A vida
é simples. Muito antes de o homem criar a complexidade da vida social, tal como
se configura hoje, viver era algo muito simples. As pessoas não perdiam tempo e
energia para buscar tanta coisa e resolver tanto problema. Em si mesma, a vida
não nos apresenta tantos problemas. Estes são criações humanas. Assim como a
natureza intocada, a vida é plena harmonia e paz. Toda pessoa nasceu para viver
em sintonia com a harmonia do universo, misteriosamente criado para oferecer
vida plena.
A natureza tem muito a ensinar. Nela,
todas as coisas tem o seu lugar. Sem a interferência do homem predador, ela
ensina e promove a harmonia. Tudo nela desempenha harmoniosamente uma função:
plantas, águas, animais, aves, o ar, o calor, a terra etc. Tudo é saudável e
respira vida. Nos primórdios, o homem apareceu no meio da infinita riqueza
natural e se enxergou como parte dela. Essencialmente, o homem é natureza. Somente
depois, perdeu a sensibilidade e a compreensão desta verdade fundamental.
Quando se associou a outros, o homem
descobriu que pode ser feliz con-vivendo
em sociedade. Posteriormente, descobriu também que é preciso aprender a con-viver. Na relação com o outro,
conheceu, no mais profundo de si mesmo, muitas riquezas, mas também muitos
limites: conheceu o amor e sua força transformadora, mas também a indiferença e
sua força destruidora. Nas relações sociais, com o passar do tempo, o homem
criou o poder. Daí em diante, a humanidade passou a desandar, pois nas relações
de poder há sempre uma desigualdade: alguns mandam e a maioria obedece, poucos
vivem com fartura e a maioria padece pela falta do essencial para viver.
De modo geral, os que mandam não pensam
no bem de todos. Há um vício destruidor no poder de mando: o de sempre buscar a
satisfação dos próprios interesses. Usando de sua inteligência, o homem cria e
recria mecanismos de controle, cada vez mais eficientes. Com o capitalismo,
esses mecanismos ganharam dimensões globais. Surgiram grandes corporações
empresariais, e seus proprietários desejam, por meio delas, dominar o mundo. E este
mundo é controlado por elas, que carregam as grandes marcas.
Como não há quem escape da dominação do
capitalismo, pois alcança a todos, direta e indiretamente, muita gente procura
viver de forma alternativa: ousam pensar, sentir, enfim, viver de forma
diferente, na contramão da dominação. Os que dominam tornam a vida difícil, e
buscam sempre controlar a forma de pensar das pessoas, pois sabem que controlando
o pensar, as submetem com facilidade. Milhões de pessoas no mundo já não
enxergam a possibilidade da construção de uma nova humanidade. Isso decorre da
falta de visão da realidade: as pessoas não conseguem enxergar e compreender o
mal presente no mundo. Elas sentem seus efeitos, mas não compreendem a origem e
não sabem quem o provocam.
O capitalismo cria e recria um mundo
doente: a competição e a desigualdade são realidades cruéis. O mundo da
competição tira o sossego das pessoas, obrigando-as a competir para encontrarem
um lugar de destaque. O capitalismo é um sistema que gera desigualdade, pois
não assegura lugar para todos. O surgimento do mundo da exclusão gera uma
sociedade profundamente marcada por pessoas agitadas e violentas. E as pessoas
chegam a este ponto porque o sistema as violenta, oprime e mata.
Essa agitação oriunda da violência,
tanto no âmbito privado quanto no público, tira das pessoas a serenidade, o
discernimento e a paz de espírito. O estresse e a ansiedade tiram a visão das
pessoas, levando-as ao desespero. Assistimos a milhões de pessoas desesperadas
e sem rumo, totalmente desorientadas. Também o medo é outra marca do nosso
tempo, provocado pela insegurança. Atualmente, essa insegurança é oriunda da violência
que cresce cada vez mais, bem como das crises política e econômica que não
chegam a um fim.
Neste clima de perturbação social, as
pessoas não conseguem enxergar a simplicidade da vida, pois são convencidas de
que a vida é difícil e complexa. O sistema, com suas ideologias, ensina que
elas devem viver buscando, se atualizando, consumindo, correndo... De repente,
estas pessoas estão diante da morte, surpreendidas e sem saída, e quando olham
para trás, percebem que a vida passou sem que tenham visto. Milhões de pessoas
morrem sem ter vivido a vida.
Por mais desafiante que seja a vida,
porque o ser humano a tornou, muitas vezes, insuportável, vale a pena viver. Apesar
dos condicionamentos, sempre há brechas para escolhas livres. É necessário aproveitar
essas brechas para que a liberdade apareça. No mais profundo de si e no segredo
da própria consciência, toda pessoa é livre para sonhar e ser feliz. Do reconhecimento
e aceitação daquilo que se é, surge pessoas pacíficas, instrumentos de
transformação do mundo.
Os que tem o dom da fé conseguem ir
além, pois sabem que Jesus era totalmente livre e ensinou o caminho da
liberdade. Os que o seguem trilham o caminho da liberdade em meio às opressões da
vida. Não se trata de mero sentimentalismo, mas de conquista diária, de
compromisso consigo mesmo e com o outro. A simplicidade está na verdade da vida
de cada pessoa. Cada uma traz consigo uma verdade reveladora de si. Conhecer e
aceitar esta verdade é caminho de liberdade. O mundo carece de pessoas livres,
integradas e simples. Viver a vida como ela é, sem fugas nem ilusões: Eis o
caminho que torna uma pessoa simples e livre.
A você que leu estas reflexões,
advertimos e desejamos: Viva a vida como ela é, sem fugas nem ilusões! Assim,
seu testemunho iluminará o mundo. Sejamos felizes!
Tiago
de França
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