domingo, 31 de maio de 2020

Pentecostes: Viver segundo o Espírito


“Recebei o Espírito Santo” (Jo 20,22).
            Neste dia de Pentecostes, plenitude da Páscoa, o que dizer sobre o Espírito Santo? À luz das Escrituras, com ênfase no texto bíblico da liturgia da Igreja católica para este Domingo (cf. Jo 20,19-23), ousarei algumas afirmações sobre o Espírito Santo.
            O Espírito é liberdade. O Espírito é livre e libertador. A sua missão é libertar a humanidade do egoísmo que sempre quis dominá-la. Este egoísmo trava as relações, gera indiferença e morte. Os que se deixam guiar pelo Espírito já não se encontram sob o jugo do egoísmo, mas são livres para permanecer no caminho que conduz aos outros. No encontro com os outros, o mandamento de Jesus é vivido, na força do Espírito.
            Considerando que o Espírito é livre, então ninguém o domina, pois está em todos e em tudo. Não há necessidade que alguém ou alguma instituição queira dominá-lo. Por isso, nenhuma pessoa ou instituição dita ao Espírito a sua missão, pois ele sopra onde e quando quer. A sua ação, revelada desde o Gênesis, indica a sua dinâmica: Surpreende sempre, porque age fora dos esquemas humanos. Não há inteligência humana que consiga conceituar o seu ser e seu agir.
            O Espírito conduz à missão. Desde o início, os cristãos perceberam que o Espírito é o guia da missão. Sem ele, esta não existe. Portanto, fora do Espírito a missão perde o seu sentido, a sua razão de ser. Sem ser guiado pelo Espírito, o cristão deixa de ser missionário e se torna protagonista de si mesmo, alguém entregue à vaidade, centrado na busca de seus interesses pessoais e institucionais.
            Assim, é possível que muita gente que pensa ser missionário, na verdade, é um buscador do sucesso e do êxito pessoal. Às vezes, em nome do próprio Espírito, induz os outros ao engano e à confusão. Este mesmo Espírito revela que o missionário que foi enviado por Jesus e que permanece sob a ação do Espírito é aquela pessoa que age como Jesus: Buscando o Reino de Deus e a sua justiça. É para a busca deste Reino que o Espírito conduz o missionário. Este não procura outra coisa senão o Reino de Deus.
            O Espírito promove a unidade e concede a paz. Ao longo da história, as pessoas sempre tiveram dificuldade de lidar com a pluralidade. O diferente sempre foi visto como um incômodo. Daí decorre muitos males: Inveja, competitividade, deslealdade, entre outros que constituem a cultura da eliminação do outro. Saber conviver e tolerar a diversidade são graças do Espírito Santo.
            No seio das comunidades cristãs, principalmente na Igreja católica, devido à sua constituição hierárquica, as pessoas tendem a pensar que o Espírito promove a uniformidade: Todos devem agir conforme uma única orientação, como se a vida fosse linear e, portanto, uniforme. Hoje, pensar dessa forma, é pecar contra o Espírito Santo. A vida humana e de toda a criação é plural. Basta olhar para a natureza, para enxergar a beleza da biodiversidade.
            A humanidade é formada pelo conjunto da diversidade das culturas, línguas, religiões, ritos, preferências políticas e ideológicas etc. As sociedades se organizam de forma diversa. São inúmeras as formas de ser e de pensar. Em todas estas coisas, o cristão enxerga a ação do Espírito, gerador da vida na multiplicidade de suas manifestações. Nenhuma destas manifestações aparece como superior às demais. Todas são igualmente importantes e belas. Ninguém suportaria o tédio de um mundo uniforme. É na pluralidade que tudo pode ser enriquecido.
            Quando o concílio Vaticano II analisou a história da Igreja católica no mundo, voltando-se para a riqueza dos ensinamentos promovidos e cultivados nas comunidades cristãs primitivas, logo se deu conta de que é necessário reconhecer e promover a diversidade de ideias e formas religiosas de ser. A partir daí se percebeu mais nitidamente a diversidade das visões de mundo e formas de ser presentes na própria Igreja católica e no mundo.
Em cada lugar, a Igreja possui um rosto próprio, mesmo obedecendo, liturgicamente, a ritos pré-estabelecidos. O mesmo se pode dizer da vivência das doutrinas: Há uma unificação doutrinal e uma diversidade de formas de observar a mesma doutrina. Um italiano vive a realidade eucarística de forma totalmente diferente de um africano. Os contextos são diversos, bem como são diferentes as vivências eucarísticas.
O Espírito concede o dom da fé e mantém o discípulo no caminho de Jesus. A fé é dom de Deus concedido no Espírito. Sem a assistência do Espírito a fé não sobrevive. Mesmo crendo em Jesus, o cristão permanece vivendo neste mundo, marcado por tentações e fragilidades. Mesmo guiado pelo Espírito, permanece exposto ao mal. Por isso, o cristão precisa entregar-se cada vez mais à ação do Espírito, para, desse modo, tornar-se mais forte nas lutas internas que trava consigo mesmo, superando a fragilidade de seu ser pecador.
As Escrituras revelam que esta fragilidade revelada nas pessoas não é motivo para que o Espírito se afaste. Pelo contrário, porque são frágeis, podem contar com a Sua força. Este Espírito é a força dos fracos. Ele permanece fiel, apesar das infidelidades humanas. Todas as vezes que o Espírito é deixado de lado, ou esquecido, as pessoas são dominadas por seus instintos egoístas e se tornam capazes de toda espécie de mal. Na verdade, este Espírito está dentro das pessoas, e desde dentro ele fala, sonda, fortalece, orienta, dá força, revigora, ilumina, conduz... Basta silenciar para escutá-lo e se deixar conduzir.
Também a Igreja se equivocou muito quando deixou o Espírito de lado. Os descaminhos da história da Igreja católica não são frutos do Espírito, mas refletem a ausência de escuta e de obediência no Espírito. Muitas vezes, a instituição eclesiástica buscou a satisfação de seus interesses, vivendo, desse modo, não segundo o Espírito, mas, como diz o Papa Francisco, a Igreja se deixou dominar pelo “mundanismo espiritual”. Este não é fruto do Espírito, mas falsa aparência de vida espiritual.
Para se livrar deste terrível mal, que consiste na aparência de uma fé que não existe, é necessário se colocar no caminho de Jesus. O teólogo José Comblin dizia que ter fé é colocar-se no caminho de Jesus e nele perseverar. O Espírito é quem coloca e mantém o discípulo neste caminho. Sem o Espírito é impossível perseverar, pois fora dele a pessoa está entregue às suas próprias fraquezas. Na vida cristã, o seguimento depende do Espírito, pois nele o cristão pode afirmar, em sua vida, o senhorio de Jesus para a glória de Deus Pai (cf. 1 Cor 12,3b).
Nestes tempos difíceis, marcados pela intolerância e pelas crises econômica, política e ecológica, o caminho de Jesus permanece aberto e desafiador. É o caminho que conduz ao Pai; caminho que não se encontra fora do mundo, mas totalmente interligado com as desafiantes realidades da vida pós-moderna. Todo aquele que escuta o Espírito passa a fazer parte deste caminho. Neste, o cristão permanece com os outros, vivendo o amor que tudo transforma, santifica e salva.
Neste caminho, o Espírito vai conduzindo o discípulo de Cristo, transformando-o naquilo que Deus quer. É caminho de pacificação e integração, de compromisso e de amizade, de alegria e encontro, de superação do medo e da falta de sentido. No Espírito, o cristão é capaz de cumprir a vontade de Deus, para encontrar-se, definitivamente, nele e, assim, ser salvo. Esta é a paz e a perfeita alegria; festa sem fim. É o Reino se concretizando, desde agora, rumo à plenitude. Viver segundo o Espírito é experimentar, já neste mundo, a vida de ressuscitados, antecipação da gloriosa da condição dos filhos de Deus na pátria futura.
Tiago de França

