sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

A fé cristã e a cultura do ódio nas redes sociais


          A cultura do ódio no mundo virtual, principalmente nas redes sociais, é uma realidade que tem preocupado muitas pessoas e instituições. Neste breve artigo, tratarei da questão à luz da fé cristã, na esfera religiosa. Posteriormente, poderei discorrer sobre o assunto à luz do direito penal. Inicialmente, quero tratar da existência de pessoas e grupos que utilizam as redes sociais (Facebook, Instagram, YouTube e WhatsApp, entre outras) para disseminar o ódio entre as pessoas. Muitas destas afirmam professar a fé em Jesus Cristo. Esta é uma conduta louvável à luz do Evangelho? Verifiquemos.
            O que seria esta cultura do ódio? Trata-se de um movimento violento, que induz as pessoas a se odiarem, ou odiarem determinada pessoa ou grupo. Este movimento é composto por indivíduos que gastam seu tempo e suas energias com a disseminação de informações falsas (fake news) e interpretações equivocadas e preconceituosas sobre a Sagrada Escritura e a doutrina cristã católica. Estamos tratando de perfis católicos nas redes sociais. Em inglês, estas pessoas são denominadas haters (odiadores).
            Algumas se utilizam de perfis falsos para extravasar o seu ódio, outras revelam a sua identidade. Ambas não aceitam discutir fora do mundo virtual, e o motivo é simples: geralmente, são medrosas e desprovidas de conhecimento fundamentado sobre o que falam. Muitas não conseguem se controlar e cometem crimes contra a honra alheia: difamação e calúnia. Quando denunciadas, respondem a processos judiciais. A linguagem que usam é direta, veemente e agressiva; possuem uma visão míope sobre a realidade, são reducionistas.
            Politicamente, são de direita ou de extrema-direita. Entre os mais famosos difamadores e caluniadores “cristãos” não se encontram pessoas de esquerda. Os alvos principais costumam ser o Romano Pontífice, o Papa Francisco, e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. O pessoal da esquerda se identifica com o Papa Francisco, por ser um Papa mais aberto e reconhecedor da importância das questões sociais. Não é de se negar que há, quase que inevitavelmente, um conflito entre os chamados progressistas, politicamente de esquerda, e os ultraconservadores, politicamente de extrema-direita. Estamos nos referindo ao âmbito político das opções. Geralmente, é assim que tais pessoais e grupos se apresentam.
            Nas eleições gerais de 2018, milhões de católicos e cristãos de outras Igrejas se identificaram com as pautas e os perfis de políticos ultraconservadores, representados pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro. Assim, ficou evidente que a maioria dos cristãos conservadores e ultraconservadores se identifica com projetos políticos que possuem a mesma linha ideológica. Inclusive, os políticos ultraconservadores se utilizam de ideias e doutrinas religiosas mais conservadoras para justificar suas opções políticas. Agora estamos assistindo ao resultado desta onda ultraconservadora que tomou conta do catolicismo, do protestantismo e do Estado brasileiro.
            Teologicamente falando, nenhuma forma de violência pode ser justificada. Quem conhece a Bíblia sabe que o Deus e Pai de Jesus Cristo é pacífico, justo e misericordioso. Jesus Cristo nos revelou a verdadeira face de Deus: um Deus apaixonado pelo ser humano e por toda a criação; que foi capaz de enviar o seu único Filho para salvar toda a humanidade; que se revelou como Pai, Filho e Espírito Santo, Trindade amorosa, desprovida de qualquer desejo de vingança. O Deus dos cristãos não é dado à violência, nem é um vingador, mas é o Deus da justiça e da paz.
            No Evangelho, encontramos Jesus felicitando os mansos: “Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra” (Mateus 5,5). Não são os violentos que são felizes, mas os mansos. Noutro momento, diz Jesus: “Aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração” (Mateus 11,29). Portanto, a cultura do ódio, expressa na disseminação da mentira, entre outras atitudes maléficas, não possui justificação no Evangelho. Quem instiga o ódio se coloca na contramão do Evangelho, sendo totalmente contrário à mensagem pacífica de Jesus Cristo.
            Nas redes sociais, o cristão é convidado a expressar sempre a verdade e combater a mentira, pois é a verdade que liberta o ser humano (cf. João 8,32). A mentira sistemática, que visa destruir a boa reputação de pessoas, grupos e instituições, é obra de Satanás, que é o pai da mentira (cf. João 8,44). Por isso, insistir na mentira para prejudicar aos outros é ação antievangélica, porque contraria a fé cristã. A mentira gera engano e confusão, e destrói a vida comunitária e a paz social.
            No seio da Igreja católica há dois grupos contrários ao Papa Francisco e a todos aqueles que estão em comunhão com ele: Os ultraconservadores, que o acusam de ser herege e pedem a sua renúncia. Estes também afirmam que a Sé Romana está vacante desde a renúncia do Papa Bento XVI. Não aceitam Francisco como Papa, mesmo sabendo que Francisco foi, legitimamente, eleito. O segundo grupo é menos radical: Os conservadores, que não chegam a acusar o Papa de ser herege, mas não comungam com o seu pensamento e gestos. Nestes grupos é possível encontrar leigos, seminaristas, diáconos, padres, bispos e até cardeais.
