sábado, 1 de dezembro de 2018

Tempo de esperança


“Portanto, ficai atentos e orai a todo momento, a fim de terdes força para escapar de tudo o que deve acontecer e para ficardes em pé diante do Filho do Homem” (Lc 21,36).

            Chegamos ao Tempo de Advento, tempo de esperança e alegria, de vigilância e oração. Inicia-se, na Igreja Católica, um novo ano litúrgico. Nesta meditação breve, queremos falar sobre a importância do “ficai atentos” e da oração para bem vivermos este belíssimo tempo de esperança.

            Cremos que Jesus veio e armou a sua tenda entre nós. Cremos também que não veio a passeio, mas foi enviado pelo Pai para exercer uma importante missão: inaugurar o Reino de Deus entre nós. Este mesmo Jesus permanece entre nós, e acreditamos que se manifestará, definitivamente, no que se passou a chamar parusia (volta) do Senhor. Estamos convencidos de que não estamos sozinhos, mas caminhamos na presença do Pai, com o Filho e no Espírito Santo.

            A partir deste domingo até a celebração solene do Natal do Senhor, meditaremos sobre a necessidade da oração, da vigilância e do permanecer despertos para acolhermos o Cristo que vem. O texto evangélico de Lucas 21, 25-28.34-36, escolhido para ser proclamado na liturgia deste domingo, nos traz alguns elementos importantes, que nos ajudam não somente a compreender o Tempo do Advento, bem como nos ensina a nos mantermos unidos a Jesus, para não sermos surpreendidos quando da sua vinda gloriosa.

            O texto fala de sinais cósmicos e sísmicos quando descreve a manifestação estrondosa da natureza e de todo o universo, quando da volta definitiva de Jesus. Em seguida, diz Jesus: “Quando estas coisas começarem a acontecer, levantai-vos e erguei a cabeça, porque vossa libertação está próxima”. Eis um elemento importante: o dia da volta de Jesus não será um dia de destruição e morte, mas de libertação.

            Levantar e erguer a cabeça são posturas que revelam prontidão. Não podemos nos deixar dominar pelo medo. Somos seguidores daquele que venceu o medo. Em meio às dificuldades e tribulações da vida, precisamos permanecer de pé e de cabeça erguida. Na comunhão com os outros, Jesus nos ensina a nos ajudarmos, mutuamente, para que ninguém permaneça caído e com a cabeça baixa. Trilhamos o caminho da liberdade. Por isso, somos livres em Cristo Jesus. Pessoas livres permanecem de pé e de cabeça erguida.

            Vivemos tempos difíceis, marcados por retrocessos e ameaças, violência de toda sorte. Mas não podemos esmorecer. Temos voz para gritar, olhos para enxergar, pernas para andar e braços para nos unir. Somos irmãos em Cristo e não podemos soltar as mãos uns dos outros. Se estamos no caminho de Jesus, sabemos bem que tudo é muito estreito e pedregoso. Se estamos em comunhão com Jesus, sabemos que também caminhamos com ele em meio às incompreensões e perseguições. Jesus viveu em tais circunstâncias. Estas não nos surpreendem.

            O texto evangélico também nos apresenta outra advertência de Jesus: “Tomai cuidado para que vossos corações não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida”. A falta de sensibilidade é uma das marcas do homem moderno. Insensível é a pessoa que vive a sua vida como se os outros não existissem. Isto conduz, natural e inevitavelmente, ao individualismo.  

Ser insensível é não se compadecer diante do sofrimento dos outros. “O que eu tenho a ver com isso?”, dizem os insensíveis. Se estamos em comunhão com Jesus, os outros são nossos irmãos. Desse modo, o sofrimento dos outros passa a ser o meu sofrimento. O que posso aprender com o sofrimento dos outros? O que posso fazer para aliviar este sofrimento? Assim como Jesus, precisamos caminhar pelo mundo fazendo o bem, aliviando o sofrimento das pessoas. Isto é viver em comunhão com Deus.

