“Tu és o Messias, o Filho do
Deus vivo” (Mt 16,16).
Neste domingo, 28 de junho, a Igreja
católica celebra a solenidade dos apóstolos Pedro e Paulo. Os textos da
liturgia são muito ricos e nos trazem algumas pistas para a nossa reflexão
pessoal e comunitária (cf. At 12,1-11; 2Tm 4,6-8.17-18; Mt 16,13-19), bem como
características desses grandes missionários da Igreja primitiva, que merecem a
nossa atenção.
No evangelho encontramos a confissão
de fé de Pedro. Primeiro, Jesus quer saber o que as pessoas estavam pensando
sobre a sua identidade. A resposta mostra que pensavam que Jesus era um grande
profeta, como Elias, Jeremias, João Batista, ou algum outro grande profeta do
Antigo Testamento. De fato, não estavam erradas, pois Jesus também era profeta.
Jesus quis saber a resposta de seus discípulos. Parecia interessado em conhecer
o que se passava na cabeça deles. E Pedro, por revelação divina, respondeu pelo
grupo: “Tu és o Messias, o Filho do Deus
vivo”.
A resposta possui duas partes, que
se complementam: Jesus é o Messias. Mas não basta dizer apenas isso, porque
naquela época apareceram outros messias. A segunda parte da resposta revela a
messianidade de Jesus, ou seja, que ele é, de fato, o Messias prometido, o Filho do Deus vivo. Jesus diz que Simão, filho de Jonas, que passou a ser
chamado de Pedro, é feliz, porque
recebeu de Deus essa revelação. Eis, portanto, a verdadeira identidade de
Jesus: É o Messias, ou seja, o Ungido do Pai, e Filho do Deus vivo. O verdadeiro
Messias é o Filho de Deus.
Nesses tempos difíceis que marcam as
primeiras décadas deste século, Jesus continua perguntando aos seus seguidores:
“E vós, quem dizeis que eu sou?” É
preciso responder com os lábios e com a vida. A profissão de fé tem estas duas
dimensões: Razão de ser e experiência. O cristão precisa ter convicção de que
segue o Messias, o Filho do Deus vivo. Esta convicção vem de Deus, que revela a
messianidade de Jesus no cotidiano da vida. É no seguimento a Jesus que o
discípulo recebe essa revelação.
Confessar que Jesus é o Messias, o
Filho do Deus vivo implica adesão ao que ele viveu e ensinou. Não é somente
expressão do pensamento nem do credo rezado na liturgia, mas do credo vivido a
partir da fraqueza humana, contando com o auxílio da graça divina. Assim viveram
Pedro e Paulo. Não eram perfeitos, mas convertidos. Pedro negou Jesus três vezes
(cf. Lc 22,54-62); quase morreu afogado nas águas pela falta de fé (cf. Mt
14,22-33); repreendeu Jesus, querendo desviá-lo da cruz (cf. Mt 16,21-23);
entre outras passagens que revelam a sua fragilidade e, portanto, a sua
humanidade. Tinha consciência de que era apenas um homem (cf. At 10,26).
Paulo, antes Saulo, consentia a morte dos cristãos e os perseguia (cf. At 8,1.3;
9,1). Era uma espécie de devastador da Igreja. Homem de muita cultura,
discípulo de Gamaliel, “instruído em todo
o rigor da Lei”, tornou-se um “zeloso
da causa de Deus” após ter se encontrado com o Cristo Ressuscitado (At 22,3.6-10). Fiel à missão até o
fim, combateu o bom combate, completou a corrida e guardou a fé. Deixou de ser
instrumento de perseguição a serviço do império romano para se tornar o homem
que esperava com amor a manifestação gloriosa do Senhor (cf. 2Tm 4,7-8).
Pedro, tendo recebido o Espírito do
Senhor, abandonou o medo, foi preso e permaneceu fiel a Jesus. Na prisão,
dormindo entre os soldados, foi libertado por Deus para dar continuidade à
missão. Quebradas as correntes e devolvido à missão, percebeu que contava com o
auxílio divino para realizar o mandato missionário de Jesus: “Agora sei, de fato, que o Senhor enviou o
seu anjo para me libertar do poder de Herodes e de tudo o que o povo judeu
esperava!” (At 12,11). O Senhor permanece ao lado daqueles que chama para a
missão, concedendo-lhes forças e fazendo com que a mensagem seja “ouvida por todas as nações” (2Tm 4,17).
