Hoje, a Igreja Católica no
Brasil celebra solenemente a festa de São Pedro e São Paulo, dois grandes
discípulos missionários de Jesus de Nazaré. O que estes dois grandes homens de
Deus podem ensinar às mulheres e homens de hoje? Nossa meditação se alicerçará
no testemunho deles, testemunho que aparece nos evangelhos e no livro dos Atos
dos Apóstolos.
Evitaremos
citações bíblicas, mas partiremos delas. O leitor poderá procurar os evangelhos
e os Atos para conhecer as belíssimas narrativas dos feitos que estes homens
realizaram em nome de Jesus, seu Mestre. Portanto, nossa meditação não será uma
análise puramente exegética dos textos sagrados.
Comecemos por Pedro, a Pedra. Os textos sagrados revelam um
homem ousado, mas ao mesmo tempo pecador. Era de temperamento firme e
intrépido. Em certa ocasião chegou a cortar a orelha de um soldado! Vendo Jesus
andar sobre as águas, também quis fazer o mesmo. Na noite da angústia da prisão
de Jesus, negou-o três vezes antes do cantar do galo.
Correndo
em direção ao túmulo do Cristo ressuscitado, chegou após o discípulo amado,
João. Reconheceu em Jesus a pessoa do Messias, o Ungido do Pai, enviado a este
mundo para dar testemunho da verdade e da liberdade. Este Messias, enxergando
nele a inspiração do Alto, lhe confiou a coordenação do grupo apostólico.
Pedro é sinônimo de coragem e ousadia. Apesar de pecador, foi
fiel ao seu mestre até o fim, até o derramamento de sangue. Praticamente iletrado,
de pescador a apóstolo, anunciou a Boa Notícia do Reino de Deus. Todos aqueles
que professam a fé em Jesus, tem na sua pessoa um exemplo inspirador para o
enfrentamento das forças do anti-Reino que operam no mundo.
Pedro
ensina que o missionário precisa ser corajoso. Entendemos a coragem como o
oposto da covardia. Entendemos a covardia como a omissão pontual ou permanente,
indigna de um seguidor de Jesus. Ser covarde é ser omisso, é ser traidor,
mesquinho, indiferente. No reconhecimento de suas fraquezas, Pedro testemunhou
o seu Mestre diante das ameaças proferidas pelos inimigos do Reino de Deus. Ousou
ser profeta e seguiu Jesus na desafiadora missão de ser profeta em tempos
sombrios. Fez brilhar a luz da verdade e da liberdade, anunciando o Evangelho sobre
os telhados.
Paulo, apóstolo dos gentios. Caiu do cavalo ao encontrar-se
com Jesus. Homem letrado, discípulo de Gamaliel. Formado na estrita observância
da lei judaica, perseguiu os cristãos, impiedosamente. Era respeitado porque
fiel à lei. Era escravo da letra que mata. Tendo encontrado Jesus, mudou de
vida. Recebeu o Espírito revelador da verdade eterna, única capaz de salvar toda
a humanidade do caos.
Em nada
foi inferior aos que pertenciam ao grupo dos Doze. Seu apostolado foi fecundo:
Fundou comunidades, dirigindo-se especialmente aos pagãos. Traduziu a mensagem
de Jesus às mulheres e homens sedentos de justiça e paz. Escreveu bastante. Suas
obras dão testemunho a seu respeito, e revelam um homem plenamente ungido e
dócil à ação do Espírito do Pai.
Paulo é sinônimo de movimento e liberdade. Sua missão não era
coordenar a Igreja, mas anunciar o Evangelho da Liberdade. Ensinou-nos a
descobrir a mensagem de Jesus nos contextos e nos desdobramentos da história. Fala-nos
do bom combate, que consiste em ser fiel a Jesus em meio às tribulações que a
vida impõe.
Paulo
fala da missão do cristão no mundo, sem fugas, sem timidez, sem proselitismo. Ele
convida sempre a Igreja, povo de Deus em marcha, a ir sempre além, a não ficar
acomodada em suas estruturas. Despojado e atento às dores e angústias do povo
santo de Deus, ensina-nos a sensibilidade evangélica.
Pedro e Paulo são os dois grandes pilares da Igreja, e
permanecerão por todo o sempre. Hoje, esta Igreja precisa retomar as pegadas
destes apóstolos porque eles se colocaram no caminho de Jesus. Esta retomada
passa, necessariamente, por uma séria e destemida revisão institucional e
pastoral.
Pedro
e Paulo perguntam às lideranças da Igreja de hoje: Como vocês estão coordenando
as comunidades que lhes foram confiadas? Vocês são senhores, ou servidores? São
coordenadores ou chefes? Propõem, ou impõem os encaminhamentos necessários? São
evangelizadores, ou mestres da lei? Estão atentos ao clamor dos empobrecidos,
ou estão a serviço daqueles que os empobrecem? Estão apegados a lugares,
pessoas, estruturas e riquezas, ou são missionários livres em movimento no meio
do mundo?...
Francisco, Bispo de Roma e responsável por promover a unidade
entre os cristãos, é lembrado especialmente na liturgia de hoje. Seus gestos e
palavras nos fazem lembrar de Pedro e Paulo. Tem feito todo o esforço possível
para que o seu jeito de ser e de agir não nos faça lembrar dos reis medievais. De
forma ousada e profética, Francisco, fiel às moções do Espírito, tem apontado
para as periferias do mundo. Por acaso, a Igreja tem caminhado nesta
direção?...
Todo
aquele que deseja seguir Jesus de verdade precisa conhecer as periferias do
mundo. Em nossa vida particular e em nossos relacionamentos, a partir de onde
pisam os nossos pés, precisamos descobrir estas periferias, pois nelas Jesus se
faz presente. Ele não está no conforto do centro, mas nas agonias da periferia.
Não adianta procurá-lo no centro. Ele está na periferia, na carne sofrida dos
desesperados deste mundo. Pedro e Paulo descobriram isso e cumpriram fielmente
a sua missão: Foram testemunhas da Ressurreição do Cristo nas periferias de seu
tempo. Que Deus nos conceda a graça de fazermos o mesmo, e que, assim, o Reino
de Deus se faça presente no meio de nós.
Tiago
de França
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