quinta-feira, 28 de maio de 2020

O DIREITO À LIBERDADE DE EXPRESSÃO

O conflito entre membros dos Poderes Executivo e Judiciário tem levado muita gente a se perguntar sobre o significado do direito à liberdade de expressão. Sem recorrer a termos técnicos do mundo jurídico, próprios das peças jurídicas e do ambiente acadêmico, em breves linhas, discorrerei sobre o assunto, com o intuito de esclarecer três pontos: 1. O significado e o alcance do direito à liberdade de expressão; 2. A tendência à absolutização deste direito; 3. Consequências jurídicas de sua violação.
1. Significado e alcance
O conflito entre os Poderes tem levado muita gente a opinar sobre questões jurídicas, e tais opiniões, que podem ser livremente expressas, muitas vezes, são contrárias à objetividade do significado dos direitos fundamentais rigidamente delimitados pelo ordenamento jurídico pátrio. Em outras palavras, é muita gente opinando sem conhecer o conteúdo jurídico dos direitos, e isto tem gerado muita confusão.
Não é positivo o histórico do direito à liberdade de expressão na história brasileira recente, especialmente no período imediatamente anterior à Constituição da República de 1988. Na época da ditadura militar, esse direito foi um dos mais violados, pois a censura era livremente praticada por pessoas e órgãos do Estado. Esta situação levou a Constituição de 1988 a tratar a questão de forma rígida, protegendo a liberdade de expressão e incluído neste direito à liberdade de informação, de imprensa e de manifestação do pensamento.
Não irei transcrever, mas recomendo a leitura do artigo 5º, incisos IV, IX e XIV, bem como o artigo 220, parágrafos 1º e 2º da Constituição de 1988, que falam do direito à livre expressão do pensamento e da atividade intelectual; do direito ao acesso à informação, resguardado o sigilo da fonte; e da vedação de toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística. Isso significa que o Estado não pode censurar. Trata-se de uma vedação constitucional.
A leitura e entendimento do texto constitucional nos mostram, claramente, que todo cidadão é livre para se expressar, porque não se pode falar de dignidade da pessoa humana excluindo a capacidade humana de se expressar e o direito à livre expressão de ideias, sentimentos, aspirações, preocupações, aprovação e contestação etc. Toda pessoa é um ser de fala e enquanto tal tem o direito de se expressar e de ter acesso às falas dos outros. O mesmo se refere às expressões artísticas, científicas etc.
Uma pessoa censurada na sua liberdade de expressão não consegue realizar-se como pessoa, pois foi violentada em sua dignidade. Ninguém pode ser reduzido ao silêncio, nem ser incriminado por ter manifestado seu pensamento. As diversas formas de manifestação de expressão são protegidas pela Constituição. Toda e qualquer violação destas formas de expressão deve ser apreciada pelo Judiciário, para a necessária correção e, se for o caso, punição de quem violou.
2. A tendência à absolutização do direito à liberdade de expressão
Nenhum direito é absoluto. Esta é a regra básica. A própria Constituição impõe alguns limites ao direito à liberdade de expressão, e um deles está no inciso X do artigo 5º, que trata da obrigação/dever de se respeitar a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas. Este limite corresponde ao direito à integridade moral que se encontra entre os direitos da personalidade. O título I do Código Civil trata desses direitos.
Portanto, tanto o direito à liberdade de expressão quanto os direitos de personalidade são constitucionais, não existindo hierarquia entre eles. Quando estes direitos entram em conflito, ao analisar o caso concreto, cabe ao juiz fazer a necessária ponderação. Há dois princípios constitucionais que regem esta ponderação: os princípios da razoabilidade e o da proporcionalidade.
3. Consequências jurídicas da violação do direito à liberdade de expressão
Um exemplo para ilustrar, muito recorrente nos dias atuais: Nas redes sociais, as pessoas tendem a falar o que quer, e logo argumentam, quando questionadas, que estão exercendo o direito à liberdade de expressão. Mas este entendimento e postura são equivocados. O direito à liberdade de expressão não protege os excessos das pessoas, ou seja, nas redes sociais e fora destas, ninguém tem o direito de falar o que quer, de forma ofensiva. Tal direito não contempla a ofensa, decorrente dos excessos das pessoas.
Quando se atribui falsamente a alguém a autoria de um crime, temos o crime de calúnia, previsto no artigo 138 do Código Penal, com previsão de 6 meses a 2 anos de detenção e multa. Ex: José disse que Pedro desviou verba pública, mas não apresenta provas da acusação; então José cometeu crime de calúnia. A lei proíbe e pune toda pessoa que atribui a outra, falsamente, o cometimento de um crime. Quem, sabendo que o fato é falso, divulga a calúnia, também responde pelo mesmo crime.
Quando se atribui a alguém um fato ofensivo a sua reputação, temos o crime de difamação. Neste caso, o fato ofensivo não é crime, porque se fosse, o crime seria de calúnia. Ex: Expor, por mensagem de rede social, a vida privada de alguém. Mesmo que o conteúdo ofensivo seja verdadeiro, mas tal exposição é criminosa, pois ofendeu a honra da vítima. A difamação é crime previsto no artigo 139 do Código Penal, com previsão de pena de 3 meses a 1 ano de detenção e multa.
Quando alguém se dirige a outra pessoa de forma desonrosa, utilizando-se de palavrões e xingamentos, gerando constrangimento ofensivo à dignidade, comete crime de injúria. Este crime atinge a honra subjetiva da pessoa e, por isso, não há necessidade que alguém conheça a ofensa. No caso da calúnia e da difamação é necessário que terceiros tomem conhecimento da ofensa. O crime de injúria está previsto no artigo 140 do Código Penal, com pena prevista de 1 a 6 meses de detenção e multa.
Injuriar alguém por causa de sua cor, religião, etnia, origem, condição de idoso, ou portador de deficiência, a pena é aumentada para reclusão de 1 a 3 anos e multa, por se tratar de situações mais graves.
Calúnia, difamação e injúria são crimes contra a honra, que ferem os direitos da personalidade. São crimes que retratam os excessos das pessoas. Portanto, quem os comete não pode alegar exercício do direito à liberdade de expressão.
Com exceção da injúria prevista no parágrafo 2º do artigo 140 do Código Penal, na situação em que a violência resultar em lesão corporal, os crimes contra a honra somente se procede mediante queixa, por se tratar de ação penal de iniciativa privada, ou seja, a vítima deve prestar queixa, dentro do prazo de 6 meses, "contado do dia em que veio a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do § 3º do art. 100 deste Código, do dia em que se esgota o prazo para oferecimento da denúncia" (Artigo 103 do Código Penal).
Desse modo, não é exagerada a recomendação de cuidado que toda pessoa deve ter ao se expressar nas redes sociais (Facebook, Twitter, WhatsApp, Instagram etc.) e fora delas. Estas redes são importantes para a comunicação entre as pessoas, principalmente em tempos de pandemia, mas não constituem "terra sem lei", onde se possa falar e proceder ultrapassando os limites impostos pela Constituição, violando, assim, o direito à integridade moral das pessoas.

