seguissem: Se tiverdes amor uns aos outros. Quem é o discípulo de Jesus? Aquele que tiver amor aos outros. No amor não há meio termo: Ou amamos, ou não amamos. Neste ponto Jesus é radical. Sem o amor não há discípulo nem missionário. Não há fé cristã nem Cristianismo. Tudo pode estar organizado e disciplinado. Todas as normas podem ser cumpridas, rigorosamente. Sem amor, o Cristianismo não passa de religião falsa e opressora. O amor é o núcleo fundamental da fé em Jesus. Quem não ama não pode dizer que tem fé em Jesus, pois a fé conduz ao amor.

            Qual é a nossa atual situação? Dentro e fora dos ambientes religiosos, encontramos rivalidade e ódio. Há uma cultura da eliminação do outro em nome de Deus. Com discursos religiosos há muitas acusações, julgamentos e condenações. Utilizando-se dos dicursos religiosos, muitos que se dizem cristãos envergonham o Cristianismo. Reinam a hipocrisia religiosa, a intolerância, a perseguição e a demonização de pessoas, grupos e instituições.

Recentemente, dezenas de deputados federais se uniram para envergonharem o Cristianismo no parlamento brasileiro: Deram um show de hipocrisia para todo o país assistir. Invocaram o nome de Deus em vão para esconder crimes e pecados de todo tipo: desvios de dinheiro público, sonegação fiscal, assassinatos, peculato, lavagem de dinheiro, organização criminosa, apologia ao crime, ódio, mentira, adultérios, casamentos mal vividos etc. Todas as pessoas de bom senso, dentro e fora do País, ficaram estarrecidas com o baixo nível dos “representantes” do povo brasileiro. Pareciam lobos ferozes, inimigos da ética e da moralidade política. O mais vergonhoso é termos que admitir que inúmeros brasileiros aplaudiram de pé um dos momentos mais terríveis e vergonhosos da política nacional brasileira.

Falta o amor na vida política de inúmeros parlamentares que se dizem cristãos. Na verdade, o que existe é um número assustador de falsos cristãos, ladrões dos cofres públicos. Por isso, desconhecem o mandamento maior da Lei de Deus, que consiste no amor ao próximo. Amar o próximo na vida política significa trabalhar pelo bem comum. O Brasil seria muito diferente se os parlamentares que se dizem cristãos praticassem o mandamento do amor na política. Infelizmente, assistimos ao oposto do amor: a maioria dos políticos da bancada que se diz “evangélica” é corrupta, e tenta se esconder por trás de um discurso religioso conservador e intolerante; discurso que se coloca na contramão dos direitos humanos fundamentais, sem nenhum embasamento bíblico e teológico.

Falta o amor nas comunidades cristãs. Ainda há muita gente excluída: Pessoas que são julgadas e condenadas por causa de seu estilo de vida, jeito de pensar e modo de ser. Aponta-se muito o dedo na direção do outro, condenando-o em nome de Deus. Há muita acepção de pessoas. Os mais pobres continuam sendo mal vistos. Ainda há muita exploração financeira, principalmente no meio neopentecostal: Inúmeros líderes religiosos abusando da boa-fé das pessoas, enriquecendo-se, ilicitamente. Arrecadam-se e acumulam-se fortunas em nome de Deus. Líderes religiosos com patrimônios milionários constituem um escândalo no Cristianismo. Neste contexto, o amor não pode existir nem sobreviver, pois quando se busca o dinheiro em nome de Deus, não há espaço para o amor. Fala-se em amor, mas não acontece nada além do discurso sobre o amor.

