“Se
você é neutro em situações de injustiças, você escolhe o lado do opressor”.
Desmond Tutu, Nobel
da Paz 1984.
Amigos/as,
Nesta Carta Aberta quero compartilhar, em breves linhas, uma
questão que tem me deixado inquieto e preocupado, desde o dia do registro das
candidaturas à presidência da República. Nesta Carta, quero me dirigir,
especialmente, aqueles que professam a fé em Jesus Cristo, como membros de qualquer
Igreja cristã. Não importa a qual Igreja você pertença, pois todo cristão tem a
mesma fé em Jesus. O que muda é a forma como esta fé se manifesta. Só há uma fé
cristã, pois um mesmo é o Senhor de todos, Jesus, o Messias enviado pelo Pai.
Quero apelar para o bom senso e para a reta consciência de
cada um, considerando os riscos a que estamos expostos, neste momento difícil
de nossa história. O cenário eleitoral deste ano está marcado por candidaturas
de todo tipo, visando o preenchimento das vagas para as assembleias
legislativas nos Estados, a Câmara dos deputados e Senado Federal, governos
estaduais e presidência da República. Temos bons cidadãos concorrendo a estas
vagas, bem como políticos novos e antigos, reconhecidamente corruptos e
conhecidos por praticamente toda a população. Não quero aqui elencar os nomes,
pois não caberiam no espaço desta Carta.
Antes de falar da fé cristã e o voto em Jair Bolsonaro, quero
chamar a atenção para a importância de boas escolhas de políticos para os
cargos de deputado estadual, federal e senador. O governador precisa da assembleia
legislativa para governar. Ele não governa sozinho. O mesmo ocorre com o
Presidente da República: necessita do trabalho e da colaboração dos deputados
federais e senadores. O Presidente não cria leis, mas apenas as executa e
administra o orçamento público devidamente aprovado no Parlamento (Câmara e
Senado). Deputados e senadores criam leis, fiscalizam o Presidente e
desenvolvem outras funções importantes para o andamento do País. Por isso,
façam boas escolhas ao votarem para os cargos do Legislativo.
Você que leva a sério a fé cristã, seguindo Jesus no seio de
uma determinada Igreja, católica ou protestante, considere as seguintes
questões: De acordo com a mensagem de Jesus, presente no seu Evangelho, pode um
cristão ser favorável à tortura? É correta a atitude de um cristão que cultiva
a cultura do ódio? É permitido ao cristão ser favorável à pena de morte e à
prisão perpétua? Pode um cristão afirmar que a mulher é inferior ao homem,
tentando, assim, justificar que no mercado de trabalho deva ela ter um salário
menor que o do homem, desempenhando a mesma função? É correta a atitude do
cristão que deseja a morte de outras pessoas que não compartilham das suas
ideias e posicionamentos? Pode o cristão ser favorável à ditadura militar, que
em vários países da América latina, inclusive o Brasil (de 1964 a 1985), ceifou
a vida de milhares de pessoas contrárias ao regime? É correta a atitude do
cristão que possui e apoia posturas autoritárias e violadoras das liberdades e
dos direitos e garantias fundamentais? Pode o cristão se utilizar do nome de
Deus para enganar e se aproveitar da boa fé das pessoas, visando ganhar a eleição?
É coerente a atitude de quem afirma ter Deus no coração, e no espaço público
desrespeita e agride as pessoas?
Amigos e amigas, se você leva a sério a fé que tem em Jesus,
sabe que o amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo é a
regra de vida de todo cristão. O amor é a lei do cristão. Nada substitui o
amor. Sabemos bem que quem realmente acredita em Deus e vive segundo os seus
ensinamentos e segundo o seu amor, não pode ser conivente com tudo aquilo que
fere e tira a vida das pessoas. Desse modo, a tortura, a cultura do ódio, a
pena de morte, a prisão perpétua, a desrespeito às mulheres, o desejar a morte
dos outros, os regimes ditatoriais, o autoritarismo, a violação das liberdades individuais
e coletivas, a violação dos direitos e garantias fundamentais, o uso indevido do
nome de Deus, e a rejeição das diferenças e da diversidade são atitudes contrárias
à fé cristã. Quem segue Jesus não deve aderir a tais posturas.