Por disposição divina, os servos de Deus não morrem sem antes terem realizado a
missão para a qual foram enviados.
Pedro ensina a fidelidade à missão,
que pode ser experimentada a partir da fraqueza humana. Na história do
cristianismo há inúmeros testemunhos de mulheres e homens que foram fieis a
Jesus. Mas seus testemunhos também são marcados por fraquezas, porque estas
fazem parte da vida. Tais fraquezas são incapazes de desviar do caminho da
missão; pelo contrário, servem para manter o missionário no caminho da
humildade, lembrando-o de que não é Senhor, mas discípulo. Somente o Senhor é
Santo e perfeito. Quando o Senhor chama, não tira a condição frágil de seus
discípulos, mas os ajuda a trilhar o caminho da santidade neste mundo, a partir
de suas fragilidades.
Paulo ensina a ser missionário. Graças
a ele o cristianismo ultrapassou as fronteiras da Palestina de Jesus. Vale a
pena conhecer as viagens desse grande missionário de Jesus, bem como ler e
meditar os seus escritos. Paulo usou de sua erudição e domínio das línguas
hebraica, aramaica, grega e latina para traduzir a mensagem de Jesus. Teve a
graça de ter recebido o evangelho diretamente de Jesus, e se considerava
apóstolo “não por iniciativa humana nem
por intermédio de homem algum, mas por Jesus Cristo e por Deus Pai, que o
ressuscitou dos mortos” (Gl 1,1).
Chamados a responder à pergunta de
Jesus sobre a sua identidade, os cristãos precisam ser, de fato, discípulos
missionários. Trata-se de uma necessidade urgente no cristianismo atual, que é
chamado a manifestar ao mundo o Messias, o Filho do Deus vivo. A mensagem desse
Messias continua atual e capaz de salvar a humanidade do caos. As pessoas
precisam enxergar em cada cristão a messianidade de Jesus. O cristianismo não pode
ser transformado em pedra de tropeço nem de escândalo, mas em ferramenta de
transformação do mundo. Jesus envia para ser sal da terra, luz do mundo e
fermento na massa (cf. Mt 5,13-16; Lc 13,20). Não pode o cristianismo ser
reduzido a um conjunto de doutrinas e rituais, que falam de Jesus como um
personagem do passado.
Neste sentido, o Papa Francisco é
muito feliz quando ensina que é necessário evangelizar com trabalho e oração. A
mística deve estar ligada a um vigoroso compromisso social e missionário, e as
ações sociais devem ter como alicerce uma espiritualidade que transforme o
coração. O Papa chama a atenção para o necessário “pulmão da oração”, sustentáculo
da vida espiritual e missionária, essencial à vida do discípulo missionário. Recordando
seu predecessor, o Papa João Paulo II, fala do risco do cultivo da
espiritualidade intimista e individualista, que faz aparecer na Igreja e no
mundo experiências religiosas que não transformam, mas atrofiam e prejudicam a
caminhada cristã (cf. n. 262 da Evangelii
Gaudium, do Papa Francisco – sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual).
Por fim, é preciso recordar que neste dia também celebramos o significado e alcance do ministério do Papa,
Bispo de Roma e chamado a confirmar os irmãos e irmãs na fé. Apesar de,
canonicamente falando, ser detentor do poder supremo, pleno, imediato e
universal sobre a Igreja católica, assim como Pedro, o Papa é um servidor.
Francisco, mais do que muitos de seus predecessores, tem
demonstrado a importância do serviço humilde, simples e aberto à pluralidade
das manifestações religiosas presentes no mundo. Tem também recordado o lugar
dos pobres na vida eclesial e social. Na Igreja, por exigência evangélica, quem
quiser exercer o poder sagrado é chamado ao serviço humilde e despojado; do
contrário, perde a autoridade e se transforma em figura folclórica. Todo pastor
é chamado a ser imagem do Bom Pastor, aquele que deu a sua vida para que todos
pudessem ter vida em abundância (cf. Jo 10,10-11). Que Pedro e Paulo nos ajudem
a sermos fieis discípulos missionários de Cristo, o Filho do Deus vivo.
Tiago de França