Porque soube ler os sinais dos tempos, São João
XXIII convocou o Concílio Ecumênico Vaticano II, o maior evento religioso da
história recente da Igreja Católica. Esta leitura dos sinais dos tempos é, sem
dúvida, graça do Espírito Santo.
Graças ao Vaticano II, celebramos a Eucaristia
em língua vernácula, e não em latim. Os católicos não mais "assistem"
à missa, mas dela são chamados a participar. Os fieis celebram a missa,
juntamente com o padre ou o bispo que a preside.
A partir do Vaticano II, os leigos não mais são
considerados meros destinatários do evangelho de Cristo, mas discípulos
missionários de Cristo, para anunciar, com palavras e gestos, a Boa Notícia do
Reino de Deus. O clero não é mais superior aos leigos; não é mais uma casta de
privilegiados diante de Deus.
O Vaticano II quis inaugurar um novo jeito de
ser Igreja, alicerçado na comunhão e participação, promovendo a diversidade dos
carismas e dons. A Igreja não é mais uniforme, mas se descobriu plural e
promotora da pluralidade. A salvação oferecida por Deus não é mais
"propriedade" da Igreja, pois fora desta há claros sinais de
salvação.
A Igreja voltou às fontes e redescobriu a sua
verdadeira missão: evangelizar! Durante séculos se ocupou com muitas outras
coisas, consideradas supérfluas, marginalizando o essencial. São João XXIII,
profundo conhecedor da história da Igreja, percebeu que esta precisava se
atualizar, pois era visível que não estava mais em condições de falar ao homem
moderno. A Igreja estava ultrapassada. Até hoje continua em alguns aspectos.
O "Papa bom", como passou a ser
chamado, devido à sua docilidade, caridade e bom humor, abriu as portas e
janelas da Igreja, para o necessário diálogo com a diversidade das culturas, e
para a assistência aos que sofrem. O Vaticano II deixou claro que o mundo não
precisa de instituições religiosas fechadas e proselitistas, instituições a
serviço dos poderosos deste mundo. A Igreja é chamada a ser Casa de acolhimento
e de salvação, lugar do encontro com o Deus vivo, instrumento de Deus para a
salvação do gênero humano.
O Vaticano II é o grande milagre que atesta a
santidade de São João XXIII. É verdade que em muitos aspectos a Igreja ainda
não evoluiu, continua estagnada. Mas é verdade também que depois de São João
XXIII nos veio Francisco, que comunga do mesmo espírito eclesial, do mesmo
ardor missionário e do mesmo sonho de uma Igreja em saída, aberta ao diálogo e
ao novo que o Espírito Santo faz surgir na história.
São João XXIII deixa o exemplo de caridade com
os pobres, simplicidade nas relações com as pessoas, escuta atenta ao que o
Espírito diz à Igreja, humildade no jeito de ser, profunda confiança no Deus e
Pai de Jesus, que conduz a história rumo à plenitude de seu Reino.
Que São João XXIII interceda pela caminhada da
Igreja, nesta hora tão difícil, com tantos embates e falta de fé, interna e
externamente. A Igreja, caindo e se levantando, com suas virtudes e pecados,
continua a sua missão, que é missão de Cristo, porque este é o desejo do Deus
que quer que a vida e a liberdade prevaleçam para sempre. A Igreja não pode
deixar de cumprir o mandato missionário de Jesus, custe o que custar.
Tiago de França
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