domingo, 20 de agosto de 2017

A simplicidade da vida

       
       A vida é simples. Muito antes de o homem criar a complexidade da vida social, tal como se configura hoje, viver era algo muito simples. As pessoas não perdiam tempo e energia para buscar tanta coisa e resolver tanto problema. Em si mesma, a vida não nos apresenta tantos problemas. Estes são criações humanas. Assim como a natureza intocada, a vida é plena harmonia e paz. Toda pessoa nasceu para viver em sintonia com a harmonia do universo, misteriosamente criado para oferecer vida plena.

        A natureza tem muito a ensinar. Nela, todas as coisas tem o seu lugar. Sem a interferência do homem predador, ela ensina e promove a harmonia. Tudo nela desempenha harmoniosamente uma função: plantas, águas, animais, aves, o ar, o calor, a terra etc. Tudo é saudável e respira vida. Nos primórdios, o homem apareceu no meio da infinita riqueza natural e se enxergou como parte dela. Essencialmente, o homem é natureza. Somente depois, perdeu a sensibilidade e a compreensão desta verdade fundamental.

        Quando se associou a outros, o homem descobriu que pode ser feliz con-vivendo em sociedade. Posteriormente, descobriu também que é preciso aprender a con-viver. Na relação com o outro, conheceu, no mais profundo de si mesmo, muitas riquezas, mas também muitos limites: conheceu o amor e sua força transformadora, mas também a indiferença e sua força destruidora. Nas relações sociais, com o passar do tempo, o homem criou o poder. Daí em diante, a humanidade passou a desandar, pois nas relações de poder há sempre uma desigualdade: alguns mandam e a maioria obedece, poucos vivem com fartura e a maioria padece pela falta do essencial para viver.

        De modo geral, os que mandam não pensam no bem de todos. Há um vício destruidor no poder de mando: o de sempre buscar a satisfação dos próprios interesses. Usando de sua inteligência, o homem cria e recria mecanismos de controle, cada vez mais eficientes. Com o capitalismo, esses mecanismos ganharam dimensões globais. Surgiram grandes corporações empresariais, e seus proprietários desejam, por meio delas, dominar o mundo. E este mundo é controlado por elas, que carregam as grandes marcas.

        Como não há quem escape da dominação do capitalismo, pois alcança a todos, direta e indiretamente, muita gente procura viver de forma alternativa: ousam pensar, sentir, enfim, viver de forma diferente, na contramão da dominação. Os que dominam tornam a vida difícil, e buscam sempre controlar a forma de pensar das pessoas, pois sabem que controlando o pensar, as submetem com facilidade. Milhões de pessoas no mundo já não enxergam a possibilidade da construção de uma nova humanidade. Isso decorre da falta de visão da realidade: as pessoas não conseguem enxergar e compreender o mal presente no mundo. Elas sentem seus efeitos, mas não compreendem a origem e não sabem quem o provocam.

        O capitalismo cria e recria um mundo doente: a competição e a desigualdade são realidades cruéis. O mundo da competição tira o sossego das pessoas, obrigando-as a competir para encontrarem um lugar de destaque. O capitalismo é um sistema que gera desigualdade, pois não assegura lugar para todos. O surgimento do mundo da exclusão gera uma sociedade profundamente marcada por pessoas agitadas e violentas. E as pessoas chegam a este ponto porque o sistema as violenta, oprime e mata.

        Essa agitação oriunda da violência, tanto no âmbito privado quanto no público, tira das pessoas a serenidade, o discernimento e a paz de espírito. O estresse e a ansiedade tiram a visão das pessoas, levando-as ao desespero. Assistimos a milhões de pessoas desesperadas e sem rumo, totalmente desorientadas. Também o medo é outra marca do nosso tempo, provocado pela insegurança. Atualmente, essa insegurança é oriunda da violência que cresce cada vez mais, bem como das crises política e econômica que não chegam a um fim.

        Neste clima de perturbação social, as pessoas não conseguem enxergar a simplicidade da vida, pois são convencidas de que a vida é difícil e complexa. O sistema, com suas ideologias, ensina que elas devem viver buscando, se atualizando, consumindo, correndo... De repente, estas pessoas estão diante da morte, surpreendidas e sem saída, e quando olham para trás, percebem que a vida passou sem que tenham visto. Milhões de pessoas morrem sem ter vivido a vida.

        Por mais desafiante que seja a vida, porque o ser humano a tornou, muitas vezes, insuportável, vale a pena viver. Apesar dos condicionamentos, sempre há brechas para escolhas livres. É necessário aproveitar essas brechas para que a liberdade apareça. No mais profundo de si e no segredo da própria consciência, toda pessoa é livre para sonhar e ser feliz. Do reconhecimento e aceitação daquilo que se é, surge pessoas pacíficas, instrumentos de transformação do mundo.

        Os que tem o dom da fé conseguem ir além, pois sabem que Jesus era totalmente livre e ensinou o caminho da liberdade. Os que o seguem trilham o caminho da liberdade em meio às opressões da vida. Não se trata de mero sentimentalismo, mas de conquista diária, de compromisso consigo mesmo e com o outro. A simplicidade está na verdade da vida de cada pessoa. Cada uma traz consigo uma verdade reveladora de si. Conhecer e aceitar esta verdade é caminho de liberdade. O mundo carece de pessoas livres, integradas e simples. Viver a vida como ela é, sem fugas nem ilusões: Eis o caminho que torna uma pessoa simples e livre.

        A você que leu estas reflexões, advertimos e desejamos: Viva a vida como ela é, sem fugas nem ilusões! Assim, seu testemunho iluminará o mundo. Sejamos felizes!
Tiago de França

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