            Os ultraconservadores acreditam que o Papa Francisco é uma ameaça à ortodoxia da fé cristã. Propagam a ideia de que o Papa ameaça a Tradição da Igreja. Na verdade, não acontece nem uma coisa, nem outra. Na prática, o Papa retoma a centralidade de Jesus e sua Palavra na vida e missão da Igreja. Neste sentido, o Papa está em plena sintonia com o concílio Vaticano II, que fez a Igreja retornar às fontes primitivas. Os opositores do Papa são pessoas com mentalidade de cristandade, ou seja, ainda acreditam que o mundo gira em torno da Igreja católica. Apesar da sobrevivência de alguns resquícios da cristandade, esta tende a desaparecer de forma definitiva.
            O mundo gira em torno do poder, do prestígio e do dinheiro. Não pertence mais à religião cristã ou a qualquer outra a palavra final sobre as diversas questões que afetam a humanidade. Na pós-modernidade, marcada pela globalização e pelo relativismo ético e moral, as pessoas não mais escutam o que dizem as religiões. Vivemos numa época marcada pelo desprezo e pela marginalização das tradições religiosas.
As pessoas que conservam a fé em Deus tendem a alimentar a sua fé fora dos muros dos templos religiosos. Não adianta negar esta realidade. Por isso, o Papa Francisco, atento a este cenário, defende e promove uma “Igreja em saída”. Na cristandade, a Igreja não saía em direção ao mundo, mas fugia deste porque o considerava obra das trevas. Os que tem mentalidade de cristandade pensam assim: É preciso subir até Deus, pois o mundo está dominado pelo diabo e seus agentes. O que nos diz o Evangelho? Jesus fala que seus discípulos devem fazer o caminho inverso: Ide e evangelizai! “O que vocês estão fazendo aí, olhando para o alto?”, questiona a mensagem de Jesus.
A busca por seguranças, dinheiro, prestígio e poder leva muita gente a rejeitar um modelo de “Igreja em saída”. Sair é movimento inseguro, é abraçar o caminho de Jesus: estreito, pedregoso, marcado pela cruz. Mas não é uma cruz romantizada, sem sofrimento nem martírio. É a cruz que implica perseguição, incompreensão, difamação, calúnia, desprezo e sangue. Esta é a espiritualidade da cruz de Cristo: Mais cristianismo, menos devocionismo e apego a costumes, práticas e estruturas ultrapassadas. Os opositores do Papa e da “Igreja em saída” não conhecem esta espiritualidade. Na verdade, gostam do espetáculo, do estrelismo, do ego inflamado, do barulho e da confusão. São pessoas que precisam se ocupar com o exercício libertador da caridade fraterna.
Jesus nos diz que a boca fala daquilo que o coração está cheio (cf. Mateus 12,34). Este é um dos critérios de discernimento para saber as reais intenções destas pessoas. Se somente falam mal do próximo, emitindo opiniões sem fundamento na verdade, então são dignas do nosso descrédito. Quando se ocupam somente com o juízo e a condenação dos outros, não precisamos ouvi-las, pois estão na contramão do que disse Jesus (cf. Marcos 4,24; Mateus 7,1).
A caridade é o critério mais importante. Perdemos a razão quando faltamos com a caridade com o próximo. Fechar-se ao diálogo e à concórdia é faltar com a caridade. As outras pessoas merecem a nossa atenção, escuta e respeito. Inventar mentiras sobre os outros é uma grave falta de caridade. Todos precisamos aprender a dialogar. O diálogo continua sendo o caminho para o entendimento mútuo e para a paz social. Ninguém convence os outros usando da mentira. Aderir à verdade é assumir um compromisso com a comunhão fraterna. Os falsos profetas são mentirosos, porque não promovem a comunhão, mas são servidores da divisão, inimigos da unidade cristã.
O ódio não é mais forte que o amor, nem é superior ao testemunho daqueles que se encontram na verdade. Somente aqueles que estão na verdade escutam a voz de Jesus (cf. João 18,37). Os servidores da mentira são filhos do diabo (cf. João 8,44), agentes da discórdia, “profetas da desgraça” (expressão usada por São João XXIII, Papa que convocou o Vaticano II). Todos os que se dedicam ao ódio serão cobertos de vergonha e confusão, porque o mal não prospera, mas destrói as pessoas (cf. Salmo 70,2-3).
Por fim, cabe-nos dizer, sem equívoco algum: Todo aquele que gasta seu tempo nas redes sociais para criar e compartilhar mentiras, promovendo, assim, a disseminação da cultura do ódio, não está em comunhão com Jesus, nem com a Igreja. É inadmissível abrir a boca para dizer que Jesus é o Senhor e, ao mesmo tempo, difamar e caluniar o próximo. É possível a existência de discordâncias, pois são diversos os pontos de vista. Mas é inaceitável que em nome da liberdade de expressão, liberdade de imprensa e liberdade de consciência, alguém crie e compartilhe mentiras sobre outras pessoas.
Na Igreja, à luz do Evangelho, da Tradição e do magistério dos Papas e Bispos, os pastores integram o povo de Deus, e deve existir o necessário clima de respeito, estima e consideração entre clérigos e não clérigos. Diante de Deus não existe classe superior, mas todos são irmãos em Cristo Jesus, filhos de um mesmo Pai, e todos bebem do mesmo Espírito. Cada um a seu modo, dentro de suas possibilidades, são chamados a promover a unidade e a paz. O cristão não é um agente da divisão, mas é um discípulo missionário de Cristo Jesus, vivendo no mundo sem ser do mundo, sendo sal da terra e luz do mundo, para que todos tenham vida e a tenham em abundância. Esta é a vontade de Deus para a salvação da humanidade.  
Tiago de França

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Santo Tomás de Aquino e o esclarecimento da fé


“Quem quiser viver na perfeição, nada mais tem a fazer do que desprezar aquilo que Cristo desprezou na cruz e desejar o que ele desejou. Na cruz, pois, não falta nenhum exemplo de virtude” (Das Conferências de Santo Tomás de Aquino, presbítero, séc. XIII).
            Nascido por volta do ano 1225, de família rica, santo Tomás era dominicano e completou seus estudos em Paris e em Colônia. Foi aluno de santo Alberto Magno, escreveu muitas obras, e como professor, lecionou disciplinas filosóficas e teológicas. Tornou-se muito famoso, e até hoje é considerado um dos maiores teólogos da história da Igreja. Morreu a 7 de março de 1274. Na liturgia da Igreja católica, sua memória é celebrada a 28 de janeiro, data em que seu corpo foi trasladado para Toulouse, na França, em 1369.
            Os escritos de santo Tomás revelam um mestre da especulação teológica, alguém com capacidade intelectual suficiente para mergulhar na ciência das coisas divinas. O conhecimento sistemático da Teologia não é para todo mundo, pois nem todos tem capacidade para mergulhar na complexidade desta importante ciência. O fato de nem todos terem capacidade para dominar os conceitos e realidades teológicas não significa que sejam inferiores aos graduados, mestres e doutores em Teologia.
             É verdade que o conhecimento teológico não se reduz somente à especulação e/ou à pesquisa, mas também envolve a fé e, consequentemente, a relação com Deus na vida eclesial. Portanto, o teólogo é alguém que não somente realiza leituras, pesquisas e interpretações, mas por meio destas atividades se relaciona com Deus e oferece às pessoas o resultado do seu trabalho. A Teologia envolve toda a vida do teólogo, transformando-o em um instrumento nas mãos daquele que está no centro do fazer teológico, ou seja, aquele que é o “objeto” por excelência do trabalho teológico: Deus.
            Santo Tomás fez parte do valioso grupo daqueles que trabalharam intensamente para o esclarecimento da fé cristã. Exemplo disso é a sua Suma Teológica, escrita com o objetivo de apresentar, sistematicamente, a doutrina sagrada aos homens e mulheres de boa vontade. O arcabouço teológico de santo Tomás é de grande valia para a compreensão justa e necessária da fé, bem como integra a tradição da Igreja, naquilo que há de mais belo e profundo. Este “Doutor Angélico” era homem contemplativo, silencioso e discreto; de poucas palavras, apelidado “boi mudo”, tinha como preocupação fundamental oferecer aos outros os frutos da contemplação.
            Em todas as épocas e lugares, sempre nasceram mulheres e homens dotados de uma capacidade especial para compreender, assimilar, analisar e transmitir inúmeros tipos de conhecimentos. Trata-se de um dom, de um chamado à vida intelectual. Também na história da Igreja, encontramos pessoas de grande envergadura, constituídas de uma enorme capacidade de abstração e domínio do conhecimento. São pessoas que precisam ser identificadas, reconhecidas e direcionadas para maiores aperfeiçoamentos. Quem tem vocação à vida intelectual precisa de oportunidades para realizar a sua vocação.
            A vocação à vida intelectual a serviço do anúncio do Evangelho é essencial para a vida da Igreja. O que seria da Igreja se não fossem os grandes mestres da fé, como os Santos Padres da era patrística e tantos outros doutores e doutoras de épocas posteriores? O Vaticano II, responsável pela grande guinada da Igreja na segunda metade do século XX, foi precedido pelo trabalho de teólogos de grande peso, que deixaram obras memoráveis para serem lidas e relidas. O que seria da Igreja sem a contribuição de homens como Karl Rahner, Yves Congar, Hans Küng, Hans Urs von Balthasar, Jean Daniélou, Joseph Ratzinger, Joseph Comblin, Johann Baptist Metz, Bernard Häring, João Batista Libânio, Leonardo Boff, Ivone Gebara, Clodovis Boff, Jon Sobrino, Gustavo Gutiérrez, entre outros?
            Certamente, não nasceram teólogos, mas a Igreja os fez pensadores da ciência das coisas divinas. Eles tiveram a oportunidade para estudar bastante, tiveram tempo e espaço para pensar a fé em Jesus Cristo. Esta fé possui conteúdo, história e razão de ser. Santo Tomás ajudou a Igreja a dar ao mundo as razões da fé que professa, e nos deixou a sagrada provocação de continuar pensando a fé a partir de Cristo em plena sintonia com a realidade atual. A Igreja de hoje precisa de mulheres e homens que se dediquem a este trabalho. O Espírito do Senhor, força que guia a Igreja em seu peregrinar rumo ao Reino definitivo, nunca deixou faltar estas mentes inquietas, sedentas do conhecimento de Deus.
            O Papa Bento XVI, em uma de suas catequeses sobre santo Tomás, recordou que certa vez, enquanto rezava na capela de São Nicolau, em Nápolis, o sacristão Domingos de Caserta ouviu o diálogo do santo com Deus. Preocupado se sua teologia era, de fato, de acordo com a vontade de Deus, santo Tomás ouve uma voz sair do crucifixo: “Falaste bem de mim, Tomás, qual será tua recompensa?” E o Doutor Angélico respondeu: “Nada mais do que Tu, Senhor”.
A Trindade é a recompensa do árduo e sagrado trabalho do teólogo. Mais que em outras épocas da história, para não sofrer do mal da mediocridade, que também deriva do enfraquecimento da fé, a Igreja precisa investir naqueles que receberam do Espírito do Senhor o chamado para mergulhar nas águas mais profundas do conhecimento de Deus. Para desprezar o que Cristo desprezou na cruz e desejar o que ele desejou, este conhecimento de Deus é essencial, pois sem ele parece não ser possível saber e sentir os apelos de Deus para o hoje da história. É preciso conhecer e meditar, contemplar e sentir, amar e ser amado. A Teologia contempla tudo isso.

Tiago de França

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

A força da Palavra de Deus


“Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo” (Mt 4, 17).
            Há uma tentação que persegue constantemente os cristãos: a de marginalizar a Palavra de Deus. Em vários momentos da sua história, a Igreja católica deixou de lado a Palavra de Deus, para se dedicar à busca de riquezas, prestígio e poder. Quem estuda a história eclesiástica tem a oportunidade de conhecer as consequências deste “esquecimento” da Palavra.
            Com a realização do concílio Vaticano II, a Igreja voltou às fontes primitivas e redescobriu a força da Palavra. A Igreja católica se coloca como ouvinte da Palavra e, assim, chamada a anunciá-la ao mundo. A constituição dogmática Dei Verbum sobre a revelação divina, fala desta redescoberta da Palavra na vida e na missão da Igreja. A Palavra deixa de ser monopólio do clero, e passa a ser o Livro Sagrado acessível a todos os fieis. Durante muito tempo, somente o clero lia e interpretava a Palavra. O povo somente escutava o que o clero dizia.
            Hoje, as pessoas podem ter o texto das Sagradas Escrituras em mãos. Trata-se de um dos livros mais vendidos e traduzidos do mundo. Apesar disso, falta leitura, meditação e contemplação da Palavra. Infelizmente, a maioria dos cristãos não possui a prática da leitura da Bíblia. Esta falta de familiaridade com a Palavra possui raízes históricas. Estas explicam, mas não justificam. Em cada país do mundo, o cristão pode ter acesso à Palavra na sua própria língua.
            Outro dado importante que muito envergonha o cristianismo, e que tem causado muito descrédito é a manipulação que muitos fazem da Palavra. Esta é distorcida por pessoas que visam a satisfação de seus próprios interesses. Muita gente utiliza a Palavra para enganar, ofender, julgar, condenar, roubar e matar os outros. A Palavra não foi escrita com esta finalidade. Ninguém recebeu de Deus o poder para usar a Palavra como instrumento de legitimidade de práticas desumanas e criminosas. Deus pronuncia a sua Palavra para libertar as pessoas, jamais para enganá-las e escravizá-las (cf. Jo 8,32).
            A manipulação da Palavra consiste num processo sistemático de distorção do seu sentido. Os estudiosos em Bíblia, ao longo dos séculos, ofereceram e continuam oferecendo valiosas contribuições que nos permitem acessar o sentido dos textos bíblicos. Não é mais possível aceitarmos interpretações deturpadas das Escrituras Sagradas, que somente visam o enriquecimento ilícito e outras práticas contrárias à mensagem libertadora que encontramos nos textos sagrados.
            Do Gênesis ao Apocalipse, a Palavra de Deus revela a mensagem da salvação, que consiste na libertação integral da humanidade e na plenitude do Reino de Deus, Reino presente na história humana, que conhecerá a sua realização plena na parusia (volta) do Senhor, conforme as Escrituras Sagradas. Na Palavra encontramos a revelação divina, que precisa ser conhecida e meditada, pois é fonte de vida e salvação. Sem o conhecimento da revelação não é possível conhecer Jesus, o Senhor e Salvador, pois é o centro, a plenitude e a chave de interpretação da revelação divina.
            Preocupado com a centralidade da Palavra na vida e na missão da Igreja católica, o Papa Francisco instituiu o Domingo da Palavra de Deus, com a carta apostólica sob a forma de Motu Proprio “Aperuit illis”. Neste documento, o Papa estabeleceu que “o III Domingo do Tempo Comum seja dedicado à celebração, reflexão e divulgação da Palavra de Deus”. Neste ano, este Domingo será celebrado no próximo dia 26 de janeiro. O fato de um Papa instituir um Domingo para recordar a importância da Palavra na vida cristã é um claro sinal de que algo precisa melhorar; do contrário, não haveria necessidade desta instituição.
            Por que é importante a leitura, meditação e contemplação da Palavra na vida cristã e eclesial? Não há cristão nem Igreja cristã sem a Palavra de Deus. Tanto um quanto outro devem se ocupar, permanentemente, com a Palavra. Ela é a revelação do projeto salvífico de Deus; é a luz que ilumina a caminhada do povo de Deus; é a força que impulsiona esta caminhada; é a verdade que liberta integralmente; é a fonte de onde brota a água viva que jorra para a vida eterna. Quem bebe da Palavra nunca mais terá sede, pois nela está Jesus de Nazaré, o único capaz de saciar a fome e a sede de justiça e de paz que trazemos no mais profundo de nosso ser.
            A Palavra é capaz de transformar toda pessoa que a acolhe. Sem esta acolhida, não é possível a conversão. É inconcebível que alguém leia, medite e contemple a Palavra, e continue da mesma forma, mergulhado na mesquinhez e na mediocridade. A Palavra transforma interiormente a pessoa. Ela age como o oleiro que trabalha o barro; é uma espada de dois gumes, que corta e penetra; é um fogo que queima e aquece; é como a água em terra esturricada.
            A Palavra é um dos lugares de encontro com Deus. Este encontro é sempre fecundo e libertador. Na Palavra, Deus trabalha o ser da pessoa, transformando-a naquilo que Ele quer. Por meio da Palavra, a pessoa se une a Deus, participando da sua vida. Neste sentido, vale considerar o que dizia o sábio São Jerônimo: “Ignorar as Escrituras é ignorar a Cristo”. Este grande leitor, intérprete e tradutor das Escrituras assim se pronunciou porque sabia que o mistério pascal de Cristo constitui o centro das Sagradas Escrituras.
            O Papa Francisco tem razão ao instituir o Domingo da Palavra de Deus. Infelizmente, a Palavra, mesmo após o Vaticano II, ainda não ocupou o seu devido lugar em toda a Igreja católica. Muitas preocupações continuam ocupando o lugar da Palavra. Em muitos lugares, as devoções a Maria e aos santos ocupam lugar central. É verdade que as devoções tem a sua importância na vida da Igreja católica, mas é verdade também que a missão da Igreja é anunciar o Evangelho de Jesus, e este Evangelho precisa permanecer no centro da vida e da missão da Igreja.
            Se as pessoas não se convertem, se não se colocam no caminho de Jesus e nele perseveram, se abandonam este caminho, se não se sentem amadas por Deus, se desconhecem o amor divino... estes são sinais evidentes da ausência de uma autêntica leitura, meditação e contemplação da Palavra de Deus.
Para que exista uma Igreja verdadeiramente discípula e missionária, a Palavra precisa permanecer no centro do trabalho de evangelização. Sem esta centralidade da Palavra, continuaremos tendo multidões sedentas da Palavra, “como ovelhas sem pastor” (cf. Mt 9,32-38). Sem o alimento da Palavra, os cristãos tendem a perder o sentido da sua vida, extraviando-se e aventurando-se por caminhos que não são os de Deus.
O momento atual, profundamente marcado pelo desespero gerado pela grave crise de civilização, clama por verdade e liberdade. As pessoas estão cansadas de mentiras e confusão, cansadas de promessas ilusórias; estão cansadas e abatidas. Falta a muita gente a esperança necessária para continuar trilhando a caminhada da vida, vivendo o amor.
A Palavra de Deus carrega consigo esta esperança. Ela é capaz de despertar a esperança no espírito dos fracos e abatidos. Todo aquele que já se encontrou com esta Palavra de esperança é chamado a oferecê-la a outras pessoas. Partilhar a Palavra é atitude que faz parte da vida daquele que fez e faz uma experiência de Deus, encontrando-se com Ele nas Sagradas Escrituras. Na partilha da Palavra, a vida se renova e Deus se faz presença que conforta, ilumina, orienta e salva.
Tiago de França

sábado, 4 de janeiro de 2020

A manifestação do Senhor


“Vê, a noite cobre a terra e a escuridão, os povos, mas sobre ti levanta-se o Senhor, e sua glória te ilumina” (Is 60, 2).

            Neste domingo, 5 de janeiro, a Igreja católica celebra a Solenidade da Epifania do Senhor. Meditando o texto evangélico desta Solenidade (cf. Mt 2,1-12), queremos partilhar algumas provocações sobre a manifestação (epifania) do Senhor.
            O texto fala que Jesus nasceu em Belém, “a menor entre as cidades de Judá”, como disse o profeta. Isto significa que o Pai enviou o seu Filho ao mundo, fazendo-o nascer na periferia do império romano. Jesus não nasceu em uma cidade grande e de prestígio, mas num lugar pequeno, sem importância, no meio dos pobres.
            O evangelista continua dizendo que Jesus nasceu no tempo do rei Herodes. Este rei não era uma boa pessoa. Contam que era sanguinário, mandante de muitos assassinatos. Jesus nasceu na era imperial, em um contexto político marcado pela opressão. A Escritura fala que Jesus foi enviado “quando veio a plenitude dos tempos” (Gl 4, 4). Era o tempo previsto no projeto de Deus para a realização da promessa.
            O texto começa a ficar desconcertante quando fala de magos que vieram do oriente para Jerusalém. Eles procuravam o rei dos judeus, e queriam adorá-lo. Quando soube disso, o rei Herodes ficou perturbado. O rei não sabia do nascimento de outro rei, e se interessou em saber quem era. Imediatamente, reuniu-se com sacerdotes e escribas para saber “onde havia de nascer o Cristo” (Mt 2, 3-4). O rei também se reuniu com os magos, pedindo-lhes que o informassem a respeito do menino, pois tinha interesse em adorá-lo. Considerando a personalidade de Herodes, este interesse era falso.
            A narrativa é marcada por símbolos, e a estrela que guiava os magos era um deles. Esta estrela os guiou até o lugar onde estava Jesus, com Maria, sua mãe. Outra simbologia interessante é representada pelos presentes trazidos por eles para o menino Jesus: ouro, incenso e mirra. Em torno destes símbolos, a tradição criou significados interessantes: ouro, simbolizando a realeza; incenso, a divindade; e mirra, a humanidade de Jesus. A tradição diz que eram três reis orientais, mas o texto não confirma isso.
            Esses magos apontam para a universalidade da salvação oferecida por Deus, em Cristo Jesus, à humanidade. Eles não eram judeus. Jesus não trouxe a salvação para um povo específico, mas para toda a humanidade. Ele próprio é a salvação. Seu nome significa Deus salva. Jesus é a manifestação de Deus no mundo. Ele é o Cristo, o Ungido do Pai, o Messias prometido, que “veio para o que era seu, mas os seus não o receberam” (Jo 1, 11).
       Também hoje, Jesus continua sendo rejeitado por muitos. Há os que não compreendem a sua mensagem; há os que compreendem, mas não aceitam; há também os que não querem compreendê-la. Os Herodes de hoje, que oprimem os povos, continuam se comportando da mesma forma, procurando matar Jesus. Fazem isso quando exploram e matam os empobrecidos. Sugam e derramam o sangue dos fracos, e marginalizam milhões ao redor do mundo. Lucram com a desgraça e a morte dos mais fracos.
            Mas o projeto de Deus, que resulta na salvação gratuita e universal, oferecida a todos os povos, na diversidade das línguas e culturas, permanece atuante. A força de Deus é infinitamente superior ao mal presente no mundo. Deus convida a todos à comunhão em um  só corpo, “participantes da promessa em Cristo Jesus pelo Evangelho” (Ef 3, 6). A manifestação divina se dirige a todos, especialmente aos empobrecidos, aos órfãos, viúvas e estrangeiros de hoje.
            Em um mundo envolto em trevas, o anúncio da manifestação de Deus aparece como luz que irradia e ilumina a todos. Foi para alimentar a esperança dos vencidos que Deus se manifestou. A criação, corrompida pelo pecado, não foi abandonada pelo Criador. Nestes dias, em nome do combate ao terrorismo, estamos assistindo a um conflito entre Estados Unidos da América e Irã; violência gerando violência. E no meio do fogo cruzado estão os inocentes, brutalmente assassinados. O ataque dos EUA ao Irã atesta a sede de poder hegemônico que para ser saciada, necessariamente, provoca a morte de milhares de pessoas.
            O sangue dos inocentes, assassinados pelos Herodes de hoje, clama por justiça. Sedento de sangue, o ser humano provoca a própria destruição. Estas forças de morte que operam no mundo são contrárias ao Reino de Deus, revelado em Jesus de Nazaré. Portanto, quem professa a fé em Jesus não pode concordar nem reforçar esta terrível cultura da morte que impera no mundo. Não pertencem ao Reino de Deus, nem hoje nem após a consumação deste Reino, aqueles que neste mundo exercem o papel de anticristos, ceifando a vida das pessoas, quer com mecanismos de política econômica, quer por meio de conflitos armados. Todos serão julgados por Deus, que é misericordioso e justo.
            A celebração da manifestação do Senhor é uma feliz oportunidade para cada cristão analisar a sua consciência diante de Deus. Algumas perguntas podem nos ajudar neste sentido: Será que prestamos culto e adoramos ao Deus e Pai de Jesus? Como temos nos posicionado diante das forças de morte que operam ao nosso redor? O que a fragilidade do Menino de Belém ensina ao nosso ser cristão e ser Igreja hoje? Somos os magos que procuram adorar Jesus, ou o Herodes que procura matá-lo em nossos irmãos e irmãs?

Tiago de França

quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

A PAZ É FRUTO DA JUSTIÇA

“A paz é um bem precioso, objeto da nossa esperança; por ela aspira toda a humanidade”. (Papa Francisco, em sua Mensagem para o Dia Mundial da Paz 2020)

            Neste dia 1º de janeiro, celebramos o Dia Mundial da Paz. A Igreja católica também celebra a Solenidade de Maria, Mãe de Deus. Inicialmente, queremos relacionar a paz com a prática da justiça, e em seguida vamos olhar para Maria como testemunha fiel da paz que vem de Deus. Por que um dia dedicado à celebração da paz mundial? Como disse o Papa Francisco, a “paz é um bem precioso”. De fato, não há realização pessoal e social possível sem que se tenha paz. Mas a paz não é sinônimo de ausência de conflitos entre as pessoas, grupos e nações. Paz não é mera quietude, mas conquista humana.
            Sem educação, saúde, saneamento básico, trabalho, alimentação, moradia, lazer, assistência social, segurança pública, água, terra, respeito aos idosos e às crianças, enfim, sem o respeito e promoção dos direitos e garantias fundamentais, não é possível falar de paz. Como as nações podem viver em paz se seus governantes não respeitam nem promovem os direitos e garantias fundamentais das pessoas? Como um líder político pode desejar a paz se não governa em prol do bem comum, mas somente visando pessoas e grupos? Não é possível falar de paz ignorando a realidade, pois não existe paz no abstrato. A paz não é uma ideia, nem passa a existir a partir dos belos discursos elaborados pela inteligência humana.
            A paz é fruto da justiça. Ser justo não é ser bonzinho, nem aparentar senso de justiça. Ser justo é tratar os outros da mesma forma com que se deseja ser tratado. A justiça exige atitude, postura, ação honesta e transparente. Justiça é sinônimo de integridade moral, honradez, prática do bem, correção e dedicação ao bem comum. Uma pessoa justa é aquela que procura sempre o bem dos outros, distanciando-se do egoísmo e da indiferença. É mais do que ter conduta ilibada, pois alguém pode ter bom comportamento, mas não ser solidário com os outros. A solidariedade é a fiel expressão da justiça. A paz nasce da solidariedade entre as pessoas.
            Eis, portanto, o principal motivo de não termos paz no mundo: As pessoas e instituições se ocupam cada vez mais com a injustiça. Estamos fartos de notícias que revelam a conduta desonesta de pessoas e grupos. A política é a área de atuação de muitas delas, mas a corrupção do gênero humano não se revela somente na atividade política, mas, sobretudo, no cotidiano de inúmeras pessoas. Elas até almejam a paz, mas não se esforçam para ser justas consigo mesmas e com os outros. O egoísmo e a indiferença tem dominado as relações interpessoais. Vive-se como se os outros não existissem. Muitas ervas daninhas são cultivadas, dentre as quais encontramos o medo, a desconfiança, a malícia, a inveja, o rancor, a dissimulação, a perversidade, o apego ao dinheiro e o desejo doentio de destruir os outros. Quem vive controlado por estas ervas do mal não conhecem nem promovem a paz.
            No seio do cristianismo não é diferente. As Igrejas cristãs, formadas por inúmeras comunidades, conhecem o mal da injustiça, que afeta muitos de seus membros. Infelizmente, estas ervas do mal também estão presentes no seio das comunidades cristãs. Não deveriam, mas estão. Muitas vezes, esquece-se do Evangelho de Jesus, para se ocupar com a disputa pelo poder, o espírito de competição, a inveja, o apego ao dinheiro e a destruição dos outros. Estas realidades diabólicas foram condenadas por Jesus, pois este ensinou o caminho do poder-serviço, da comunhão, do desapego e da promoção dos outros. Pessoas e grupos, ao invés de renunciarem a Satanás e suas obras, renunciam ao Evangelho da unidade e da paz anunciado por Jesus para a salvação da humanidade.
            Neste sentido, o Papa Francisco tem se ocupado com o anúncio do Evangelho que promove a unidade e a paz. Os inimigos da paz não o escutam, mas o rejeitam e perseguem. A mensagem do Papa está em plena sintonia com a mensagem de Jesus. No seio das Igrejas cristãs, somente a justiça e a comunhão geram a paz. Como anunciar ao mundo a paz que vem de Deus se no seio das Igrejas cristãs há ódio e violência? O Evangelho de Jesus nunca perdeu a credibilidade, pois Jesus vivia o que pregava. Sua paixão e morte de cruz, bem como a sua ressurreição constituem um valoroso e forte testemunho de vida e de paz. Viver e pregar a paz não é tarefa fácil, e o Papa Francisco sabe disso. Por isso, como bispo de Roma e responsável por confirmar os irmãos e irmãs na fé, permanece firme na sua missão de anunciar a paz, fruto da justiça e da unidade na diversidade.
            Para os cristãos que professam a fé na Igreja católica, Maria, a mãe de Jesus, é modelo de fé e de integridade. Fiel colaboradora do projeto de Deus, ela meditava a ação divina em seu coração (cf. Lc 2,19). Maria conheceu o amor de Deus ao se tornar a mãe do Filho de Deus, trazendo em seu seio o Salvador da humanidade. Por isso, a Igreja católica a venera, não a considerando acima de Jesus, como que uma espécie de divindade, mas concebendo-a como discípula missionária do Reino de Deus. No silêncio do seu coração, ela conheceu o significado da justiça do Reino de Deus, única justiça que promove a paz. Maria é a expressão viva do povo de Deus em marcha, povo chamado a ser sinal de vida e liberdade no mundo. Hoje, Deus renova este convite ao seu povo, para que seja um testemunho vivo de unidade e paz.
            Jesus de Nazaré, nascido de Maria, deu testemunho de homem justo e pacífico; veio para os seus, mas estes não o receberam. Ainda hoje continua sendo rejeitado por causa da sua mensagem de paz, tanto dentro quanto fora da religião cristã. Por ele, os cristãos recebem a graça da filiação adotiva, que confere o dom do Espírito Santo, tornando-os filhos de Deus (cf. Gl 4,4-6). Os filhos de Deus são chamados a ser filhos da justiça de Deus, que supera a justiça dos fariseus, fazendo-os participantes do Reino de Deus (cf. Mt 5,20). Maria aponta para Jesus, ensinando-os a cumprir a sua vontade (cf. Jo 2,5). Eis, portanto, o sentido da devoção à Maria, que os católicos expressam com tanta fé e diversidade de formas: Maria, a Mãe de Jesus, Deus e homem verdadeiro, oferece-nos um convite para fixarmos os olhos em Jesus e sermos seus discípulos.
            É Jesus o centro da fé cristã. Maria é mãe que orienta e ensina, porque deu à luz a Jesus e conheceu a sua intimidade. Uma mãe é a mulher mais íntima de seus filhos, única que os conhece bem. Portanto, sem esta intimidade que Maria teve com Jesus, não é possível ser discípulo; não é possível ser justo, nem conhecer a paz que vem de Deus. Esta paz vem desta intimidade com Jesus. Fora da comunhão com Jesus não existe discipulado, nem fé cristã. Viver a fé torna o crente justo. Em outras palavras, torna-se justo pela fé, porque “o justo vive pela fé” (Rm 1,17). Mulher de fé, Maria era justa diante de Deus e dos homens, por isso Deus a escolheu para ser a mãe do Sol da justiça, enviado pelo Pai para iluminar os que vivem nas trevas e na sombra da morte (cf. Lc 1,79).
            O início do Ano Novo é uma excelente oportunidade para uma séria reflexão sobre a conduta pessoal em vista do compromisso que se deve assumir na construção de uma sociedade mais justa e fraterna. Gestos, palavras e pensamentos, por mais insignificantes que pareçam ser, podem contribuir para o bem ou para o mal. Cabe-nos discernir e escolher o caminho que conduz à vida plena. Para quem professa a fé em Jesus, não há outra alternativa senão segui-lo, comprometendo-se com o seu projeto, que consiste na edificação do Reino de Deus, resultado do seguimento pautado na fé, esperança e amor. Fora disso, não há cristianismo saudável e útil à humanidade; não há salvação. Para que 2020 seja, de fato, um Ano Novo, velhas manias precisam ser deixadas para trás. O mundo precisa de pessoas autênticas, justas e promotoras da paz. Estamos cansados de injustiças.

FELIZ ANO NOVO!

Tiago de França