domingo, 30 de junho de 2019

Pedro e Paulo: discípulos missionários de Jesus Cristo


        Neste domingo, a Igreja católica celebra o dia de São Pedro e São Paulo: dois grandes missionários que marcaram a história primitiva da Igreja. O testemunho deles, retratado no Novo Testamento, é admirável. Muito pode ser dito sobre cada um, mas aqui queremos realçar três características que falam do significado do que denominamos discípulo missionário de Jesus. Eles são modelos de discípulos missionários, e a Igreja precisa de mulheres e homens que sejam como eles: despojados e ousados, doados e fieis até o fim.

             Pedro fez parte do grupo dos Doze, por isso, foi chamado pelo próprio Cristo para segui-lo. Parecia ser de personalidade forte. Se posicionava com firmeza e ousadia. Era um homem apaixonado por Jesus. Tinha um grande desejo de segui-lo até o fim e, se fosse possível, estava disposto até em pegar em armas para demonstrar a sua coragem. Quando foram prender Jesus, ele cortou uma das orelhas de um dos soldados. Pedro aparece como uma espécie de coordenador dos Doze. Assim falamos, porque ele não substituiu Jesus nem o sucedeu. Só Jesus é o Mestre e Senhor, e não Pedro.

            A primeira característica que podemos evidenciar em Pedro é a sua ousadia. Para o exercício da atividade apostólica é necessária a ousadia. Esta faz o apóstolo se livrar da falsa prudência e do medo. Para ir às águas mais profundas é preciso ter coragem. Aliás, mais que coragem; é preciso ser ousado. Por óbvio que estamos falando de uma ousadia que empurra o missionário para a frente, impulsionando-o a abraçar o novo sem medo. Sem ousadia, o discípulo missionário é incapaz de abraçar o novo que o Espírito faz brotar.

            Outra característica forte da personalidade petrina é a sua paixão por Jesus. Quando lemos os textos evangélicos percebemos, claramente, a paixão de Pedro por Jesus. Ele certamente sabia das suas limitações e fraquezas. Mas mesmo assim, fazia questão de demonstrar a sua proximidade, a sua identificação, o seu desejo de amá-lo mais que os demais. Ele queria que Jesus soubesse do seu amor. Esta relação apaixonada com o Mestre o fez trilhar o caminho que o conduziu à coroa do martírio. Sem esta relação apaixonada por Jesus não é possível se manter de pé em seu caminho. Um homem apaixonado é capaz de tudo.

            Também a é uma qualidade admirável em Pedro. Mas a fé petrina não exclui nem esconde a fragilidade humana. Pedro negou Jesus três vezes, e o negou publicamente. A experiência da negação não eliminou a sua fé. Trata-se de um ensinamento claro: o fato de o discípulo missionário ter fé, não significa que seja perfeito e imune à possibilidade de pecar. Em Pedro, a fé pressupõe o reconhecimento da fragilidade e uma profunda disposição para, consciente da condição de pecador, se colocar no caminho de Jesus. Pedro é a prova de que Jesus não escolheu santos, mas pecadores chamados à santidade. A consciência do pecado fortalece a fé em Jesus, e isto é essencial para ser discípulo missionário de Jesus.

            Na Igreja católica, os sucessores dos apóstolos são os bispos; e o bispo de Roma é aquele que exerce a função petrina: responsável pela promoção da unidade da Igreja e chamado a confirmar os irmãos na fé. O Papa Francisco, bispo de Roma, tem a plena consciência desta sua missão e, graças à misericórdia divina, a tem exercido com grande solicitude e caridade pastoral. Francisco é a expressão petrina na Igreja católica de nossos dias: é um homem ousado, apaixonado por Jesus e de profunda fé.

            Com Pedro, encontramos Paulo, outro grande apóstolo da Igreja primitiva. Judeu letrado, não integrou o grupo dos Doze apóstolos. Fez a experiência do encontro com o Cristo ressuscitado, que o chamou à missão apostólica. Era um grande perseguidor dos cristãos, pois era um fariseu – cumpridor fiel da Lei. Converteu-se em discípulo missionário de Jesus, anunciando a Boa Notícia do Reino, fundando e orientando comunidades, e escrevendo cartas que são a tradução fiel do Evangelho de Jesus.

