“Portanto,
ficai atentos e orai a todo momento, a fim de terdes força para escapar de tudo
o que deve acontecer e para ficardes em pé diante do Filho do Homem” (Lc
21,36).
Chegamos ao Tempo de Advento, tempo de esperança e alegria,
de vigilância e oração. Inicia-se, na Igreja Católica, um novo ano litúrgico. Nesta
meditação breve, queremos falar sobre a importância do “ficai atentos” e da
oração para bem vivermos este belíssimo tempo de esperança.
Cremos que Jesus veio e armou a sua tenda entre nós. Cremos
também que não veio a passeio, mas foi enviado pelo Pai para exercer uma
importante missão: inaugurar o Reino de Deus entre nós. Este mesmo Jesus
permanece entre nós, e acreditamos que se manifestará, definitivamente, no que
se passou a chamar parusia (volta) do Senhor. Estamos convencidos de que não
estamos sozinhos, mas caminhamos na presença do Pai, com o Filho e no Espírito
Santo.
A partir deste domingo até a celebração solene do Natal
do Senhor, meditaremos sobre a necessidade da oração, da vigilância e do
permanecer despertos para acolhermos o Cristo que vem. O texto evangélico de
Lucas 21, 25-28.34-36, escolhido para ser proclamado na liturgia deste domingo,
nos traz alguns elementos importantes, que nos ajudam não somente a compreender
o Tempo do Advento, bem como nos ensina a nos mantermos unidos a Jesus, para
não sermos surpreendidos quando da sua vinda gloriosa.
O texto fala de sinais cósmicos e sísmicos quando
descreve a manifestação estrondosa da natureza e de todo o universo, quando da
volta definitiva de Jesus. Em seguida, diz Jesus: “Quando estas coisas começarem a acontecer, levantai-vos e erguei a
cabeça, porque vossa libertação está próxima”. Eis um elemento importante: o
dia da volta de Jesus não será um dia de destruição e morte, mas de libertação.
Levantar e erguer a cabeça são posturas que revelam prontidão.
Não podemos nos deixar dominar pelo medo. Somos seguidores daquele que venceu o
medo. Em meio às dificuldades e tribulações da vida, precisamos permanecer de
pé e de cabeça erguida. Na comunhão com os outros, Jesus nos ensina a nos
ajudarmos, mutuamente, para que ninguém permaneça caído e com a cabeça baixa. Trilhamos
o caminho da liberdade. Por isso, somos livres em Cristo Jesus. Pessoas livres
permanecem de pé e de cabeça erguida.
Vivemos tempos difíceis, marcados por retrocessos e
ameaças, violência de toda sorte. Mas não podemos esmorecer. Temos voz para
gritar, olhos para enxergar, pernas para andar e braços para nos unir. Somos irmãos
em Cristo e não podemos soltar as mãos uns dos outros. Se estamos no caminho de
Jesus, sabemos bem que tudo é muito estreito e pedregoso. Se estamos em
comunhão com Jesus, sabemos que também caminhamos com ele em meio às
incompreensões e perseguições. Jesus viveu em tais circunstâncias. Estas não
nos surpreendem.
O texto evangélico também nos apresenta outra advertência
de Jesus: “Tomai cuidado para que vossos
corações não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das
preocupações da vida”. A falta de sensibilidade é uma das marcas do homem
moderno. Insensível é a pessoa que vive a sua vida como se os outros não
existissem. Isto conduz, natural e inevitavelmente, ao individualismo.
Ser insensível
é não se compadecer diante do sofrimento dos outros. “O que eu tenho a ver com
isso?”, dizem os insensíveis. Se estamos em comunhão com Jesus, os outros são
nossos irmãos. Desse modo, o sofrimento dos outros passa a ser o meu
sofrimento. O que posso aprender com o sofrimento dos outros? O que posso fazer
para aliviar este sofrimento? Assim como Jesus, precisamos caminhar pelo mundo
fazendo o bem, aliviando o sofrimento das pessoas. Isto é viver em comunhão com
Deus.
