quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Reflexões sobre a independência do Brasil

No campo político, torna-se cada vez mais difícil falar em independência do Brasil. Após os últimos acontecimentos, a independência parece ser uma realidade cada vez mais utópica. A democracia brasileira é marcada por avanços e retrocessos. Entendemos que o momento atual é de retrocesso.

Basta ler as páginas dos jornais para perceber que a violência tomou conta do País. Há uma violência oriunda das desigualdades que assolam a sociedade, e há uma violência institucionalizada. Esta segunda parece ser uma das piores. Quando o Estado violenta o povo, a quem este povo vai recorrer? Quando o Judiciário comete crimes, a quem as pessoas vão recorrer? Aí está o risco da guerra civil.

Como falar em um País independente diante das ameaças constantes à soberania nacional? Como pensar em um País soberano se temos um povo cada vez mais explorado, ferido em seus direitos? As novidades do novo governo são terríveis, se levarmos em consideração as ameaças aos direitos adquiridos: aos direitos dos trabalhadores, principalmente.

Quando o Estado resolve ficar do lado do patrão em detrimento do trabalhador, a situação é desesperadora. Patrões cada vez mais ricos e trabalhadores cada vez mais pobres: eis o resultado da opção do Estado pelos mais ricos e poderosos. E quando os trabalhadores não tem consciência de seus direitos, a situação torna-se deplorável. Trabalhador que desconhece os seus direitos é surdo, cego e mudo; é massa de manobra nas mãos do grande capital selvagem, capital que não respeita nem promove a dignidade da pessoa humana.

A transformação passa pela visão crítica da realidade, e esta visão se adquire na escola, na universidade, no sindicato, nas associações, nos partidos políticos, nos grêmios estudantis, nas famílias, nas comunidades eclesiais de base, enfim, na reunião de pessoas que se preocupam com os destinos do País.

Não há resistência possível sem a união das pessoas, sem que estas discutam a realidade, sem que esta realidade seja desvelada. Desvelar significa tirar o véu da mentira e das ideologias de dominação, que tendem a manter o povo na ignorância.

No campo pessoal, assistimos a um perigoso desinteresse pelo futuro. A juventude, em sua grande maioria, é formada por jovens egoístas e consumistas; jovens que só sabem mexer nas redes sociais, que desconhecem a história e são desprovidos de espírito crítico.

O hedonismo (busca desenfreada pelo prazer) gera pessoas imediatistas, frustradas e indiferentes. Cada um no seu mundo particular procura a satisfação egoísta de seus interesses e desejos, em detrimento do bem comum.

Fala-se muito de amor, mas a maioria desconhece o seu autêntico conteúdo. Confundem amor com sexo e com a fruição dos prazeres momentâneos. Em nome deste falso amor cometem os maiores absurdos e vivem encerrados numa mentira sem fim.

A principal consequência desta triste realidade é uma geração marcada por pessoas frias, interiormente feias e mal-amadas, ignorantes, sem perspectivas, violentas e controladas pelos instintos degenerativos da personalidade.

Onde está a liberdade, marca fundamental da independência das pessoas? Não é possível termos um País independente se o seu povo é constituído por pessoas escravas. A escravidão de si mesmo é a pior de todas. A principal característica deste tipo de escravidão é a seguinte: a pessoa não consegue sequer pensar no outro.

O egoísta é um escravo de si mesmo. Portanto, a independência do Brasil começa com a independência de cada membro do povo brasileiro. Um povo livre decide livremente os rumos do País, recusando-se a desgovernos de toda ordem.

Nas relações interpessoais, que constroem a sociedade, as pessoas precisam aprender a promover, em primeiro lugar, o bem do outro. O que ocorre é o oposto: as pessoas agem pensando em seus próprios interesses. E elas estão tão absorvidas por eles, que sequer tem tempo para pensar no outro. Vivem como se este não existisse.

E isto gera uma sociedade desunida, desorientada, frágil, manipulada, enfim, uma sociedade doente e, por isso mesmo, insuportável. Cremos que a data de hoje, 7 de setembro, é uma excelente oportunidade para pensarmos, em primeiro lugar, em nossa independência pessoal para, a partir daí, vislumbrarmos nossa independência enquanto povo; do contrário, continuaremos expostos e controlados pela violência de nosso egoísmo que nos desumaniza, tornando-nos infelizes.


Tiago de França

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