segunda-feira, 22 de abril de 2019

Ressuscitados em Cristo Jesus


“Deus, em seu desígnio e previsão, determinou que Jesus fosse entregue pelas mãos dos ímpios, e vós o matastes, pregando-o numa cruz. Mas Deus ressuscitou a Jesus, libertando-o das angústias da morte, porque não era possível que ela o dominasse” (At 2, 23 – 24).

            Não era possível que a morte dominasse Jesus. Deus o ressuscitou! Este é o grande mistério celebrado nestes dias por milhões de cristãos em todo o mundo. A Páscoa é a celebração da vitória de Jesus, libertado das angústias da morte. Na ressurreição de Jesus todo aquele que nele crê tem a vida, experimenta a verdadeira liberdade de filho de Deus. Ressuscitando-o, Deus Pai nos apresenta, de uma vez por todas, o fim definitivo da pessoa humana e de toda a criação: a participação na vida plena, vida que dura para sempre. Solenemente, os discípulos de Cristo em nossos dias, gritam com voz forte e com o testemunho da própria vida, de cima dos telhados, esta feliz, esplendorosa e boa notícia: Jesus Cristo ressuscitou!

            A celebração do mistério sublime da ressurreição de Jesus Cristo também nos transmite uma feliz condição: a de vivermos como ressuscitados. A fé na ressurreição já nos introduz no mistério de uma vida de ressuscitados. Para compreendermos esta vida, precisamos olhar para a vida de Jesus, que nos abre a inteligência para a perfeita compreensão do mistério da sua ressurreição. Assim, sem levarmos em conta o mistério da sua vida, paixão e morte na cruz, somos incapazes de compreender a ação divina que o ressuscitou dentre os mortos. O ressuscitado é o crucificado, e este é aquele que amou até o fim. A fidelidade de Jesus no amor o levou ao madeiro da cruz e à ressurreição. Por isso, já descobrimos o sinal que evidencia o caminho que conduz à vida plena: a fidelidade no amor.

            Quando Jesus fez opção pelos pobres e excluídos, quando vivia sentado à mesa com os pecadores públicos, quando curou os enfermos e expulsou os demônios, quando desmascarou a infidelidade e a hipocrisia das autoridades civis e religiosas de seu tempo, quando anunciou a Boa Notícia do Reino de Deus, enfim, quando, com palavras e gestos, buscou realizar a vontade do Pai, Ele nos ensinou a sermos fieis. Ser fiel no amor é amar até o fim. Não há regra nem convenção humana que possam se sobrepor ao amor. Portanto, para vivermos como ressuscitados precisamos viver como Jesus: amar como Ele amou. Certamente, é um desafio amar como Jesus amou, porque o amor de Jesus era incondicional, ou seja, ele amava na liberdade e para a liberdade.

            O amor incondicional é aquele que se manifesta na liberdade e na gratuidade. Se numa relação amorosa não existe liberdade, então aí não temos amor, mas relação egoísta. E onde há egoísmo não há amor. Amor e egoísmo são realidades incompatíveis. Se os outros não possuem lugar em nossos projetos e/ou planos de vida, então o amor não integra o nosso caminhar. Não há possibilidade de amar sem o encontro com os outros. Estes nos revelam o mistério de uma vida amorosa e plena. Sozinho ninguém é capaz de amar. O amor exige o sair de si mesmo na direção dos outros. Toda a vida de Jesus foi um constante encontro amoroso com os outros. Durante a sua peregrinação terrena, Jesus passou a maior parte do seu tempo amando as pessoas, servindo-as, generosa e gratuitamente. Ele sabia que a vida plena brota do amor.

            Sabemos, então, o remédio eficaz para a cura de nossos males: o amor. Não o amor discursivo, que é aquele conjunto romântico de palavras. Jesus não amava discursando, mas servindo aos outros. Ele certamente utilizava a palavra, mas a utilizava para manifestar o amor que experimentava na relação com as pessoas. Suas palavras revelavam o seu agir e a riqueza do seu coração. Amando, Jesus revelou o Deus que é amor. Em Cristo Jesus, Deus manifestou ao mundo a grandeza do seu amor pela humanidade. Revelou-nos também que pelo amor é possível a criação de uma nova humanidade. Esta é a sua opção. Desse modo, o amor é o critério fundamental para avaliarmos se estamos ou não em sintonia com Deus.

            Para vivermos como ressuscitados precisamos amar como Jesus amou. Não precisamos de grandes saberes, nem de ocuparmos grandes postos. A grandeza do amor se manifesta a partir das pequenas coisas, no cotidiano de uma vida simples. Até podemos conhecer muitas coisas e/ou ocuparmos grandes postos, mas estas coisas não constituem condição para experimentarmos o amor. Este é mais acessível aos simples, aos últimos e aos despojados. Para que o amor possa encontrar espaço em nossas vidas, precisamos abandonar o apego que muitas vezes temos às coisas, aos lugares e às pessoas. A quê e/ou a quem estamos presos? O que procuramos para sermos felizes? O amor liberta e nos faz experimentar a leveza da vida. A pessoa que verdadeiramente ama se parece com um pássaro: livre, leve e sem preocupações. O amor tudo assegura, porque se torna a única segurança na vida daqueles que amam. Quem não ama passou pela vida sem a experimentar.

            Quando nossos governantes aprovam e promovem medidas contrárias ao bem de todos, favorecendo determinados grupos políticos e empresariais, estão praticando o amor? Quando nossas Igrejas cristãs dão mais importância ao culto que à caridade fraterna, silenciam-se diante das injustiças, recusando-se a socorrer os injustiçados, estão praticando o amor? Quando as pessoas julgam, ofendem e matam em nome de Deus, estão praticando o amor? Quando, nas comunidades cristãs, líderes religiosos e demais pessoas optam por colocar as prescrições e as doutrinas religiosas acima do evangelho, excluindo aqueles que não as observam, estão praticando o amor? Quando, no cotidiano de nossas vidas, ignoramos ou tratamos as pessoas com indiferença, estamos praticando o amor? Para vivermos como ressuscitados precisamos rever estas e outras situações que nos falam da falta de amor.

            No amor o Cristo Jesus nos ressuscita para uma vida nova. Antes de sua morte na cruz, Ele nos ensinou o caminho: “Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros. Como eu vos amei, amai-vos também uns aos outros” (Jo 14, 34). O mandamento novo é amar como Jesus amou. Este é o caminho que nos faz viver como pessoas ressuscitadas, conhecedoras da vida em abundância, capazes de manifestar ao mundo a presença amorosa de Deus, deste Deus que amou tanto o mundo, que entregou o seu próprio Filho para a salvação de toda a humanidade. Para participamos da vida divina precisamos viver este amai-vos uns aos outros a exemplo de Jesus, que foi fiel até o fim no amor. Somente assim conheceremos, compreenderemos e participaremos do mistério pascal de Cristo Jesus.

Tiago de França