domingo, 20 de maio de 2018

O Espírito sopra onde quer


“Recebei o Espírito Santo” (Jo 20, 22).

        Após a celebração da ascensão do Senhor, hoje celebramos Pentecostes, festa solene da manifestação do Espírito Santo. Sobre este Espírito podemos dizer muitas coisas, mas jamais diremos a plenitude do seu significado para a história da caminhada do cristianismo no mundo. O Espírito continua sendo mistério de fé. Para conhecê-lo, precisamos de abertura e fé. Abertura para acolhê-lo, fé para aderir à sua ação misteriosa e salvadora.

        Quem vive sob a ação do Espírito sabe da sua força. Nada resiste à sua ação. Na história, Ele faz acontecer o projeto salvador de Jesus, tornando-o conhecido e experimentado. Não há como seguir Jesus sem a graça do Espírito. Sabendo disso, antes de sua ascensão, Jesus promete o envio do Espírito. E este não foi enviado pelo Pai e por Jesus para nos fazer uma rápida visita, mas veio para permanecer, para acompanhar a caminhada humana na história, rumo à sua realização final.

        Unido ao Pai e ao Filho, o Espírito permanece conosco. Manifesta-se como sopro, invisível aos nossos olhos, mas conhecido do nosso coração. Exige-nos acolhida e disponibilidade. Quem não deseja agir para transformar o mundo e construir o Reino de Deus, não pode invocá-lo. O Espírito conduz à ação. Ele é Deus agindo no mundo e revelando, progressivamente, o grandioso projeto de salvação universal. Não há como acolher o Espírito sem adesão a este projeto de vida plena para todos.

        O Espírito é livre e libertador. Livre porque ninguém o domina, nem determina a sua ação. Não são os homens que orientam a sua ação. Por isso, é ilusão pensar que os religiosos são donos do Espírito. Este não é propriedade de nenhuma religião, instituição ou liderança religiosa. O Pai e o Filho não enviaram o Espírito para criar religião, instituição e crenças religiosas. Estas coisas são criações humanas. Pode o Espírito se servir delas, certamente. Mas Ele está muito além, e nos concede a graça de sempre superá-las, no sentido de não nos deixar presos a elas.

        Certamente, o Espírito também não serve ao mero espiritualismo presente em nossas experiências religiosas. Buscando seus próprios interesses, muitas vezes econômicos, muitos deturpam o sentido da presença do Espírito nas comunidades cristãs, levando as pessoas a crer que o Espírito existe para realizar milagres. Esta visão reducionista e deturpada do Espírito causa confusão e ilusão. Nas situações confusas e ilusórias não encontramos a ação do Espírito, porque este ilumina e concede o dom do discernimento. Na confusão de muitos cultos, nos quais ocorrem verdadeiros shows de milagres, não está o Espírito.

        Na contemplação e na ação transformadora do mundo está o Espírito. Ele orienta, ilumina, guia, inspira, encoraja, tranquiliza, anima, auxilia e santifica o discípulo missionário de Jesus. Todo aquele que se coloca no caminho de Jesus encontra no Espírito a força necessária para se manter firme e fiel até o fim. É o Espírito que concede e mantém nos crentes o dom da fé. Por meio da contemplação e da ação, o discípulo missionário vai se deixando conduzir, e vai conhecendo cada vez mais o Espírito. Este, com o Pai e o Filho, nunca se revela de uma vez. A sua revelação vai acontecendo na medida em que vai sendo acolhido no coração daquele que crê.

        Na intimidade de cada discípulo missionário de Jesus, o Espírito vai se revelando e se manifestando. Esta manifestação é muito suave, silenciosa e discreta. Toda espetacularização contradiz a ação do Espírito. Não há estrelismo. É tudo mistério. Neste campo, a linguagem humana é incapaz de descrever. O Espírito é sempre imprevisível. De repente, ele sonda e envia o discípulo missionário para onde Ele quer. Tudo ocorre em função da missão. Nada acontece em função da vaidade pessoal do discípulo missionário. Este, deixando-se conduzir pelo Espírito, não se transforma em alguém que passa a deter poderes sobrenaturais. Isso é ilusão. O Espírito se manifesta a partir de nossas fraquezas. Ele se serve até de nossos pecados para manifestar a sua graça.

        Há alguns sinais que acompanham, ora de forma visível, ora de forma bem discreta, aqueles que estão sendo conduzidos pelo Espírito. Este torna a pessoa mais sensível à dor dos outros, fazendo despertar o amor e a compaixão. Guiado pelo Espírito, o cristão é alguém que se entrega ao amor-doação. No amor tudo pode acontecer. O amor se manifesta de várias formas. O Espírito o torna fecundo e libertador. O Espírito também concede alguns dons aos que a Ele se entregam. Estes dons são concedidos de acordo com as pessoas e seus contextos. O Espírito está atento às necessidades do povo de Deus, e vai fazendo surgir no meio deste povo mulheres e homens capazes de assumir determinados serviços. Estes serviços estão sempre em função do Reino de Deus.

        Por fim, é preciso afirmar que dentro e fora de nossas Igrejas o Espírito está agindo. Ele é força permanente. Ele sonda todas as realidades. Nada lhe é estranho nem desconhecido. Dentre os dons que Ele nos concede, está o dom da visão da realidade. Este dom é maravilhoso. Por meio dele, a pessoa permanece acordada, livre das ilusões e da confusão deste mundo. Este dom também faz brotar na pessoa um outro dom importantíssimo: o da sensibilidade. Como ser sensível à realidade se não a vejo? Mas o dom da visão não confere somente a graça de permanecermos acordados na vida, mas nos oferece também a divina oportunidade da visão de Deus. O Espírito nos faz enxergar Deus em todas as coisas. Nada neste mundo é tão belo e infinitamente maravilhoso quanto a visão de Deus!

        Que este Espírito nos mantenha fieis a Jesus, hoje e sempre.

Tiago de França

Nenhum comentário: