A fala
do Papa, veiculada em inúmeros jornais, aponta para duas necessidades: deve-se
acolher o homossexual, e tal acolhimento, na sociedade civil, deve ser
promovido por leis que o protejam dos ataques dos homofóbicos. Discute-se se o
Papa apoia ou não a união civil entre pessoas do mesmo sexo. Todos conhecem a
doutrina tradicional da Igreja no que se refere ao matrimônio. O Papa mudou
essa doutrina? Não! Então, por que a polêmica?
A
Igreja Católica regula a sociedade, com sua doutrina e com a lei canônica? Não!
Essa não é a sua missão. As sociedades têm suas constituições, leis e costumes.
No Brasil, o Estado é laico. A laicidade do Estado promove a liberdade
religiosa e a tolerância, mas não confere a nenhuma denominação religiosa o
poder de regular a vida social. No passado, a Igreja participava de muitos
acordos que regulavam a ordem social, mas hoje não existe mais isso. Os Poderes
da República são livres para organizar a vida social. Pode a Igreja opinar,
criticar, denunciar e se opor a tudo aquilo que contraria a Lei de Deus? Claro
que pode!
Se o
Papa concordar com a necessária criação de leis que protejam os homossexuais,
estaria ele contradizendo a doutrina da Igreja? Claro que não! Há um princípio
evangélico que rege a vida cristã: da igual dignidade dos filhos de Deus. O
heterossexual é superior ao homossexual? Quem responde positivamente a essa
questão, nega o princípio da igual dignidade dos filhos de Deus, bem como o
princípio da igualdade que consta no art. 5º, caput, Constituição da República.
O homossexual é menos pessoa que as demais pessoas? Claro que não! Fazer tais
afirmações é promover o que chamam de "cultura gay"? Claro que não! O
Papa não está promovendo a "cultura gay", mas está preocupado com a
dignidade das pessoas. São coisas diferentes.
A
nossa época é marcada pela necessidade da explicação do óbvio. Mas por que nos
encontramos nessa vergonhosa situação? Porque faltam estudo, leitura e
interpretação de texto. Faltam também respeito, compreensão, acolhimento,
tolerância e alteridade. O que uma pessoa ganha ao distorcer a fala de um Papa,
ou de qualquer outra pessoa, com o intuito de prejudicar e diminuir?
Absolutamente, nada! Dentro e fora da Igreja, precisamos crescer em maturidade
e conhecimento. A ignorância gera conflitos desnecessários. Os críticos do Papa
poderiam se dar o trabalho de, pelo menos, ler todos os seus textos, para
descobrir que o Papa tem procurado, insistentemente, defender e promover a
dignidade dos pobres e das demais categorias de pessoas excluídas.
Por
fim, é preciso considerar que o cristão pode e deve denunciar as injustiças que
se cometem neste mundo. E esta é a razão que me levou a escrever esse texto.
Uma pessoa até pode não se identificar com o fato de alguém ser homossexual,
mas jamais pode se utilizar disso para julgar e condenar. É possível que se
reprove determinados excessos e desvios cometidos por heterossexuais e
homossexuais, em todos os âmbitos, mas é inaceitável que se utilize da doutrina
da Igreja para julgar e condenar os homossexuais. Não foi para isso que a
doutrina foi criada. A doutrina condena erros, não pessoas. Somente Deus tem o
poder de julgar uma pessoa, e este poder não foi conferido a ninguém (cf. Mt
7,1-2).
Tiago de França
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