domingo, 27 de agosto de 2017

Para conhecer e permanecer com Jesus

     
      Quando ainda estava com seus discípulos, Jesus quis saber o que se passava na cabeça deles. Certa vez, perguntou-lhes sobre o que pensavam a seu respeito. A resposta de Pedro, um dos discípulos, foi imediata e reveladora: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo” (Mt 16, 16). Jesus afirmou que esta resposta de Pedro foi uma revelação de Deus Pai. Todo aquele que segue Jesus hoje, deve responder à pergunta sobre quem é Jesus.

Não nos parece razoável seguir a um desconhecido. O evangelho nos fala do necessário encontro com Jesus, para conhecê-lo de perto. Para conhecer uma pessoa é preciso aproximar-se dela. A partir da experiência de Jesus, e considerando a realidade religiosa do cristianismo de nossos dias, refletiremos sobre esta necessária aproximação: Aproximar-se para conhecer e permanecer com Jesus.

        Na comunidade cristã, as pessoas escutam falar de Jesus, mas, muitas vezes, não se encontram com ele. É verdade que a comunidade cristã é um dos lugares de encontro com ele. Toda comunidade cristã deveria revelar a presença de Jesus. Infelizmente, há casos nos quais isto não ocorre. Há comunidades que revelam de tudo, menos a presença dele. Nelas encontramos o julgamento, a condenação e as exclusão de pessoas. Na história da Igreja há pessoas que revelaram o significado da filiação divina de Jesus.

        Crer em Jesus como Filho do Deus vivo não é somente professar o credo apostólico na liturgia dominical. É muito fácil crer com os lábios. Oferecer hinos de louvor ao Deus vivo é, certamente, atitude inerente ao crente que professa a fé na comunidade cristã. A liturgia celebra o amor vivido pelos que creem no Deus vivo. Por isso, os que creem precisam, em primeiro lugar, viver o amor. Quem vive no amor, de fato, já celebra a verdadeira liturgia, e proclama, com o testemunho da própria vida, que Jesus é o Filho do Deus vivo.

        Vale a pena lembrar o testemunho de dois bispos, que marcaram a história da Igreja Católica no Brasil: Dom Helder Câmara e Dom Luciano Mendes de Almeida. Neste domingo, 27 de agosto, celebra-se a memória de ambos, pois o primeiro faleceu em 27 de agosto de 1999, e o segundo em 27 de agosto de 2006. Estes bispos possuem muitas coisas em comum, sendo a opção pelos pobres a mais importante. Eles se encontraram com Jesus na pessoa dos pobres. Não foram bispos convencionais, como tantos outros, mas foram profetas do Reino de Deus.

        Dom Helder era poeta, místico e profeta. Cearense de nascimento, tornou-se conhecido pela sua ação pastoral junto aos pobres, pela sua denúncia firme das injustiças, e pelo seu jeito humilde e alegre de ser. Era homem da palavra e do gesto, como todo profeta. Fiel a Jesus, cultivou uma profunda intimidade com o Filho do Deus vivo. Homem de oração, era um contemplativo na ação. Com outros, viveu radicalmente a opção de Jesus. Amado pelos pobres e odiado por muitos ricos, denunciou com firmeza e ousadia os crimes cometidos pela ditadura militar no Brasil. Foi escutado e aplaudido no Brasil e no exterior. Também no seio da Igreja era odiado, tanto por leigos quanto por padres e bispos coniventes com a ditadura. Também o papa João Paulo II não gostava da sua atuação, pois reclamava das viagens do “bispo vermelho” ao exterior, principalmente à Europa. O papa sofria do mal da inveja, assim como tantos outros clérigos da Igreja.

