A
solenidade de Corpus Christi é um grande momento da vida da Igreja católica.
Celebra-se, de forma solene, a memória da última Ceia do Senhor.
Na
última Ceia, além de partir o pão e o vinho com os seus discípulos, Jesus
realizou o gesto do lava-pés (cf. Jo 13, 1-17). Este gesto aponta para a
necessidade do serviço aos irmãos: lavando os pés dos seus discípulos, Jesus
ensina a servir.
Jesus
é o Pão vivo descido do céu, para alimentar o povo de Deus na sua caminhada
rumo à pátria definitiva. O discípulo missionário de Jesus precisa alimentar-se
dele para continuar sendo fiel em seu caminhar. Fortalecido por este divino
alimento, o discípulo é chamado a servir aos outros.
Não há
Eucaristia sem serviço, e não há seguimento de Jesus sem Eucaristia. Para viver
em comunhão com Ele, é necessário entrar na escola do serviço, alimentados pela
Eucaristia, ou seja, pelo próprio Cristo.
Hoje,
o que significa comungar a Eucaristia? Há um refrão de um hino que diz:
"Vamos comungar, vamos comungar./ Comungar na Igreja e na vida dos
irmãos". Quem são estes irmãos? São aqueles que precisam de nós, da nossa
presença, da nossa escuta e da nossa colaboração material.
Portanto,
a Eucaristia nos torna próximos das pessoas, nos faz samaritanos (cf. Lc
10,25-37). Por Cristo, com Cristo e em Cristo nos tornamos pessoas
eucarísticas. Uma pessoa eucarística vive totalmente aberta e disponível aos
outros, porque nela está Jesus, fazendo a sua morada com o Pai e o Espírito
Santo.
Vivemos
em um País com quase treze milhões de pessoas desempregadas. Como estas pessoas
estão ganhando o pão de cada dia? Ao redor do mundo, cerca de um bilhão de
pessoas passam fome todos os dias. Trata-se de um pecado que atenta a caridade
evangélica. Como as pessoas podem celebrar o Pão da vida, se falta o pão em
suas mesas?
A fome
é um escândalo, um crime contra a humanidade e um mal absoluto. O mundo produz
alimento suficiente para alimentar a todos, mas milhões de pessoas não o tem.
Isso é consequência de um egoísmo perverso, de uma sociedade marcada pela
indiferença e pela ganância.
Não
vive em comunhão com Jesus o cristão que enxerga com naturalidade o vergonhoso
e criminoso fenômeno da fome no mundo. Trata-se de um mal presente, que está
próximo a nós. O que estamos fazendo para erradicar a fome no mundo? Como
agimos diante da fome dos outros? O que nossas comunidades cristãs estão
fazendo para ajudar os irmãos e irmãs que passam fome?
Se em
nossas comunidades há pessoas que passam fome e nada fazemos para resolver este
problema, então não somos dignos do Corpo e Sangue de Cristo. É preciso
comungar na Igreja e na vida dos irmãos. Façamos, pois, um sério exame de
consciência.
Há
inúmeras formas de fome. Falamos da fome do alimento para o corpo, mas há
outras fomes a serem saciadas: fome de atenção, afeto, cuidado, escuta,
respeito, presença; enfim, fome de humanização. A nossa comunhão com o Corpo e
o Sangue de Cristo é comunhão com os outros. Nestes, podemos encontrar o Corpo
e o Sangue de Cristo, que sofre e que interpela a nossa humanidade.
Sem
esta comunhão de vida com o próximo, Deus permanece surdo às nossas preces, e
nossas liturgias, belas e solenes, não lhes agrada. Eucaristia é a vida do
povo, e esta é a glória de Deus. Povos livres e saciados: eis o desejo de Deus
para toda a humanidade.
Sejamos,
pois, eucarísticos, e que nossas palavras e ações ajudem a construir a nova
humanidade. A Trindade Santa nos quer partícipes da mesa do Reino definitivo, e
a festa vai ser linda de ver e viver.
Tiago
de França
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