quinta-feira, 29 de setembro de 2016

A liberdade e a revelação das pessoas. Pensamentos (XXII)

Uma pessoa coagida e aprisionada não se revela. Para revelar-se, as pessoas precisam da liberdade. Quanto mais liberdade as pessoas encontram, mais elas revelam quem realmente são. Portanto, a vocação humana é vocação para a liberdade. Aprisionadas, elas somente conseguem simular sentimentos e impressões.

Há vários tipos de prisões que impedem as pessoas de serem elas mesmas, de se revelarem: imposições, medos, ameaças, excesso de timidez, preconceitos, mente fechada, angústia, ansiedade, orgulho, fobias etc. Inúmeros são os motivos que paralisam as pessoas, transformando-as em ilhas de difícil acesso.

Quando encontram brechas nas prisões que as impedem de ser felizes, algumas pessoas imitam os pássaros: ousam voar. Algumas voam para bem longe e não retornam mais para a gaiola. Apesar da segurança que esta oferece, preferem se arriscar nos espaços da liberdade. Outras, porém, saem da gaiola, voam, mas preferem retornar à gaiola. Estas pessoas se acostumaram à mediocridade de uma vida aprisionada, à vida de aparência em detrimento da essência.

As que são como pássaros que aprenderam a voar e voaram para bem longe são aquelas pessoas que encontraram o sentido da liberdade. Passaram a experimentar o quanto é gratificante levar uma vida autêntica, alicerçada na verdade e na aceitação de si mesmas. São livres porque reconciliadas, integradas, entregues ao verdadeiro amor.

Na liberdade, as pessoas perdem o medo de olhar para dentro de si mesmas, amando-se como realmente são. Renunciam toda forma de aparência que somente visa esconder a própria realidade. Descobrem que a alegria da vida se encontra na simplicidade dos pequenos gestos e momentos, que a vida vai oportunizando, aqui e acolá.

É na liberdade que as pessoas também aprendem a lidar com seu lado sombrio, sem fugas e sem falsas justificativas. Já não mais se envergonham de si mesmas, mas permitem ser vistas como realmente são, naquilo que é virtude e naquilo que é limite.

E a humildade ensina a lição final: a de que é preciso, sempre, buscar ser feliz sem medo, no reconhecimento daquilo que se é, com muito amor, assumindo a beleza que se manifesta, e também as sombras que carecem de luz. Esta é a aventura das mulheres e homens livres, pessoas que não tem medo de viver, pois já não podem ser mais aprisionadas.

Tiago de França

terça-feira, 27 de setembro de 2016

As dificuldades do amor humano

Seria o amor contraditório? Por que as pessoas dizem que se amam e, de repente, se veem odiando? Por que, tão fácil e rapidamente, saem de uma situação amorosa intensa para uma situação de total indiferença?

O ser humano conhece mesmo o amor, ou tudo não passa de uma projeção de sua mente? Por que as pessoas optam pelas ilusões ao invés de abraçarem o amor? O que impede o amor fluir na vida humana? Qual será seu maior inimigo?

Teríamos que escrever uma obra volumosa para responder a estas perguntas e, mesmo assim, ficaria muita coisa para ser dita. As reflexões sobre o amor tendem ao infinito porque o amor não se deixa engessar nos conceitos oriundos da linguagem humana. Mesmo assim, ousemos algumas afirmações que podem, pelo menos, apontar um horizonte de compreensão.

Atualmente, o dado preocupante é: os relacionamentos duram muito pouco. Amizades, namoros, noivados, casamentos etc. É verdade que, na vida, nada dura para sempre. Mas é verdade também que nunca na história humana, os relacionamentos duraram tão pouco como nos dias atuais.

Hoje, tudo se desfaz num estalo de dedos! Emprega-se o verbo descartar também para as pessoas. Estas são descartadas como um copo descartável, que depois de usado é jogado no lixo. Muitas vezes, sem nenhum sentimento e sem peso na consciência, as pessoas dizem: “Ah, depois de certo tempo não curti permanecer com ele/ela, então descartei!”

O tempo atual é marcado pela coisificação das pessoas em todos os setores da vida humana. No campo dos afetos a realidade é assustadoramente desumana. Esta é uma das marcas mais vergonhosas do nosso tempo.

A análise de todas as causas que provocam esta situação vergonhosa sempre conduz a uma causa maior, que é comum a todos os casos: um profundo egoísmo que se manifesta na satisfação descarada dos interesses pessoais. Não se trata do interesse de ser feliz, mas do interesse de ser feliz apesar do outro, aproveitando-se do outro, em detrimento do outro.

Estar com o outro sem a preocupação se este realmente está feliz. Neste sentido, as pessoas poderiam encarar a seguinte pergunta, respondendo-a com sinceridade e verdade: o que realmente procuro quando me relaciono com as pessoas? O que busco na amizade, no namoro, no casamento, nas minhas relações interpessoais?

O amor tem uma característica que não pode jamais estar ausente da relação entre as pessoas que se amam: a gratuidade. Onde não há gratuidade, não há amor.

Como se pratica a gratuidade? É tudo muito simples. O amor enquanto gratuidade se revela quando a pessoa deixa o outro livre. A pessoa se recusa a dominar o outro. Não existe gratuidade sem liberdade. Esta revela àquela.

Em tudo o que faz, pensa e fala, a pessoa deixa o outro livre. Onde há amor de verdade as pessoas são livres, e esta liberdade gera um ambiente de muita confiança e tranquilidade. O outro não se sente sufocado e coagido, mas se sente bem, sendo o que realmente é.

Ser o que realmente é: eis a consequência da liberdade nos relacionamentos verdadeiramente alicerçados no amor. Sem liberdade, o outro passa a mentir porque termina exercendo papeis, sendo aquilo que não é, escondendo a sua verdadeira personalidade. A partir daí o relacionamento se transforma numa mentira, e esta não dura por muito tempo.

O ser humano, muitas vezes, é tão masoquista, que consegue passar toda uma vida num relacionamento sem amor. Por exemplo, em um casamento. Há casais que iniciam o namoro, casam-se, tem filhos, chegam à velhice e morrem sem jamais ter conhecido o amor. É assustador, mas isso existe. Passa-se a vida inteira alimentando uma aparência de amor.

É o tipo de casamento que existe em função da sociedade, para que todos possam ver que há amor e felicidade, sendo que, na verdade, o amor nunca esteve presente e somente há sofrimento. Observando muitas famílias, é o que podemos ver: inúmeros casais mergulhados no sofrimento, insistindo na ilusão, amarrados por laços de interesses.

Falta a coragem necessária para trilhar o caminho da libertação. Muitos cônjuges até dizem: “Para onde vou à essa altura da vida? Vou ficar por aqui mesmo. Não sou feliz, mas me sinto seguro/a. Não quero me arriscar”. Esta é a expressão típica de quem encontrou segurança, mas não amor e felicidade no casamento.

Desse modo, vemos que o egoísmo não é compatível com o amor. Os que estão livres do mal do egoísmo são chamados a aprender a lidar com aquilo que é diferente no outro. Este é um desafio a ser vivido cotidianamente.

Considerando que toda pessoa é única no seu jeito de ser e de compreender a vida, os casais precisam praticar as virtudes da tolerância e da compreensão. Compreender para tolerar: eis uma virtude a ser adquirida com o hábito.

A virtude exige reciprocidade. Se somente uma das partes a pratica, o relacionamento não dura. Em todo relacionamento há erros e desentendimentos. O conflito é inerente à condição humana. O problema não é o erro, mas o que as pessoas fazem ao errar.

Há pessoas que se aproveitam do erro do outro para livrar-se dele. Neste caso, o erro não passa de uma desculpa; desculpa que será usada para tentar justificar o fim do relacionamento. Este tipo de desculpa é muito utilizado por pessoas oportunistas.

