“O Reino dos Céus é como um
tesouro escondido no campo. Um homem o encontra e o mantém escondido. Cheio de
alegria, ele vai, vende todos os seus bens e compra aquele campo” (Mt
13,44).
As pessoas podem passar toda a vida
se ocupando com o essencial, ou com o supérfluo. No cristianismo, o essencial é
Jesus. Este Reino dos Céus de que
fala o evangelista Mateus é o próprio Cristo. Como diria Orígenes, Jesus é o
Reino de Deus em pessoa (autobasileia).
A parábola fala de um tesouro escondido, e o que está escondido precisa ser
descoberto. Jesus precisa ser descoberto. É possível que muitos cristãos passem
a vida toda invocando o nome de Jesus sem descobri-lo na vida.
A descoberta de Jesus passa,
necessariamente, pela experiência da proximidade.
É necessário se aproximar dele, na liturgia, nos sacramentos e na vida
cotidiana. Ele está nas Escrituras, na Eucaristia e nos demais sacramentos. Estes
são sinais que manifestam a sua presença. Mas esses sinais não estão desligados
da vida cotidiana. Assim, quando criamos laços de fraternidade com as pessoas,
então estamos vivendo essa proximidade com Jesus. As pessoas são sacramentos de
sua presença.
A parábola diz que o homem encontra
o tesouro e é tomado por uma grande alegria. Encontrar-se com Jesus é conhecer
e experimentar a verdadeira alegria
da vida. Não se trata de uma alegria ingênua, nem passageira, mas daquela que
transforma interiormente a pessoa, tornando-a leve e disposta para enfrentar os
dilemas da vida. O evangelho de Mateus foi escrito para uma comunidade que
enfrentava tribulações. A vida é cheia de tribulações, e exige que o discípulo
de Jesus seja alguém cheio da sua alegria.
Mas não bastou ao homem da parábola
somente ficar alegre. Ele tomou a firme decisão de vender todos os
seus bens para comprar o campo, onde estava o tesouro. Agindo assim, reconheceu
o valor do tesouro escondido e se empenhou em tê-lo para si. Essa atitude nos
faz pensar a respeito da nossa busca e interesse por Jesus, única riqueza da
vida do cristão. O que estamos fazendo para permanecer com Jesus? Será que
estamos deixando Jesus de lado para nos dedicar a outras coisas que julgamos
mais importantes?
No seio de nossas Igrejas há a
grande tentação de se marginalizar Jesus. Muitas vezes, a procura é por outras
coisas. Em nome de Jesus, muitas coisas erradas são feitas e ditas. Em nome
dele, muitos procuram dinheiro, sucesso, poder, status etc. Pronuncia-se o nome de Jesus para legitimar interesses
mesquinhos e mundanos. Assim, cria-se um cristianismo das aparências, da
estética bem trabalhada, do discurso vazio e de práticas indignas do cristão. Usando
uma expressão do Papa Francisco, vive-se o mundanismo espiritual.
Esse mundanismo espiritual se manifesta
naquelas situações em que somente encontramos superficialidades. O materialismo
e a vaidade tentam se esconder
por trás de rostos angelicais e de aparência de santidade. Cria-se um ambiente
fervorosamente religioso, mas sem
caridade com o próximo. A malícia se
esconde por trás das invocações incessantes do nome de Deus. O cristianismo
atual está sofrendo muito desse tipo de enfermidade.
O mundanismo espiritual é a manifestação mais evidente do
que podemos chamar de corrupção religiosa.
A religião não foi criada com este propósito. Jesus foi muito severo com esse
tipo de procedimento, ao reprovar a conduta dos mestres da lei e fariseus, que
usavam do aparato religioso para se apresentar como homens santos, bem como
para explorar os mais simples do povo de Deus. O mundanismo espiritual revela a
religiosidade que não liga o homem a Deus, mas o desvia do caminho que conduz a
Deus.
Quando apontamos para a lua, o mais importante não é o dedo
que aponta, mas a beleza da lua que precisa ser contemplada. O mesmo deve
ocorrer na vida cristã, quando apontamos para Jesus, o mais importante é Jesus.
Do contrário, quando se utiliza do aparato religioso (vestes, rituais,
sacramentos e sacramentais, símbolos em geral, doutrina etc.) para que brilhe a
pessoa que aponta e não o próprio Cristo, então temos um problema que merece
reflexão e solução. É Jesus o centro da vida eclesial e cristã.
Tudo o que atrapalha o cristão na sua caminhada para Deus é
desvio. Tudo o que ofusca Jesus na vida da Igreja é supérfluo e precisa ser
reprovado e deixado de lado. Jesus é a Luz que não pode ser ofuscada. Na vida
cristã é preciso ver o que é essencial e o que é supérfluo. No centro da vida
da Igreja não está Maria, os santos, os anjos, a doutrina, a hierarquia
eclesiástica, a pomposidade das cerimônias, o dízimo, as grandes edificações,
entre tantas outras coisas. Nada disso. No centro da vida da Igreja está Jesus
Cristo, Senhor e Salvador. Tudo deve convergir para Ele.
E antes que o leitor pense que Maria, os santos, os anjos,
a doutrina, a hierarquia, o dízimo, as edificações etc. não são importantes,
afirmo que são. Mas nada deve ocupar o lugar de Jesus. Insisto nisso porque
temos assistido a certa multiplicação de práticas e usos no seio das Igrejas
cristãs que tendem a tirar Jesus do centro. Isso é muito grave e perigoso. Se ao
olharem para um cristão, as pessoas não enxergarem nada que as façam lembrar de
Jesus, então temos um estilo de vida desse cristão é equivocado. A doutrina
cristã é clara: O cristão deve refletir Cristo.
A caridade, a fé, a esperança, a sobriedade, a moderação, o
cuidado, o respeito, a tolerância, a humildade, a mansidão, o despojamento e
tantos outros valores integram o essencial. São valores que revelam que o
essencial ocupa o centro da vida. A cultura
da aparência e o apego ao que é transitório explicitam o supérfluo que
prende a aliena. O seguimento de Jesus não é uma experiência superficial, mas
adesão que transforma radicalmente a vida do discípulo; não é algo passageiro,
mas que permanece.
É necessário procurar Jesus para ter a vida nele. Quem o
encontra, tem a segurança necessária para viver e ser feliz. Entregar-se a Ele
é a melhor escolha. É um caminho que vale a pena, pois é caminho de plenitude e
paz.
Para
tornar-se verdadeiramente humano, o cristão precisa colocar Jesus no centro de
sua vida. Ele é a rocha e a seiva, o caminho e a porta,
a bússola, o Pastor e a salvação. Por Ele somos justificados diante de Deus. Seu
amor nos envolve e nos torna justos. Se estamos a Ele ligados, então não
precisamos ter medo, mas podemos caminhar com passos firmes e orientados pela
sua voz. Assim, a vida do discípulo se torna uma bela e gratificante aventura
de amor. Quem não se aventura com Cristo, não conhece nada disso.
Tiago de França
2 comentários:
👏👏👏
O cristão não precisa ficar feliz só pela religião..., mas "vêr jesus" no seu cotidiano.
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