“Por
esta razão, eu te declaro: os muitos pecados que ela cometeu estão perdoados
porque ela mostrou muito amor” (Lc 7, 47).
Conta o evangelho segundo
Lucas (cf. Lc 7, 36 – 8,3), que Jesus foi convidado por um fariseu para uma
refeição em sua casa. Sabendo que Jesus lá estava, uma mulher “conhecida na
cidade como pecadora”, foi ao seu encontro. Ela trouxe perfume e, enquanto Jesus
conversava com o fariseu, ela banhava seus pés com lágrimas, beijando-os e
enxugando-os com os cabelos. Jesus classificou esta atitude como uma
demonstração de amor, muito amor.
Mas o fariseu que o havia convidado
pensava diferente: pensava consigo mesmo: “Se
este homem fosse um profeta, saberia que tipo de mulher está tocando nele, pois
é uma pecadora”. Vendo que o fariseu julgava a mulher por causa de seu
gesto amoroso, Jesus resolveu agir, perdoando os pecados da mulher, após ter
elogiado o seu gesto amoroso. Segundo Jesus, a razão para o perdão foi ela ter
demonstrado muito amor. Acrescentou, ainda, que a fé da mulher a salvou. Assim,
ela recuperou a paz que tanto procurava.
Qual o ensinamento que
podemos extrair do gesto amoroso da mulher? Ela nos ensina que o amor é o
caminho para o perdão. Para ser perdoada, a pessoa precisa demonstrar muito amor.
Ela não teve medo de se aproximar de Jesus, de manifestar-lhe o seu amor. O
amor demonstrado por ela constitui o centro da mensagem evangélica. E Jesus faz
questão de chamar a atenção para o amor, pois é este que deve ser o centro da
vida cristã. O que temos demonstrado em nossas relações interpessoais? O que
temos procurado?... Demonstramos amor, ou tratamos o outro com indiferença?...
Qual o ensinamento que
podemos extrair da atitude de Jesus diante do gesto amoroso da mulher pecadora?
Ele nos ensina a sermos misericordiosos. Ser misericordioso significa ser
acolhedor, compreensivo, aberto, sensível, transparente, generoso e humilde. Quem
não está disposto a acolher o outro jamais conseguirá ser misericordioso, pois
não existe misericórdia fora da acolhida. Quem não se esforça em compreender a
realidade do outro também não consegue manifestar misericórdia. O mesmo podemos
dizer da sensibilidade, da generosidade e da humildade. Pessoas insensíveis,
falsas, mesquinhas e arrogantes somente podem ser indiferentes, afastando-se da
misericórdia.
Na Igreja Católica, desde o
dia 08 de dezembro de 2015, estamos no Ano da Misericórdia, que se encerrará no
dia 20 de novembro deste ano. Na exortação catequética do dia 09 de dezembro de
2015, um dia após a abertura do Jubileu da Misericórdia, eis o que disse o Papa
Francisco: “Dirigir o olhar a Deus, Pai
misericordioso, e aos irmãos necessitados de misericórdia, significa concentrar
a atenção sobre o conteúdo essencial do Evangelho: Jesus, a Misericórdia feita
carne, que torna visível aos nossos olhos o grande mistério do Amor trinitário
de Deus. Celebrar um Jubileu da Misericórdia equivale a colocar de novo no
centro da nossa vida pessoal e das nossas comunidades o específico da fé
cristã, isso é, Jesus Cristo, o Deus misericordioso”.
Muito oportuna a expressão “...concentrar
a atenção sobre o conteúdo essencial do Evangelho: Jesus, a Misericórdia feita
carne”. Isto significa que toda pessoa que deseja seguir Jesus deve ser como
ele: encarnar a misericórdia de Deus, manifestando-a através de uma vida
profundamente marcada pelos valores do Evangelho. Os cristãos em suas
comunidades precisam manifestar esta misericórdia em suas palavras e ações,
afetiva e efetivamente. É necessário que se peça sempre a graça de Deus para
nos libertamos dos excessos dos discursos e da tentação de vivermos segundo as
aparências. Somente Deus, com seu infinito amor, torna-nos capazes do amor.
O Espírito de Deus, quando
encontra acolhida em nós, fecunda o nosso ser, transformando-nos interiormente,
e afastando-nos da tentação da indiferença. Em um mundo marcado pela mentira e
pelas inúmeras formas de violência, todo aquele que acredita em Jesus precisa colocá-lo
no centro da vida, pois somente assim podemos, de fato, ser testemunhas da misericórdia
de Deus, mulheres e homens acolhedores, cheios de amor, livres do ódio e de
tudo aquilo que nos afasta de Deus e do próximo. Que este mesmo Espírito nos
liberte de nossa frieza e covardia, encorajando-nos para vivermos amorosamente.
Tiago de França
2 comentários:
Tiago, belo ensinamento!
Obrigado, Maria Elisete!
Abraços!
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