Desde os
primeiros momentos que marcaram o início do pontificado do Papa Francisco, tem
surgido no seio da Igreja algumas reações contrárias à pessoa do Papa e à sua
forma de governar a Igreja. Este breve artigo não pretende reforçar o risco da
denominada “papolatria” (idolatria ao Papa), pois também esta é uma atitude
reprovável à luz do Evangelho de Jesus.
A denúncia das injustiças é parte
integrante do anúncio do Evangelho de Jesus. A Igreja, assembleia dos
discípulos missionários de Cristo, é chamada a anunciar o Reino de Deus. Esta é
a sua missão. O Papa, Bispo de Roma, chamado a trabalhar incansavelmente pela
unidade cristã, não ocupa o lugar de Jesus. Não é ele o centro da vida da
Igreja. A eclesiologia do concílio Vaticano II coloca Jesus no centro da vida
cristã e eclesial. O Papa Francisco conhece e pratica esta eclesiologia, e está
bem consciente de sua missão como sucessor de Pedro.
Com o passar do tempo, desde a sua
posse como Bispo de Roma, tem crescido o número daqueles que se utilizam das
redes sociais e outros meios para distorcer as falas e os gestos do Papa. As redes
sociais são utilizadas por pseudocatólicos que, não aceitando Francisco como
Papa, dedicam-se a mentir e, assim, causar confusão e divisão. Com a convocação
do Sínodo para a região Pan-Amazônica, as ofensas se intensificaram. A imaginação
de muitos opositores do Papa é diabolicamente fértil! Não se cansam de mentir e
vociferar.
As mensagens veiculadas demonstram,
com clareza e despudor, um ódio visceral, uma grave demonização da pessoa, das
falas e dos gestos do Papa Francisco. Entre os opositores, cardeais, bispos,
padres, diáconos, seminaristas, religiosos/as e leigos estão fazendo um verdadeiro
estrago na Igreja: são pessoas que se dedicam à divisão da Igreja em nome de
Jesus e da tradição da própria Igreja. São pseudocatólicos mal-intencionados,
que não compreendem nem aceitam a mensagem de Jesus, que convida à unidade na
diversidade.
Há de se fazer uma justa distinção,
para evitarmos injustiças: temos visto que na Igreja há um grupo mais alinhado
à tradição, que é mais preocupado com a conservação desta tradição do que com o
anúncio do Evangelho de Jesus. Apresentam-se como ferrenhos defensores da tradição.
Atualmente, estes “conservadores” podem ser divididos em “conservadores
moderados”, e “conservadores radicais” ou “ultraconservadores”. Estes últimos estão
em campo de batalha, pois entendem que é preciso permanecer em estado permanente
de guerra contra as pessoas que não comungam com suas ideias.
Ultraconservadores são “cristãos”
radicais, que não estão interessados em dialogar nem refletir. Diálogo e
reflexão não integram o jeito ultraconservador de ser. O cardeal Burke é um
exemplo clássico de “cristão” ultraconservador. Na crítica destrutiva que fazem
ao Papa e ao Sínodo da Amazônia não aparece a preocupação com a evangelização
dos povos amazônicos. Não há esta preocupação. O cardeal e seus discípulos
estão preocupados em manter aspectos da tradição que não mais servem à
evangelização das mulheres e homens de hoje. São de mentalidade tridentina e,
portanto, contrários à evolução dos tempos.
Os ultraconservadores acreditam que
a salvação da Igreja está na observância da lei e na conservação da tradição, e
não no Evangelho de Jesus. Assim como os fariseus, o mais importante é a lei, e
não a vida das pessoas. Não aceitam a posição de Jesus em relação aos fariseus.
Neste sentido, não aceitam o Evangelho de Jesus. Entre cumprir a lei e salvar
uma pessoa, preferem cumprir a lei. Ainda não compreenderam o ensinamento do
apóstolo Paulo, que ensina que não é a letra da lei que salva, mas o espírito é
que faz viver (cf. 2Cor 3, 6).
Esta onda de ódio que tomou conta de
muitos, fere a dignidade pessoal do Papa Francisco e a unidade da Igreja
Católica, que já experimentou, em épocas diferentes de sua história, o terrível
mal da divisão. Graças ao uso da rede mundial de computadores e das redes
sociais, as ofensas e mentiras chegam mais facilmente a milhões de pessoas,
tornando o estrago cada vez maior. Como a muita gente faltam o bom senso, o
conhecimento e o discernimento, então a adesão à mentira é certa por parte de
muitos.
No seio da Igreja Católica e nas relações
interpessoais em geral, as pessoas devem ser livres para pensar e manifestar o
seu pensamento. Mas ninguém pode dizer que é livre para ofender aos outros,
difamando, caluniando e injuriando. Tais ofensas constituem pecado, portanto,
são contrárias ao Evangelho. Na ordem civil, também são consideradas crimes
contra a honra.
A mensagem de Jesus que o verdadeiro cristão é chamado a
anunciar é alicerçada na verdade, na liberdade e no respeito às diferenças. Discordar
é diferente de acusar. Grande parcela dos que acusam o Papa, afirmando ser ele
herege, não sabem sequer o que significa a palavra heresia. Muitos são filhos
da ignorância e da maledicência. Quem realmente conhece o Papa sabe muito bem
da sua fidelidade à tradição da Igreja, da sua simplicidade e do seu empenho em
buscar a Deus em todas as coisas, fazendo tudo para a maior glória de Deus, como
um bom jesuíta que é.
Santo Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus
(Jesuítas), cunhou a expressão “sentire cum ecclesia”: sentir com a Igreja. Ao final
dos Exercícios Espirituais, escritos por Santo Inácio, aparecem dezoito regras
que viabilizam este “sentir com a Igreja”. Para sentir com a Igreja, o cristão
católico precisa estar em comunhão com a Igreja. Quem colabora para dividi-la,
é inimigo da Igreja, corpo místico de Cristo. Trata-se de um pecado gravíssimo,
pois contraria a mensagem de Jesus, que exige a unidade daqueles que se tornam
seus discípulos missionários.
É possível e tolerável que as pessoas discordem da
disciplina eclesiástica, bem como se posicione contra os pecados cometidos por
membros da Igreja, principalmente clérigos. Mas é inadmissível se colocar
frontalmente contra a unidade da Igreja, semeando a mentira e contrariando as
verdades fundamentais da fé cujo alicerce é a mensagem de Jesus. Não se trata
de defender o corporativismo, mas de denunciar a persistente ação obstinada
contra aqueles que estão no caminho de Jesus, em comunhão com toda a Igreja.
Portanto, são inimigos da cruz de Cristo os que semeiam a discórdia,
com o objetivo de dividir a Igreja, instrumento de salvação da humanidade. Tais
pessoas precisam ler o Evangelho de Jesus, meditar a mensagem nele contida, e
buscar praticá-la, tendo em vista a conversão. Neste caso, converter-se significa
retornar à comunhão com a Igreja, gravemente ferida por aqueles que,
desprezando o Evangelho de Jesus, comportam-se de forma incoerente com o
chamado divino à unidade no amor.
Tiago de França
Um comentário:
Vida longa ao amado Papa Francisco.
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