Se considerarmos os gestos e
palavras de Jesus, não nos parece que ele tenha desejado ser visto como rei. Sobre
si mesmo, Jesus fala que veio ao mundo para dar testemunho da verdade, e todo
aquele que é a verdade escuta a sua voz (cf. Jo 18, 37). Fica, então, muito
claro, pelas suas palavras, que Deus Pai não o enviou para reinar neste mundo. O
Evangelho, em suas quatro versões – Mateus, Marcos, Lucas e João – mostram que
Jesus era destituído de poder humano. Era tão pobre que não tinha onde reclinar
a cabeça (cf. Mt 8, 20).
Por isso, é um equívoco grave dizer que Jesus é rei segundo o
modelo dos reis deste mundo: detentor de poder, riqueza, prestígio e força. A imagem
de Jesus rei poderoso é falsa, pois não a encontramos no Evangelho. Consequentemente,
também é falsa a pregação de muitos líderes religiosos que cultivam esta imagem
triunfalista de Jesus para se apresentarem como figuras sobrenaturais, detentoras
de um poder sobrenatural, que os coloca acima dos outros. Estes mesmos líderes
costumam se utilizar desta imagem falsa de Jesus para arrecadar dinheiro para
suas contas, enriquecendo-se.
O neopentecostalismo protestante e católico tem caído
facilmente nesta tentação. Com muita facilidade pregam um Cristo glorioso, sem
caminho e sem cruz. O Ressuscitado é o Crucificado. A cruz é consequência lógica
e natural da missão. Não podemos acreditar em um Cristo que surge do nada, que
tudo promete, que visa oferecer segurança material. Não é este Cristo que está
no Evangelho. O verdadeiro Cristo presente no Evangelho diz: “Se alguém quer me
seguir, renuncie a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e me siga” (Lc 9, 18 –
24).
Para o espanto e a frustração de muitos, precisamos proclamar,
em alto e bom som: Jesus nos pede que nos
coloquemos em seu caminho e nele perseveremos. Para isto, junto do Pai, nos
enviou o Espírito Santo. A graça santificante operando em cada um de nós, é a
nossa alegria e segurança, é a força que nos liberta para a vida sem fim. Desse
modo, o que Jesus quer é que sejamos como ele: testemunhas da verdade. Não de
uma verdade subjetiva e, portanto, particular, mas da Verdade que é o próprio
Cristo Jesus.
Dar testemunho da verdade é sermos como Ele: mansos e
humildes de coração, discípulos missionários do amor que a todos acolhe e
regenera. Um amor infinito que se revela na amizade, na proximidade, na atenção
e no perdão, no respeito e na reciprocidade, na compreensão e na acolhida dos
que sofrem, na compaixão e na alegria. Quando damos testemunho do Cristo
ressuscitado, então participamos da sua realeza, da sua divindade. Por meio do
testemunho, somos luz do mundo e sal da terra.
Sem o testemunho da verdade e da liberdade criamos uma
religião de muito louvor e muita prece, de muito brilho, de belíssimas
cerimônias, de muitas cores e vestes litúrgicas, mas vazia do amor de Deus. Para
que serve esta religião? Neste sentido, precisamos aprender com o apóstolo
Tiago, que diz: “a religião pura e sem mácula diante de Deus, nosso Pai,
consiste nisto: visitar os órfãos e as viúvas em suas tribulações e guardar-se
livre da corrupção do mundo” (Tg 1, 27). É o amor-doação que torna a religião útil
aos olhos de Deus.
Em comunhão com este Cristo Jesus, testemunha fiel do Pai,
cada batizado precisa se colocar no mesmo itinerário de testemunho profético. Nossos
dias, em todo o mundo, carecem de testemunhas fieis do Cristo ressuscitado. Entregando-nos
ao amor-doação, seremos capazes de iluminar o mundo, porque onde reina o amor,
as trevas já não mais tem força.
Nossas
Igrejas precisam dar testemunho da verdade e da liberdade, pois é disso que o
mundo precisa. Os empobrecidos e explorados deste mundo já não suportam mais
tanta violência. A religião não pode ser mais um fardo nas costas deles, mas um
instrumento de libertação, porque este é o desejo de Deus: a vida do seu povo. Nossas
Igrejas precisam aprender que a realeza de Jesus se manifesta no grito e nas
lutas dos pobres.
Olhando nos olhos de cada um de nós, Jesus faz um apelo ao
amor. Não tenhamos medo. Este não nos ajuda em nada. Por mais densa que seja a
escuridão da noite, temos a certeza de que um novo dia virá. Esta é a nossa
esperança: A Trindade é fiel e permanece conosco. A sua presença em nós nos
liberta do medo e do desespero.
O nosso
Deus é o Libertador, que caminha conosco, e nos ajuda, diuturnamente, a
vencermos os demônios encarnados deste mundo. Estes são pessoas que exploram
outras, desumanizando-as. Estes demônios só tem aparência de fortaleza, mas são
fracos e não duram por muito tempo. Deus é sempre maior, nos ama e nos faz
vencedores do mal. Esta é a nossa fé. Ninguém pode nos tirá-la. É a nossa
segurança e paz. Sigamos firmes no amor, na fé e na esperança.
Tiago
de França