Os casais que se amam verdadeiramente, aproveitam as ocasiões de erros e desentendimentos para refletirem melhor sobre a vida que levam. E aqui aparece outro valor imprescindível que acompanha o verdadeiro amor: a humildade. Nos relacionamentos, quando a humildade está presente, praticamente tudo é superável.

Quem errou, ou provocou o desentendimento deve ser humilde para reconhecer sua culpa; e quem foi vítima da situação provocada também deve ser humilde para perdoar e acolher o outro em seu arrependimento. Onde não há humildade não existe tolerância.

A pessoa humilde tem a profunda convicção de que todo mundo comete erros, em menor ou maior grau, e sabe que todos necessitam da compreensão e do acolhimento. Nenhum relacionamento sobrevive sem acolhida e compreensão recíprocas. A reciprocidade deve ser uma regra para a boa convivência.

Para isto, é preciso renunciar ao orgulho e à arrogância e abraçar a humildade. Pessoas orgulhosas e arrogantes podem até falar bonito sobre o amor, mas não conseguem amar e, por isso mesmo, vivem na solidão e são infelizes.

O amor não é abstrato, não é uma teoria, mas é uma experiência inerente à condição humana. Toda pessoa nasceu para amar e ser amada. É no amor que as pessoas se realizam e encontram a felicidade. E esse amor se manifesta de várias formas. É da essência do amor a pluralidade de manifestação.

O amor não tolera homogeneidade. Saber lidar com o diferente faz parte da arte do bem viver. Em todos os tipos de relacionamentos não se convive com o que é igual, mas com o diferente. Nenhum ser humano é cópia perfeita do outro. Somos singulares e irrepetíveis, e jamais a humanidade deixará de ser plural.

O amor sempre exige saída de si mesmo na direção do outro. Sem essa saída de si mesmo é impossível amar o outro. Mas, sair para fazer o quê? Para cuidar do outro. O cuidado é a característica fundamental do amor. É a forma concreta de como ele se manifesta.

O cuidado é como que a materialização do amor. As pessoas falam e fazem declarações de amor, e só há verdade nestas falas e declarações se forem acompanhadas do cuidado. Este constitui ação desinteressada, visando somente o bem-estar do outro, a sua felicidade.

Cuidar é sentir-se responsável pelo outro, mas não se resume semente no sentir, mas deve-se demonstrar tal responsabilidade na ação. No dia em que as pessoas se libertarem do egoísmo, aprender a compreender e tolerar o outro, e se decidir pela responsabilidade para com este outro, então o amor será a palavra de ordem de suas vidas, e as contradições da condição humana serão gradativamente superadas. Somente assim a felicidade se tornará possível.


Tiago de França

domingo, 25 de setembro de 2016

A possibilidade do diálogo. Pensamentos (XXI)

Não há diálogo sem abertura. Não se deve perder tempo com pessoas que se fecham em suas ideias. Quem assim procede não está disposto a aprender nada com o outro. Pessoas fechadas nas próprias ideias são intolerantes.

A abertura da mente requer duas atitudes: reconhecer que não sabemos de tudo, e ir ao encontro do outro sem pré-conceitos, numa atitude de quem deseja aprender algo novo sobre o que já se sabe e sobre o que nunca ouviu falar.

O maior especialista sobre determinado assunto é sempre uma pessoa convicta do seguinte: o que se sabe sobre algo é infinitamente pouco em relação aquilo que se tem para aprender. Neste sentido, sejamos humildes e abertos a aprender o novo com o diferente.


Tiago de França

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Reflexões sobre o suicídio

O tema é importante e complexo. Considerado tabu pela sociedade, costuma ser evitado. Trata-se de uma realidade que causa medo e incômodo, mas está presente, e de forma cada mais vez assustadora. O Brasil é o oitavo país do mundo com maior índice de suicídio. A colocação é preocupante. Evitar o assunto só piora a situação.

Segundo a associação brasileira de psiquiatria, suicídio é “um ato deliberado executado pelo próprio indivíduo, cuja intenção seja a morte, de forma consciente e intencional, mesmo que ambivalente, usando um meio que ele acredita ser letal. Também fazem parte do que habitualmente chamamos de comportamento suicida: os pensamentos, os planos e a tentativa de suicídio” (conceito extraído da cartilha Suicídio: informando para prevenir, da associação brasileira de psiquiatria).

Em nossas humildes reflexões, não queremos oferecer dados científicos sobre o tema. O leitor pode encontrar na Internet e em tantas outras fontes, uma vastíssima bibliografia sobre o tema.

Queremos, apenas, chamar a atenção para a importância da temática, assim como oferecer algumas ponderações oriundas de nossa observação da realidade. Ao final, queremos, também, de forma breve, discorrer um pouco sobre a visão cristã em relação ao tema.

Particularmente, conhecemos pessoas que alimentam pensamentos suicidas. Não sabemos se elas chegarão a praticar o suicídio. Em primeiro lugar, precisamos afirmar que o suicídio não se restringe a um ato pontual, mas é fruto ou consequência de um processo.

Ninguém resolve tirar a própria vida num passe de mágica, ou seja, não se suicida a partir do nada, de repente, sem motivo algum. Há causas que levam ao suicídio, e estas causas geralmente são ignoradas.

Isto significa que, geralmente, as pessoas condenam aqueles que tiram a própria vida porque ignoram as causas que levaram ao suicídio. Só enxergam o ato em si, que é, de fato, assustador. É uma imagem demasiadamente forte a de uma pessoa morta por enforcamento (forma mais comum de suicídio).

No senso comum, suicídio é sinônimo de fraqueza, covardia, coisa do demônio. No pentecostalismo cristão, inúmeros crentes são categóricos ao afirmar que os suicidas são pessoas possuídas pelo demônio!

A forma como o cristianismo tratou o suicídio ao longo da história é um dos motivos que levam à ausência de discussão sobre o tema. Outro motivo absurdo é a ideia de que, quanto mais se fala em suicídio, mais o número de suicidas pode aumentar. Esta ideia é falsa.

Falar sobre drogas não constitui incentivo ao seu uso; falar sobre suicídio também não constitui incentivo à sua prática. Pensar o contrário é de uma ignorância vergonhosa. O silêncio sinônimo de omissão é vergonhoso, covarde e colaborador da prática do suicídio.

O tema precisa ser discuto, esclarecido. As pessoas precisam de informação para prevenirem este mal que afeta milhões de pessoas no mundo. Somente em 2012, 11.821 pessoas se suicidaram no Brasil, cerca de 30 por dia. E entre os jovens, o número tem aumentado em 30%, o que tem preocupado os estudiosos do problema.

São inúmeras as causas que provocam o suicídio: há pessoas que se suicidam porque não deram conta de resolver problemas afetivos. Não deram conta de lidar com o fim, ou com as crises no namoro, noivado, casamento, amizade etc. Há outras que não conseguiram superar problemas financeiros: dívidas, perda do emprego, perdas significativas do patrimônio financeiro etc.

Há, ainda, aquelas que se suicidaram por causa de doenças clínicas psiquiátricas e não psiquiátricas; por causa do uso de drogas e substâncias psicoativas; perdas de entes queridos; exposição sistemática da intimidade por outros; perseguições por inúmeros motivos; bullying; enfim, tantos outros motivos que provocam o suicídio.

Considerando estas e tantas outras causas, podemos eleger um elemento comum presente em todas as causas: um forte sentimento de vazio e desespero. Este sentimento de vazio é profundamente existencial, ou seja, a pessoa não consegue enxergar sentido na própria vida. Perdeu o gosto de viver.

A vida se transforma em um fardo insuportável. A pessoa perde a disposição em continuar vivendo. Para ela, a solução está em tirar a própria vida. A morte passa a ser concebida como o único caminho para livrar-se do tormento e encontrar o descanso.

O suicídio é sempre um ato de desespero. A mente da pessoa desesperada é incapaz de pensar, analisar, refletir, raciocinar. Uma mente perturbada é totalmente afetada pela desorganização dos pensamentos, pela confusão mental.

