segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Breves considerações sobre a polêmica em torno da Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021

 


Ultimamente, os tradicionalistas estão saindo do armário. Sempre existiram, mas não faziam questão de ser tão agressivos. A onda ultraconservadora que tem tomado a política nacional despertou e provocou uma onda tradicionalista no seio do cristianismo católico e não católico, no Brasil.

Nestes breves apontamentos, não quero fazer uma análise minuciosa das semelhanças e diferenças que há entre o tradicionalismo político e o tradicionalismo religioso. Mas qualquer pessoa que se utilize do bom senso e da observação acurada poderá perceber, com certa nitidez, as características e os prejuízos desse movimento violento.

Mais do que em outras épocas, este é o momento de todo cristão, de qualquer Igreja, saber discernir o bem do mal, o que vem de Deus e o que é invenção humana para satisfação de interesses humanos e mundanos. Toda espécie de violência praticada em nome de Deus, obviamente não vem de Deus. Toda espécie de ataque à unidade cristã e à comunhão eclesial, certamente não vem de Deus. E por que podemos afirmar isso com tanta clareza e certeza? Porque Jesus não semeou a discórdia entre as pessoas, mas pregou, com palavras e obras, o caminho da pacificação. Ele é o Príncipe da Paz (cf. Is 9,5).

Desde o tempo dos primeiros cristãos, a discórdia sempre existiu no seio das comunidades. Em todas estas podemos enxergar a ação do diabo, que é pai da mentira e da divisão. Infelizmente, há cristãos que ousam em fazer o papel do diabo, provocando a divisão e a discórdia; transformando-se em inimigos da paz de Cristo. Em nome de Deus e da ortodoxia da fé, muitos se dedicam a caluniar, difamar e injuriar pessoas e instituições. É o que tem ocorrido, com mais veemência e violência, nos últimos tempos, principalmente a partir do pontificado do Papa Francisco.

Os tradicionalistas pregam a obediência, mas, muitos deles, não a vivem. Falam que se deve respeito e obediência aos bispos e ao Papa, mas se revoltam contra os Bispos, a Conferência dos Bispos e ao próprio Papa. Porque não concordam com o jeito de ser, pensar, agir e pastorear do Papa, dedicam-se a desmoralizá-lo. Onde ficam o respeito e a obediência? E a unidade cristã? Pode alguém, em nome de Jesus, participar de um movimento sistemático de perseguição e desmoralização dos Pastores da Igreja? Não seria isso papel de quem aderiu ao estilo de ser e de agir do Anticristo?

No evangelho segundo João, diz Jesus: "Eu vos dou um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros. Nisso conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns para com os outros" (Jo 13,34-35). Quem calunia, difama e injuria o irmão não o ama, não pratica o mandamento novo dado por Jesus. Portanto, está fora da comunhão eclesial. Não há meio termo, nem se pode tolerar que a defesa da ortodoxia da fé ocorra por meio da violência contra a boa fama das pessoas e das instituições.

Partindo desse pressuposto teológico, que está na base da teologia da unidade cristã, consideremos os últimos ataques à Conferência dos Bispos. Tem circulado nas redes sociais um vídeo, no qual aparece inúmeras mentiras sobre a Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021. A mentira decorre da falta de conhecimentos básicos e da malícia propositada de colaborar com a divisão da Igreja. Muita gente mal informada e desprovida de formação teológica básica tem se dedicado a destruir a unidade cristã.

Para afastar a confusão, muitas vezes, é preciso esclarecer questões básicas, tais como:

1. O Conselho Nacional das Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC) não é uma instituição político-partidária de esquerda, mas um organismo que visa fortalecer o testemunho ecumênico, fomentar o diálogo interreligioso e promover interlocução com organizações da sociedade civil e com o governo para a promoção da justiça e da paz.

2. A Campanha da Fraternidade surgiu na Igreja Católica, com o objetivo de levar os católicos a refletir sobre as questões que afetam diretamente a vida das pessoas, na sociedade e na Igreja. Anualmente, a Campanha é proposta durante o Tempo da Quaresma, por ser um tempo de penitência, oração, caridade e escuta da Palavra de Deus.

3. Pela quinta vez, a Campanha é realizada no formato ecumênico, ou seja, em parceria com outras Igrejas cristãs, principalmente as que integram o CONIC. A Igreja Católica integra o CONIC. O fato de ser ecumênica não significa que a Igreja Católica esteja abrindo mão da sua identidade; pelo contrário, a comunhão com irmãos e irmãs de outras Igrejas é uma necessidade vital para a Igreja Católica, que tem se esforçado para testemunhar Jesus Cristo, de forma ecumênica e interreligiosa, como ensina o Concílio Ecumênico Vaticano II.

4. A Campanha da Fraternidade não fere o espírito quaresmal, mas o torna mais fecundo e necessário. Não se trata de experiência comunista, nem sociológica, mas espiritual, teológica, pastoral e eclesial. O comunismo, como é falado pelos tradicionalistas nas redes sociais, não existe, porque é inventado por quem não se dar ao trabalho de estudar a história e o significado histórico e sociológico dos fatos e dos sistemas políticos e econômicos. No Brasil, o comunismo nunca existiu, nem na política nem no seio das Igrejas cristãs. O que existe é o capitalismo selvagem, expressão viva da atuação da elite econômica, que controla a economia e a política, contando com a conivência de muitos líderes religiosos.

