segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Sentire cum ecclesia


       Desde os primeiros momentos que marcaram o início do pontificado do Papa Francisco, tem surgido no seio da Igreja algumas reações contrárias à pessoa do Papa e à sua forma de governar a Igreja. Este breve artigo não pretende reforçar o risco da denominada “papolatria” (idolatria ao Papa), pois também esta é uma atitude reprovável à luz do Evangelho de Jesus.
            A denúncia das injustiças é parte integrante do anúncio do Evangelho de Jesus. A Igreja, assembleia dos discípulos missionários de Cristo, é chamada a anunciar o Reino de Deus. Esta é a sua missão. O Papa, Bispo de Roma, chamado a trabalhar incansavelmente pela unidade cristã, não ocupa o lugar de Jesus. Não é ele o centro da vida da Igreja. A eclesiologia do concílio Vaticano II coloca Jesus no centro da vida cristã e eclesial. O Papa Francisco conhece e pratica esta eclesiologia, e está bem consciente de sua missão como sucessor de Pedro.
            Com o passar do tempo, desde a sua posse como Bispo de Roma, tem crescido o número daqueles que se utilizam das redes sociais e outros meios para distorcer as falas e os gestos do Papa. As redes sociais são utilizadas por pseudocatólicos que, não aceitando Francisco como Papa, dedicam-se a mentir e, assim, causar confusão e divisão. Com a convocação do Sínodo para a região Pan-Amazônica, as ofensas se intensificaram. A imaginação de muitos opositores do Papa é diabolicamente fértil! Não se cansam de mentir e vociferar.
            As mensagens veiculadas demonstram, com clareza e despudor, um ódio visceral, uma grave demonização da pessoa, das falas e dos gestos do Papa Francisco. Entre os opositores, cardeais, bispos, padres, diáconos, seminaristas, religiosos/as e leigos estão fazendo um verdadeiro estrago na Igreja: são pessoas que se dedicam à divisão da Igreja em nome de Jesus e da tradição da própria Igreja. São pseudocatólicos mal-intencionados, que não compreendem nem aceitam a mensagem de Jesus, que convida à unidade na diversidade.
            Há de se fazer uma justa distinção, para evitarmos injustiças: temos visto que na Igreja há um grupo mais alinhado à tradição, que é mais preocupado com a conservação desta tradição do que com o anúncio do Evangelho de Jesus. Apresentam-se como ferrenhos defensores da tradição. Atualmente, estes “conservadores” podem ser divididos em “conservadores moderados”, e “conservadores radicais” ou “ultraconservadores”. Estes últimos estão em campo de batalha, pois entendem que é preciso permanecer em estado permanente de guerra contra as pessoas que não comungam com suas ideias.  
            Ultraconservadores são “cristãos” radicais, que não estão interessados em dialogar nem refletir. Diálogo e reflexão não integram o jeito ultraconservador de ser. O cardeal Burke é um exemplo clássico de “cristão” ultraconservador. Na crítica destrutiva que fazem ao Papa e ao Sínodo da Amazônia não aparece a preocupação com a evangelização dos povos amazônicos. Não há esta preocupação. O cardeal e seus discípulos estão preocupados em manter aspectos da tradição que não mais servem à evangelização das mulheres e homens de hoje. São de mentalidade tridentina e, portanto, contrários à evolução dos tempos.
            Os ultraconservadores acreditam que a salvação da Igreja está na observância da lei e na conservação da tradição, e não no Evangelho de Jesus. Assim como os fariseus, o mais importante é a lei, e não a vida das pessoas. Não aceitam a posição de Jesus em relação aos fariseus. Neste sentido, não aceitam o Evangelho de Jesus. Entre cumprir a lei e salvar uma pessoa, preferem cumprir a lei. Ainda não compreenderam o ensinamento do apóstolo Paulo, que ensina que não é a letra da lei que salva, mas o espírito é que faz viver (cf. 2Cor 3, 6).
            Esta onda de ódio que tomou conta de muitos, fere a dignidade pessoal do Papa Francisco e a unidade da Igreja Católica, que já experimentou, em épocas diferentes de sua história, o terrível mal da divisão. Graças ao uso da rede mundial de computadores e das redes sociais, as ofensas e mentiras chegam mais facilmente a milhões de pessoas, tornando o estrago cada vez maior. Como a muita gente faltam o bom senso, o conhecimento e o discernimento, então a adesão à mentira é certa por parte de muitos.
            No seio da Igreja Católica e nas relações interpessoais em geral, as pessoas devem ser livres para pensar e manifestar o seu pensamento. Mas ninguém pode dizer que é livre para ofender aos outros, difamando, caluniando e injuriando. Tais ofensas constituem pecado, portanto, são contrárias ao Evangelho. Na ordem civil, também são consideradas crimes contra a honra.
A mensagem de Jesus que o verdadeiro cristão é chamado a anunciar é alicerçada na verdade, na liberdade e no respeito às diferenças. Discordar é diferente de acusar. Grande parcela dos que acusam o Papa, afirmando ser ele herege, não sabem sequer o que significa a palavra heresia. Muitos são filhos da ignorância e da maledicência. Quem realmente conhece o Papa sabe muito bem da sua fidelidade à tradição da Igreja, da sua simplicidade e do seu empenho em buscar a Deus em todas as coisas, fazendo tudo para a maior glória de Deus, como um bom jesuíta que é.
Santo Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus (Jesuítas), cunhou a expressão “sentire cum ecclesia”: sentir com a Igreja. Ao final dos Exercícios Espirituais, escritos por Santo Inácio, aparecem dezoito regras que viabilizam este “sentir com a Igreja”. Para sentir com a Igreja, o cristão católico precisa estar em comunhão com a Igreja. Quem colabora para dividi-la, é inimigo da Igreja, corpo místico de Cristo. Trata-se de um pecado gravíssimo, pois contraria a mensagem de Jesus, que exige a unidade daqueles que se tornam seus discípulos missionários.
É possível e tolerável que as pessoas discordem da disciplina eclesiástica, bem como se posicione contra os pecados cometidos por membros da Igreja, principalmente clérigos. Mas é inadmissível se colocar frontalmente contra a unidade da Igreja, semeando a mentira e contrariando as verdades fundamentais da fé cujo alicerce é a mensagem de Jesus. Não se trata de defender o corporativismo, mas de denunciar a persistente ação obstinada contra aqueles que estão no caminho de Jesus, em comunhão com toda a Igreja.
Portanto, são inimigos da cruz de Cristo os que semeiam a discórdia, com o objetivo de dividir a Igreja, instrumento de salvação da humanidade. Tais pessoas precisam ler o Evangelho de Jesus, meditar a mensagem nele contida, e buscar praticá-la, tendo em vista a conversão. Neste caso, converter-se significa retornar à comunhão com a Igreja, gravemente ferida por aqueles que, desprezando o Evangelho de Jesus, comportam-se de forma incoerente com o chamado divino à unidade no amor.  
Tiago de França

Um comentário:

Anesio da Cruz disse...

Vida longa ao amado Papa Francisco.