A mente da pessoa que planeja o suicídio é profundamente invadida por pensamentos autodestrutivos. Num determinado momento, quando prestes a cometer o suicídio, a pessoa não mais tem medo da morte.

A morte passa a ser desejada ardentemente. Na hora do suicídio, a pessoa está plenamente tomada por um forte desejo de morte, uma força avassaladora que a faz conhecer sua própria destruição.

A morte é pontual, pois ocorre de uma vez, mas o suicídio é processual. O suicida é alguém que morreu aos poucos, dia após dia. Cotidianamente, foi perdendo o sentido da própria vida, a razão de viver.

A tristeza, a melancolia, o isolamento, a baixa autoestima permanente, o sentimento de abandono e de perda, a inquietação, a falta de paz interior, a frustração, a descrença de si mesmo, o pessimismo, e tantos outros sentimentos e pensamentos negativos vão destruindo a pessoa aos poucos.

Considerando os ensinamentos de Jesus de Nazaré, queremos concluir estas reflexões, abordando, brevemente, o suicídio numa perspectiva cristã. Nosso objetivo não é doutrinar ninguém, mas combater uma visão equivocada do suicídio que insiste em permanecer em inúmeras denominações cristãs que constituem o cristianismo.

Nas comunidades religiosas mais conservadoras, o suicídio é visto como algo abominável. Todos estamos de acordo no que se refere ao fato de que se trata, realmente, de algo terrível e desolador. Em sã consciência, ninguém exalta o suicídio como caminho saudável e capaz de resolver os dilemas da vida humana.

O grande erro cometido por muitos cristãos, e que decorre de uma interpretação equivocada da Bíblia, é a afirmação de que o suicida está condenado ao fogo do inferno. Outros exageram mais ainda, como dissemos acima, ao dizer que o suicida é alguém que se deixou possuir pelo demônio, este considerado como entidade espiritual capaz de possuir o corpo de uma pessoa.

Na Bíblia não há um versículo que legitime este tipo de visão. Esta maneira de enxergar o suicídio é extremamente preconceituosa, maléfica e antievangélica. Uma leitura fiel aos ensinamentos de Jesus de Nazaré nos permite afirmar, sem erro, que o princípio da misericórdia deve ser o norteador da reflexão cristã sobre o suicídio.

Em outras palavras, deve-se confiar à misericórdia de Deus a situação daqueles que cometem suicídio. Para todo aquele que acredita em Deus, vale a seguinte sentença: Somente Deus é o Juiz dos vivos e dos mortos, portanto, ninguém recebeu dele o poder de julgar aqueles que se suicidam. Nesta ótica, é um pecado gravíssimo condenar à perdição eterna aqueles que cometem suicídio.

Por fim, vale considerar que não há caminho mais seguro para a prevenção contra o suicídio do que o caminho do amor. Precisamos amar as pessoas do jeito que elas são, aceitando-as em suas diferenças. Precisamos perdoá-las em suas falhas e limitações. Perdoar é um gesto sublime de amor. Precisamos acolhê-las e confortá-las, compreendê-las e ajudá-las.

Precisamos, urgentemente, acabar com a cultura da rivalidade e da eliminação do outro, geradora de tantos suicídios e outras inúmeras formas de violência. O mundo padece pela falta de pessoas amorosas. O verdadeiro amor, que é o amor de atos (ação), é capaz de salvar toda a humanidade do caos no qual está mergulhada.

Nenhuma invenção humana é capaz de salvar o homem da destruição total em curso. Portanto, toda pessoa que é identificada como um possível suicida precisa de amor. Somente o amor é capaz de preencher o vazio que está tirando o sentido da vida de tantas pessoas.

Sem amor não há vida. Quem já não sabe mais, na prática, o que é o amor, o suicídio é apenas uma espécie de confirmação daquilo que já está presente: a morte, o nada. Não há quem consiga viver dignamente sem amor.

Não há sentido em viver sem amar e sem ser amado. Neste caso, a morte facilmente se transforma num mal necessário. Eis, portanto, nossa recomendação: entreguemo-nos, sem medo e sem fuga, ao amor, pois dessa forma, o suicídio será uma realidade que jamais conheceremos na prática. Amar sem medidas e sem condições é o remédio fundamental para quem um dia já pensou em se suicidar. Amemos.


Tiago de França

domingo, 18 de setembro de 2016

A morte do ator Domingos Montagner e a transitoriedade da vida. Pensamentos (XX)

A notícia da morte do ator Domingos Montagner pegou todo mundo de surpresa. A morte sempre nos surpreende. As pessoas sempre pensam que se terão por muito tempo.

Praticamente ninguém reflete sobre a transitoriedade de todas as coisas. E com os avanços da técnica e da ciência, o homem procura sempre, os meios para adiar a própria morte. Mas, muitas vezes, ela não respeita esses métodos; é mais forte que todos eles.

A morte das pessoas, sejam famosas ou não, deveria ser uma oportunidade para cada um pensar na própria morte e, sobretudo, na própria vida. Está valendo a vida que levamos? Há sentido na vida que insistimos em manter? Qual tem sido a nossa contribuição para o crescimento da vida em um mundo marcado pelo poder avassalador da morte?...

Estas e tantas outras perguntas deveriam nos levar a uma reflexão sobre a nossa maneira de viver a vida, sobre aquilo que realmente importa.

Assistindo pela TV às lágrimas dos amigos mais próximos do ator, assim como de seus familiares, uma pergunta surgiu: será que estas pessoas aproveitaram bem a sua presença? Será que lhe deram o devido valor enquanto ele estava vivo?...

Infelizmente, em inúmeros casos, descobre-se o quanto o outro faz falta somente em decorrência da sua morte. Aí é tarde demais.

Estas mortes repentinas falam da fragilidade da vida humana, de sua transitoriedade inevitável. Isto nos alerta para uma verdade que a gente sempre evita considerar: não teremos ao nosso lado e ao nosso alcance, para sempre, as pessoas que nos são queridas.

Cedo ou tarde, previsível, ou imprevisivelmente, elas desaparecerão. As pessoas são finitas, elas passam. Ninguém é eterno neste mundo. Uns desaparecem com o passar do tempo; outros, deixam de existir de repente, num estalo de dedos. Evaporam como a fumaça levada pelo vento...

E quando isto não ocorre, somos nós que conhecemos o nosso fim, e desaparecemos da vida das pessoas. Às vezes, deixamos de existir para os outros por causa dos nossos conflitos e do nosso orgulho; outras vezes, porque simplesmente morremos.

Quando vivos, ainda existe uma possibilidade de nos reencontrarmos para continuarmos juntos a peleja da vida; do contrário, quando morremos, aí já não tem mais jeito. E não há choro nem revolta que mude a situação. Esta se impõe sem pedir licença.

Para a vida deste mundo, a morte é irreversível. Uma vez mortos, para os que ficam, ingressamos em um de dois mundos: no mundo das lembranças, ou no mundo do esquecimento. É assim a vida humana sobre a face da terra.

Nada, absolutamente nada, muda isso: nem nosso dinheiro, nem nossa vaidade, nem nosso orgulho, nem nosso prestígio, absolutamente nada consegue mudar a certeza e a realidade de nosso fim.

É a nossa condição de seres que caminham, inevitavelmente, para a morte. E a cada dia que se passa, ela se torna próxima. Resta-nos, a esperança da ressurreição para aqueles que creem. Para os que não creem, o homem caminha ao encontro do nada.

Tiago de França

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Reconciliar-se consigo mesmo. Pensamentos (XIX)

A paz é uma necessidade humana e um valor imprescindível, uma riqueza sem a qual não podemos viver com saúde, com dignidade. Quem não experimenta a paz encontra-se inquieto, angustiado, ansioso, em estado de tensão permanente, perturbado.

O mundo está cheio de gente perturbada. Basta olhar para o semblante das pessoas, para enxergar a falta de paz. O número de gente perturbada é assustador. Geralmente, as pessoas desconhecem o silêncio. Passam todo o dia afetadas pela agitação de uma vida apressada, sem sossego.

Até nas pequenas cidades interioranas, encontramos as pessoas agitadas. E esta agitação se manifesta de várias formas: excesso de fala; pressa ao caminhar e ao comer; olhares apressados; fadiga; dores no corpo; intestino preso; dores na cabeça e tantos outros sintomas e patologias.

A tranquilidade e a serenidade se tornam cada vez mais raras. Chama a atenção de todos, a pessoa serena e tranquila, mansa e desapegada. Viver agitado/a virou comportamento padrão. Por trás de tudo isso, há inúmeros fatores, internos e externos. Os externos são visíveis e mais palpáveis, portanto, de fácil compreensão. Os internos são mais complexos e, por isso mesmo, de difícil percepção.

Queremos, muito brevemente, falar de um deles: a falta de reconciliação consigo mesmo. Inúmeras pessoas que habitam este mundo não são reconciliadas consigo mesmas. O que significa reconciliar-se consigo mesmo, e quais as consequências da ausência deste tipo de reconciliação? Vamos pensar um pouco.

Pensemos em três situações, que, aparentemente, são as mais recorrentes: 1) Há pessoas que não se perdoam pelos erros que cometeram; 2) Há outras que não se aceitam como são e 3) Há, também, aquelas que não conseguem se reconciliar com o seu passado sombrio.

Nos três casos, temos um ponto em comum: a falta de reconciliação. Vamos empregar o seguinte significado para esta reconciliação: aceitar a realidade, passada e presente, como ela é, sem fugas nem justificativas sem fundamento.

Neste sentido, reconciliar-se consigo mesmo é viver de forma integrada, sem divisões e conflitos internos; tornar-se inteiro, sem fragmentações. Ser um todo unitário, e não um ser despedaçado, feito cacos de vidro que somente cortam as mãos daqueles que não sabem pegá-los para jogá-los fora.

Há inúmeras pessoas que não se aceitam como são: não aceitam o corpo que tem; a cor da pele, o tipo de cabelo, a maneira de ser, de agir e de pensar. Outras são revoltadas com a vida que levam (não aceitam o namoro, o casamento, os filhos, o trabalho, a casa onde moram, os vizinhos, os amigos, a condição social na qual estão inseridas etc.).

Há outras que passaram por experiências amargas no passado. Algumas foram vítimas, outras foram autoras de atos que lhes causam profunda vergonha e ódio de si mesmas e dos outros. São revoltadas. Não conseguiram superar.

Muitas fazem questão de ficar “remoendo” a situação, trazendo, constantemente, à memória. Alimentam o remorso, o ressentimento. O passado mal resolvido passou a ser “o pão” de cada dia.

A falta de aceitação da própria realidade é o grande mal que as afeta. E isto causa em muitas pessoas vários tipos de doenças físicas e psicológicas: úlceras, gastrite, pressão arterial alta ou baixa, dores musculares, excesso de fome ou falta de apetite, desânimo, tristeza, ansiedade, angústia, irritação excessiva e constante, síndromes, depressão.

Entre outros tantos problemas, esta última tem levado muitas pessoas ao suicídio. As pessoas vão perdendo o sentido da vida. Quando não vivem confinadas no isolamento, não conseguem se relacionar bem com os outros. Vivem metidas em constantes conflitos e frustrações.

Por fim, resta-nos afirmar, categoricamente, que só há um caminho para que tais pessoas alcancem a paz: buscar aceitar a realidade como ela é. Esta aceitação é reconciliação. Em relação ao passado, nada se pode fazer. Ao passado não se volta. Bom ou ruim, tudo ficou para trás. No passado não se mexe mais. O passado não existe. Só existe na mente daqueles que insistem em mantê-lo vivo.

Em relação ao presente, deve-se mudar aquilo que é possível ser mudado. Há situações que podem ser mudadas, pois está ao alcance do querer das pessoas. Se estas querem, podem mudar. Se não querem, nada pode ser feito.

Quando algo pode ser mudado, tudo começa pelo querer. Nada resiste ao desejo de mudança. Quando se quer, se consegue. A mudança passa, necessariamente, pela aceitação da realidade, seja ela qual for.

Mas há situações que não podem ser mudadas, pois não dependem da vontade daquele que deseja a mudança. Deve-se aceitar aquilo que não se pode mudar. Nenhuma revolta resolve o problema; antes, agrava-o, tornando-o insuportável.

Pessoas revoltadas não são felizes nem permitem que os outros sejam. São mal-amadas e mal resolvidas, portanto, mesmo sem querer, incomodam aqueles que estão ao seu redor. Geralmente, pessoas mal-amadas e revoltadas são, no máximo, toleradas.

A paz interior começa quando a pessoa se encontra integrada consigo mesma. Sem harmonia interior não há paz. Isolada e encerrada em seus conflitos internos, a pessoa caminha inevitavelmente para a morte do corpo e do espírito.

O mundo carece de pessoas pacíficas e pacificadoras. Não é possível oferecer aquilo que não se tem. Uma pessoa que não tem paz não consegue ser pacífica. Ter paz não é ter um conceito de paz, mas experimentá-la na própria carne, na própria vida. Trata-se de um exercício ascético que deve durar por toda a vida.

Enquanto esta paz for recusada, continuaremos assistindo à deplorável e assustadora realidade de milhões de pessoas, que procuram a paz fora de si mesmas, refugiando-se nas ilusões e nos falsos pensamentos e sentimentos, nos prazeres momentâneos geradores de alegrias passageiras, criando para si mesmas um mundo fantasioso, que não se sustenta porque não tem raízes na vida real.

Portanto, deixemos a vida florescer. Sejamos, pois, pacíficos e pacificadores! Para isto ocorrer, a vida nos convida à visão da realidade, tal como ela é, na sua beleza e simplicidade, contradições e desafios, sentido e utopia. Somente assim, poderemos conviver bem com os outros, com todo o universo e com Deus. Nada nos faltará, e seremos, de fato, felizes.


Tiago de França

terça-feira, 13 de setembro de 2016

Eduardo Cunha: CASSADO!

Primeiramente,

Fora, Temer!

Há pouco, 450 deputados prestaram um grande serviço à política brasileira e ao povo brasileiro: CASSARAM o mandato do deputado Eduardo Cunha.

Agora, sem foro privilegiado, esperamos que a Justiça dê conta de puni-lo na forma da lei pelos crimes cometidos. Desse modo, esperamos também que tenha chegado ao fim a carreira política deste que violou gravemente a ética e os princípios que regem o estado democrático de direito.

De hoje em diante, o termo "Fora" pertence somente ao grande amigo do deputado cassado, aquele que chegou à Presidência via golpe parlamentar, Michel Temer.

Que todos os políticos maus deste País possam encontrar o mesmo fim que este infeliz encontrou no dia de hoje. Que o povo brasileiro aprenda, com esta história vergonhosa, a escolher seus representantes, a fim de que tal desgraça não se repita com tanta frequência, fragilizando, assim, nossa pobre e sofrida democracia.


Tiago de França

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Fazer o próprio caminho. Pensamentos (XVIII)

Na vida, algumas coisas só dependem de nós. Cada pessoa tem o tempo da vida para fazer seu próprio caminho. Para isto, é necessário tomar decisões. Por mais difíceis que estas pareçam ser, é preciso decidir, fazer escolhas. Não nos é possível abarcar o mundo inteiro.

Desde o nosso nascimento, a vida chama para as lutas. Não é fácil viver. E o mundo vai se organizando de tal forma, que a vida parece sufocada, mitigada e, muitas vezes, brutalmente assassinada. Tudo se mostra tão imperativo, tão determinado. Parece não existir brechas.

Apesar disso, as brechas existem. Elas são oportunidades ímpares que vão aparecendo aqui e acolá. Oportunidades de alegria e contentamento, convites para o crescimento. São chances que, muitas vezes, não se repetem. Aparecem de improviso, num estalo de dedo.

