“Vós sabeis em que tempo estamos, pois já é hora de despertar” (Rm 13,11).
Na Igreja Católica, o ano litúrgico
se inicia com o Tempo do Advento: tempo de vigilância e esperança. Essas são as
duas palavras que falam da teologia e espiritualidade deste importante tempo para
a vida da Igreja. Dois grandes momentos do mistério pascal de Cristo são
precedidos de um tempo de preparação: o Natal e a Páscoa. O Advento prepara o
Natal e a Quaresma prepara a Páscoa. Muito sábia a Mãe Igreja ao conduzir seus
filhos e filhas a um caminho claro e feliz de preparação para a celebração dos
mistérios da encarnação do Filho de Deus e Senhor Nosso Jesus Cristo, e de sua
Páscoa, festa sublime da Ressurreição.
Das vésperas do 1º Domingo do Advento
até o dia 16 de dezembro, as leituras apontam para o mistério da parusia do
Senhor. Chama-nos à vigilância sincera e ativa, para uma espera fecunda do
Cristo que virá. Este Cristo, Senhor da História e Filho do Homem, julgará a
todos com justiça, segundo o amor (cf. Mt 25,31-46). A volta definitiva do
Senhor é certa, mas de data desconhecida. A ninguém revelou o quando de sua
volta para o julgamento definitivo. Por isso, a Igreja chama seus filhos e
filhas à vigilância ativa. Não se trata de uma espera passiva e melancólica,
mas marcada pelo agir missionário. Esperamos a vinda gloriosa do Senhor,
observando o seu mandato missionário.
A espera do Cristo que vem precisa
ser dessa forma, porque o Senhor quer nos encontrar em ação, jamais parados,
“olhando o tempo passar”. Batizados e enviados, os cristãos são continuadores
da missão do Senhor. Ungidos pelo Espírito, são incansáveis nessa missão.
Destemidos e confiantes, esperam o Senhor com os pés na estrada e as mãos
abertas e estendidas na direção do próximo, servindo gratuita e generosamente.
Segundo a teologia do Papa Francisco, é preciso esperar o Senhor sendo Igreja
em saída missionária, manifestando a misericórdia de Deus ao mundo.
Quando escreve aos romanos, Paulo
nos recorda o sentido dessa vigilância (cf. Rm 13,11): “... já é hora de despertar”. Este despertar indica-nos a necessidade da conversão. Advento também é
tempo de conversão. É no caminho de Jesus que o discípulo missionário de Jesus
se converte. Não há possibilidade de conversão fora desse caminho, porque com
Jesus é que se aprende a ser santo. Ele é a fonte de toda santidade; esta “é o
rosto mais belo da Igreja”, nos ensina o Papa Francisco na sua exortação
apostólica Gaudete et Exsultate, n.
9. Na presença do Senhor e guiado por seu Espírito, o cristão caminha rumo à
plenitude da vida, manifestada em Jesus, o Verbo de Deus.
Do dia 17 a 24 de dezembro, a Igreja
convida a uma preparação fecunda para a celebração do mistério do Nascimento do
Senhor. Nesses dias, as leituras falam da esperança do povo de Deus. A leitura
do profeta Isaías revela, assim como outros profetas, a promessa do Messias. Em
Isaías 40,3 aparece a referência a uma voz que clama e convida para que se
prepare um caminho para o Senhor.
No
Novo Testamento, os evangelistas falam de João Batista, que é esta voz forte,
chamando à conversão e à acolhida do Messias. Na voz do profeta João Batista
encontramos uma orientação fundamental para a justa e necessária preparação da
solene festa do Natal do Senhor: despertos, trilhando um caminho de justiça e
santidade, preparamos o coração para a acolher aquele que vem “...para iluminar os que jazem nas trevas e
na sombra da morte, para guiar nossos passos no caminho da paz” (Lc 1,79).
Quão belo e profundo é o mistério d’Aquele que jamais abandona o seu povo!
O
profeta João Batista evidencia a esperança do povo de Deus, alicerçada na
confiança que esse povo tinha na realização das promessas divinas, recordadas
ao longo do tempo; e os profetas eram os responsáveis por essa recordação. Em
sua vida, “Jesus assumiu em si mesmo a
totalidade da esperança excepcional do seu povo. Nele ressoa essa esperança.
Ele é um arauto dessa esperança de Israel” (Comblin, José. Jesus de Nazaré. São Paulo: Paulus,
2010, p. 85). Portanto, o Pai de Jesus é o Deus da consolação, que fiel às suas
promessas, enviou o seu único Filho para salvar “...o seu povo dos seus pecados” (Mt 1,21).
Consciente
de sua missão no mundo, a Igreja é depositária dessa mesma esperança, e
procura, apesar de suas fraquezas, colocar-se a serviço de todos os
empobrecidos deste mundo, que vivem essa esperança em suas dores e sofrimentos,
porque “as alegrias e as esperanças, as
tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos
aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as
angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente
humana que não encontre eco no seu coração” (Constituição Pastoral Gaudium et Spes, n.1). A Igreja prepara
a celebração do Natal do Senhor vivendo a esperança do povo de Deus, porque a
Igreja é povo de Deus.
Para
que a celebração do Natal não seja reduzida a uma data festiva, com muita
comida e bebida, e troca de presentes, cada cristão é chamado a refletir sobre
a encarnação de Jesus na sua vida e na vida do mundo. Neste sentido, algumas
questões podem nos ajudar a refletir sobre esse divino mistério de amor: Tenho
acolhido o Cristo pobre e sofredor que sempre aparece em minha vida? Tenho
buscado conhecer esse Cristo mais de perto, para crescer na fé e no amor? Minha
vida é reflexo do infinito amor de Deus, ou tenho vivido distante de Deus?
Estou disposto a acolher Jesus e seu projeto de amor para a vida do mundo?
Integro o número daqueles que acreditam e trabalham por um mundo mais justo ou
fraterno, ou reforço as forças do mal que destroem a vida humana e a natureza?
Motivados por essas questões somos chamados a examinar a nossa consciência,
para vivermos uma sincera conversão, “pois
já é hora de despertar” (Rm 13,11).
Feliz itinerário rumo ao Natal do Senhor!