A vida é feita de muitas
coisas, e a mais importante constitui o essencial. Há quem passe pela vida sem conhecê-lo.
Aliás, mais do que desconhecê-lo, há quem não vive o essencial. Geralmente, as
pessoas gastam toda a sua vida com aquilo que é secundário. O apego às coisas
secundárias gera sofrimento. Aqui e acolá o apego permite pequenos momentos de
prazer, mas não passam de momentos.
Toda pessoa nasce para a
plenitude, para a felicidade. Não há predestinação à infelicidade. A felicidade
chega a ser considerada um direito. Mas felicidade não se encerra nos momentos
de felicidade. Quando as pessoas afirmam que ontem foram felizes e hoje já não
são, na verdade, elas nunca foram felizes. Confunde-se muito felicidade com
fugacidade.
Na fugacidade está a
liquidez de todas as coisas. As pessoas tentam transformar o que é líquido –
passageiro – em eterno, mas isto não lhes é possível. O homem nada cria de
eterno. Como dizia Heráclito, filósofo da antiguidade clássica: Tudo flui! A liquidez
não pede licença, ela se impõe. Não é abstração, é realidade. Não depende da
vontade humana. Até a vontade flui: ora a gente quer, ora não queremos mais.
Não adianta lutar contra
esta realidade. Apega-se ao dinheiro, de repente, ele não mais existe. E quando
nos acompanha até nossa morte, ele já não continua conosco além da sepultura. E
é assim em todos os aspectos da vida: pessoas, lugares, circunstâncias boas ou
ruins, sucesso, poder, títulos e honras, a sabedoria humana... Tudo flui! De
repente, nada mais existe. Tudo é transitório.
Somente o essencial não é
transitório. E é assim porque constitui a essência da existência. Não é adereço
nem superficialidade; não se adquire no mercado nem na universidade; não é como
uma conquista de um prêmio após todo um esforço humano. O essencial está em
todas as pessoas. Nenhuma está excluída. Todas são capazes do essencial. Basta descobri-lo,
aceitá-lo e experimentá-lo. O essencial é simples, leve e gera autenticidade.
O essencial é o amor. Não a
ideia de amor, pois o essencial não é uma ideia nem mero sentimento passageiro
nem declarações vazias. O essencial é o amor: única força capaz de revelar a
verdadeira identidade de cada pessoa que nasce no mundo. É no amor que as
pessoas se descobrem, se aceitam, se amam e conhecem o verdadeiro sentido da
felicidade. Como encontrar o amor? Onde ele está? Quais as características de
quem o descobriu e o transformou no tesouro de sua vida?...
Muito se pode falar a respeito,
mas pensemos em alguns aspectos que podem “resumir” o essencial: Encontra o
essencial a pessoa que encontra a si mesma. O amor está em nós. Somos amor. Não
precisamos transformar o que está fora de nós em amor. O amor não é adquirido. Ele
está em nós. Quando o descobrimos no mais profundo de nosso ser, então nos
tornamos pessoas amáveis.
Amável é a pessoa que
descobrindo-se e aceitando-se naquilo que é, encontrou a leveza e a alegria de
viver, encontrou o amor, o essencial. A pessoa amável é alegre, disponível,
compreensiva, compassiva, leve, serena, companheira, grata, satisfeita,
integrada. A pessoa amável enxerga o mundo, as pessoas e a vida com um olhar
amoroso. Ela bebe, permanentemente, do próprio poço. Há nela uma energia forte
e inesgotável, que irradia vida, harmonia e graça.
No mundo temos muitas
pessoas que encontraram o essencial da vida. São pessoas geradoras da
humanidade. São elas que tornam este mundo menos sombrio. Segundo a
espiritualidade cristã, estas pessoas são vocacionadas do Amor maior, fonte
eterna de vida. Não há força de morte que consiga desviá-las do essencial. Elas
tem os olhos fixos no Amor maior. São habitadas por Ele; vivem neste mundo,
experimentando a verdadeira alegria, uma experiência indescritível. São imperturbáveis
porque nada lhes falta. Estão acordadas.
Estes são os pensamentos que
nos perseguem desde a descoberta desta inquietação, tão antiga e tão nova, que
se faz presente no mundo. E são estas impressões que nos empurram para a
frente. É mistério de amor. É a maior riqueza que alguém pode experimentar. Uma
riqueza que se manifesta na fraqueza, naquilo que, aos olhos do mundo, é
insignificante.
Assim, concluímos estes
pensamentos, lançando ao leitor o desafio: Procure em si mesmo o essencial e
seja feliz. Este é o segredo de uma vida feliz.
Tiago de França
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