Na sociedade e na relação entre as pessoas também vislumbramos a falta de amor. Aumenta cada vez mais o egoísmo. As pessoas procuram o sucesso, o dinheiro e o poder. Gastam todas as energias e o tempo de que dispõem para alcançar tais coisas. Estão convencidas de que a felicidade que procuram está nestas coisas. Umas estudam dia e noite; outras trabalham sem cessar. A meta é uma só: Querem viver tranquilamente, no conforto e no gozo desenfreado dos prazeres da vida. Algumas conseguem e vivem propagando a própria “felicidade” nas redes sociais. Outras, nada conseguem e se frustram, deprimem-se. Algumas chegam ao suicídio. Em meio a tudo isso não há paz porque não há amor. O que podemos ver é um vazio, oriundo de uma gravíssima falta de sentido. Mesmo assim, vivendo atormentadas, inúmeras pessoas insistem trilhar neste caminho, caminho que as levará à morte, à morte do corpo e da alma.

Quem escolhe o caminho do isolamento e da falta de amor é como um cadáver ambulante: Pode até sorrir, se enfeitar e se divertir, mas não se separará da morte. Pelas ruas e avenidas tenho encontrado a morte estampada no semblante de muitas pessoas. Quando olho no fundo dos seus olhos não enxergo o brilho da vida, mas uma profunda tristeza. Percebo que a todo momento elas fogem de si mesmas. Elas evitam admitir que já estão sepultadas. E quanto mais fogem, mais percebem que estão mortas por dentro... Algumas delas tentam fugir através de festas, viagens, ilusões, relacionamentos amorosos sem compromisso, bebidas, drogas, atividades para passar o tempo etc., mas quando o efeito momentâneo de tais coisas passam, lá estão elas sozinhas e tristes, mergulhadas no tédio e no vazio, mortas.

Estas pessoas precisam, urgentemente, encontrar-se com o amor. Algumas já o experimentaram, mas resolveram abandoná-lo. Não deram conta das exigências do amor. Acharam mais fácil se entregar às paixões, que são, por si mesmas, passageiras. Outras, ainda não o conhecem. Estas pessoas tem medo do amor porque sabem que ele exige deslocamento, saída de si na direção do outro. O amor exige alteridade. É impossível amar o outro sem se importar com ele, sem viver a dimensão do cuidado. Pessoas irresponsáveis não amam. Irresponsáveis são egoístas, não ligam para os outros. Por fim, há outros, ainda, que pensam que estão amando, quando, na verdade, vivem apegados a outras pessoas. Onde não há liberdade não há amor. Se me aproximo do outro para que este satisfaça meus desejos e necessidades, isto não é amor, é apego. As pessoas se apegam umas às outras e pensam que, dessa forma, se amam. Na verdade, vivem na ilusão. Não são livres e, por isso mesmo, desconhecem o amor.

Somente o amor é capaz de nos libertar da falta de amor. Quem não se entregar à aventura do amor jamais conseguirá se libertar do egoísmo. Para muitas pessoas, essa entrega acontece lentamente. O mundo que nos rodeia nos convida para o egoísmo, mas toda pessoa é chamada a viver a sua verdadeira vocação, que consiste em amar sem medida e sem condições.

Não pode existir realização e felicidade sem o amor. Há quem tenha todos os bens materiais necessários e supérfluos, mas sem o amor são infelizes. Por isso, no evangelho, Jesus recomenda: Buscai primeiro o Reino de Deus e sua justiça, e tudo o mais vos será acrescentado. Em outras palavras, na vida deve-se buscar em primeiro lugar o amor, e tudo o mais nos será acrescentado. Nada falta à pessoa que ama. À pessoa que não ama, falta tudo.

A vida nos coloca dois caminhos: O que leva à plenitude, alicerçado no amor; e o que leva à morte, alicerçado na falta de amor, no egoísmo. Devemos fazer a escolha. Quem não escolher o amor, já está morto. E não há alegria no mundo que possa libertar a pessoa da tristeza e da sensação de morte ocasionadas pela falta de amor. Por que isso ocorre? Porque a verdadeira alegria se encontra no amor, jamais fora dele. E o mundo, com toda a sua riqueza e conforto que desta decorre, não consegue oferecer a verdadeira alegria. O amor vem de Deus e nos é dado gratuitamente. Quem não tem esse dom, é infeliz e já está sepultado. Só ressuscita para a vida eterna quem ama. Portanto, amemos.


Tiago de França

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