            Também reconhecemos em Paulo inúmeras qualidades que devem estar presentes na vida de todo cristão. A primeira é a disposição para o anúncio do Evangelho. Paulo era um homem incansável. Graças a ele, o Evangelho chegou a povos não judeus. Nada o impedia de anunciar Cristo às pessoas. Combateu o bom combate e guardou a fé. Enfrentou o frio, a fome, a perseguição, a prisão, os açoites, a incompreensão, a rejeição e as ameaças de morte. Nada tirava a sua disposição. O Espírito o conduzia, porque se deixava conduzir. Confiou em Deus e foi fiel até a morte.

            Paulo, homem das letras, estudou as culturas dos povos, especialmente a cultura dos principais centros urbanos de sua época. Por isso, é também louvável a sua capacidade de inculturação. Utilizando-se da linguagem, dos símbolos e das imagens do imaginário cultural presente nas culturas de sua época, Paulo traduziu a mensagem de Jesus, e esta mensagem foi se espalhando em todo o mundo conhecido.

Neste sentido, Paulo ensina que o discípulo missionário de Jesus é alguém que deve buscar conhecer o contexto cultural, social, econômico e religioso que marca a vida dos povos. A inculturação do Evangelho é fato importante no processo de evangelização. Com Paulo, aprendemos a respeitar as culturas das pessoas, e a identificar nelas os sinais da presença do Reino de Deus. Ele nos ensina que Deus já está presente na vida dos povos. O que o discípulo missionário faz é ajudar as pessoas a enxergar esta presença amorosa, que se revelou em Jesus, o Cristo.

Por fim, não se pode deixar de reconhecer a fidelidade de Paulo a Jesus, o Cristo, em quem confiou, e amou até o derramamento de sangue. Não é fácil ser fiel a Jesus. Esta fidelidade não exclui as quedas e as desilusões. A fidelidade a Jesus passa pelo caminho estreito e pedregoso, marcado pelo sofrimento. Não se trata de sofrimento pelo sofrimento: isto é masoquismo. Estamos falando do sofrimento como consequência da opção por Jesus: o sofrimento da cruz de Cristo; sofrimento presente no caminho de Jesus. Esta fidelidade à cruz conduz à participação na glória do Ressuscitado. Para receber a coroa da glória é preciso experimentar o peso da cruz, e nesta está Jesus vencedor da morte.

Eis o grande ensinamento que o testemunho paulino nos oferta: disponibilidade para partir em missão, capacidade para anunciar Jesus e fidelidade até as últimas consequências. Este foi o caminho trilhado por Paulo, e que precisa ser trilhado por todos os batizados, porque na Igreja todo batizado precisa assumir a dimensão do envio para a missão. Não basta ser batizado, mas é preciso ser batizado, enviado e, de fato, partir.

Quem não sai de si para ir aos outros não está disponível e, assim, não anuncia Jesus nem experimenta a fidelidade a Ele. Quem quiser ser fiel a Jesus precisa partir em missão, pois a fidelidade é uma experiência do cotidiano, conhecida por aqueles que colocaram as mãos no arado e já não olham mais para trás.

Tiago de França

quinta-feira, 20 de junho de 2019

EUCARISTIA: sacramento da caridade


A solenidade de Corpus Christi é um grande momento da vida da Igreja católica. Celebra-se, de forma solene, a memória da última Ceia do Senhor.

Na última Ceia, além de partir o pão e o vinho com os seus discípulos, Jesus realizou o gesto do lava-pés (cf. Jo 13, 1-17). Este gesto aponta para a necessidade do serviço aos irmãos: lavando os pés dos seus discípulos, Jesus ensina a servir.

Jesus é o Pão vivo descido do céu, para alimentar o povo de Deus na sua caminhada rumo à pátria definitiva. O discípulo missionário de Jesus precisa alimentar-se dele para continuar sendo fiel em seu caminhar. Fortalecido por este divino alimento, o discípulo é chamado a servir aos outros.

Não há Eucaristia sem serviço, e não há seguimento de Jesus sem Eucaristia. Para viver em comunhão com Ele, é necessário entrar na escola do serviço, alimentados pela Eucaristia, ou seja, pelo próprio Cristo.