5. O texto-base da Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021, que tem como Tema: "Fraternidade e diálogo: compromisso de amor", e Lema: "Cristo é a nossa paz: do que era dividido fez uma unidade" (Ef 2,14a), não promove a denominada ideologia de gênero. A própria CNBB já se manifestou contra tal ideologia. Não é prioridade da Igreja trabalhar esse tema, apesar da sua importância. As urgências do momento são outras.

O que o texto faz é denunciar os crimes cometidos contra as pessoas que integram a população LGBTQI+, por entender que tais pessoas são filhas de Deus e cidadãs, merecedoras do respeito e da estima dos discípulos de Cristo. Todo ser humano deve ser respeitado e promovido em sua dignidade. À luz do Evangelho, toda forma de preconceito é antievangélica e, portanto, inaceitável.

Por fim, e não menos importante, é preciso recomendar que as pessoas de boa vontade evitem compartilhar textos, vídeos e transmissões de falsos católicos que trabalham contra a unidade da Igreja. Não se deve dar ouvidos a essa gente. Quem se dedica à destruição da comunhão eclesial não deveria ser ouvido. A defesa e promoção da fé cristã passa, necessariamente, pelo respeito, diálogo, tolerância, reciprocidade, compreensão, caridade e pela cultura do encontro. Disseminar mentira e ódio é se colocar, frontalmente, contra a mensagem libertadora de Jesus de Nazaré, que nos deixou outro ensinamento importante e inviolável: "Que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim, e eu em ti" (Jo 17,21).

Tiago de França

29 comentários:

Ana Maria Zodi disse...

Muito importante fazer esses esclarecimentos e mostrar o verdadeiro ensinamento do Evangelho. Para não deixar dúvidas.

Unknown disse...

Maravilha de reflexão!

Unknown disse...

Obrigado meu irmao foi muito bom entender o ecomenismo

Unknown disse...

Muito esclarecedor , obrigada ☺️

marciel linhares disse...

Parabéns. Claro e esclarecedor.

Unknown disse...

Gostei do esclarecimento,se faz necessário ,para não nos deixar levar a dúvidas

Unknown disse...

"Que todos sejam um,como tu, Pai, estás em mim, e eu em Ti". Porque chamar nossos irmãos de Católicos Diabólicos?
Todos são de Cristo não é mesmo?

Unknown disse...

Texto excelente, elucidativo que precisa ser compartilhado.Gostei mto da observaçäo" não se deve dar ouvidos a essa gente que se dedica a disseminar ódio, divisão e falsas informacões" isso mesmo. Eu,pessoalmente, faço questão de passar ao largo. Não leio keio, não dou ibope, não compartilho , nao comento, não discuto. Simples assim: ignoro!

Prof. Hermerson Saulo disse...

Texto perfeito! Grande Tiago!! Deus o abençoe!!
Oremos pelos que plantam cizânia dentro de nossa Igreja!!

Unknown disse...

Quem não tiver capacidade para refletir que não se julgue "dono na verdade".

Unknown disse...

A VERDADE sobresairá.
A VERDADE não precisa de se explicar.
Cristo sofreu calado. "Ele não abriu a boca" no seu sofrimento pois, Ele É a VERDADE é SILÊNCIO.

Unknown disse...

Parabéns pelo texto elucidativo ele nos faz compreender de fato o real objetivo da campanha da fraternidade Ecumênica 2021. "O que era dividido Cristo fez unidade"

Unknown disse...

Infelizmente vivemos momentos de muita falta de discernimento e ódio, principalmente aos empobrecidos, terreno fértil aos falsos pastores, verdadeiros lobos em pele de cordeiros.

Unknown disse...

Muito bom este comentário, e o esclarecimento

Unknown disse...

Glória a Deus!!!
Deus seja louvado!!!
O texto é belíssimo e é assim que temos de pensar e viver.

Paulo Vendelino Kons, de Brusque/SC disse...
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Paulo Vendelino Kons, de Brusque/SC disse...
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Paulo Vendelino Kons, de Brusque/SC disse...
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Unknown disse...

Papa Bento XI Que Deus te ilumine sempre.

Paulo Vendelino Kons, de Brusque/SC disse...
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Paulo Vendelino Kons, de Brusque/SC disse...
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Paulo Vendelino Kons, de Brusque/SC disse...
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Paulo Vendelino Kons, de Brusque/SC disse...
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Paulo Vendelino Kons, de Brusque/SC disse...
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Paulo Vendelino Kons, de Brusque/SC disse...
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Paulo Vendelino Kons, de Brusque/SC disse...
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Paulo Vendelino Kons, de Brusque/SC disse...
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Anônimo disse...

Gostei do texto do Tiago apesar de ter algumas duvidas. Ja os comentarios contra me chamaram a atencao, pelas ofensas e piadas. Sao tao raivosos que nao tenho vontade de refletir o que esta escrito porque parece ser mais uma declaracao de odio. Gracas a Deus, nao vivo mais no Brasil e tirei meus filhos dai. O pais tornou-se insano.

Unknown disse...

Concordo com você.
Por isso, vamos orar muito.
Parece que as nossas lideranças não encontraram Deus ainda.
Não posso sair do Brasil o que posso fazer é rezar mais.