Tiago de França

terça-feira, 26 de maio de 2020

Servir na comunhão

A semana que antecede a solenidade de Pentecostes é denominada Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. Orar pela unidade dos cristãos é uma necessidade permanente, porque, infelizmente, a falta de unidade no cristianismo é motivo de escândalo no mundo. Não agrada a Deus o conflito entre cristãos que professam a fé em Jesus, acusando-se mutuamente e, desse modo, manifestando escandalosa contradição com o apelo de Jesus à unidade (cf. Jo 17,21).
No seio das Igrejas cristãs não se pode cair noutra contradição, que consiste em orar pela unidade dos cristãos e, na prática, proceder de forma contrária. Quem ora deve proceder conforme a oração dirigida a Deus. Exemplo, quando nos dirigimos ao Pai com a oração que Jesus nos ensinou, o Pai nosso, temos que ter a clareza de que o Pai não é propriedade de uma pessoa, nem de uma denominação religiosa. O Pai é nosso. No cristianismo, acredita-se que o Pai é o Deus do universo, e a salvação em Jesus Cristo é universal, ou seja, dirigida a todos.
O exclusivismo não deveria existir no seio da religião cristã. Diante de Deus, não há cristãos privilegiados em detrimento de outros. Deus não faz acepção de pessoas (cf. At 10,34). Ele trata a todos com igual amor, porque todos são seus filhos e filhas. Como bom Pai que é, dirige-se especialmente aos filhos mais vulneráveis, mais expostos às forças do pecado e da morte. Mas a todos quer bem, a todos deseja salvar. Todos os que acreditam no nome de Jesus são nele glorificados, porque é do desejo de Deus que todos o conheçam através do Filho e no Espírito (cf. Jo 17,1-11a).
Cada cristão é chamado a desempenhar um serviço no mundo: o serviço do anúncio da Boa notícia do Reino de Deus. Esta missão precisa ser desempenhada, levando-se em conta a comunhão. Em outras palavras, não é possível anunciar o Evangelho do Reino fora da comunhão fraterna. Quem iria acreditar na palavra de quem anuncia a unidade e pratica a desunião?
Anúncio é testemunho de unidade e paz. Ninguém é feliz vivendo fora da unidade geradora da paz, porque esta é "o anseio profundo de todos os homens de todos os tempos" (Papa São João XXIII, carta encíclica Pacem in Terris, n. 1). Este anseio somente encontra a sua realização quando a unidade é buscada e vivida por todos, cristãos e não-cristãos.
Por isso, aqueles que, no seio das Igrejas cristãs, anunciam o Evangelho, mas no cotidiano de suas vidas e até durante o culto prestado a Deus, dedicam-se a ofender o sentimento religioso e a diversidade das manifestações religiosas presentes no cristianismo e nas demais religiões, pecam gravemente contra o Evangelho que pregam. Infelizmente, temos muitos líderes religiosos, em todas as Igrejas cristãs, que são inimigos da unidade cristã. Não podemos tolerar esse tipo de conduta, pois quem se opõe à unidade cristã se apõe ao próprio Deus.
Toda a humanidade forma, aos olhos de Deus, uma única família. Portanto, não há razão para pensar que uma Igreja é superior à outra, ou que uma religião é verdadeira e as demais são falsas. O discurso do falso e verdadeiro em matéria religiosa não promove a unidade entre as pessoas. O católico não está autorizado a desmoralizar os demais cristãos de outras Igrejas, nem os destas tem o direito de fazer o mesmo com os católicos. O desrespeito e a competição entre Igrejas cristãs constituem um terrível contratestemunho, que provoca em inúmeras pessoas certa indisposição em acolher o Evangelho de Jesus.
A Bíblia revela que quando Deus olha para as pessoas, não busca, em primeiro lugar, saber da sua religião. Não é a religiosidade de uma pessoa que a salvará. Ninguém será salvo por pertencer e praticar as normas de determinada religião. A salvação é gratuita, e os que a aceitam procedem conforme o mandamento de Jesus: O amor a Deus e ao próximo como a si mesmo. Este mandamento deve estar no centro da vida cristã, e não a religião com suas normas. Religião é meio e não fim. Portanto, é instrumento que deve servir para unir as pessoas e conduzi-las a Deus, e não o contrário.
Por fim, cabe ainda dizer que o cristão que se julga fiel a Deus, mas vive ocupado com brigas e disseminação do ódio em nome da fé em Jesus, precisa se converter, pois não compreendeu o Evangelho de Jesus. Ninguém foi enviado por Jesus para disseminar o ódio em nome de Deus. A ninguém Jesus pediu isso. O cristão, batizado em nome de Deus, deve ser pessoa do diálogo, da amizade, do encontro, da alegria, do amor e da fé que une a todos. Isso significa servir na comunhão e, assim, viver a fraternidade exigida por Jesus.
           
Tiago de França

domingo, 24 de maio de 2020

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O VÍDEO DA REUNIÃO MINISTERIAL


