“Onde
vamos comprar pão para que eles possam comer?” (Jo
6, 5).
O relato da multiplicação dos pães e peixes é, de fato,
belíssimo (cf. Jo 6, 1 – 15). O texto traz inúmeros detalhes que merecem a
nossa atenção. A indagação acima transcrita nessa breve meditação me chamou a
atenção. Jesus demonstra preocupação com a grande multidão que o seguia. Ele teve
que oferecer a palavra, os gestos e o pão. A multidão faminta precisava do
alimento: pão e peixe, refeição comum da época.
Quando li a pergunta de Jesus, dirigida a Filipe, seu discípulo,
logo pensei: Tenho me preocupado com a falta de pão na mesa das pessoas que
padecem pela falta de alimento? Dentro das minhas possibilidades, o que tenho
feito? Preferi meditar algumas horas, antes de redigir estas linhas. Precisamos
levar o Evangelho de Jesus a sério, para não cairmos na tentação de celebrarmos
belamente a liturgia no templo e fingirmos que estamos em comunhão com Jesus, o
Pão enviado do Pai. O nosso louvor deve permanecer em sintonia com o nosso
viver.
No Evangelho segundo João, o sinal da multiplicação não foi a
realização de uma mágica. Jesus não era mágico. Ele não fez três pães e dois
peixes se transformarem, do nada, em alimento suficiente para mais de cinco mil
pessoas. Jesus não era mágico, nem embusteiro nem charlatão. Hoje, ninguém está
autorizado a fazer mágica em nome de Jesus. Ele não nos enviou para realizar
tais coisas. Devemos estar atentos com as deturpações que se fazem desse texto
em muitas de nossas Igrejas cristãs. A todos os cristãos, Jesus pergunta hoje:
Vocês estão realmente preocupados com os que passam fome? O que vocês estão
fazendo para saciá-los?...
Jesus nos fala do dom
da partilha fraterna do pão. Há pão para saciar a fome de todos, mas nem todos
tem acesso ao pão. Não falta pão, mas falta solidariedade. Esta não encontra
espaço numa sociedade marcada pelo egoísmo. Quem é incapaz de partilhar também
é incapaz de amar. E isto é muito grave. Todo aquele que deseja seguir Jesus
precisa estar disposto a partilhar. Não existe seguimento de Jesus fora da
partilha fraterna do pão. Não existe meio termo. No caminho de Jesus a vida é
partilhada com os outros. O seguidor de Jesus vive para os outros e não para si
mesmo.
A mensagem é muito simples, mas bastante exigente. A partilha
do pão exige a visão dos outros. Como partilhá-lo se não se enxerga os
famintos? Mas não basta ver. É necessário sentir compaixão, e este sentir está
intimamente ligado ao ir ao encontro dos outros. Todo faminto é um irmão em
Cristo Jesus, é um outro Cristo, que nos olha nos olhos e nos interpela sem
cessar. Como vamos deixar um irmão de Jesus passar fome? Que tipo de fé temos? No
âmbito da fé cristã não há espaço para a indiferença. Um cristão que sabe o que
realmente significa ser cristão não é indiferente aos outros. Qual o sentido de
acumular o pão, vivendo ao lado de quem dele necessita e não tem?...
Há muitos pães para partilhar: o pão da mesa (alimento); o
pão da palavra que acolhe, orienta e conforta; o pão do olhar acolhedor; o pão
do sorriso que atrai; o pão do abraço que recebe e transmite boas energias; o
pão da compreensão diante da situação dos outros; o pão da alegria diante das
situações desesperadoras; o pão da verdade quando estamos diante da mentira; o
pão do perdão das ofensas recebidas; o pão das mãos abertas e estendidas aos
caídos; o pão da escuta daqueles que precisam ser escutados; o pão da simples
presença que confere alegria, conforto e segurança... Há tantos pães que
podemos partilhar com os outros. Não sejamos egoístas. Estes não participam do
Reino de Deus.
Para os líderes de nossas Igrejas, Jesus faz o apelo: Meus
irmãos, o povo está aí, diante de vocês, sentado na relva, de mãos estendidas e
com olhar esperançoso, com um clamor ensurdecedor, olhando nos olhos de cada um
de vocês... Vocês não podem abandoná-lo, nem ignorá-lo. É de vocês a
responsabilidade de saciar a fome deste povo. Sejam fieis. Deem o devido
alimento e façam a festa da partilha acontecer. Façam isso em memória de mim.
Tiago de França
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