Hoje, o que significa comungar a Eucaristia? Há um refrão de um hino que diz: "Vamos comungar, vamos comungar./ Comungar na Igreja e na vida dos irmãos". Quem são estes irmãos? São aqueles que precisam de nós, da nossa presença, da nossa escuta e da nossa colaboração material.

Portanto, a Eucaristia nos torna próximos das pessoas, nos faz samaritanos (cf. Lc 10,25-37). Por Cristo, com Cristo e em Cristo nos tornamos pessoas eucarísticas. Uma pessoa eucarística vive totalmente aberta e disponível aos outros, porque nela está Jesus, fazendo a sua morada com o Pai e o Espírito Santo.

Vivemos em um País com quase treze milhões de pessoas desempregadas. Como estas pessoas estão ganhando o pão de cada dia? Ao redor do mundo, cerca de um bilhão de pessoas passam fome todos os dias. Trata-se de um pecado que atenta a caridade evangélica. Como as pessoas podem celebrar o Pão da vida, se falta o pão em suas mesas?

A fome é um escândalo, um crime contra a humanidade e um mal absoluto. O mundo produz alimento suficiente para alimentar a todos, mas milhões de pessoas não o tem. Isso é consequência de um egoísmo perverso, de uma sociedade marcada pela indiferença e pela ganância.

Não vive em comunhão com Jesus o cristão que enxerga com naturalidade o vergonhoso e criminoso fenômeno da fome no mundo. Trata-se de um mal presente, que está próximo a nós. O que estamos fazendo para erradicar a fome no mundo? Como agimos diante da fome dos outros? O que nossas comunidades cristãs estão fazendo para ajudar os irmãos e irmãs que passam fome?

Se em nossas comunidades há pessoas que passam fome e nada fazemos para resolver este problema, então não somos dignos do Corpo e Sangue de Cristo. É preciso comungar na Igreja e na vida dos irmãos. Façamos, pois, um sério exame de consciência.

Há inúmeras formas de fome. Falamos da fome do alimento para o corpo, mas há outras fomes a serem saciadas: fome de atenção, afeto, cuidado, escuta, respeito, presença; enfim, fome de humanização. A nossa comunhão com o Corpo e o Sangue de Cristo é comunhão com os outros. Nestes, podemos encontrar o Corpo e o Sangue de Cristo, que sofre e que interpela a nossa humanidade.

Sem esta comunhão de vida com o próximo, Deus permanece surdo às nossas preces, e nossas liturgias, belas e solenes, não lhes agrada. Eucaristia é a vida do povo, e esta é a glória de Deus. Povos livres e saciados: eis o desejo de Deus para toda a humanidade.

Sejamos, pois, eucarísticos, e que nossas palavras e ações ajudem a construir a nova humanidade. A Trindade Santa nos quer partícipes da mesa do Reino definitivo, e a festa vai ser linda de ver e viver.
Tiago de França

domingo, 16 de junho de 2019

A Trindade


Neste domingo, a Igreja católica celebra a Solenidade da Santíssima Trindade. Não há inteligência neste mundo que seja capaz de desvendar este mistério: o mistério de um Deus em três Pessoas distintas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

O Pai é o Criador de todas as coisas, o Amoroso, que com o Filho e o Espírito existe desde sempre e para sempre. Este Pai não é homem nem mulher, é o mistério da perfeição, que em Jesus se revelou puro amor. O Pai é Amor e infinita misericórdia. Não é um carrasco, que criou o homem para vingar-se no tempo oportuno. Não. O Pai não é um vingador, mas é um Deus apaixonado por tudo o que criou, que a todos assiste porque jamais abandonará a obra criada. É um Deus apaixonado pelo ser humano, capaz de tudo para salvá-lo.

O Filho é Jesus, o Messias. Ungido do Pai, revelou ao mundo quem é o Pai. Humanamente, foi escandalosamente perfeito. Experimentou a condição da carne humana: fraca e limitada. Em comunhão com o Pai e o Espírito, venceu a morte e o mundo. Graças a Ele, conhecemos as entranhas da Trindade: pura relação constante de amor. O Filho amou as pessoas até o fim, até a morte de cruz. Assim, revelou-nos o grande desejo divino: recapitular todas as coisas. O Cristo Jesus é o nosso modelo de homem perfeito e de prática humana do amor divino. Ele é o nosso Salvador.