1. Expressar-se é um direito fundamental
A Constituição da República de 1988 nos assegura o direito à liberdade de expressão (CR/88, art. 5º, inc. IV). Na qualidade de cidadão, gosto de exercer este direito. Todo cidadão deve exercê-lo. Em tempos como os que estamos vivendo, não podemos nos omitir. Se os maus se manifestam, os verdadeiros cidadãos de bem não podem se omitir. Falo verdadeiros porque temos falsos cidadãos de bem. Inclusive, esta expressão "cidadão de bem" foi usada por péssimos cidadãos, gente que pratica o mal, que se apoderou da expressão para enganar os desprovidos de formação e informação.
Com muita paciência, consegui assistir ao vídeo da reunião ministerial de Bolsonaro com seus ministros. Não irei fazer uma análise minuciosa das falas, porque, se o fizesse, estas considerações se alongariam. Mas é preciso comentar e se indignar, porque na reunião estavam o presidente da República e Ministros de Estado, pessoas que recebem altos salários, pagos por cada brasileiro, para fazer o que andam fazendo. Gastam milhões de reais para se ocupar em não fazer nada!
2. A coragem de um ministro
É preciso elogiar a coragem do ministro Celso de Melo ao autorizar a publicação do vídeo da reunião. O nível da reunião revela o motivo de o presidente, inicialmente, ter se manifestado contrário à publicação. Falo de coragem porque o ministro foi pressionado para não autorizar a publicação. Recebeu pressão dos bolsonaristas, principalmente de militares, representados pelo general que ocupa a função de Ministro do Gabinete de Segurança Institucional, órgão responsável pela segurança do presidente, do vice-presidente e seus respectivos familiares. O decano do Supremo Tribunal Federal (STF) foi corajoso, e agiu com técnica e independência, como se espera de um Juiz da Corte Suprema.
3. O conteúdo das falas
O conteúdo das falas do presidente e dos ministros que participaram da reunião, especialmente os ministros do meio ambiente, da educação, da economia, da mulher e direitos humanos é vergonhoso e preocupante. Vergonhoso porque os palavrões e xingamentos usados pelo presidente e seus ministros é de causar vergonha aos cidadãos que prezam pelo respeito e pela boa conduta. Nunca na história política brasileira, um presidente da República se utilizou, sistematicamente, de expressões tão baixas.
O vídeo revela que o Brasil está, de fato, sem governo. A pandemia do coronavírus não foi assunto da reunião. O ministro da saúde falou rapidamente, sem apresentar nenhuma proposta para o problema. No centro da reunião estava o presidente, com seus palavrões e xingamentos, reclamando a falta de informação. Qualquer pessoa atenta ao que ele fala, percebe a reivindicação por informações sobre tudo, preferencialmente do andamento das atividades do Ministério da Justiça e da Polícia Federal. Ele deixou isso bem claro, e o motivo é público e notório. O ex-ministro da Justiça fez uma denúncia neste sentido, e aqui não quero tratar desta denúncia, pois estou discorrendo sobre o vídeo da reunião.
Trocar a "segurança" do Rio de Janeiro; mandar prender governadores, prefeitos e ministros do STF; "passar a boiada" no meio ambiente (flexibilizar as leis e a fiscalização); armar a população; vender o Banco do Brasil; não oferecer a "molezinha" (empréstimo do governo às empresas) a empresários que já quebraram; não se ocupar com empresas "pequenininhas" etc. foram assuntos da reunião. A quem interessam tais decisões?
4. Perguntas reveladoras e necessárias
Quando o presidente reclama da "segurança" do Rio de Janeiro, está pensando em quem? Quando o ministro do meio ambiente fala em "passar a boiada", está falando em nome de quem? A quem interessa armar a população? E a venda do Banco do Brasil, vai beneficiar a quem? E o desinteresse pelas empresas "pequenininhas", a quem afeta? Em nome de quais interesses mandar prender governadores, prefeitos e ministros do STF? Qualquer pessoa que use de bom senso percebe que o presidente e seus ministros não estão nem aí para a real situação do povo brasileiro.
5. A solução dos problemas do País e a índole dos personagens
Resolver os problemas do País cabe, em primeiro lugar, aos governantes eleitos. Quem se meteu em política tem a responsabilidade de trabalhar para resolver os problemas do País. Neste sentido, duas questões precisam ser consideradas: Os que foram eleitos, principalmente o presidente da República, tem capacidade e vontade política para resolver tais problemas? Há planos de governo para solucionar as crises política, econômica e pandêmica? O vídeo revelou que o governo não está preocupado com a situação nem tem projetos para solucionar as crises.
O vídeo também revelou a índole do presidente e seus ministros, que, claramente, não possuem boas intenções para com o Brasil. Ficou bem claro que se aproveitam do Estado para satisfazer os próprios interesses e os dos grupos aos quais pertencem e servem. O presidente e seus ministros são plenamente alinhados à elite econômica, que não se satisfaz somente com o dinheiro, mas quer também dominar o Estado. Trata-se do pior tipo de gente que existe, porque não se compadece do sofrimento alheio. É o tipo que lucra em cima da desgraça dos outros.
6. Deus, pátria e família
Durante a reunião, o presidente fez referência a Deus, à pátria e à família, ao dizer que quem fosse contrário ao seu estilo de "governar" estava no governo errado. No meio dos palavrões e xingamentos aparece a palavra Deus. Gostaria de poder olhar nos olhos dos católicos e protestantes que até hoje são fãs e defensores do presidente, para fazer a seguinte pergunta: Vocês acham que esta forma de proceder está de acordo com a vontade de Deus? Durante e após a campanha eleitoral chegaram a dizer que o presidente seria um "enviado de Deus"! De acordo com as Escrituras Sagradas, um enviado de Deus procede de forma chula, irresponsável e autoritária?...
A estes mesmos fãs e defensores do presidente, faria outra indagação: Vocês seriam capazes de assistir ao vídeo da reunião, juntamente com vossos filhos? A forma de proceder do presidente e seus ministros envergonha a família tradicional brasileira que ele tanto defende. O respeito e a tolerância são valores que devem ser promovidos pelas famílias e pela sociedade. Parece que o presidente não teve acesso a uma educação familiar que o educasse nestes valores.
De que pátria fala o presidente? Um verdadeiro patriota pensa no povo brasileiro, e não somente em si mesmo, na sua família e amigos. O presidente só fala e age em prol de si, de seus parentes e amigos. Seu governo é o governo de sua família e amigos. Não se conhece nenhum projeto que vise a promoção do povo brasileiro. Pelo contrário, durante a pandemia do coronavírus, seu comportamento põe em risco a vida das pessoas, porque as influencia, negativamente. As autoridades sanitárias recomendam o cuidado, e o presidente instiga ao risco. Isto é muito vergonhoso.
7. E agora, o que virá?
Por fim, cabe-nos uma breve assertiva a respeito do que virá após esta bombástica publicação do vídeo da reunião. Considerando que o Procurador-Geral da República, que, segundo contam, quer ser Ministro do Supremo Tribunal Federal, foi contrário à publicação do vídeo na íntegra, certamente não denunciará o presidente da República. Talvez o ministro da educação seja o bode expiatório da vez, por ter sugerido a prisão dos ministros do STF e, assim, o inquérito será encerrado. A lei diz que cabe ao Procurador-Geral denunciar o presidente da República. Se isso não ocorrer, praticamente tudo ficará como está. Se ficar constatado o cometimento de crime, e se não houver denúncia, reinará a impunidade.
A pandemia do coronavírus está fazendo mal ao Brasil e ao mundo, mas o presidente, ao invés de somar esforços para ajudar a população a resolver o problema, está tirando proveito político da situação. Como o ministro da economia, Paulo Guedes, é incapaz de tirar o País da crise econômica que tende a se agravar, o presidente dirá, nas eleições de 2022, que vai precisar de mais um mandato para salvar o Brasil; e, infelizmente, os bolsonaristas não arrependidos acreditarão nesta falsa promessa e votarão nele, esquecendo-se de quatro anos de mandato marcados por palavrões, xingamentos, exposição midiática, autoritarismo, corte de direitos, corrupção, e total ausência de projetos.
Tempos sombrios. Até o momento está sendo bom para eles, não para o povo, que padece, jogado à própria sorte. Torçamos para que não aconteça coisa pior até o próximo pleito eleitoral, porque a democracia brasileira é jovem e frágil, e está encontrando dificuldades para suportar os duros golpes que vem sofrendo. Nestes dias, os militares estão dando péssimos sinais, e a história está aí para nos contar do que são capazes.