Em toda pessoa minimamente atenta a si mesma, há momentos em que a consciência de si e do mundo aflora como o desabrochar de uma linda flor. Esse despertar da consciência faz a pessoa acordar do sono pesado que a torna cega e desorientada, triste e retraída, morta.

Mas este despertar tem o seu momento, a sua hora. Algo faz com que, de repente, tudo fique claro, e a escuridão da cegueira se afasta. Com o espírito sereno, a pessoa passa a enxergar as trilhas abertas da aventura da própria vida. É aí que a angústia que acompanha a escolha diminui.

Com a mente iluminada, as escolhas a serem feitas não serão perseguidas pelos arroubos dos sentimentos confusos e perturbadores, mas, mesmo diante das incertezas que insistem em permanecer, a pessoa escolhe viver. E esta escolha a obriga a fazer outras escolhas que somente confirmam esta opção primeira opção fundamental.

Escolher viver implica, dentre tantas atitudes, as seguintes, que são fundamentais para o bom êxito da caminhada: Olhar sempre para frente, nunca para trás. É no amanhã que está o futuro, o novo, as surpresas da vida.

Este amanhã, de repente, torna-se hoje. Quem vive olhando pelo retrovisor da própria vida, encontra-se preso ao passado. Este está morto. Pode até ensinar alguma coisa, mas é irremovível. A vida não acontece no passado. Este passou!

Uma segunda atitude benéfica ao peregrinar da vida é acreditar em si mesmo. Crer que há um poço transbordante e inesgotável dentro de si, capaz de renovar sempre as forças positivas que fazem a vida pulsar. Para as religiões, este poço é Deus. No cristianismo, este Deus é amor. Pois bem, acreditar em si mesmo é acreditar no amor transbordante e infinito; amor que concede sentido e direção.

Por fim, há uma outra atitude imprescindível na vida peregrina sobre a terra: procurar sempre enxergar as coisas como elas realmente são, sem cair na tentação de empregar à realidade atributos que ela não tem. Reconciliar-se com a realidade de todas as coisas. Trata-se de uma atitude que liberta do mal da ilusão e da alienação.

São escolhas. É a vida que chama para viver. Podemos ignorar tudo isto, e nos encerrarmos em nosso mundo estreito e sem vida. A escolha pode ser a de sempre: injetar nas veias da própria existência doses infindáveis de ilusão e sofrimento que conduzem à morte do corpo e do espírito. Cadáveres ambulantes!

Para o bem, ou para o mal; a longa, ou curta caminhada da vida é feita de decisões, de pequenos passos e de ousadia. Viver é coisa de gente ousada. Quem não ousa, passa pela vida sem saber o que ela, de fato, é. Ousemos, com os pés no chão do hoje, e com os olhos voltados para o amanhã.

Tiago de França

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Eu escrevi um poema triste

Após um dia cansativo,
Na meditação final antes do adormecer,
Quis ouvir Mário Quintana.
Quão profundo, quão simples, quão misterioso!...

Ei-lo:

EU ESCREVI UM POEMA TRISTE

Eu escrevi um poema triste
E belo, apenas da sua tristeza.
Não vem de ti essa tristeza
Mas das mudanças do Tempo,
Que ora nos traz esperanças
Ora nos dá incerteza...
Nem importa, ao velho Tempo,
Que sejas fiel ou infiel...
Eu fico, junto à correnteza,
Olhando as horas tão breves...
E das cartas que me escreves
Faço barcos de papel!


Mário Quintana, in 'A Cor do Invisível' 


quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Reflexões sobre a independência do Brasil

No campo político, torna-se cada vez mais difícil falar em independência do Brasil. Após os últimos acontecimentos, a independência parece ser uma realidade cada vez mais utópica. A democracia brasileira é marcada por avanços e retrocessos. Entendemos que o momento atual é de retrocesso.

Basta ler as páginas dos jornais para perceber que a violência tomou conta do País. Há uma violência oriunda das desigualdades que assolam a sociedade, e há uma violência institucionalizada. Esta segunda parece ser uma das piores. Quando o Estado violenta o povo, a quem este povo vai recorrer? Quando o Judiciário comete crimes, a quem as pessoas vão recorrer? Aí está o risco da guerra civil.

Como falar em um País independente diante das ameaças constantes à soberania nacional? Como pensar em um País soberano se temos um povo cada vez mais explorado, ferido em seus direitos? As novidades do novo governo são terríveis, se levarmos em consideração as ameaças aos direitos adquiridos: aos direitos dos trabalhadores, principalmente.

Quando o Estado resolve ficar do lado do patrão em detrimento do trabalhador, a situação é desesperadora. Patrões cada vez mais ricos e trabalhadores cada vez mais pobres: eis o resultado da opção do Estado pelos mais ricos e poderosos. E quando os trabalhadores não tem consciência de seus direitos, a situação torna-se deplorável. Trabalhador que desconhece os seus direitos é surdo, cego e mudo; é massa de manobra nas mãos do grande capital selvagem, capital que não respeita nem promove a dignidade da pessoa humana.

A transformação passa pela visão crítica da realidade, e esta visão se adquire na escola, na universidade, no sindicato, nas associações, nos partidos políticos, nos grêmios estudantis, nas famílias, nas comunidades eclesiais de base, enfim, na reunião de pessoas que se preocupam com os destinos do País.

Não há resistência possível sem a união das pessoas, sem que estas discutam a realidade, sem que esta realidade seja desvelada. Desvelar significa tirar o véu da mentira e das ideologias de dominação, que tendem a manter o povo na ignorância.

No campo pessoal, assistimos a um perigoso desinteresse pelo futuro. A juventude, em sua grande maioria, é formada por jovens egoístas e consumistas; jovens que só sabem mexer nas redes sociais, que desconhecem a história e são desprovidos de espírito crítico.

O hedonismo (busca desenfreada pelo prazer) gera pessoas imediatistas, frustradas e indiferentes. Cada um no seu mundo particular procura a satisfação egoísta de seus interesses e desejos, em detrimento do bem comum.

Fala-se muito de amor, mas a maioria desconhece o seu autêntico conteúdo. Confundem amor com sexo e com a fruição dos prazeres momentâneos. Em nome deste falso amor cometem os maiores absurdos e vivem encerrados numa mentira sem fim.

A principal consequência desta triste realidade é uma geração marcada por pessoas frias, interiormente feias e mal-amadas, ignorantes, sem perspectivas, violentas e controladas pelos instintos degenerativos da personalidade.

Onde está a liberdade, marca fundamental da independência das pessoas? Não é possível termos um País independente se o seu povo é constituído por pessoas escravas. A escravidão de si mesmo é a pior de todas. A principal característica deste tipo de escravidão é a seguinte: a pessoa não consegue sequer pensar no outro.

O egoísta é um escravo de si mesmo. Portanto, a independência do Brasil começa com a independência de cada membro do povo brasileiro. Um povo livre decide livremente os rumos do País, recusando-se a desgovernos de toda ordem.

Nas relações interpessoais, que constroem a sociedade, as pessoas precisam aprender a promover, em primeiro lugar, o bem do outro. O que ocorre é o oposto: as pessoas agem pensando em seus próprios interesses. E elas estão tão absorvidas por eles, que sequer tem tempo para pensar no outro. Vivem como se este não existisse.

E isto gera uma sociedade desunida, desorientada, frágil, manipulada, enfim, uma sociedade doente e, por isso mesmo, insuportável. Cremos que a data de hoje, 7 de setembro, é uma excelente oportunidade para pensarmos, em primeiro lugar, em nossa independência pessoal para, a partir daí, vislumbrarmos nossa independência enquanto povo; do contrário, continuaremos expostos e controlados pela violência de nosso egoísmo que nos desumaniza, tornando-nos infelizes.


Tiago de França

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

A Rede Globo e a imagem do governo Temer

Primeiramente, Fora Temer!

Numa tentativa desesperada, a Rede Globo está tentando tornar Michel Temer um homem simpático e agradável, o salvador da pátria brasileira. Mas não vai conseguir por dois motivos muito simples de ser compreendidos:

- primeiro, porque a sua chegada ao poder não foi legítima. Qualquer pessoa inteligente e de bom senso percebe que o impeachment foi uma grande farsa, portanto, um golpe parlamentar bem elaborado;

- segundo, porque ele não tem boas e claras intenções com o Brasil. Seu governo servirá somente para duas coisas:

1) reforçar o patrimônio dos mais ricos em detrimento dos mais pobres, atendendo aos interesses da iniciativa privada; e

2) obstruir a justiça para livrar da condenação e da cadeia a corja de ladrões que o apoiam.

Esta é a verdade que a Rede Globo jamais conseguirá esconder.


Tiago de França

sábado, 3 de setembro de 2016

Reflexões sobre crises no casamento

“O sacramento do matrimônio é um grande ato de fé e de amor: testemunha a coragem de acreditar na beleza do ato criador de Deus e de viver aquele amor que leva a ir sempre além, além de si mesmo e também além da própria família” (Papa Francisco).

        Pediram-nos uma palavra sobre as crises que muitos casais enfrentam em seus casamentos. Ao receber o pedido para a elaboração destas reflexões, buscamos pensar na realidade da vida conjugal de muitos, e procuramos enumerar algumas das principais causas que ocasionam tais crises. A observação da realidade e a partilha sincera de muitos casais constituem o lugar de onde partimos para nossas reflexões.  

Nosso objetivo é ajudar a quem precisa de uma palavra e despertar nos futuros casais a necessidade de pensar sobre o que desejam e buscam no casamento. Talvez alguns possam se escandalizar com algumas afirmações um tanto radicais, mas que são necessárias para despertar aqueles que possuem uma visão excessivamente romantizada do casamento.

Namoro, noivado e discernimento

        Casamento que não é precedido de namoro e noivado tem grandes chances de não dar certo. Casamento exige prévio planejamento e discernimento. De modo geral, as pessoas não planejam a vida, mas contentam-se em viver desorganizadamente. O povo brasileiro não tem a cultura do planejamento da vida. Vive o presente sem pensar no amanhã. Somos um povo indisciplinado. Poucos pensam nas consequências daquilo que fazem da vida. Quem pensa em casar e não se planeja, não conseguirá levar uma vida a dois.

Toda forma de vida exige um mínimo de planejamento. Durante o namoro e o noivado o casal é chamado a planejar o casamento que deseja viver; do contrário, o casamento não passará de uma aventura. Não estamos falando de planejamento matemático, que detalha rigorosamente as coisas, mas pensar nas exigências da vida conjugal para saber se é isso mesmo que desejam para a vida. Esta ideia inicial oriunda de uma séria reflexão é de extrema importância para o casal.

Discernir é outra necessidade essencial. Durante o namoro e o noivado o casal é chamado a se conhecer. É verdade que nenhuma pessoa conhece outra plenamente. O ser humano é um mistério para si mesmo. Mesmo assim, é possível, antes do casamento, ter uma ideia geral da personalidade do outro: de seus gostos, preferências, temperamento, tendências, sonhos, formas de pensar e de ser. O jeito do outro fala de sua maneira de enxergar a vida. É nesta fase que já se pode ter uma ideia de como a pessoa se comportará no casamento, pois ninguém muda da noite para o dia. Geralmente, as mudanças repentinas costumam ser superficiais.

É muito perigoso uma pessoa casar com outra sem ter as mínimas informações sobre sua personalidade. Os que assim procedem se metem numa vida arriscada. Por mais gentil e tranquila que uma pessoa pareça ser, há sempre algo a ser observado com olhar crítico e perspicaz. Muitas mulheres e homens ficam horrorizados nos primeiros dias, meses ou anos de casamento, pois descobriram que casaram com pessoas excessivamente tendenciosas e problemáticas. Em sã consciência ninguém deseja casar com alguém de personalidade doentia ou desajustada. Discernir é conhecer o mínimo da índole do outro, suas virtudes e seus defeitos.

Atualmente, assistimos a muitos casamentos marcados mais pelo sofrimento do que pela alegria. O cotidiano destes casamentos é marcado pelas reclamações intermináveis. Geralmente, acentuados pela falta de discernimento e planejamento prévios. É assustador o número de pessoas que resolvem casar da noite para o dia, pensando que casamento se resume a um “mar de rosas”, um paraíso.

Certamente, a vida conjugal é muito bela e fecunda, quando vivida no amor; mas as pessoas esquecem que a vida conjugal requer certa estrutura material, psicológica e espiritual, sustentada e orientada pelo amor. Como dizem os mais velhos: “Amor não enche barriga!” Há inúmeros casais de namorados e noivos que levam uma vida totalmente sem limites e sem responsabilidades. Pessoas assim não deveriam casar sem antes aprender a ser organizados e responsáveis. Não há casamento possível sem responsabilidade. Muitos casamentos conhecem o seu fim por causa da falta de responsabilidade de mulheres e homens que querem viver no casamento como solteiros irresponsáveis.

Casamento e vocação

        Há pessoas que resolvem casar sem ter vocação, e isto é muito grave, pois nem todas as pessoas que nascem neste mundo tem vocação para o casamento. Pessoas egoístas não podem casar, pois só pensam em si mesmas. Egoístas não suportam a vida conjugal porque não pensam no outro. Uma pessoa egoísta só permanece casada quando seu cônjuge se torna seu escravo, alguém que somente serve para satisfazer seus desejos e necessidades. O egoísta não consegue amar o outro porque não ama a si mesmo. Egoísmo e amor são realidades incompatíveis.

        Pessoas que gostam de viver sozinhas e independentes, que não gostam de dar satisfação de sua vida para ninguém, também não podem casar. Quando casam, comportam-se como se o outro cônjuge não existisse. Não se importam com a vida do outro e não aceitam que se intrometam em sua vida. São aqueles cônjuges que mal sabem como estão e o que realmente sentem um pelo outro. Olham-se e falam um para o outro: “Vivemos na mesma casa, mas você cuida da sua vida e eu cuido da minha!” Isto não é casamento, mas justaposição de pessoas. Há famílias que se parecem com repúblicas de estudantes: Cada um cuida da própria vida e, assim, todos acham que são livres.

        Há, ainda, aquelas pessoas frias, insensíveis e indiferentes. São idênticas aos egoístas, mas conseguem ser bem piores. Também não podem casar, pois a realidade da vida conjugal não combina com frieza, falta de sensibilidade e indiferença. Vida conjugal rima com comunhão, companheirismo, cumplicidade, cooperação, reciprocidade, sensibilidade e alteridade. Todos os valores que formam o alicerce que sustentam o casamento visam acabar com a falta de sensibilidade e com a indiferença. Cônjuges que não se entregam ao cuidado de um para com o outro vivem um falso casamento. Sem o cuidado, a relação matrimonial não prospera; seu fim se torna necessário e inevitável.

        Vocação para casar não se adquire do dia para a noite. Não é como ganhar um presente. Trata-se de uma questão pessoal, íntima e existencial. É mais do que ter aptidão e jeito. Para casar, a pessoa precisa se perguntar: Eu me enxergo como uma pessoa casada? Quero mesmo con-viver com outra pessoa? E se vierem filhos, me vejo como pai ou mãe? A estrutura familiar me faria bem? O que procuro quando penso em casar? Estas e outras perguntas apontam para uma reflexão imprescindível para aqueles que desejam casar. É verdade que não há respostas prontas para estas questões, mas é verdade também que elas ajudam na descoberta da vocação matrimonial, se esta existe ou não.

Uma pessoa que não tem vocação para o exercício da medicina não deveria ser médica. O mesmo ocorre com o casamento. As pessoas não deveriam se aventurar em casar, mas devem fazer uma reflexão sincera sobre o verdadeiro sentido do casamento na vida humana. Aos que se aventuram sem nenhuma reflexão, na verdade, não estão preocupados com o sentimento do outro. Agem como se casamento fosse uma brincadeira. Quem assim procede somente encontra sofrimento. Procura “sarna para se coçar” e encontra!

Mulheres e homens perfeitos existem?

        Há pessoas que vivem procurando a sua “alma gêmea”. Na verdade, não existe alma gêmea, assim como não existe a “outra metade”. Ninguém nasce incompleto ou pela metade. Nascemos inteiros. O romantismo inventa tais termos, fazendo com que as pessoas pensem que somente serão felizes se encontrarem a “pessoa certa”. Não há pessoa certa, mas somente pessoas. Neste sentido, o romantismo semeia uma ilusão que é desfeita quando a tal pessoa certa se torna a pessoa errada; e, de repente, esta pessoa errada se transforma em um monstro, que pode causar grandes estragos.

Pessoas perfeitas não existem nem existirão. Por isso, quem não aprendeu a tolerar as falhas do outro não pode casar. Toda pessoa comete erros, de diferentes tipos, quantidade e graus. Não há exceção. Considerando essa realidade, que é inerente a todo ser humano, a compreensão e a tolerância são essenciais para o casamento. Aliás, todo tipo de relacionamento necessita destes dois valores para existir.

Ser compreensivo e tolerante não quer dizer que se deve concordar com os erros do outro, mas fazer um esforço para acolhê-lo em seus erros, ajudando-o a superá-los. Geralmente, a postura é de julgamento, condenação e rejeição. Esta é a tendência natural do ser humano. Sem a superação dessa tendência à rejeição do outro não é possível viver um casamento feliz. Ajudar o outro em suas imperfeições é um dos maiores gestos de amor que uma pessoa pode ter. Vale também contar com o auxílio de um outro valor muito importante: A paciência.

Neste sentido, surge uma pergunta: E quando o outro se recusa a se corrigir e melhorar? Aí fica a critério do cônjuge que está suportando as desvantagens dos erros cometidos. Levando em consideração a dignidade da pessoa humana, ninguém está obrigado a passar toda a sua vida suportando os erros de quem se recusa a se corrigir e melhorar.

Um cônjuge que insiste em seu erro, fazendo o outro sofrer, não pode continuar casado, pois fez a opção pelo sofrimento e deve arcar com as consequências de sua atitude. Nestas situações, a humildade que conduz ao reconhecimento dos próprios erros, tendo em vista a necessária mudança de atitude é de suma importância. Se o outro insiste na arrogância e no orgulho, então melhor que leve uma vida de solteiro. Casamento não combina com arrogância nem com orgulho.

Há um erro que não pode ser tolerado no casamento: O adultério. O cônjuge pode perdoar o adúltero, mas não está obrigado a continuar casado com ele. A traição é uma falta gravíssima. Na tradição cristã, a traição é um pecado muito grave. O próprio Jesus condenou-a com veemência. Mulheres e homens adúlteros quebram a confiança depositada no juramento que fizeram ao contrair o matrimônio.

Geralmente, após a traição a relação nunca se restabelece. Permanece o sentimento de desconfiança. Uma vez quebrada, a confiança dificilmente se restabelece. Somente o amor preserva os cônjuges do mal da traição. Quem trai seu cônjuge e, simultaneamente, afirma que o ama, está faltando com a verdade. Mais adiante, faremos uma breve reflexão sobre as causas do adultério. No namoro, noivado e casamento, a traição é inadmissível. Trair a confiança do outro é um grave problema que tem destruído inúmeros relacionamentos.

Causas que provocam as crises no casamento

        São inúmeras as causas que provocam crises no casamento. Iremos elencar as que julgamos ser as mais recorrentes.

1 – A falta de diálogo

        Geralmente, os casais não dialogam, mas entregam-se a longas discussões. Um não escuta o outro. Em muitos lares, as discussões já se tornaram algo natural. Não se consegue mais viver sem brigas. Não se chega a compreender o outro porque não há escuta. O diálogo é atitude de iguais, ou seja, não existe diálogo onde um dos cônjuges procura sempre impor suas ideias e sua vontade. Não pode existir entendimento sem o mínimo de esforço para compreender os sentimentos do outro. Nenhum relacionamento pode perdurar sem esta abertura ao outro, com o objetivo de escutá-lo com atenção e respeito.

        É no diálogo que os cônjuges devem falar de seus sentimentos, alegrias, tristezas, incômodos, impressões, preocupações. Quando não há tempo para o diálogo, o casamento vai, progressivamente, se desgastando e caindo na superficialidade. Mesmo vivendo juntos, os cônjuges vão se distanciando. Aos poucos, um já não sabe o que se passa com o outro. Sem a expressão livre do que se pensa e do que se sente não há união que sobreviva. Perde-se a sintonia. Não há amor que suporte a falta de diálogo.

O mesmo se pode falar em relação aos filhos, principalmente quando estes são crianças e adolescentes: Sem diálogo não há educação possível. Pais que não dialogam com seus filhos, facilmente se transformam em estranhos em relação a eles. Desse modo, os filhos passam a tratar seus pais como meros mantenedores de suas despesas (no caso dos filhos menores). Sem o diálogo aberto, sincero e constante, os pais perdem o respeito por parte dos filhos. Quando isso ocorre, somente são escutados na força do grito. Muitos pais exercem a sua autoridade na força do grito e da ameaça. Assim, não são amados nem respeitados, mas temidos.

2 – A falta de respeito à liberdade do outro

        Muitos casamentos acabam por causa do sufocamento. Toda pessoa precisa do mínimo de liberdade para viver. No casamento, ser livre quer dizer não ser sufocado nem sufocar o outro. Não estamos falando que os cônjuges devem viver cada um por si. Aí já não seria casamento. Deixar o outro livre é permitir que ele seja o que realmente é, sem pressões, sem julgamentos e sem condenações. Em alguns momentos, o outro precisa de um tempo de silêncio para dialogar com os próprios pensamentos. Toda pessoa necessita de algumas pausas silenciosas para estar diante de si mesma. Nestas pausas, o colo aconchegante do outro cônjuge é insubstituível.

Sobrecarregar o outro sem compartilhar as exigências da vida conjugal e familiar é sufocá-lo. Não tomar iniciativas quando estas se mostram necessárias. Esperar sempre que somente um dos cônjuges tome a iniciativa diante dos problemas familiares é sufocante.

Inúmeros casamentos se desfazem com o desgaste de um dos cônjuges, que não mais suporta o comodismo do outro. A falta de respeito à liberdade também se faz presente na relação entre pais e filhos: Estes, muitas vezes, não respeitam a liberdade e privacidade daqueles, assim como há muitos pais que não respeitam a liberdade de seus filhos, tratando-os como escravos. Fora da liberdade não há educação dos filhos. Somente na liberdade as pessoas se desenvolvem e se revelam como verdadeiramente são.

3 – O ciúme

        Este é um dos piores males que afetam praticamente todos os casais, em menor ou maior grau. Geralmente, o ciúme é sinal de insegurança. Pessoas excessivamente ciumentas também podem estar escondendo a traição. Os excessos sempre escondem problemas. Pessoas que se apegam demasiadamente a outras costumam sentir ciúme. Tornam-se possessivas. Querem o outro para si, tratando-o como propriedade exclusiva. O ciúme também revela desajuste na personalidade. Pessoas ciumentas precisam de tratamento psicológico para descobrirem a origem de seu ciúme.

        O ciúme impede que o casal tenha paz. Revela, ainda, uma enorme falta de confiança no outro. O outro cônjuge é visto como objeto de desejo, que uma vez ameaçado, precisa ser protegido pelo cônjuge ciumento. Em alguns casos, a situação torna-se doentia. Possuída e sem controle, a pessoa ciumenta é capaz de tudo para não perder seu objeto de satisfação de desejo.