O Espírito Santo, com o Pai e o Filho, também se manifestou ao mundo e no mundo. Veio para ajudar os discípulos de Jesus a continuarem a sua missão redentora. Este é o Espírito que sonda todas as coisas, que nos faz conhecê-las e amá-las. É o grande revelador da vontade do Pai manifestada em Jesus. É este mesmo Espírito que ilumina, guia, orienta e sustenta o discípulo que se colocou no caminho de Jesus. No mundo, trabalha, dia e noite, realizando a obra de Jesus, que encontrará o seu desfecho final na realização total do Reino de Deus.

Esta é a Trindade, Deus Uno e Trino, mistério de amor, que a tudo abraça e ama. Este Deus ama a cada um de nós, com cuidado e predileção. A nossa comunhão com Ele nos conduz à felicidade verdadeira e plena. Abertos e disponíveis à ação amorosa da Trindade, esta faz a sua morada em nós e, assim, tudo é possível. Em nós, Deus nos ama e nos ensina a amar, nos torna verdadeiramente livres e nos faz conhecer, desde agora, as alegrias da vida eterna.
Tiago de França

sexta-feira, 7 de junho de 2019

O Espírito Santo e a liberdade


“O Espírito anima a história e o tempo presente. Torna a história mais humana, e torna a vida e cada dia mais feliz. Transfigura o nosso presente e gera um futuro” (José Comblin).

            A espiritualidade cristã ensina que não há libertação possível fora da ação do Espírito Santo. A história do cristianismo mostra, com clareza, que durante muito tempo o Espírito ficou como que esquecido. Era mencionado, é verdade, mas não passava de mera alusão nas fórmulas canônicas de oração. Hoje, mais que em outras épocas, temos a plena convicção da missão do Espírito no mundo.

            A festa de Pentecostes que se aproxima convida-nos à recordação do essencial: o Espírito age em nós, porque esta é a vontade de Deus e o cumprimento da promessa de Jesus (cf. Jo 14,26). É o Espírito que ilumina e guia os seguidores de Jesus em sua caminhada rumo à plenitude do Reino definitivo. Como bem disse José Comblin, em sua obra O Espírito Santo no mundo: “O Espírito anima a história”. Isto significa que o plano divino haverá de se cumprir porque o Espírito de Deus está agindo, dia e noite, para que a humanidade chegue ao conhecimento da realização plena daquilo que Deus, desde a eternidade, planejou realizar.

            Este mesmo Espírito “anima o tempo presente”. O nosso tempo é marcado pelos inúmeros males, decorrentes de muitos conflitos de interesses. Há uma sede de poder e de riqueza, que há muito tempo domina o espírito humano. Em nome do poder e da riqueza, os homens são capazes de tudo. Há um caminho de autoaniquilação, que se apresenta como projeto global de destruição. Diante de tanta violência e morte, parece não existir saída.

Estaria o mal afastando, de forma definitiva, a realização do plano de Deus? A fé em Jesus responde negativamente. A profissão de fé dos que acreditam na ação amorosa de Deus no mundo nos abre a janela da grande alegria esperançosa do mundo que há de vir: nos porões da humanidade, lá onde tudo parece treva, as sementes do Reino estão sendo lançadas, e elas já estão dando frutos de vida eterna.

Desde as periferias do mundo, onde se pode escutar o clamor dos injustiçados de todos os tempos e lugares, Deus Pai, Filho e Espírito Santo está trabalhando, despertando e alimentando a esperança do mundo futuro: este mundo transformado naquilo que a Trindade deseja: lugar de fraternidade, justiça e paz para todos. Não pode o mal resistir à força do amor. Não podem os corações resistirem ao fogo abrasador do Espírito que sonda todas as coisas. A nossa profecia não é a profecia da desgraça definitiva, mas da esperança que insiste em prevalecer porque o Espírito a cultiva no mais profundo das entranhas humanas.