No campo político, o seguidor de Jesus deve abraçar a verdade
e a liberdade, a justiça e o amor, a cultura do encontro e da solidariedade, do
respeito às diferenças e da promoção da vida em todas as suas dimensões. A
postura de quem segue Jesus e afirma ter Deus no coração é mercada pela doçura,
mansidão, respeito, abertura, reciprocidade, suavidade, afeto, fé que se traduz
em atos e não em meros discursos, acolhida e ternura. Quem crê em Jesus não se
habitua a ser violento com os outros. Jesus não era violento nem promoveu a
cultura da violência, mas denunciou, com firmeza e mansidão, a violência que os
poderosos do império romano praticavam contra os pobres.
Amigos e amigas, o Brasil não pode ser governado por um
Presidente que não reconhece a banalidade do mal presente na ditadura militar
que violentou o povo brasileiro por vinte e um anos. Negar que houve a ditadura
militar é abrir a possibilidade de que a mesma experiência terrível se repita. O
candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro é general da reserva do
exército. Muito antes de ser escolhido para ser o candidato a vice, em diversas
ocasiões, tem demonstrado que seria uma verdadeira tragédia a vitória de Jair
Bolsonaro nas eleições deste ano. Personalidades importantes, de diversas áreas
do conhecimento e das artes, no Brasil e no exterior, tem alertado para este
risco. Todos são unânimes ao afirmar, categoricamente, que Jair Bolsonaro e seu
vice representam uma gravíssima ameaça à democracia brasileira e à América
latina.
Por fim, caros amigos e prezadas amigas, além da
incompatibilidade com a fé em Jesus acima descrita, quero fazer referência a
outro ponto, que também é muito grave: Jair Bolsonaro não pensa nos mais
pobres. Em nenhum momento da sua campanha e da sua longa trajetória política
(há 28 anos como deputado), ele se referiu nem se refere aos pobres. Suas promessas
e propostas inviáveis somente visam prejudicar os mais pobres.
Para
citar somente uma delas: a promessa de que, se eleito, o “cidadão de bem” terá
uma arma de fogo para se defender dos criminosos. Todos sabemos que os pobres
não tem condições de comprar armas e munições. Todos sabemos que armas só
servem para matar. Sabemos também que não é com armas que se combate a
violência. É dever do Estado e não do cidadão cuidar da segurança pública. Para
esta área, o candidato não tem uma proposta sequer que seja razoável e que
possa ser implementada. Além disso, também sabemos que o Presidente da
República não tem, sozinho, o poder de liberar, irresponsavelmente, o acesso às
armas. Quem quiser um exemplo de país no qual o poder das armas não resolve o
problema da violência, basta analisar e considerar a situação dos Estados
Unidos da América: lá o acesso às armas é praticamente livre, e a consequência
é que aquele país é um dos mais violentos e inseguros do mundo.
Não quero finalizar esta Carta Aberta, recomendando o voto em
um determinado candidato. O voto é livre e secreto. O que recomendo é que não
votem em candidatos que não olham para os pobres. A maioria do povo brasileiro
é pobre, e o futuro Presidente da República precisa demonstrar, com clareza e
com propostas viáveis e convincentes, interesse em trabalhar, incansavelmente,
para reduzir as alarmantes e escandalosas desigualdades sociais que assolam o
País. Jair Bolsonaro, durante seus 28 anos de vida parlamentar em Brasília,
nunca fez nada de significativo para o bem do País.
Os
levantamentos que se fazem sobre a sua pífia atuação mostram que sequer fez
alguma coisa pelo Estado do Rio Janeiro, seu Estado de origem e representação.
Nunca conseguiu aprovar um projeto para ajudar o povo daquele sofrido Estado a
se libertar da crise e da violência. Ser Presidente da República não é para
qualquer um. É necessário ser competente (saber fazer), verdadeiramente
honesto, ter projeto, querer promover a igualdade e a soberania nacional, ser
uma pessoa que realmente deseja o bem comum, que é o bem de todos os
brasileiros, e não de uma parcela da sociedade (a elite do dinheiro). Não precisamos
de um herói, mentiroso e dado a frases de efeito. Precisamos de um Presidente
que tenha projeto, que saiba explicá-lo e implementá-lo, caso eleito.
Por isso, amigos e amigas, votemos com consciência! Sejamos
responsáveis com o nosso voto. Pensemos no bem de todos. Tomemos cuidado com o
que vamos fazer nas urnas! Todos somos responsáveis pelo Brasil. Esta é a nossa
pátria, e é nela que vivemos. Sejamos responsáveis, coerentes, conscientes e
consequentes.
Recebam meu abraço fraterno e minha prece.
Tiago de França
Desde
Belo Horizonte – MG, 23 de setembro de 2018.
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