        Dom Luciano era jesuíta, homem dos pobres e místico. Dotado de rara inteligência, mas revestido de grande humildade. Não aparentava ser doutor. Homem de gestos e palavras profundamente marcadas pela profecia, tornou-se um dos bispos mais importantes da história da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, da qual foi secretário-geral e presidente. Profundo conhecedor, defensor e promotor dos direitos humanos, trabalhou, incansavelmente, pela promoção da dignidade da pessoa humana, especialmente dos mais pobres. Em Mariana – MG, como Arcebispo, manifestou a bondade divina como pastor zeloso junto aos pobres. Morreu com fama de santidade, e seu processo de beatificação foi instaurado em 27 de agosto de 2014.

        Dom Helder e Dom Luciano jamais podem ser esquecidos. Hoje, mais do que em outras épocas, a Igreja Católica no Brasil precisa reler a biografia destes dois santos. Eles compreenderam e anunciaram a mensagem de Jesus. Foram missionários do evangelho da caridade, da verdade e da liberdade. Ambos nos indicam o caminho de Jesus, caminho de profecia: anúncio da Boa Notícia do Reino e denúncia dos crimes contra a vida do povo de Deus. Todo o povo de Deus, principalmente os líderes religiosos, precisam aprender com estes santos, a aderir à proposta de Jesus: o Reino de Deus.

        Hoje, Dom Helder e Dom Luciano nos ensinam a denunciar o que está acontecendo no Brasil. O País está sendo governado por uma organização criminosa, que faz o que quer, sem ser devidamente punida na forma da lei. Muitos criminosos não estão sendo punidos, apesar de seus crimes serem de conhecimento público. O governo federal não é governo, mas desgoverno. Todas as medidas tomadas são contrárias ao bem comum e, portanto, violam os direitos e garantias fundamentais. A reforma trabalhista, que já é lei, bem como a previdenciária e tributária, que estão por vir, atentam contra a dignidade de todos os brasileiros.

Recentemente, o desgoverno anunciou a realização de dezenas de privatizações, a extinção de uma reserva ambiental de milhões de hectares de terra, e tantas outras medidas que estão em curso, demonstram, claramente, que o Brasil está sendo, gravemente, violentado. Neste sentido, a Igreja precisa posicionar-se aberta e profeticamente, assim como Dom Helder e Dom Luciano se pronunciaram, quando exerceram, com ousadia profética, a missão de pastores do povo santo de Deus.

O povo está sendo violentado, e os pastores precisam erguer a voz. Não pode a Igreja ser omissa, pois “As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração” (Constituição Pastoral Gaudium et Spes, n. 01). Hoje, assiste-se no Brasil a muita angústia, tristeza e sofrimento, provocados por quem explora, impiedosamente, o povo.

Os pobres e todos aqueles que sofrem precisam da voz profética da Igreja, a fim de que tais abusos e crimes sejam, incansavelmente, denunciados. A Igreja precisa proclamar a verdade sobre os telhados, para que o povo não seja enganado por aqueles que mentem e se utilizam de todos os meios possíveis para sustentar suas mentiras. Que o testemunho profético e missionário de Dom Luciano e Dom Helder nos inspire e nos desperte para o conhecimento da verdade, a prática da caridade e da liberdade. Assim como eles, não podemos calar. A profecia não pode cair. O Espírito de Jesus nos impele a falar e lutar. A esperança dos pobres vive!

Tiago de França

3 comentários:

Cazuzinha Neto disse...

Parabéns Tiago França, por sua visão e forma de expor um assunto tão pertinente como o que está se passando em nosso país. Este,por sua vez entrelaçado na história de dois grandes homens que há época buscou a defesa dos menos favorecidos, Acredito que estes também sofreram perseguições assim como Jesus Cristo com sua passagem em defesa do povo que sofria.

Sempre acompanhado seus posts!

SERVICO SOCIAL E VULNERABILIDADE SOCIAL disse...

Parabéns meu grande amigo.

Tiago de França disse...

Obrigado, amigos, pela apreciação do texto!
Abraço fraterno,
Tiago de França