“Aquele
sobre quem vires o Espírito descer e permanecer, este é quem batiza com o
Espírito Santo” (Jo 1, 33).
Jesus é o Filho de Deus: eis a revelação do Espírito de Deus
a todos aqueles que são batizados em seu nome e o seguem. O Espírito está no
centro da revelação divina, fazendo-nos conhecer o mistério da encarnação do
Filho amado de Deus. Sobre Jesus, o Espírito desceu e permaneceu. Na verdade,
desde sempre Jesus está com o Pai e o Espírito. A Comunidade Trinitária é
eterna.
O seguidor de Jesus é aquele que mergulha neste mistério
insondável de amor. É o Espírito que nos faz conhecer e permanecer neste
mistério. A quem o Espírito alcança é revelado o mistério insondável do amor de
Deus. Este mistério é essencialmente infinito, portanto, ninguém pode conhecê-lo
plenamente, de uma vez por todas. Ele vai se revelando porque assim são as
coisas de Deus. A pedagogia divina é diferente da humana. O tempo da atuação da
graça divina é diferente do nosso tempo.
O Espírito sonda as profundezas do nosso ser, e desde lá nos
chama para a experiência inefável do conhecimento de Deus. No encontro da Luz
de Deus com as nossas sombras, o Espírito nos revela a intensidade, a grandeza
e o alcance do mistério divino. É lá que somos integrados, purificados e
amados. Deus age desde dentro, a partir de nossas entranhas. É o Espírito que
nos concede a necessária percepção deste ofício divino libertador.
Para não cairmos no intimismo da fé que promove a alienação,
este Espírito chama-nos para fora, desinstalando-nos suavemente. A partir daí
enxergamos a necessidade da missão, da nossa missão no mundo. Esta missão
ultrapassa as fronteiras das culturas e das religiões. Trata-se da nossa
participação na missão de Jesus, prolongada pela ação amorosa e forte do
Espírito. Somos transformados nos pés e nas mãos de Jesus. Somos a sua presença
no mundo, afastando as trevas que amedrontam e obscurecem.
Participar da missão de Jesus é viver segundo o seu estilo de
vida: na humildade, simplicidade e, portanto, na radicalidade da verdade, do amor,
da liberdade e da justiça. Trata-se de uma missão livre e libertadora, que
promove o Reino de Deus, centro da mensagem de Jesus. Onde estamos? Qual a
nossa ocupação? Com quem nos relacionamos? Qual a nossa atual situação? Quais
as nossas dificuldades? O Espírito nos revela que nas respostas a estas
indagações está a resposta de outra indagação essencial: Senhor, o que queres
de mim?...
O mesmo Espírito que desceu sobre Jesus e com ele permaneceu,
e que fez com que o profeta João Batista o reconhecesse como Filho de Deus, é
quem nos visita desde a nossa concepção e conosco permanece. O que este
Espírito está falando a cada um de nós? Escutemos. O que Ele está dizendo às
nossas Igrejas? Escutemos. Escutemos. Escutemos...
A esperança ativa oriunda da autêntica interpretação da
mensagem de Jesus é a palavra de ordem da missão de Jesus: O Espírito nos pede
que esperemos em Deus, mas com as mangas arregaçadas, com o suor de nossos
rostos. Pede-nos que cultivemos esta esperança no amor. Este amor desperta o
que há de melhor em nós, libertando-nos do pecado gravíssimo da indiferença. A esperança
ativa e o amor constituem a realidade redentora de cada pessoa e de toda a
humanidade. Não ouçamos os profetas da desgraça, pois não dorme Aquele que é o
guarda do povo santo em marcha.
Às Igrejas, fala o Espírito, incessantemente: Restaurem o
anúncio da Boa Notícia do Reino de Deus! Renunciem aos vossos interesses e ao
conforto de vossos corpos mortais! Desapeguem-se do dinheiro, da sede pelo
poder e da vaidade! Abandonem a mentira e a confusão! Evangelizem os pobres! Expulsem
de vosso meio os lobos da Assembleia dos fiéis! Desmascarai-os!
Deus
permanece fiel e nada deixa faltar aqueles que o amam. Apesar da força das
águas e da escuridão da noite, a navegação não pode perder o rumo. Cristo é seu
porto seguro. Se é Jesus a nossa rocha, estamos bem alicerçados, e as torrentes
não conseguirão nos derrubar. Se é Jesus o fundamento de nossa fé, então nada, absolutamente
nada conseguirá derrubá-la.
Não
há poder humano superior ao poder das sementes do Reino, que brotam,
silenciosamente, nos quatro cantos do mundo, desde o coração amoroso de tantos
irmãos e irmãs, que seguem Jesus e, mesmo não o conhecendo, vivem unidos a Ele,
numa comunhão misteriosamente forte e inquebrantável.
Estamos
no tempo da graça, e não há desgraça capaz de eliminar os frutos das sementes
do Reino, que surgem e que sempre surgirão, em todo tempo e lugar. É o que o
Espírito fala, desde os corações de muitos, bem como desde o grito dos que sofrem
nas periferias do mundo; grito que, diuturnamente, chega aos ouvidos Daquele
que sempre escuta o clamor dos oprimidos e os liberta das mãos dos opressores
deste mundo.
Tiago
de França
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