Tiago de França

sábado, 23 de maio de 2020

Ide e fazei discípulos


"Portanto, ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei! Eis que eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo” (Mt 28,19-20).
Neste domingo, a Igreja católica celebra a solenidade da Ascensão do Senhor, e o texto evangélico desta bela liturgia (cf. Mt 28,16-20) constitui a conclusão do evangelho de Mateus. Antes de subir para junto do Pai, Jesus pede para se encontrar com seus discípulos na Galileia, lugar do início da sua missão.
Quando o viram, alguns ainda duvidaram. O evangelista faz questão de chamar a atenção para esse detalhe. E após dizer que toda autoridade lhe foi dada no céu e sobre a terra, afirmando, desse modo, a sua supremacia universal, diz aos seus discípulos: "Ide e fazei discípulos meus todos os povos". Este "ide" aparece como ordem, no imperativo. Ele viu que seus discípulos estavam aptos para partir para a missão, assistidos pelo Espírito Santo.
Fazer discípulos é a missão que cabe aos que foram enviados por Jesus. O discipulado é estado permanente de aprendizagem. Na vida cristã, ninguém deixa de ser discípulo. Diuturnamente, os que são chamados devem se colocar na escuta permanente de Jesus. O discípulo deve fazer a experiência de Maria, irmã de Marta, que escolheu a melhor parte: colocar-se aos pés de Jesus para escutá-lo (cf. Lc 10,41-42).
Quem escuta aprende e obedece. Na Bíblia, escutar é sinônimo de obedecer. Quem escuta Jesus aprende a fazer a vontade do Pai. Assim como Jesus, o discípulo atento procura, em tudo, obedecer a Deus. Nesta obediência se produz a fé generosa, esclarecida e forte, única capaz de manter o discípulo no caminho de Jesus.
Fazer discípulos é levar as pessoas ao conhecimento de Jesus, que acontece no encontro com ele. Por isso, os que são enviados com a missão de fazer discípulos devem ser os primeiros a fazer a experiência do encontro com Jesus; pois, como o missionário pode levar outras pessoas ao encontrar o Mestre se antes não fizer esta bela e feliz experiência? Ninguém dá aos outros aquilo que não tem.
O evangelista fala do batismo em nome da Trindade. Isso significa que pelo batismo a pessoa se torna discípula de Cristo. Esta dimensão do batismo jamais pode ser esquecida. Nas águas do batismo a pessoa adere a Cristo e passa a participar da vida divina e, desse modo, mergulha no insondável mistério de Deus, que redime e salva, libertando-a do pecado e do poder da morte. Assumir o batismo no cotidiano da vida é necessário, não bastando apenas ter passado pelo ritual. Este é meio e não fim.
Em seu mandato missionário, Jesus diz aos discípulos que é necessário ensinar a observar tudo o que ele ordenou. Isso significa que o missionário não vai ensinar doutrina humana, meramente criada pela inteligência dos homens, com fins humanos. Mas deve ensinar tudo o que Jesus ordenou, ou seja, o amor a Deus e ao próximo. O amor é a síntese de toda a lei e os profetas. Quem ama observa o que Jesus ordenou, porque esta foi a sua ordem: Fazer como fez o samaritano, que socorreu o caído e, assim, demonstrou o significado do mandamento de Deus (cf. Lc 10,25-37).
Por fim, Jesus assegura a sua presença: "Eis que eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo". Até a sua vinda definitiva (parusia), Jesus permanecerá conosco. A parusia vai inaugurar um novo tempo, uma nova era. Ao mesmo tempo em que volta para o Pai, misteriosamente Jesus permanece no mundo, acompanhando a vida de seus discípulos missionários. Ele é o Emmanuel, ou seja, o Deus que permanece próximo.
Na celebração da Ascensão do Senhor temos esta certeza: Somos enviados para fazer discípulos, mas não estamos desamparados nesta tarefa. Jesus permanece fiel e presente, discreta e amorosamente. Pela fé, cremos na sua ação. O Espírito Santo nos concede a graça de fazermos a experiência do discipulado, apesar das nossas fraquezas, das circunstâncias difíceis do tempo presente, tempo marcado pelos sinais de morte.
Assim confortados, não podemos ficar parados, olhando para o céu. É preciso confiar na presença de Jesus e caminhar. É preciso caminhar na direção dos outros, especialmente aqueles que precisam se tornar discípulos de Cristo. Todo aquele que se torna discípulo de Cristo encontrou a razão de sua vida; encontra-se seguro e se torna capaz de enfrentar as duras provas da vida, por mais violentas que sejam.
Nossos tempos exigem coragem, ousadia, vitalidade, alegria, serenidade, discernimento, íntima comunhão com Deus, muito amor e muita fé. Estas são, entre outras, as riquezas que a graça faz brotar no coração dos discípulos de Cristo, para que, com palavras e com a vida, deem testemunho do Cristo ressuscitado e, assim, dissipem as trevas deste mundo. Que Jesus nos mantenha em seu caminho, e nos dê firmeza e fidelidade. Amém.