            De nada vale a nossa religiosidade e piedade, se somos insensíveis à dor dos outros. Quem se comporta com indiferença em relação ao sofrimento dos outros e se afirma cristão é, na verdade, mentiroso. Religião sem amor não serve para nada. Por isso, tomemos cuidado com a insensibilidade. Esta, no mundo atual, se naturalizou. Mas para quem segue Jesus, a insensibilidade é sinônimo de pecado grave. Isto não é doutrina criada por nenhuma Igreja, mas palavra de Jesus. E nada está acima da palavra de Jesus. Ninguém pode relativizar a força de sua palavra. A palavra de Jesus é fonte de vida eterna.

            Por fim, referindo-se à imprevisibilidade da sua volta, Jesus acrescenta: “Portanto, ficai atentos e orai a todo momento, a fim de terdes força para escapar de tudo o que deve acontecer e para ficardes de pé diante do Filho do Homem”. Ninguém sabe o dia nem a hora da vinda de Jesus. Vez e outra aparecem pessoas falando que sabem, mas a ninguém Jesus revelou data e hora. Em outro trecho do Evangelho, ele até deu a entender que nem ele mesmo sabia, mas que isto estava reservado ao Pai que o enviou.

            O mais importante é amar, estar atento e orar. O amor é a regra da vida cristã. Nada o substitui nem o supera. Quem ama conhece a Deus e a Ele está unido. Quem ama está seguro, não precisa de mais nada. O amor é Deus presente em tudo e em todas as coisas. Fora do amor não há salvação. Disso temos certeza, pois é o que Jesus nos ensina em seu Evangelho. O amor nos liberta do medo, principalmente do medo de amar.

            Permanecer atento é viver acordado. Isso não quer dizer que não devemos dormir. Não é disso que estamos falando. Estar atento é viver em sintonia com Deus, compreendendo os sinais que Ele manifesta no mundo. É aprender a fazer a leitura dos sinais dos tempos e dos sinais de Deus. Cultivar a sensibilidade ajuda muito na atenção para os outros e para o que acontecer no mundo.

Permanecer atento é ser vigilante, com os olhos fixos em Jesus. Nada desvia um discípulo missionário atento. Um seguidor de Jesus não pode ser um tolo, dominado pela dispersão. Em comunhão com a Verdade de Deus, o cristão está sempre acordado. Jesus é a Verdade de Deus, que nos liberta da ilusão e do medo. Não há discipulado se o medo impera e domina.

            É preciso também orar a todo momento. Vejam que Jesus não fala de oração ocasional, mas de oração permanente. Precisamos nos libertar da preguiça e das falsas desculpas que nos impedem de orar. A oração é uma das formas de comunhão com Deus. Ele nos fala por meio da oração. Nesta, podemos escutá-lo e podemos também falar abertamente o que sentimos. Ele sabe de todas as coisas, mas é bom falar. Somos filhos de um Pai que nos ama. Por isso, precisamos aproveitar bem este privilégio maravilhoso que Jesus nos deu de chamar a Deus de Pai. Isto é maravilhoso! O nosso Pai é Deus. Que sublime mistério de amor!

            E o Espírito Santo vai nos conduzindo. Vai abrindo os nossos olhos, a nossa mente e nosso coração para a acolhida do Cristo que vem. Este mesmo Espírito vai mantendo viva a nossa esperança, e nos transformando interiormente naquilo que Deus quer. Nestes tempos sombrios de muita dor, sofrimento, perseguição e morte, o Espírito vai cultivando em nós a perseverança e ternura, a coragem e a abertura, o amor e a fé. Ele nos concedendo a graça de sermos fraternos.

E assim vamos profetizando, anunciando o amor de Deus e denunciando as injustiças e as ameaças dos opressores. Não somos filhos do medo, mas de Deus. Os inimigos do povo de Deus não passam de pó da terra, que possuem em si mesmos o germe da sua própria destruição. Deus permanece conosco, e deseja que sejamos fieis. Que Ele nos conceda a graça da fidelidade em meio às tribulações, assim como concedeu a tantos irmãos e irmãs que nos precederam no caminho de Jesus. Esta é a nossa esperança.

Tiago de França

Nenhum comentário: