sexta-feira, 19 de maio de 2017

A gravidade da crise política brasileira

É muito grave a situação política do Brasil. Vive-se numa realidade que podemos denominar antipolítica, pois a verdadeira política é o oposto daquilo que estamos assistindo. Retrospectivamente, o que ocorreu? Em agosto de 2016, sem provas de crime de responsabilidade, derrubaram a Presidenta Dilma Rousseff.

As pedaladas fiscais, motivo alegado para a sua queda, imediatamente após o processo de impedimento, foram consideradas legais. Hoje, os chefes do poder executivo podem pedalar à vontade! O processo contra a Presidente Dilma tinha que ter um motivo, e as pedaladas constituíram, para aquela situação específica, crime de responsabilidade.

Michel Temer chega ao poder, apoiado por todos aqueles que se empenharam em derrubar Dilma Rousseff: PSDB, DEM, empresários, juristas, juízes, procuradores e tantos outros. Uma vez empossado, não perdeu tempo: anunciou “reformas” que tiveram e continuam tendo o único objetivo de reforçar o poder dos ricos e enfraquecer a força dos pobres.

Com o apoio de um segmento forte do Judiciário, a Constituição começou a ser violada, vergonhosamente. Em nome da ordem e do progresso, passou-se a ceifar os direitos adquiridos a duras penas.

No silêncio da madrugada e no sigilo dos telefonemas, e-mails e encontros, o governo e seus apoiadores continuaram fazendo o que mais sabem fazer: cometer ilícitos, faturando milhões e milhões de reais. Como todo criminoso costuma deixar rastro, nem que seja discreto e quase imperceptível, a bomba explodiu!

Além da grande Odebrecht, chegou a vez da JBS. Delatores firmaram acordos com a Justiça e resolveram dar nomes aos bois. Como era de se esperar, Michel Temer e Aécio Neves, até então intocáveis, passaram a ocupar o centro das atenções: estão sendo acusados pela Procuradoria-Geral da República de articularem meios de obstruir o trabalho da Lava Jato.

Além de obstrução de justiça, conduta grave e ilícita, os mesmos formam um trio criminoso: soma-se à periculosidade dos dois, o ex-deputado Eduardo Cunha, que se encontra preso. Amigo pessoal do ainda Presidente Temer, Eduardo Cunha não quer perder a posição: ocupa lugar central na seara da antipolítica brasileira. Temer sabe do quanto seu amigo é perigoso, caso este se torne seu inimigo.

Eduardo Cunha detém a força de derrubar dois presidentes, consecutivamente. O segundo cairá se abandoná-lo, isolando-o na prisão, sem dar-lhe a devida assistência, inclusive financeira. Centenas de políticos em Brasília estão na mira de Eduardo Cunha, que os tem na palma de suas mãos, pois com ele formaram uma das organizações criminosas mais fortes e eficientes da história recente do Brasil.

Nunca antes na história do País a justiça investigou, processou e prendeu tantos criminosos ricos como agora. As provas são robustas e inúmeras: fotos, vídeos, áudios, documentos. Mediante prova, a justiça tem que condenar. A lei processual penal dispõe de condenação mediante provas.

O judiciário tem a grande chance de se redimir perante a sociedade, considerando que é do conhecimento de todos, que o judiciário, historicamente, sempre ignorou os crimes praticados pelos ricos, em detrimento dos pobres. Parcela do judiciário está envolvida, quer na prática de crimes, quer na omissão, recusando-se a julgar os seus verdadeiros autores. Infelizmente, esta parcela de operadores do direito não arca com as consequências dos seus atos e omissões. Muito raramente um magistrado é condenado por crimes cometidos no exercício de sua função.

O que será do Brasil daqui pra frente? O que pode ocorrer? Rodrigo Maia, atual Presidente da Câmara, é o cogitado para substituir Temer na Presidência. A Constituição prevê eleições indiretas pelo parlamento. Portanto, deputados e senadores irão escolher uma pessoa devidamente alinhada aos seus interesses para ocupar o cargo de Chefe de Estado e de Governo, na Presidência da República. Considerando que a maioria dos que compõem o atual parlamento é inimiga da ética, o resultado poderá ser assustador.

O Brasil poderá ter um novo Presidente pior que Temer. Pelo andar da carruagem, o povo não vai às urnas antes do próximo ano. Indiretamente, será eleito um novo Presidente se conseguirem derrubar Temer. Este já adiantou que não renuncia. Talvez, com possíveis e novas revelações, torne-se impossível que o mesmo continue presidindo o País.

Se o Brasil fosse constituído por um povo consciente e unido, o Temer já teria renunciado. Mas ele sabe que o povo demora para enxergar e reagir. Mesmo com os jornais da Globo permanecendo, curiosamente, sugerindo a sua renúncia, o povo só assiste. É claro que existe toda uma militância política devidamente organizada, que está nas ruas do País, protestando, permanentemente.

Mas a maioria do povo permanece de braços cruzados, esperando que o milagre aconteça: espera-se que a cadeira presidencial seja ocupada por uma mulher ou homem justo, que tire a política brasileira do lamaçal vergonhoso da corrupção e liberte o País das crises política e econômica. Enquanto isso, em Brasília, deputados e senadores, bem como alguns outros agentes interessados em continuar sugando o dinheiro público, se organizam para manter a atual conjuntura intacta.

Finalizamos estas breves considerações com uma pergunta que julgamos fundamental para o momento: Até quando o povo brasileiro vai insistir em continuar elegendo pessoas que, declaradamente, não visam a promoção da verdadeira democracia, pautada na justiça social e nos princípios verdadeiramente democráticos?... Em 2018, caso tenhamos eleições gerais, o povo terá, mais uma vez, a chance de dar um basta nestes abusos, ou, pelo menos, amenizá-los. É o que esperamos.


Tiago de França

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