Tiago de França

sexta-feira, 22 de maio de 2020

DEZ MOTIVOS PARA PERMANECER EM CASA


Inúmeros são os motivos que provam a importância do isolamento social neste momento de pandemia do coronavírus no Brasil. A situação é grave e merece a nossa atenção.
Eis dez motivos que julgamos suficientes para nos convencermos de que precisamos levar a sério o isolamento social, principalmente as pessoas que não trabalham nos serviços essenciais das listas estabelecidas pelos decretos dos governos estaduais e municipais.
1. O número de mortos no Brasil e no mundo estão demonstrando a letalidade e periculosidade do vírus. De fato, não é uma "gripezinha". No Brasil, já são mais de 20 mil mortos.
2. Não há uma vacina que previna do vírus. Provavelmente, em menos de um ano a vacina não será ofertada. E quando ela sair, não chegará a todos de forma imediata. Vacina é cara e vai exigir do Estado muito dinheiro para disponibilizá-la para todas as pessoas, gratuitamente.
3. O vírus mata pessoas de qualquer faixa etária. Muitas pessoas que tinham boa saúde perderam a vida. Quem é saudável não pode pensar que pegando o vírus não morrerá. Cada organismo reage de um jeito à ação do vírus. Tudo depende do nível de imunidade do corpo.
4. A cloroquina não resolve todos os casos, nem é cientificamente aprovada pela Organização Mundial de Saúde. Em torno desse medicamento há uma forte questão política. Até os EUA desistiram da cloroquina como remédio principal para o tratamento do vírus, porque perceberam a ineficácia. No Brasil, por falta de um plano federal de combate ao vírus, o governo federal apostou na cloroquina para camuflar a realidade, passando a ideia de que resolverá o problema. A realidade já está desmascarando o governo.
5. Os números de contaminados e mortos indicam que chegamos ao pico da pandemia, o que exige maior precaução por parte das pessoas. Quanto mais gente circulando nas ruas, mais o vírus se espalha. Os países que levaram a sério o isolamento social conseguiram reverter a situação, e já estão retomando, progressivamente e de forma disciplinada, as atividades e o convívio social.
6. O discurso de que a economia é mais importante que a saúde já foi abandonado pelo presidente da República. Trata-se de um falso discurso, pois no risco de morte, primeiro se deve cuidar em permanecer vivo. Mortos não trabalham. O País não está parado, pois os serviços essenciais estão funcionando. Cabe ao governo socorrer as empresas, para que não quebrem. Dinheiro tem, mas falta planejamento e vontade política.
7. O Sistema Único de Saúde (SUS) não consegue assegurar a todos os contaminados e doentes uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI). O SUS é historicamente frágil, pois a saúde pública nunca foi prioridade dos governos. Agora é que dá para perceber a importância de um SUS forte, capaz de atender a todos. Apesar dos esforços dos governos estaduais, que antes do governo federal reagiram à pandemia, muitas pessoas estão morrendo de Covid-19 por falta de atendimento médico.
8. Toda pessoa que se expõe ao vírus corre o risco de morrer, mas este risco não fica restrito à uma só pessoa. Por se tratar de um vírus que se transmite com certa facilidade, o contaminado coloca outras pessoas em risco, tanto dentro quanto fora de sua casa. Portanto, não se prevenir é uma atitude irresponsável. Intencionalmente ou não, uma pessoa contaminada pode causar a morte de outras pessoas.
9. Dada a indisciplina e a falta de consciência de inúmeras pessoas, a pandemia tende a se estender por mais tempo no Brasil. Muita gente ainda não compreendeu a gravidade do problema. Muitas delas, influenciadas pelo presidente da República, colocam suas vidas e as de outras pessoas em risco. Muitas já morreram, porque desdenharam do vírus e não se preveniram. O presidente da República tem o hospital Albert Einstein para socorrê-lo, enquanto a grande maioria dos seus seguidores só tem o SUS. Mas muitos destes se esquecem desse detalhe.
10. O isolamento social continua sendo a melhor arma. Lavar sempre as mãos com água e sabão, usar máscaras e ocupar a mente também ajudam. A pandemia do coronavírus é violenta, mas não é eterna. Tudo na vida passa. O cuidado de si e dos outros é atitude de quem tem consciência. É preciso respeitar os limites que as circunstâncias da vida impõem. Não adianta ultrapassá-los. O vírus está provando o quanto a vida é frágil. Nesta pandemia, cuidado é sinônimo de prevenção.
Por estes e outros motivos, FIQUE EM CASA. Juntos somos mais fortes. Sejamos conscientes e responsáveis. Viver continua valendo a pena, apesar de tudo.

Tiago de França

quinta-feira, 21 de maio de 2020

A alegria como sinal da presença de Jesus


No trecho do evangelho de hoje (cf. Jo 16,16-20), Jesus está falando com seus discípulos sobre o momento iminente de sua morte. A notícia deixa os discípulos tristes, mas falando-lhes do seu ressurgimento, ele não os deixa na tristeza.
Na vida de fé, a presença de Jesus é motivo de alegria. Esta alegria surge quando o Ressuscitado está na comunidade, pois ele é a alegria do cristão. Saber que se é amado por Deus é motivo de alegria e júbilo. Mesmo em meio às dificuldades da vida, o cristão é alguém alegre. A alegria do Senhor gera paz e segurança.
Muitas vezes, o cristianismo se apresentou com ar de tristeza. Muitos passam a falsa ideia de que ser cristão é ser triste por ter que renunciar aos prazeres passageiros deste mundo. Estes prazeres, por melhores que sejam, não causam alegria, mas contentamento passageiro.
Isso não quer dizer que o cristão não deva sentir prazer. Pelo contrário, este faz parte da vida. Uma vida prazerosa é coisa de Deus. Mas ser escravos dos prazeres já constitui uma experiência de desprazer, portanto, nociva ao ser humano.
A alegria de Jesus não vem dos prazeres que a vida pode nos oferecer, pois a sua alegria é permanente. Saber que Ele permanece conosco é a nossa alegria, a verdadeira alegria.
Esta alegria que decorre da presença de Jesus supera a tristeza dos momentos ruins. As circunstâncias da vida nos impõem limites e sofrimentos. Mas não pode nos tirar a alegria de viver. O desânimo pode até nos perseguir, mas é a alegria que nos alcança.
A experiência dos mártires da Igreja primitiva é um exemplo disso. Muitos dos primeiros cristãos experimentaram a perseguição, a tortura e a morte. Eram submetidos a mortes terríveis, com requintes de crueldade. Mas causava espanto aos seus executores a alegria de muitos cristãos que estavam a caminho do martírio. Entregaram suas vidas com toda alegria, porque sabiam que estavam caminhando ao encontro de Jesus, o Cordeiro de Deus.
A pandemia do coronavírus nos causa medo e até pavor, mas não deve ser capaz de nos tirar a alegria de viver. Se estamos convictos de que Jesus caminha conosco neste vale de lágrimas, sabemos que com ele venceremos. Esta certeza alegra o coração e nos encoraja na luta cotidiana pela vida.
Jesus nos dá a certeza, com sua paixão, morte e ressurreição, que a dor e o sofrimento passam. O que permanece é a alegria da ressurreição, alegria festiva que dura para sempre, pois é do querer de Deus que a vida prevaleça.

Tiago de França

quarta-feira, 20 de maio de 2020

O Espírito da Verdade


No pequeno trecho evangélico para a nossa meditação de hoje (cf. Jo 16,12-15), Jesus continua falando a seus discípulos, preparando-os para o grande momento de sua entrega na cruz e posterior ressurreição. Ele fala que muitas coisas poderiam ser ditas naquele momento, além das que já tinha dito, mas os discípulos não seriam capazes de compreender.
Jesus se preocupa com a questão da compreensão de tudo o que se refere a ele e ao Reino de Deus. Isso mostra que é preciso compreender o que Jesus fala, pois a missão de anunciá-lo exige clareza a respeito da sua vida e missão. Ele é o centro do anúncio, e ninguém pode anunciar o que não conhece. Por isso, o seu "testamento espiritual" no evangelho de João é extenso e profundo.
Jesus continua falando do Espírito Santo, denominado Espírito da Verdade. Que Verdade será essa? Será que o Espírito revelará outros segredos da vida de Jesus? A Verdade é o próprio Cristo, pois ele é o Caminho, a Verdade e a Vida. Isso significa que o Espírito falará do próprio Jesus, da sua vida e missão. Jesus é a plena verdade, única capaz de revelar o sentido de todas as coisas. Nele todas as coisas são recapituladas (cf. Ef 1,10).
O que o Espírito revela aos discípulos de Jesus, desde o momento do seu envio em Pentecostes, cumprindo, assim, a promessa de Jesus, é aquilo que escutou desde toda a eternidade. No interior da Comunidade Trinitária o Espírito escutou aquilo que deveria revelar neste mundo. Como Guia da comunidade dos seguidores de Jesus, este Espírito sonda todas as coisas, até mesmo as profundezas de Deus (cf. 1 Cor 2,10). Desse modo, podemos confiar na sua revelação, pois é verdadeira e geradora de vida plena.
Jesus também fala que o Espírito revelará coisas futuras. Isso não significa que dirá coisas novas sobre Jesus, como se lhe coubesse completar a revelação. Sabemos bem que Jesus é a plenitude da salvação e de revelação divina. E esta plenitude não é outra coisa senão a plenitude do ser humano, a sua realização total. A missão do Espírito será a de revelar o sentido desta salvação realizada por Jesus, de forma definitiva.
Nestes tempos difíceis, o Espírito da Verdade nos liberta de toda confusão e medo, pois nos revela que Jesus é a plenitude do humano. Revela-nos também que não fomos esquecidos por Deus, mas somos assistidos por este Espírito Consolador.
Abertos e dóceis a este Espírito somos introduzidos no mistério de Deus, mistério que nos sustenta e nos governa, que nos dá a necessária segurança e o sentido de nosso existir. A vida cristã depende da confiança no Espírito Consolador. Assim, a frágil embarcação da nossa vida estará segura e chegará ao seu destino final, que é o próprio Deus.

