Disse
Jesus: “Em verdade vos digo que os
cobradores de impostos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus” (Mt
21, 28 – 32).
Jesus era escandaloso, e os mais religiosos nunca gostaram
disso. Até hoje é assim: muitos religiosos não gostam de algumas páginas do
Evangelho, porque nelas aparece Jesus “dando valor a quem não presta!” Os “convertidos”
são unânimes em dizer: “Não se pode dar valor a quem não presta! Deve-se viver
longe dessa raça de pecadores!” Estes religiosos vivem na contramão da mensagem
de Jesus. O que fez e ensinou o Filho de Deus? Com seu testemunho, ensinou que
no Reino de Deus os pecadores tem precedência.
Será que Jesus está nos induzindo ao pecado? Estará nos
ensinando que devemos pecar para alcançar o Reino de Deus? Lógico que não! O pecado
existe e destrói o ser humano, afastando-o do caminho que conduz à vida. Pecado
é sinônimo de morte. Ninguém ganha nada se entregando ao pecado. Mas o pecado
não pode ser usado por quem se diz religioso para julgar e condenar os outros. Jesus
reprova o juízo e a condenação dos pecadores. Quem é o santo, justo e perfeito,
para julgar e condenar quem peca? Quem, nesta vida e neste mundo, não peca?...
A ninguém Jesus deu o poder de julgar e condenar.
Aos profissionais da religião judaica, sacerdotes e anciãos do
povo, Jesus é enfático: Os cobradores de impostos e prostitutas precederão a
vocês no Reino de Deus! Deve ter sido muito dolorido ouvir isso da boca de
Jesus. Os sacerdotes e anciãos se consideravam justos diante de Deus porque
conheciam a letra da lei, esforçando-se em cumpri-la.
Eram
rubricistas, portanto, dados à aplicação literal da lei, considerando-a fonte
de salvação. Jesus os desmascara, mostrando que não é a lei que salva, mas o
amor de Deus. E este amor acolhe a todos e se revela na vida dos pecadores. Por
isso, os cobradores de impostos e as prostitutas conheciam o que os mestres da
lei não conheciam: o amor de Deus.
Na época de Jesus, estas categorias de pecadores eram vítimas
do desprezo. Eram julgados e condenados pelos religiosos do Templo e das
sinagogas. No espaço público, viviam expostos ao escárnio. Sabendo disso, e
consciente da sua missão, concedida por Deus Pai, Jesus escandaliza a todos:
Vai ao encontro destes pecadores e com eles passa a conviver.
Como
pode, aquele que chamam de Messias, se misturar com os pecadores?... Esta é a
pergunta que fala da inquietação e do incômodo dos mestres da lei da época. Entendiam
que o Messias seria alguém puro, que jamais se misturaria com pecadores. Jesus revelou,
com o testemunho de sua vida, que o verdadeiro Messias não é assim.
Hoje, no seio das Igrejas cristãs reina o que denominamos
farisaísmo religioso. Como este farisaísmo tem se revelado? Há grupos
religiosos que se consideram justos e santos, observantes dos preceitos
religiosos, desprovidos do amor e compaixão pelo próximo.
Na
Igreja Católica, grupos ultraconservadores resolveram intensificar a
perseguição ao Papa, acusando-o de heresia. A acusação não tem procedência
porque o Papa está plenamente alinhado à mensagem de Jesus e, justamente por
isso, tem incomodado muita gente no seio da Igreja e fora desta. Os
ultraconservadores não aceitam o Evangelho de Jesus, mas são dominados por uma
incontrolável sede de poder e autoafirmação. São fariseus ousados, que estão a
serviço das forças que separam e dividem a Igreja.
Na sua relação com a sociedade, o cristianismo está muito mal
representado: Há inúmeros membros de várias Igrejas cristãs que se dedicam a
julgar e condenar as pessoas. Atualmente, há dois grupos que estão sendo
brutalmente perseguidos por cristãos ultraconservadores no Brasil: LGBT e
membros da umbanda e do candomblé.
As notícias
são assustadoras: O número de assassinatos de gays e travestis tem aumentado,
assustadoramente, bem com a destruição de lugares sagrados nos quais se
celebram os rituais das religiões afro-brasileiras cresce cada vez mais.
A intolerância
religiosa tem ganhado espaço, escandalosamente. Lésbicas, gays, bissexuais, transexuais
e membros das religiões afro-brasileiras são, hoje, os “pecadores públicos”, a
quem Jesus dirige as mesmas palavras que dirigiu aos publicanos e prostitutas
do seu tempo.
Aos líderes
religiosos e a todos os cristãos, que se ocupam com o julgamento e condenação
das pessoas, considerando-se melhores que os outros, Jesus diz: Em verdade vos digo que as lésbicas, gays,
bissexuais, transexuais, os membros das religiões afro-brasileiras e todos
aqueles que são desprezados pelas religiões vos precedem no Reino de Deus. O
Deus e Pai de Jesus ama e acolhe a todos, sem distinção. E todo aquele que nele
crê deve fazer o mesmo, pois amar a Deus é amar o próximo como a si mesmo, sem
distinção.
Assim,
o farisaísmo é um pecado grave, que faz muito mal à religião cristã. Jesus condenou
com veemência a hipocrisia dos fariseus, e foi perseguido por eles. O fermento
dos fariseus é muito perigoso. Trata-se de um veneno mortal, que ceifa a vida
de muitos.
Desse
modo, é uma contradição afirmar que acreditamos em Deus, condenando as pessoas.
A fé e a condenação são realidades irreconciliáveis. Quem tem fé se reconcilia
consigo mesmo, com suas fraquezas e limitações. Uma pessoa de fé é alguém capaz
de aceitar-se, para amar e aceitar o outro. Cada pessoa, independentemente de
seus pecados, é morada de Deus.
Adora-se
a Deus, amando-o nas pessoas. Portanto, o cristão deve reconhecer o seu pecado,
e ajudar os outros a superar também suas fraquezas. Quem não se reconhece
pecador, fragilmente humano, é incapaz de amar. Quanto mais humilde para
reconhecer suas fraquezas, mais aberta se torna a pessoa para amar o outro. Esta
é a vontade Deus. E este Deus está onde reina o amor, afastando, assim, toda
espécie de indiferença e condenação. Todos somos pecadores, e no amor a gente
conhece e encontra Deus, que deseja ser Tudo em todos, desde sempre e para
sempre. Amemo-nos!
Tiago
de França