Quando sopra o Espírito, os olhos se abrem; os caídos se levantam; os injustiçados gritam; a alegria transborda como água no deserto; a luz da verdade afasta as trevas da mentira; cessam as inimizades e reina a proximidade e o reconhecimento das chagas de Cristo Jesus nos outros; enfim, nada neste mundo escapa da luz resplandecente Daquele que foi enviado a este mundo, em nome de Jesus, para continuar alimentando a chama que fumega. Assim é o Espírito de Deus.

O tempo presente assiste também à rejeição das crenças religiosas e à decepção de muita gente. Aos poucos as pessoas estão descobrindo, mesmo que de forma dolorosa, que o mistério divino sempre foi confiado a mulheres e homens fracos. Desde a experiência missionária de Jesus é assim. Já no grupo dos Doze encontramos Pedro negando Jesus, e Judas Iscariotes entregando o seu Mestre por trinta moedas de prata. Assim são os homens: interesseiros, mesquinhos, frágeis, prepotentes, limitados. Mas a estas pessoas quis Jesus confiar a continuidade da sua missão.

É verdade que esta convicção de nossa fraqueza não pode ser utilizada para justificar nossas incoerências. Pelo contrário, serve-nos para reconhecermos que somos pó da terra e que precisamos confiar Naquele que nos chamou à vida e à missão. Conhecendo a natureza humana, Jesus prometeu que o Pai enviaria o Espírito, o Paráclito, e assim se fez. É este Espírito que conduz a família humana, e de modo especial, a missão de Jesus na história humana. Entregues a este Espírito, os discípulos de Cristo conseguiram, conseguem e sempre conseguirão cumprir o mandato missionário do anúncio da Boa Notícia do Reino de Deus.

A Igreja católica, que celebrará Pentecostes nestes dias, sabe da sua missão no mundo; sabe também das suas limitações. Conhece seus medos e incoerências, sua falsa prudência e sua omissão. Esta mesma Igreja, constituída de mulheres e homens, santos e pecadores, peregrinos nas estradas deste mundo desigual, não pode, jamais, recuar. Interiormente, parece muito evidente o surgimento de um movimento de retorno à grande disciplina que vigorava antes do Concílio Vaticano II. Mas o Espírito aponta para o futuro. Ele gera o futuro. O passado não é o lugar da vida, mas daquilo que se viveu. A missão acontece no presente, com olhos voltados para o futuro. Do passado se aprende a não repetição daquilo que não agradou à Trindade.

Não é possível assistirmos à renovação da Igreja, do espírito humano e de toda a humanidade, caminhando para trás. A marcha da história acontece no sentido oposto: caminhamos para o amanhã com os pés no aqui e agora. É agora que o Reino está acontecendo. É agora que o Espírito está trabalhando. Trata-se de um movimento constante, que resultará na libertação total e definitiva. O testemunho das Sagradas Escrituras nos mostra que esta é a vontade de Deus revelada na pessoa de Jesus, o Filho de Deus. E não existe força capaz de impor outra orientação ou rumo à marcha da história.

Não se trata de mero determinismo, mas de movimento de liberdade. As experiências que vamos conhecendo vão nos apontando para o caminho que conduz à liberdade. Porque este é o desejo mais profundo do nosso coração: desejamos ser livres. Mas não se trata de qualquer liberdade, mas daquela que realmente nos torna dignos de sermos reconhecidos como humanos e filhos de Deus.

Neste processo, o Espírito “torna a história mais humana”. Este caminho de humanização das pessoas, para que se revele o Deus vivo que está em todas elas, conta com a participação do Espírito Santo. Quando nos colocamos neste caminho, tudo se transfigura, se renova e aparece tal como é. O Espírito concede-nos a graça da visão da realidade e do conhecimento concreto daquilo que chamamos vida. Esta passa a ser percebida e sentida, vivida plenamente. É assim que o Espírito trabalha. Mas, mais que isto, Ele também tem seus meios, que a nossa pobre inteligência é incapaz de conhecer. O que sabemos e afirmamos é a antífona daquilo que reza o grande e infinito salmo do amor divino por cada um de nós.

Que o Espírito nos ilumine e nos conceda a graça de conhecermos, concretamente, a verdadeira vida. Assim, somos livres, humanos e felizes.

Tiago de França