Feliz quarta-feira!
Tiago de França

terça-feira, 19 de maio de 2020

O Espírito Santo e o mundo


No pequeno trecho do evangelho que servirá para a nossa meditação breve de hoje (cf. Jo 16,5-11), Jesus fala da relação do Espírito com aqueles que não acreditam nele. O "mundo" que aparece no texto são essas pessoas. Se não acreditam, logo não se comprometem com Jesus.
Qual a ação do Espírito? O texto diz que ele convencerá tais pessoas a respeito do pecado, da justiça e do julgamento. O Espírito é o Paráclito, ou seja, o Defensor ou Advogado. O papel do advogado é argumentar para convencer o juiz a decidir favoravelmente sobre a questão que envolve o seu cliente.
Assim faz o Espírito, que age para convencer as pessoas do perigo do pecado da rejeição a Jesus. Renegar Jesus é perigoso porque dele vem a salvação. Ele é o caminho que conduz ao Pai, é a verdade que liberta integralmente, é a vida que livra da morte eterna. Por isso, o pecado está nessa possibilidade que alguém pode abraçar, capaz de conduzir ao total afastamento da vida plena.
O Espírito também convencerá a respeito da justiça, ou seja, da salvação das pessoas. Esta é a justiça do Reino de Deus. Não há outro interesse em Deus que não seja a salvação das pessoas. É para o conhecimento desta salvação que o Espírito é enviado ao mundo. Deus quer a salvação de todas as pessoas, para que ninguém se perca. Caberá aos discípulos, guiados pelo Espírito, anunciar esta Boa notícia.
O Espírito também esclarece a questão do julgamento, da possibilidade da condenação. Certamente esta não decorre de uma escolha de Deus, mas das pessoas. São estas que escolhem o mal e a ele se entregam. É possível que muitas pessoas escolham viver como se Deus não existisse. É uma escolha que conduz à condenação. Em outros termos, a pessoa se coloca na situação de alguém que se comporta como autossuficiente, bastando-se a si mesma. Esta é uma grave situação de pecado.
Como filhos de Deus existe uma relação de dependência entre nós e Deus. A virtude da humildade nos coloca diante de Deus como uma criança que depende de seus pais para viver e ser feliz. A salvação depende de Deus porque Ele é a salvação. Conscientes disso, somos levados a viver conforme o que pede o Espírito, ou seja, orientando a vida segundo a vontade de Deus. E em que consiste a vontade de Deus?
Consiste em fazer o bem e praticar a justiça. Em tudo, querer o bem das pessoas. O mal não pertence aqueles que vivem de acordo com o que Deus quer. Toda pessoa que planeja o mal para si e para os outros não age segundo o Espírito de Deus, mas segundo o Maligno, que já está condenado.
Assim, o texto de hoje vai nos apontando a festa litúrgica de Pentecostes, momento em que celebraremos este Espírito que conduz à vida plena todo aquele que segue Jesus. É preciso pedir que este mesmo Espírito nos ajude a viver de acordo com a vontade de Deus, livrando-nos da vida medíocre e mesquinha, que consiste em viver conforme o nosso egoísmo e interesses maus.

Feliz terça-feira!
Tiago de França

segunda-feira, 18 de maio de 2020

Testemunhar Jesus


No trecho do evangelho proposto pela Igreja católica para a liturgia deste dia (cf. Jo 15,26-16,4a), temos a promessa do Espírito e a necessidade do testemunho. Jesus diz que o Espírito Santo é o Espírito da Verdade. Ele esclarecerá toda a verdade a respeito dele e do Reino de Deus. Os discípulos não precisam ficar preocupados.
O Espírito dará testemunho de Jesus. Este é um dos critérios para a identificação do Espírito. Evitando, desse modo, qualquer confusão, o cristão reconhece o Espírito quando percebe que este testemunha Jesus. Toda pessoa que recebe este Espírito tem acesso a Jesus e a tudo o que precisa saber a respeito dele. E isto é necessário para a missão.
Jesus segue dizendo que os discípulos darão testemunho porque estavam desde o início com ele. Quem está unido a Jesus, permanecendo com ele, não há como não dar testemunho dele. Trata-se de uma consequência natural e necessária. Estar com Jesus implica o compromisso de jamais renegá-lo, mas testemunhá-lo, para que o mundo seja salvo por meio dele.
Aqui cabe perguntar se no cotidiano de nossa vida estamos testemunhando, ou renegando Jesus. É preciso verificar também se estamos acolhendo o Espírito, o Defensor, que nos ajuda a testemunhar Jesus. Pois, na verdade, ninguém consegue ser testemunha da ressurreição de Jesus sem o auxílio deste Defensor.
Jesus também fala dos riscos da missão. Ao mencionar a expulsão das sinagogas e da morte em nome de Deus, ele fala das ameaças e riscos que podem acontecer no interior da religião. É possível que em nome de Jesus as pessoas expulsem outras das Igrejas. Também é possível que pessoas sejam assassinadas em nome de Deus. Mas quando isso ocorre, Jesus nos alerta: "Agirão assim, porque não conheceram o Pai, nem a mim" (16,3).
A clareza da conversa de Jesus com seus discípulos em seu "testamento espiritual" descrito no evangelho de João nos assegura que não estamos sozinhos. Ele explica, promete e, posteriormente, envia, da parte do Pai, o Defensor. Este permanece até hoje com todo aquele que o acolhe. Este Defensor nos mantém firmes e fieis a Jesus, apesar das dificuldades do caminho estreito e pedregoso. Com o seu auxílio conseguimos caminhar.
Deus nos abençoe e nos confirme na missão, nestes tempos sombrios de pandemia do coronavírus e de crises política e econômica.
Feliz segunda-feira!
Tiago de França

