Estamos no mês de maio,
portanto, com o governo Bolsonaro desde o dia 1º de janeiro, e parece que a educação
continua sendo negligenciada no Brasil. Aliás, mais que isso, agora assistimos
a uma nova modalidade de trato com a educação pública: o governo federal, além
de não valorizá-la como caminho para o verdadeiro progresso do País, resolveu
cortar parte significativa dos recursos educacionais.
Não constitui
novidade para ninguém a ideia de que sem educação não há povo que progrida. As nações
consideradas desenvolvidas investiram e investem pesado na educação, pois sabem
que não é possível educação de qualidade sem investimentos.
Exemplo disso é o que ocorre na Alemanha, que nestes dias
anunciou um investimento de 160 bilhões de euros para universidades e
pesquisas. No Brasil, ao invés de aumentarem o dinheiro investido, anunciam
cortes e mais cortes. Às vésperas dos protestos deste dia 15 de maio, o governo
Bolsonaro já mandou seu recado desastroso: outros cortes acontecerão nos
próximos dias.
Curiosamente,
não se fala dos motivos que legitimam esses cortes. Fala-se de contingenciamento
de gastos, bem como ousam afirmar que se gasta muito com educação no Brasil. Parece
piada, mas é verdade: o governo Bolsonaro acha que no Brasil se gasta muito
dinheiro com educação pública.
O que está por trás desses cortes? Podemos, em primeiro
lugar, lembrar o que o próprio presidente anda dizendo no seu twitter: que aos
brasileiros basta saber ler, escrever, contar e ter um curso
profissionalizante. Trata-se da fala de alguém que nunca pisou numa
universidade. Quem desconhece o universo acadêmico não sabe dos custos da
academia. Além de ignorar os custos, não manifesta nenhum interesse em saber, o
que é o mais grave.
Também
podemos afirmar, sem sombra de dúvidas, que o presidente não enxerga na
educação a solução para os graves problemas do país. Ele não consegue conceber
a educação como caminho para “o pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho” (Constituição da República de 1988, artigo
205).
O presidente passou quase 30 anos atuando no poder
legislativo e não conhece a importância da educação. Mas o que mais causa
indignação nas pessoas de bom senso e boa vontade é saber que milhões de
brasileiros sabiam disso, e mesmo assim, o elegeram presidente da República. O presidente
foi um candidato que não enganou a ninguém. Todos sabiam da sua ignorância em
matéria de educação e conhecimentos básicos fundamentais.
Todos sabiam
da sua falta de atuação parlamentar em matéria de educação. Ele foi taxativo
durante a campanha, ao dizer que praticamente não conhecia nada. Mas o povo
acreditou nas fake news, e agora está
vendo que para governar o País não basta somente a vontade de governar, é preciso
ter capacidade, boa vontade política e compromisso com a justiça e a ética no
trato com a coisa pública.
Há um terceiro fator que não pode ser esquecido nesta
breve análise da negligência do governo federal quanto à educação: há um nítido
projeto de desconstrução das conquistas educacionais alcançadas durante os
governos petistas.
Apesar
dos pesares, os governos petistas, de Lula e Dilma, foram os que mais
investiram em educação pública: novas universidades e institutos federais
criados, mais pessoas pobres ingressando na universidade, novos cursos sendo
abertos, maior autonomia na gestão das universidades, mais investimento na
pesquisa e extensão, enfim, mais oportunidades para que o brasileiro pudesse se
libertar do jugo da ignorância e do fracasso. Os números do período destes
governos atestam a veracidade do que estamos falando. Uma simples pesquisa no
Google ajuda o leitor a enxergar melhor aquele período.
A quem interessa a desvalorização da educação pública,
bem como o sucateamento das escolas e universidades públicas? A resposta é
simples: interessa aos grandes grupos das escolas e universidades privadas, que
criaram um mercado gigantesco e promissor, transformação a educação em mera
mercadoria.
A educação
privada visa o lucro, não se interesse com o exercício da cidadania. Na iniciativa
privada, estuda quem tem dinheiro, ou quem recebe uma bolsa de estudos, bolsa
que faz a instituição privada de ensino receber abatimento no pagamento dos
impostos. Não existe caridade, existe negócio.
A mesma
lógica funciona quando a coisa pública é privatizada. Quem defende a
privatização da universidade pública, na verdade está defendendo que se pague
para estudar. Em um país de 13 milhões de desempregados, onde os brasileiros
vão buscar dinheiro para custear escola e universidade particulares para suas crianças,
adolescentes e jovens?
A
educação é “direito de todos e dever do
Estado e da família” (artigo 205 da CR/88). Portanto, o cidadão paga
impostos e tem o direito à educação pública de qualidade. O Estado tem o dever,
ou seja, a obrigação de ofertar educação pública de qualidade. É o que diz o
mandamento constitucional, e tem que ser cumprido na forma da Lei.
São por
estes e outros motivos que neste dia 15 de maio, em todos os cantos do País,
muitos brasileiros vão às ruas para gritar contra esta grave injustiça que o
governo está praticando contra o progresso do País e contra os brasileiros. É inaceitável
os cortes de verba pública na educação, bem como o sucateamento que visa a
privatização do ensino público no Brasil. Basta e injustiça! Viva a educação!
Tiago de França