Alguns chegam a matar o outro por causa do ciúme. Este tira o discernimento e a noção da realidade. Faz surgir na mente pensamentos destrutivos e obsessivos. A pessoa ciumenta passa a conceber situações que não existem no mundo real (espécie de alucinação). Quando chega a esse ponto, deve-se procurar urgentemente um eficiente tratamento psicológico. Não há quem aguente manter uma relação conjugal com uma pessoa excessivamente ciumenta. O casamento se transforma em uma experiência de tormento.

4 – A mentira

        A falta de transparência é um mal que tem prejudicado muitos casamentos. A mentira mais perigosa é aquela que se refere aos sentimentos: O cônjuge, para manter uma falsa paz na relação, não fala a verdade daquilo que realmente sente. E a pior mentira é a que expressa um amor que não existe, sustentando um falso amor. Os que vivem traindo seus/suas companheiros/as costumam se utilizar, permanentemente, da mentira. Esta costuma esconder algo sempre pior. É a ferramenta usual do casamento que vive de aparência.

        A mentira é perigosa porque tende a se multiplicar. Uma mentira sempre pede outras para tentar se manter como se verdade fosse. Quem realmente ama e quer o bem do outro não é capaz de negar-lhe a verdade. Por mais dolorosas que sejam certas verdades, é necessário que sejam ditas nas ocasiões certas e da forma mais amorosa possível. Para ajudar o outro a crescer como pessoa, o cônjuge sempre deve ser verdadeiro. Não prospera o casamento alicerçado na mentira. Casais autênticos constroem famílias sólidas. Onde reina a mentira, também reina a confusão.

        A verdade gera confiança e a mentira somente resulta em desconfiança. O cônjuge que sempre mente para o outro corre o risco de cair no descrédito permanente. O outro vive num permanente estado de desconfiança porque já não sabe mais quando está escutando a verdade e quando está sendo enganado. Quem, com certa frequência, engana descaradamente o outro, mostra que não tem bom caráter.

Trata-se de um grave defeito na personalidade. A mentira faz o mentiroso usar uma máscara numa tentativa desesperada de esconder a sua verdadeira personalidade. Mas o mentiroso sempre encontra aquele obstáculo comum a todos os mentirosos: A mentira tem pernas curtas e a verdade sempre aparece, cedo ou tarde. E quando a verdade aparece, a confusão se inicia e o casamento começa a se diluir. Na relação com os filhos, a mentira também se mostra perigosa: Pais mentirosos, geralmente, criam filhos dados à mentira. A mentira dos pais deseduca os filhos.

5 – A falta de amor

        Este é o pior de todos os males que afetam o casamento. Na verdade, quando o amor não mais existe, o casamento chegou ao seu fim. Sem amor é impossível recuperá-lo. O amor é a base fundamental de todo casamento sem a qual tudo não passa de mentira e aparência. A falta de amor gera todos os outros males que destroem a relação matrimonial e familiar.

Segundo a espiritualidade cristã, o amor de Deus pela pessoa humana nunca se acaba, pois é infinito; mas o amor que uma pessoa tem para com outra pode acabar. Os seres humanos são limitados, assim como seus sentimentos. Estranhamente, uma relação considerada feliz pode, de repente, se transformar numa relação marcada pela vingança e pelo ódio. Os humanos são imperfeitos nas suas formas de amar.

O amor é um tesouro que o casal carrega em vasos de barro. Quanto mais se ama, mais o amor se multiplica e tende a tornar-se forte e inabalável. É uma riqueza inesgotável. Como saber se o amor é verdadeiro? É tudo muito simples. O amor verdadeiro não é o amor dos discursos e das declarações românticas. Estas coisas podem ser até agradáveis, mas o verdadeiro amor é sinônimo de doação, de entrega gratuita e incondicional.

Quem não se doa ao outro não o ama de verdade. Nenhuma declaração de amor, por mais romântica que seja, substitui o doar-se ao outro. As declarações podem ser manipuláveis e mentirosas, mas a doação ao outro, jamais. É no doar-se ao outro que o amor se revela. Doar-se é cuidar do outro. Quem ama, cuida; quem não ama, não se importa com o outro. Portanto, no casamento, quando um cônjuge já não cuida mais do outro, é sinal de que o amor não existe mais. O casamento não passa de aparência, uma mentira escandalosa. O cuidado permanente, fiel até às últimas consequências, é a declaração de amor por excelência.

Enquanto existir o amor na relação, o casamento existe, e todas as limitações podem ser superadas. O amor continua sendo o remédio para resolver todo e qualquer problema. Aqueles que acreditam em Jesus também podem contar com o auxílio da fé. Não há força maior que a do amor e da fé. Quando acreditam na força do amor, os cônjuges conseguem superar todas as dificuldades inerentes à vida conjugal e familiar. Quando ocorre o contrário, ou seja, quando não há mais amor, então já não temos casamento. Neste caso, o caminho mais correto é o da separação conjugal, sem violência e com convicção.

Quando insistem em viver juntos, mas sem amor, os cônjuges transformam suas vidas em um inferno. A vida se torna insuportável. Infelizmente, o número dos que assim procedem não é pequeno e tende a aumentar. O casal já não vive em função do casamento, que não existe, de fato, mas em função da sociedade, para que todos possam pensar que ali existe um casamento feliz. Casamentos falsos tem se multiplicado numa sociedade demasiadamente marcada pela cultura da aparência.

Só o amor constrói

        Eis a conclusão a que podemos chegar com estas nossas breves reflexões: A falta de amor acaba com o namoro, com o noivado e com o casamento. No caso deste último, de nada vale o casal ter uma casa bonita e bem mobiliada; um carro do ano; uma conta recheada de dinheiro; ser mestre ou doutor; ser querido na sociedade; filhos diplomados e encaminhados; e tantos outras coisas e vantagens sem o amor. Há casais que possuem todas estas coisas, mas desconhecem o amor. Logo, não conhecem a felicidade. Vivem de aparência.

E por terem conseguido uma condição financeira que assegura um padrão elevado de vida, muitos casais preferem manter um casamento de aparência, sem o amor. Alguns tentam enganar a sociedade, confundindo padrão de vida com amor. Este não tem nada quer ver com aquele. Na verdade, quanto mais simples e humilde for o casal, mais o amor tem mais chances de permanecer. Os bens materiais tem expulsado o amor da vida de muitos casais. Muitos preferem multiplicar os bens em detrimento do amor. Onde há excesso de bens e de apego a estes, o amor morre sufocado. O amor não aguenta os excessos da vaidade humana, pois combina mais com humildade e simplicidade.

Só o amor constrói um casamento feliz e duradouro. Amor que se traduz na entrega total ao outro por meio do cuidado. Atualmente, os jovens precisam pensar seriamente sobre o valor e o sentido deste amor. A realidade mostra que, de modo geral, a juventude não conhece o verdadeiro amor. Perdem muito tempo com relacionamentos superficiais, caracterizados por carícias e muito sexo. Confundem sexo com amor. Pronunciam muito a palavra amor, mas desconhecem seu conteúdo. Experimentam relacionamentos que não duram porque são descartáveis.

Muitos jovens chegam a casar, mas não sabem o significado do casamento. Outros tem verdadeiro pavor da palavra casamento porque pensam que casamento é sinônimo de prisão. Preferem viver a vida sem grandes responsabilidades no campo afetivo. Esperamos que esse quadro seja revertido para o bem da sociedade. Esta nossa esperança nos motivou a compartilhar estas reflexões. Esperamos que os casais e os que desejam casar possam refletir melhor sobre o verdadeiro sentido do casamento na vida humana: Ser feliz no amor. O mundo padece pela falta de pessoas felizes no amor. Se quisermos construir outro mundo possível, justo e fraterno para todos, o caminho para que isso aconteça é o amor. Fora do amor não há ser humano digno, não há felicidade e não há salvação.

Tiago de França