terça-feira, 12 de maio de 2020

O risco da negação da realidade


          A negação do real é uma estratégia política que visa beneficiar pessoas e grupos. Muitas vezes, nega-se o real para passar a ideia de que nada de tão grave está acontecendo. Utiliza-se o reducionismo da realidade. Insiste-se nesse tipo de discurso, porque a repetição da negação pode fazer surgir a não negação, ou seja, a situação é péssima, mas a negação do péssimo pode levar as pessoas a aceitar o péssimo como algo bom, natural e até necessário.
            Quando o que é ruim é aceito como natural, então temos a banalização do mal, diria a filósofa Hannah Arendt. Por que é necessário normalizar o mal? Porque não há o que é bom para oferecer. Há homens maus que não conhecem o bem. Passam a vida praticando o mal, propositadamente. Beneficiam-se fazendo o mal aos outros. Estes são sempre os outros, os estranhos que estão fora de suas relações afetivas. Assim, podem sofrer. A morte dos estranhos não faz diferença para os homens maus. Trata-se de uma morte necessária.
            Mas o que fazer para camuflar o trágico da negação do real? Hoje, apela-se para as redes sociais. Estas constituem uma excelente ferramenta. Surgem milhares de perfis falsos e os tais robôs para curtir as expressões repetidas que reforçam as ideologias. A ideia é passar para os outros que as ideologias de morte não são ruins. Nos regimes totalitários do século XX se fazia assim, sem o auxílio das redes sociais. Passa-se a ideia de que certas categorias de pessoas precisam sofrer, precisam ser torturadas e mortas.
            Há uma massa de robôs humanos, obviamente, não feitos nos laboratórios de informática. As vivências artificiais que envolvem milhões de pessoas transformam-nas em robôs humanos. Basta que alguém saiba manusear o controle, que estes robôs entram em ação. São aquelas pessoas que não usam o aparelho cerebral para pensar o real. Elas até possuem cérebro, mas se recusam a pensar. Usam-no somente para as funções básicas da sobrevivência. São inconsequentes. Algumas se tornam paranoicas, outras enlouquecem. Trata-se de uma massa numerosa.
            O robô humano não tem o senso do ridículo. São capazes de muitas coisas sem o menor pudor. Não conseguem enxergar a anormalidade das atrocidades que falam e fazem. Mas alguém pode dizer que o conceito de normalidade é questionável. Sim, de fato. Mas é fato também que não é nada normal normalizar o que fere e mata as pessoas. Fora da legítima defesa, matar alguém é crime. Mudar isso é cair na barbárie, e esta foge da normalidade. O respeito e a promoção da vida humana são o parâmetro para medir a normalidade. Racionalmente, isto é plausível.
            Os que lideraram o totalitarismo no século passado sabiam da importância, da força e do alcance da propaganda. O markentig também vende ideologias de morte. Sua força é tão intensa que tira a capacidade de pensar de muita gente. Todas as pessoas têm o direito de pensar. Renunciar a este direito é praticar suicídio: A pessoa passa a viver nas mãos de outras, sendo jogada de um lado para o outro. Perde a visão do real, e vive como um objeto que pode ser usado ao bel prazer de quem quer que seja.
            Por que o mercado financeiro domina o mundo? Porque é capaz de transformar as pessoas em objeto. Há um controle da vontade. O mercado, que não tem o direito de fazer isso, procura controlar todas as áreas da vida humana: Diz o que as pessoas devem comer, como se vestir, o que e como devem pensar e falar, para onde viajar, o que fazer da vida, enfim, procura moldar o ser das pessoas. Tal determinação é tão violenta, que a grande maioria não sente que é diuturnamente manipulada e controlada. O mercado trabalha com o convencimento, levando a pessoa a crer que a escravidão é algo bom e necessário à vida. A pessoa não percebe, mas vive dizendo para si mesmas: “Sou um escravo feliz!”
            A dimensão espiritual também é afetada. No caso do cristianismo, o Deus e Pai de Jesus, e até o próprio Jesus, passam por uma transformação: São transformados em ídolos. O ensinamento fundamental de Jesus, que é o amor a Deus e ao próximo, como descrito na parábola do samaritano, é rechaçado. A ideologia ensina que amar o próximo não leva a nada. O que se ganha com o amor ao próximo? O mercado financeiro trabalha com o parâmetro do ganho e do prejuízo. O amor ao próximo não gera ganho financeiro. É uma perda de tempo.
            A imagem do deus do mercado religioso é o oposto do Deus revelado em Jesus de Nazaré. Trata-se de um deus mercadológico, que trabalha com o parâmetro do mercado. Este deus tem seus representantes na terra. A relação com esta divindade se dá na base do negócio. Por um lado, a relação promete prosperidade; por outro, exige subserviência. Este tipo de divindade serve para estas duas coisas: Gerar a sensação de prosperidade material, mas em troca se exige a entrega total daquilo que se é e do que se tem, em prol da religião.
            Como o sentimento religioso é algo muito íntimo e forte nas pessoas, facilmente elas se submetem às promessas deste tipo de divindade. No mercado religioso, a religiosidade é um fenômeno sentimental, pouco ou nada racional. A racionalidade aparece como um mal a ser combatido. As pessoas não enxergam problema algum no mercado religioso, onde a divindade também é vendida como produto de alto nível. Não há gratuidade, verdade, liberdade nem difusão do amor ao próximo. Pelo contrário, tudo custa caro, há muita mentira e controle, difunde-se e pratica-se o egoísmo substitutivo do amor ao próximo.
            Esta é a realidade vivida, porém camuflada. Quando Jesus disse nos evangelhos que seus seguidores deveriam orar e vigiar, hoje compreendemos que também ele fala do perigo de se construir e adorar a um falso deus. O cristão que não vigia, facilmente deixa de ser cristão e se transforma em alguém que se dedica à idolatria. Por isso, é importante ler e compreender as Sagradas Escrituras. Por que será que não existe interesse em levar as pessoas à leitura e meditação das Escrituras Sagradas? Fala-se no assunto, mas não há insistência na questão.
            Fora da religião, o interesse se encontra em manter as pessoas dispersas e anuladas. A dispersão interessa aos manipuladores. Pessoas reunidas e centradas terminam pensando a vida. Isso é sinônimo de prejuízo para quem manipula. Numa roda de conversa, sem se ocupar com futilidades, as pessoas passam a enxergar a vida. Por isso se investe tanto no lúdico. É verdade que a lúdico faz parte da vida. O lazer é necessário. Mas é verdade também que a vida não é um eterno lazer. O lúdico pode ser uma importante ferramenta anestésica.
            Quem não morre enganado, pode despertar para a realidade. Quando isso ocorre, todo cuidado é pouco. A desilusão é uma experiência terrível. Pode significar a perda da esperança. Muita gente desiludida anda doente, sem forças para continuar sobrevivendo. Sentem-se mutiladas. Não se encontram na religião mercadológica. O desespero é o companheiro inarredável. O vazio existencial preenche o cotidiano, a pessoa se sente sufocada. Muitas desejam a morte, outras conseguem realizar esse desejo. O suicídio cresce, numericamente, e as pessoas tendem a enxergá-lo como normal e necessário. “É o destino da pessoa, fazer o quê?”, dizem os que não pensam.
            E assim a humanidade vai sobrevivendo. O que virá após esse tempo sombrio da pós-modernidade barulhenta e líquida? Não parece que algo sólido esteja sendo construído para servir de alicerce para as gerações futuras. Estas certamente dirão que a atual geração é bastante irresponsável. Para não caírem no anacronismo, terão que analisar as causas de tamanha cegueira e insolência. Será que a pandemia do coronavírus despertará a consciência adormecida de milhões de pessoas ao redor do mundo? O estado de muitas consciências é tão deplorável que nem o coronavírus dará conta de tal intento.

Tiago de França