sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Fazer o próprio caminho. Pensamentos (XVIII)

Na vida, algumas coisas só dependem de nós. Cada pessoa tem o tempo da vida para fazer seu próprio caminho. Para isto, é necessário tomar decisões. Por mais difíceis que estas pareçam ser, é preciso decidir, fazer escolhas. Não nos é possível abarcar o mundo inteiro.

Desde o nosso nascimento, a vida chama para as lutas. Não é fácil viver. E o mundo vai se organizando de tal forma, que a vida parece sufocada, mitigada e, muitas vezes, brutalmente assassinada. Tudo se mostra tão imperativo, tão determinado. Parece não existir brechas.

Apesar disso, as brechas existem. Elas são oportunidades ímpares que vão aparecendo aqui e acolá. Oportunidades de alegria e contentamento, convites para o crescimento. São chances que, muitas vezes, não se repetem. Aparecem de improviso, num estalo de dedo.

Em toda pessoa minimamente atenta a si mesma, há momentos em que a consciência de si e do mundo aflora como o desabrochar de uma linda flor. Esse despertar da consciência faz a pessoa acordar do sono pesado que a torna cega e desorientada, triste e retraída, morta.

Mas este despertar tem o seu momento, a sua hora. Algo faz com que, de repente, tudo fique claro, e a escuridão da cegueira se afasta. Com o espírito sereno, a pessoa passa a enxergar as trilhas abertas da aventura da própria vida. É aí que a angústia que acompanha a escolha diminui.

Com a mente iluminada, as escolhas a serem feitas não serão perseguidas pelos arroubos dos sentimentos confusos e perturbadores, mas, mesmo diante das incertezas que insistem em permanecer, a pessoa escolhe viver. E esta escolha a obriga a fazer outras escolhas que somente confirmam esta opção primeira opção fundamental.

Escolher viver implica, dentre tantas atitudes, as seguintes, que são fundamentais para o bom êxito da caminhada: Olhar sempre para frente, nunca para trás. É no amanhã que está o futuro, o novo, as surpresas da vida.

Este amanhã, de repente, torna-se hoje. Quem vive olhando pelo retrovisor da própria vida, encontra-se preso ao passado. Este está morto. Pode até ensinar alguma coisa, mas é irremovível. A vida não acontece no passado. Este passou!

Uma segunda atitude benéfica ao peregrinar da vida é acreditar em si mesmo. Crer que há um poço transbordante e inesgotável dentro de si, capaz de renovar sempre as forças positivas que fazem a vida pulsar. Para as religiões, este poço é Deus. No cristianismo, este Deus é amor. Pois bem, acreditar em si mesmo é acreditar no amor transbordante e infinito; amor que concede sentido e direção.

Por fim, há uma outra atitude imprescindível na vida peregrina sobre a terra: procurar sempre enxergar as coisas como elas realmente são, sem cair na tentação de empregar à realidade atributos que ela não tem. Reconciliar-se com a realidade de todas as coisas. Trata-se de uma atitude que liberta do mal da ilusão e da alienação.

São escolhas. É a vida que chama para viver. Podemos ignorar tudo isto, e nos encerrarmos em nosso mundo estreito e sem vida. A escolha pode ser a de sempre: injetar nas veias da própria existência doses infindáveis de ilusão e sofrimento que conduzem à morte do corpo e do espírito. Cadáveres ambulantes!

Para o bem, ou para o mal; a longa, ou curta caminhada da vida é feita de decisões, de pequenos passos e de ousadia. Viver é coisa de gente ousada. Quem não ousa, passa pela vida sem saber o que ela, de fato, é. Ousemos, com os pés no chão do hoje, e com os olhos voltados para o amanhã.

Tiago de França

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