De nada vale a nossa religiosidade e piedade, se somos
insensíveis à dor dos outros. Quem se comporta com indiferença em relação ao
sofrimento dos outros e se afirma cristão é, na verdade, mentiroso. Religião sem
amor não serve para nada. Por isso, tomemos cuidado com a insensibilidade. Esta,
no mundo atual, se naturalizou. Mas para quem segue Jesus, a insensibilidade é
sinônimo de pecado grave. Isto não é doutrina criada por nenhuma Igreja, mas
palavra de Jesus. E nada está acima da palavra de Jesus. Ninguém pode
relativizar a força de sua palavra. A palavra de Jesus é fonte de vida eterna.
Por fim, referindo-se à imprevisibilidade da sua volta,
Jesus acrescenta: “Portanto, ficai
atentos e orai a todo momento, a fim de terdes força para escapar de tudo o que
deve acontecer e para ficardes de pé diante do Filho do Homem”. Ninguém sabe
o dia nem a hora da vinda de Jesus. Vez e outra aparecem pessoas falando que
sabem, mas a ninguém Jesus revelou data e hora. Em outro trecho do Evangelho,
ele até deu a entender que nem ele mesmo sabia, mas que isto estava reservado
ao Pai que o enviou.
O mais importante é amar, estar atento e orar. O amor é a
regra da vida cristã. Nada o substitui nem o supera. Quem ama conhece a Deus e
a Ele está unido. Quem ama está seguro, não precisa de mais nada. O amor é Deus
presente em tudo e em todas as coisas. Fora do amor não há salvação. Disso temos
certeza, pois é o que Jesus nos ensina em seu Evangelho. O amor nos liberta do
medo, principalmente do medo de amar.
Permanecer atento é viver acordado. Isso não quer dizer
que não devemos dormir. Não é disso que estamos falando. Estar atento é viver
em sintonia com Deus, compreendendo os sinais que Ele manifesta no mundo. É
aprender a fazer a leitura dos sinais dos tempos e dos sinais de Deus. Cultivar
a sensibilidade ajuda muito na atenção para os outros e para o que acontecer no
mundo.
Permanecer
atento é ser vigilante, com os olhos fixos em Jesus. Nada desvia um discípulo
missionário atento. Um seguidor de Jesus não pode ser um tolo, dominado pela
dispersão. Em comunhão com a Verdade de Deus, o cristão está sempre acordado.
Jesus é a Verdade de Deus, que nos liberta da ilusão e do medo. Não há
discipulado se o medo impera e domina.
É preciso também orar a todo momento. Vejam que Jesus não
fala de oração ocasional, mas de oração permanente. Precisamos nos libertar da
preguiça e das falsas desculpas que nos impedem de orar. A oração é uma das
formas de comunhão com Deus. Ele nos fala por meio da oração. Nesta, podemos escutá-lo
e podemos também falar abertamente o que sentimos. Ele sabe de todas as coisas,
mas é bom falar. Somos filhos de um Pai que nos ama. Por isso, precisamos
aproveitar bem este privilégio maravilhoso que Jesus nos deu de chamar a Deus
de Pai. Isto é maravilhoso! O nosso Pai é Deus. Que sublime mistério de amor!
E o Espírito Santo vai nos conduzindo. Vai abrindo os
nossos olhos, a nossa mente e nosso coração para a acolhida do Cristo que vem. Este
mesmo Espírito vai mantendo viva a nossa esperança, e nos transformando
interiormente naquilo que Deus quer. Nestes tempos sombrios de muita dor,
sofrimento, perseguição e morte, o Espírito vai cultivando em nós a
perseverança e ternura, a coragem e a abertura, o amor e a fé. Ele nos
concedendo a graça de sermos fraternos.
E assim
vamos profetizando, anunciando o amor de Deus e denunciando as injustiças e as
ameaças dos opressores. Não somos filhos do medo, mas de Deus. Os inimigos do
povo de Deus não passam de pó da terra, que possuem em si mesmos o germe da sua
própria destruição. Deus permanece conosco, e deseja que sejamos fieis. Que Ele
nos conceda a graça da fidelidade em meio às tribulações, assim como concedeu a
tantos irmãos e irmãs que nos precederam no caminho de Jesus. Esta é a nossa
esperança.
Tiago de França
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