sexta-feira, 11 de outubro de 2019

São João XXIII, o Papa do Vaticano II


Porque soube ler os sinais dos tempos, São João XXIII convocou o Concílio Ecumênico Vaticano II, o maior evento religioso da história recente da Igreja Católica. Esta leitura dos sinais dos tempos é, sem dúvida, graça do Espírito Santo.

Graças ao Vaticano II, celebramos a Eucaristia em língua vernácula, e não em latim. Os católicos não mais "assistem" à missa, mas dela são chamados a participar. Os fieis celebram a missa, juntamente com o padre ou o bispo que a preside.

A partir do Vaticano II, os leigos não mais são considerados meros destinatários do evangelho de Cristo, mas discípulos missionários de Cristo, para anunciar, com palavras e gestos, a Boa Notícia do Reino de Deus. O clero não é mais superior aos leigos; não é mais uma casta de privilegiados diante de Deus.

O Vaticano II quis inaugurar um novo jeito de ser Igreja, alicerçado na comunhão e participação, promovendo a diversidade dos carismas e dons. A Igreja não é mais uniforme, mas se descobriu plural e promotora da pluralidade. A salvação oferecida por Deus não é mais "propriedade" da Igreja, pois fora desta há claros sinais de salvação.

A Igreja voltou às fontes e redescobriu a sua verdadeira missão: evangelizar! Durante séculos se ocupou com muitas outras coisas, consideradas supérfluas, marginalizando o essencial. São João XXIII, profundo conhecedor da história da Igreja, percebeu que esta precisava se atualizar, pois era visível que não estava mais em condições de falar ao homem moderno. A Igreja estava ultrapassada. Até hoje continua em alguns aspectos.

O "Papa bom", como passou a ser chamado, devido à sua docilidade, caridade e bom humor, abriu as portas e janelas da Igreja, para o necessário diálogo com a diversidade das culturas, e para a assistência aos que sofrem. O Vaticano II deixou claro que o mundo não precisa de instituições religiosas fechadas e proselitistas, instituições a serviço dos poderosos deste mundo. A Igreja é chamada a ser Casa de acolhimento e de salvação, lugar do encontro com o Deus vivo, instrumento de Deus para a salvação do gênero humano.

O Vaticano II é o grande milagre que atesta a santidade de São João XXIII. É verdade que em muitos aspectos a Igreja ainda não evoluiu, continua estagnada. Mas é verdade também que depois de São João XXIII nos veio Francisco, que comunga do mesmo espírito eclesial, do mesmo ardor missionário e do mesmo sonho de uma Igreja em saída, aberta ao diálogo e ao novo que o Espírito Santo faz surgir na história.

São João XXIII deixa o exemplo de caridade com os pobres, simplicidade nas relações com as pessoas, escuta atenta ao que o Espírito diz à Igreja, humildade no jeito de ser, profunda confiança no Deus e Pai de Jesus, que conduz a história rumo à plenitude de seu Reino.

Que São João XXIII interceda pela caminhada da Igreja, nesta hora tão difícil, com tantos embates e falta de fé, interna e externamente. A Igreja, caindo e se levantando, com suas virtudes e pecados, continua a sua missão, que é missão de Cristo, porque este é o desejo do Deus que quer que a vida e a liberdade prevaleçam para sempre. A Igreja não pode deixar de cumprir o mandato missionário de Jesus, custe o que custar.

Tiago de França

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