Este dia não pode passar
despercebido. Trata-se do Dia do Professor: O único profissional responsável
pela formação dos demais profissionais. Na qualidade de professor, queremos
oferecer algumas provocações a partir da nossa experiência pessoal.
Inicialmente, é preciso dizer que o professor não é um mero
repetidor nem transmissor de conteúdos. Qualquer pessoa pode fazer isso. O professor
não é qualquer pessoa. Apesar de que, muitas vezes, muitos professores se
permitem ser reduzidos a isso. Antes de mais nada, o professor é um educador.
Educar não se reduz a ensinar bons modos. Educar é despertar
no outro o desejo de pensar. O aluno precisa ver no professor um despertador da
consciência crítica. Esta consciência surge por um intenso e gradual trabalho
que ocorre no mundo da educação. A escola é o lugar da fomentação desta consciência.
O trabalho do professor é uma arte, que exige perseverança e
muita paciência. Cada aluno tem seu ritmo e seu contexto histórico. Como dizia
o filósofo Ortega y Gasset, cada pessoa é um “eu e suas circunstâncias”. E o
professor é chamado a considerar isso. A educação é um infinito trabalho de
lapidação das pessoas. O aluno vem à escola, com suas histórias, pré-conceitos,
saberes, hábitos, tradições etc., e o professor aproveita tudo isso para
despertar nele a necessidade de tudo avaliar, criticamente.
Atualmente, o trabalho do professor tem aumentado e se
tornado desafiante. Diante da onda neoconservadora que tem tomado conta do
País, nós, professores, estamos nos perguntando: O que está acontecendo? Será
que temos desempenhado bem a nossa missão? De onde vem toda essa cultura da violência?
Por que tanta gente de mente fechada e embrutecida? É verdade que a escola não
cultiva a cultura do ódio e da indiferença. Nenhum professor que se preze, por
mais mal preparado que seja, cultiva na mente do aluno a cultura da violência. Também
é verdade que a escola precisa se empenhar melhor no combate a esta cultura da
intolerância, que ousa imperar na sociedade.
Outro grande mal que tem surgido atualmente, e que tem
dificultado demais o trabalho do professor, e que, infelizmente, tem ganhado
corpo na sociedade, é a proposta denominada “Escola sem partido”. Trata-se de
uma ideologia neoconservadora que nasceu com a pretensão de tirar a liberdade
de lecionar do professor. Sem liberdade não há educação. A educação existe em
função da liberdade. Como ensina o grande cientista da educação, Paulo Freire:
Educa-se para a liberdade. Quando se proíbe o professor de tratar determinado
assunto, o que se quer, na verdade, é limitar o espaço da discussão do
conhecimento. Em um regime democrático de direito isto é muito grave, pois
contraria a liberdade de expressão concedida nos termos da Constituição da
República em vigor.
Hoje, o professor não pode deixar de lado a sua missão,
deixando-se dominar pela omissão e pela covardia. As crianças, adolescentes e
jovens são as principais vítimas da alienação oriunda da falta de consciência crítica.
O professor é o único profissional capaz de despertar em todos o sublime gosto
pelo pensar, e por meio deste, ensina-se a todos a aprender a analisar,
criteriosamente, a realidade de si mesmo e do mundo; tendo em vista a
realização das transformações necessárias para o verdadeiro progresso e
evolução humana. Não há verdadeiro progresso sem uma educação verdadeiramente
libertadora. Há de se trabalhar sempre para assegurar às pessoas a realização
da sua vocação primeira: a vocação para o pensar.
Particularmente, como professor de filosofia e educação
religiosa, tenho procurado desempenhar esta árdua, mas gratificante missão:
Levar o aluno a enxergar a realidade, despertando o desejo de pensar,
criticamente. O aluno pode até não se dar bem na apreensão dos conceitos
básicos do conteúdo, mas se é capaz de enxergar o que está por trás daquilo que
se apresenta como óbvio, já me deixa de alma lavada. Tenho alunos que me dão
esta alegria: A de se apaixonarem pela busca do conhecimento, insaciavelmente.
Por isso,
apesar de um sistema educacional que precisa ser revisto na perspectiva da
criação de sujeitos livres e, portanto, autônomos, sou professor porque
acredito na transformação das pessoas. Sou professor porque acredito em outro
mundo possível, a ser construído por pessoas livres e libertadoras, conscientes
de si mesmas e do que acontece ao seu redor. Esta é a minha bandeira. Esta é a
minha esperança. Pela a libertação integral das pessoas e erradicação da ignorância
geradora de todo tipo de intolerância e violência, sou professor, e com muito
orgulho!
Com
estima e consideração à minha genitora, Cícera Luís de França, minha primeira
professora, que me ensinou a ler, contar, enxergar e ser gente! Aos meus
professores de ontem e de hoje, a minha eterna gratidão.
Prof.
Tiago de França
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