No campo político, torna-se
cada vez mais difícil falar em independência do Brasil. Após os últimos
acontecimentos, a independência parece ser uma realidade cada vez mais utópica.
A democracia brasileira é marcada por avanços e retrocessos. Entendemos que o
momento atual é de retrocesso.
Basta ler as páginas dos
jornais para perceber que a violência tomou conta do País. Há uma violência
oriunda das desigualdades que assolam a sociedade, e há uma violência
institucionalizada. Esta segunda parece ser uma das piores. Quando o Estado
violenta o povo, a quem este povo vai recorrer? Quando o Judiciário comete
crimes, a quem as pessoas vão recorrer? Aí está o risco da guerra civil.
Como falar em um País
independente diante das ameaças constantes à soberania nacional? Como pensar em
um País soberano se temos um povo cada vez mais explorado, ferido em seus
direitos? As novidades do novo governo são terríveis, se levarmos em
consideração as ameaças aos direitos adquiridos: aos direitos dos
trabalhadores, principalmente.
Quando o Estado resolve
ficar do lado do patrão em detrimento do trabalhador, a situação é
desesperadora. Patrões cada vez mais
ricos e trabalhadores cada vez mais pobres: eis o resultado da opção do
Estado pelos mais ricos e poderosos. E quando os trabalhadores não tem consciência
de seus direitos, a situação torna-se deplorável. Trabalhador que desconhece os
seus direitos é surdo, cego e mudo; é massa de manobra nas mãos do grande
capital selvagem, capital que não respeita nem promove a dignidade da pessoa
humana.
A transformação passa pela
visão crítica da realidade, e esta visão se adquire na escola, na universidade,
no sindicato, nas associações, nos partidos políticos, nos grêmios estudantis, nas
famílias, nas comunidades eclesiais de base, enfim, na reunião de pessoas que
se preocupam com os destinos do País.
Não há resistência possível
sem a união das pessoas, sem que estas discutam a realidade, sem que esta
realidade seja desvelada. Desvelar significa tirar o véu da mentira e das
ideologias de dominação, que tendem a manter o povo na ignorância.
No campo pessoal, assistimos
a um perigoso desinteresse pelo futuro. A juventude, em sua grande maioria, é
formada por jovens egoístas e consumistas; jovens que só sabem mexer nas redes
sociais, que desconhecem a história e são desprovidos de espírito crítico.
O hedonismo (busca
desenfreada pelo prazer) gera pessoas imediatistas, frustradas e indiferentes. Cada
um no seu mundo particular procura a satisfação egoísta de seus interesses e
desejos, em detrimento do bem comum.
Fala-se muito de amor, mas a
maioria desconhece o seu autêntico conteúdo. Confundem amor com sexo e com a
fruição dos prazeres momentâneos. Em nome deste falso amor cometem os maiores
absurdos e vivem encerrados numa mentira sem fim.
A principal consequência desta
triste realidade é uma geração marcada por pessoas frias, interiormente feias e
mal-amadas, ignorantes, sem perspectivas, violentas e controladas pelos
instintos degenerativos da personalidade.
Onde está a liberdade,
marca fundamental da independência das pessoas? Não é possível termos um País
independente se o seu povo é constituído por pessoas escravas. A escravidão de
si mesmo é a pior de todas. A principal característica deste tipo de escravidão
é a seguinte: a pessoa não consegue sequer pensar no outro.
O egoísta é um escravo de si
mesmo. Portanto, a independência do Brasil começa com a independência de cada
membro do povo brasileiro. Um povo livre decide livremente os rumos do País,
recusando-se a desgovernos de toda ordem.
Nas relações interpessoais,
que constroem a sociedade, as pessoas
precisam aprender a promover, em primeiro lugar, o bem do outro. O que
ocorre é o oposto: as pessoas agem pensando em seus próprios interesses. E elas
estão tão absorvidas por eles, que sequer tem tempo para pensar no outro. Vivem
como se este não existisse.
E isto gera uma sociedade
desunida, desorientada, frágil, manipulada, enfim, uma sociedade doente e, por
isso mesmo, insuportável. Cremos que a data de hoje, 7 de setembro, é uma
excelente oportunidade para pensarmos, em primeiro lugar, em nossa
independência pessoal para, a partir daí, vislumbrarmos nossa independência
enquanto povo; do contrário, continuaremos expostos e controlados pela
violência de nosso egoísmo que nos desumaniza, tornando-nos infelizes.
Tiago de França
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