Na vida, há quem vive
e há os que meramente sobrevivem. Inúmeros são os fatores que levam à
sobrevida, e um deles é a dispersão. Nestas breves linhas, queremos falar da importância
do viver despertos a partir de uma experiência pessoal de encontro com o
despertar. Permita-me uma breve partilha fraterna sobre o tema.
Quando seminarista na comunidade dos
Irmãos e Padres Lazaristas, conheci um santo homem que viveu a experiência do
despertar. Era noviço, e durante o ano, o santo padre vinha ao nosso encontro. Era,
de fato, um santo padre. Chamava-se Geraldo Ferreira Barbosa (in memoriam). Aos
noviços, ele falava sobre espiritualidade. Com ele, conheci a espiritualidade
cultivada e ensinada pelo místico jesuíta Anthony de Mello.
Observava bem a maneira como o padre
Geraldo nos falava. A mansidão, humildade, desapego e alegria eram
contagiantes. Estas eram suas qualidades. Em particular, sempre conversava com
ele. Ao deixar o processo formativo, tive a graça de conversar, longamente, com
ele. Escutei palavras sábias de um homem santo e sábio, que as guardo no
coração.
Com Anthony de Mello e com o padre
Geraldo aprendi a ler o evangelho de Jesus na perspectiva da espiritualidade do
desapego e da atenção. Passei a praticar esta espiritualidade, que é a mesma
que Jesus praticou em sua peregrinação terrena. Em minha experiência particular,
tenho experimentado os efeitos desta espiritualidade, e o maior deles é a graça
de viver o presente, porque neste está a vida. Esta, de fato, acontece no aqui
e agora. É pura manifestação da graça de Deus.
O que significa estar atento? Significa permanecer
acordado. Viver dormindo é o mesmo que não perceber a vida, não experimentá-la;
é viver acorrentado pelas preocupações da vida, pelos apegos, pelos desejos e
ambições, é ser escravo de si mesmo e dos outros. Infelizmente, a grande
maioria das pessoas sobrevive assim. Não sabem nem experimentam a liberdade dos
filhos e filhas de Deus.
Quem vive em estado permanente de
atenção tem o dom da visão da vida: enxerga a vida como ela é, sem fugas nem
ilusões. Trata-se de um despertar para a vida; um despertar que dura a vida
toda. Nem a morte consegue tirar a vida de quem realmente conseguiu despertar,
pois quem desperta já se libertou do medo e do poder da morte. Quem vive
desperto é reconciliado com a própria morte. Assim, o morrer se torna lucro.
Para despertar é necessário viver,
permanentemente, a experiência do desapego. Desapegar-se de si mesmo, das
coisas, das pessoas e dos acontecimentos. Viver a vida com liberdade, sem se
deixar prender a nada. Amar a todos na liberdade e para a liberdade. Trata-se
de uma experiência de leveza, de mansidão e de gratuidade. Pessoas desapegadas
são livres e leves, são alegres e destemidas, compassivas e esperançosas. São pessoas
que não vivem sofrendo por causa das preocupações da vida, pois confiam
plenamente na divina providência. Elas vivem a certeza de que Deus jamais as
abandona.
Neste domingo, os cristãos da Igreja
católica iniciam a experiência do tempo litúrgico do advento, preparando-se
para a celebração solene do Natal de Jesus. No evangelho, Jesus recomenda a vigilância.
Vigiar é permanecer acordado e em ação; é viver a experiência da atenção e do
desapego. Sozinho, ninguém é capaz. O mesmo Deus que chama para viver despertos
é quem concede a graça desta experiência feliz. Há muito o que se falar sobre a
experiência do despertar, mas a linguagem humana é incapaz de explicitar o que
Deus faz na vida daqueles que se abandonam em suas mãos e à sua graça.
Por isso, vale a pena se arriscar e
experimentar. Somente assim, conhecerá a vida e vivê-la-á abundantemente. Quem quiser
viver de verdade, libertando-se da vida mesquinha e medíocre, deve se abrir à
generosa e misericordiosa ação de Deus, que, silenciosa e discretamente, nos
faz conhecer o verdadeiro sentido da vida e a verdadeira alegria de viver. Do contrário,
as pessoas não passam de cadáveres ambulantes, que experimentam o gozo das
alegrias passageiras, iludindo-se a si mesmas, pensando que são felizes.
Quem quiser conhecer e experimentar a
vida, acorde e desapegue-se!
Tiago de França
Obs: Na foto, segurando o cálice, o Pe. Geraldo Ferreira Barbosa, C.M.
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